quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um monumento aos almocreves de outrora


Por José Romero A. Cardoso/ UERN



Mossoró já foi um dos mais extraordinários pólos de crescimento que o semi-árido nordestino já registrou em sua espacialização geográfica, convergência de boa parte da produção sertaneja dos vizinhos Estados do Ceará e Paraíba, além de sua órbita gravitacional, as cidades circunvizinhas.

Algodão, peles, couros e cera de carnaúba, além de sal e gesso, eram exportados pelas inúmeras casas especializadas que eram facilmente encontradas no município, sucessoras da saga comercial do negociante suíço Johannes Ulrick Graff.
A produção sertaneja contava com imprescindíveis agentes econômicos, responsáveis pelo transporte dos bens obtidos com as atividades econômicas do semi-árido. Eram os almocreves ou comboieiros, os quais saíam com tropas de burros dos mais distantes lugares, trazendo seus fardos de pele e algodão.

Graças aos almocreves, muito da prosperidade desfrutada pela capital do oeste potiguar pôde ser efetivada, sobretudo durante os anos áureos do bom da economia do semi-árido, durante a década de 20 século passado. O término da guerra urgiu a necessidade de se reconstruir a velha Europa, devastada pelo conflito. Posteriormente, registrou-se a catástrofe da Bolsa de Nova York em 1929, da qual surtiu efeito contundentes sobre a economia da região.

Campina Grande, Estado da Paraíba e Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, rivalizam quanto ao grau de importância dos velhos almocreves para a economia local, em determinada época. A primeira já rendeu seu tributo aos bravos tangerinos dos pretéritos tempos e lucra extraordinariamente com isso. Exemplo maior encontramos no reconhecimento internacional ao grupo Tropeiros da Borborema, oriundos da magnífica composição de Raimundo Yasbek Ásfora e Rosil Cavalcante, imortalizada em esplêndida interpretação de Luiz "Lua " Gonzaga.
Monumento em Campina Grande, além de destaque em museu, embora referente ao algodão, denotam a reverência dos paraibanos a um dos mais importantes elo da cadeia produtiva da economia sertaneja.

A terra de Santa Luzia precisa fomentar com urgência esse reparo quanto tributo de gratidão àqueles que trouxeram tantas riquezas que deram posição de destaque regional, nacional e internacional ao País de Mossoró durante boa parte do século XX, refletindo-se no presente através dos marcos indeléveis no imaginário popular transmitido de geração a geração.

Seguir os passos de Campina Grande, imitando sua originalidade e pioneirismo, pode representar futuros investimentos em turismo e cultura, pois a história é um alicerce irremovível na assistência a projetos futuros.
Em um tempo em que os transportes de grande calado, que comportassem o volume da produção, eram escassos ou quase inexistentes, esses agentes econômicos marcaram siginficativamente o cotidiano das terras semi-áridas, contactando centros civilizados com os mais recônditos rincões esquecidos do vasto mundo das caatingas e dos carrascais.

Homenageá-los significa recuperar parte de nossa memória, se evitando dessa forma que suas lutas e o estoicismo em vencer obstáculos de um sertão tenaz e indomável de outrora caiam no ostracismo imposto pela aculturação que se propaga e faz as gerações atuais e futuras tenderem a esquecer as raízes e os valores das veredas da terra do sol.

Fonte: Jornal Gazeta do Oeste, 02 de outubro de 2003, Caderno Escola.

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