sábado, 30 de junho de 2012

Reportagem: Parente remoto do homem preferia madeira às folhas

by pamella.piva
Crânio de um jovem australopithecus sediba
Um pequeno um australopithecus sulafricano, parente remoto do ser humano, gostava de comer madeira e cortiça das árvores, enquanto a maioria dos hominídeos preferiam folhas e plantas mais macias, mostra um novo estudo.
Os autores chegaram à conclusão após examinar os dentes do australopithecus sediba, do qual foram encontradas dois exemplares em 2008, em uma caverna perto de Johannesburgo.
O primata "tinha uma dieta muito diferente dos outros hominídeos estudados até o momento. Como sua morfologia é muito parecida, acreditávamos que ele se seria mais ou menos parecido às outras espécies de tipo australopithecus, ou inclusive um pouco aos primeiros homens", disse Amanda Henry, do Instituto de Antropologia Max Planck. "Na realidade, ele consumia muito mais comida da região, incluindo alimentos duros".
O pré-molar esquerdo anterior de um Australopithecus sediba
Para chegar ao resultado, os autores bombardearam dentes do australopithecus sulafricano con laser para extrair carbono do esmalte. Os dentes dos outros 81 hominídeos analisados antes continham um tipo de carbono característico das folhas e ervas, mas o do australopithecus sediba originava-se de árvores e matas.
O achado sugere que este primeiro primata comia, pelo menos durante um período do ano, cortiça e outros materiais lenhosos.
"A cortiça, especialmente a que fica no interior das árvores, pode ser muito nutritiva. Todos os nutrientes da árvore passam por sua cortiça interna", diz a pesquisadora.
Para checar o resultado, os cientistas usaram uma técnica inédita: extrair dos dentes um pouco da placa formada pelo acúmulo de minerais e analisar  minúsculos fragmentos vegetais fossilizados que haviam ficado presos nela há dois milhões de anos. O resultado comprovou que realmente se tratava de cortiça e madeira. Até então, nunca se havia estabelecido que os hominídeos africanos houvessem seguido essa dieta.
Para Paul Sandberg, da Universidade de Colorado Boulder, que participou do estudo publicado pela Nature, a alimentação do australopithecus sediba é bem parecida à dos chimpanzés da savana africana de hoje em dia.
Segundo Sandberg, "é uma descoberta importante porque a dieta é um dos aspectos fundamentais do animal, é o que dita seu comportamento e seu nicho ecológico".
"Parece que há alguns milhões de anos havia diferentes espécies de hominídeos que utilizavam o ambiente de diversas formas, já que cada um se focava em um tipo específico", diz a cientista.
"Mais tarde, surgiu o homo erectus, uma espécie capaz de locomover-se e desolcar-se em vários ambientes diferentes, o que foi uma grande mudança", conclui ele.

Fonte: Reflexões da História

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Humanizar, sim, isolamento, não!



Ao visitar um tio em um hospital psiquiátrico, fiquei pasme com as imagens deploráveis de homens e mulheres decaídos por um conjunto de psicoses endógenas. Criaturas dissociadas da ação e do pensamento, expressando uma sintomatologia variada, presos aos delírios persecutórios, alucinações, labilidade afetiva etc. Assim, encontrei em cada um daqueles que lá se encontravam mundos completamente distintos, porém ligados pela mesma dor (a loucura). Mundos, onde o trágico parece se constituir em elemento essencial a suas vidas. Pois, a infelicidade e as desventuras sucedem cotidianamente.

Deste modo, compreendo o quanto a felicidade é algo difícil de encontrar quando nos encharcamos com os “erros funestos da vida inteira”. Afinal, nosso mundo é senão o inferno de Dante Alighieri, em sua Divina Comédia. Em lugar das alegrias do Paraíso, temos a nossa volta as ‘dores’ e as ‘misérias’ desenhadas na página infinita do espaço e do tempo. Portanto, me pego a perguntar: Porque o desejo e o sofrimento caminham lado a lado, desenvolvendo-se sem limites? Porém, aquelas “almas desvalidas”, na sua maioria desprotegida, desamparada, estão entregue a própria sorte.

Por um instante, mergulhei no universo introspectivo dos que estavam a minha volta e percebi o próprio íntimo, os sentimentos e as reações de cada um. O estabelecimento psiquiátrico, no qual “Tio Chico” estava inserido, parecia mais uma nau de insensatos, repletos de homens e mulheres absorvidos por uma confusão mental, onde os argumentos desconexos provoca uma perturbação interior. Por um desvio de rota, esses “seres” ficam sem rumo, sem direção levados por inteiro pelas tempestades e correntezas da vida diária. Seria essa ‘nau’, aquela descrita por Michel Foucault em sua História da Loucura? Onde observa que: “A Nau dos Loucos atravessa uma paisagem de delícias onde tudo se oferece ao desejo, uma espécie de Paraíso renovado, uma vez que nela o homem não mais conhece nem sofrimento nem a necessidade” (2008, p.21).
Contudo, a loucura não pode ser vista como algo assombroso, ou seja, “[...] a loucura não está ligada ao mundo e a suas formas subterrâneas, mas sim ao homem, a suas fraquezas, seus sonhos e suas ilusões”, ressalta Foucault (2008, p.24).

Por um momento, fechei os olhos e vi que por entre ruas escuras — do mundo imaginário e simbólico daquelas pessoas —, caí o amor dos homens em fontes profundas. Eis, ali, o afã que cavalga o presente futuro. Corações endurecidos, sórdidos e velhos invadem os jardins, onde o vento das alturas desprendem açoites que condicionam em nós o abrasamento das fogueiras vivas. Adiante, vi que dos passos sem ritmo, brota da alma, um corpo febril, símbolo e expressão de si mesmo. Que desterra de cânticos sagrados, o bem e o mal. E, arrebanha da obscuridade da sombra noturna a natureza humana. A manhã que está oculta, à tarde que se descobre. Assim, nos arrastamos sobre duros ombros e somos tolhidos pela, mormente cotidianidade. Submersos num pântano obscuro, os loucos, os insensatos e os delirantes “tenta em vão subir uma colina luminosa”... Ajudem-nos!
A discriminação e o preconceito são formas de atitudes que vem sendo largamente usada para “rejeitar comportamentos”, violentando o convívio humanizado.

Não é fácil imaginar, a vida dos pacientes esquizofrênicos mergulhados ao isolamento nos manicômios, por mais que os métodos psiquiátricos tenham avançado. A negligência familiar e estatal tem provocado um “verdadeiro paroxismo de dor”.
O doente mental não pode ser visto com espanto, algo terrível. Preso a loucura, homens e mulheres são atingidos por um pesadelo permanente. Pessoas que tem como únicos patrimônios os ciclos da natureza: o nascimento e a morte.

Dizer não a quem necessita de ajuda, aos que vivem fora da realidade, parece-me ser um procedimento primitivo e irracional. A reumanização do tratamento dos esquizofrênicos é algo que deve ser feito, assim com a assistência à família do paciente para que a vida dos parentes dos pacientes esquizofrênicos não seja impedida de se desenvolver por causa da esquizofrenia.

Portanto, o isolamento social não é a saída para quem não consegue diferenciar bem o mundo real do irreal. Aproximá-los, para um convívio humanizado seria o correto. O esquizofrênico, louco ou insensato, insano, doido ou delirante, como se costuma dizer, é capaz de ser feliz apesar da doença.

José Lima Dias Júnior

A atividade política como resultado das relações sociais


A partir das experiências históricas em que aparece envolvidas nas lutas da classe trabalhadora, os sindicatos elucidam exemplamente o significado da política através dos movimentos operário. A transformação da realidade resulta da atividade dos homens vivendo em sociedade. Seja nos sindicatos, através de sua representatividade e participação; com suas ideologia, é que os homens "têm todos as condições de interferir, desafiar e dominar o enredo da história."

A vida política passa pela realização de metas, relativas aos interesses sociais. Os organismos sindicais não podem ser visto como a síntese de um sindicalismo apenas reivindicativo. Mas, incluídos de uma política voltada à realização das aspirações coletivas, pautada numa prática política-sindical trasnsformadora. Onde as relações entre os homens não oculte "o seu papel de elmento dinâmico, de produtor da história."

Sonhar é preciso, desde que realizemos o sonho meticulosamente e o confrontamos passo a passo com a realidade, observou Lênin. Assim, os arautos da própria atividade política, o exercício de uma atividade transformadora das condições impostas. Os sindicatos não podem aceitar a espoliação da classe operária, nem do cerceamento dos seus direitos. Logo, não pode transforma-se em apêndices de instituições coercitivas, significando uma amarra para a classe proletária. A atividade política-sindical não pode está a serviço de interesses privados. Sem a participação efetiva das entidades sindicais as lutas operárias estarão fadadas ao fracasso.

As diferenças e os conflitos existentes entre as classes sempre irão de existir. Para Karl Marx (1818-1883), o motor da História é a luta de classes. Portanto, o motor da transformação. Contudo, a classe que explora (os capitalistas) se opõe em relação a classe explorada (o proletariado). Na sociedade capitalista, as classes antagônicas "estão em constante processo de luta". A classe produtora (operários e trabalhadores rurais), se desenvolveu nos poros da sociedade capitalista, durante a Revolução Industrial do século XVIII, na Inglaterra. A sua força histórica vem das lutas operárias contra a defesa dos interesses capitalistas, em detrimento dos interesses do trabalhor.

Ao que parece, os sindicatos passam a ter uma relação muito estreita com a atividade política dos homens. Atividade, esta, que sempre foi o ponto de partida para grandes transformações sociais. No entanto, caberá as entidades sindicais e aos partidos políticos de esquerda a tarefa de fazer a crítica da sociedade capitalista. Para fazer avançar a luta política, o proletariado tem que "reconhecer as próprias condições de sua existência." O proletariado, enquanto classe específica do capitalismo deve buscar no materialismo dialético uma forma de transformar o mundo e não, somente, interpretá-lo sob diferentes formas como fizeram os filósofos do passado.

A coletividade é socialmente edificada mediante a prática política de todo o conjunto social. A construção da realidade está assentada no cotidiano, onde as comunidades humanas produzem o conhecimento que necessitam os indivíduos para a construção social da realidade.

A instituição dos padrões de comportamentos e valores são determinados, e transmitidos pelas instituições criadas pela sociedade, como também pelo Estado através dos seus aparelhos ideológicos, "que possui em si um controle social." Todavia, a nossa consciência é determinada, socialmente, pelas instituições. O homem sem apreender a realidade cotidiana de maneira crítica e reflexiva fica condicionado as estruturas dominantes. Assim, a ideologia dominante impede que o homem reflita sobre as condições e processos da construção da realidade através das instituições. Como reflexo desse estado de coisas, eclodiram os movimentos populares, as manifestações, etc. Sem compreender a realidade, o homem não será capaz de transformá-la.

A classe trabalhadora sem o apoio das corporações sindicais e dos partidos de esquerda torna-se fragilizada diante dos esquemas e contradições políticas. Desde a criação das Capitânias Hereditárias, em 1534, por D. João III, o Brasil-rural completa mais de quatro séculos de latifúndio e padecimentos. A miséria e a submissão do campesinato foram frutos do latifúndio improdutivo. Assim, o operariado e os trabalhadores rurais ficaram "inteiramente excluídos do sistema de poder." Portanto, "proletários de todo o mundo uni-vos!."


Por José Lima Dias Júnior

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A origem da Festa Junina.

Depois do Carnaval, as Festas Juninas são um dos evento mais consagrados no território nacional. As ruas, praças e escolas de muitas cidades são decoradas com bandeirinhas coloridas e, em barracas montadas ao ar livre, são servidas comidas e bebidas típicas.

Entre os quitutes, estão a paçoca, o pé-de-moleque, rapadura, pipoca, o milho verde, o amendoim torrado, batata doce, canjica, o doce de abóbora, o arroz doce e, para os adultos, quentão e vinho quente. Também são comuns brincadeiras como pescaria, argolas e tiro ao alvo e danças tradicionais, como a quadrilha.


Quando ocorrem as Festas Juninas?

O ciclo das festas juninas começa meados do mês de junho, quando se festejam quatro santos muito conhecidos no Brasil: Santo Antônio, no dia 13; São João, 24; e São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho.

História das Festas Juninas

Nos países europeus católicos, a festa era inicialmente chamada de "joanina" (em homenagem a São João). Trazida pelos portugueses para o Brasil, virou festa "junina" e foi incorporada aos costumes locais, com a introdução de alimentos, como o aipim, o milho, o jenipapo, e também os cantos e danças, como o forró, o boi-bumbá e o tambor-de-crioulo.Mas não foi somente a influência portuguesa que caracterizou as comemorações. A quadrilha, por exemplo, foi uma adaptação de uma dança da nobreza européia (quadrille), muito presente nos salões franceses do século 18.Os jesuítas portugueses, a princípio, comemoravam o dia de São João. As primeiras referências às festas de São João no Brasil datam de 1603. As festas de Santo Antônio e de São Pedro só vieram mais tarde, mas como aconteciam no mesmo mês, foram incluídas nas chamadas festas juninas.

A fogueira e os rojões

Uma lenda católica conta que Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, na noite do nascimento de João Batista, acendeu uma fogueira para avisar a novidade à Maria. Por isso a fogueira é um elemento fundamental da festa e costuma ser acesa às 18h, hora da Ave Maria. Na festa de Santo Antonio, a fogueira tem formato quadrangular; na de São Pedro, triangular e na de São João possui formato arredondado na base, formando uma pirâmide.Os fogos de artifício eram utilizados na celebração para "despertar" São João e chamá-lo para a comemoração de seu aniversário. O barulho de bombas e rojões podia espantar os maus espíritos. O costume de soltar balões surgiu da idéia de que eles levariam os pedidos dos devotos aos céus e a São João. Essa prática foi proibida devido ao alto risco de os balões provocarem incêndios.A cerimônia de levantamento do mastro de São João é chamada de "Puxada do mastro". Além da bandeira de São João, o mastro pode ter as de Santo Antonio e São Pedro.

[Fonte: Uol Educação]

 Outras histórias: O mês de junho marca, na Europa, o início do verão, de caráter festivo, quando as populações festejavam as colheitas e faziam os sacrifícios para afastar os demônios da esterilidade, pestes dos cereais, estiagens, etc.
 Culto do Fogo: A tradição das fogueiras acesas nos altos dos montes e nas planícies era conhecida de toda a Europa, as danças ao redor do fogo, os saltos sobre as chamas, a colocação nas fogueiras das primícias das colheiras e até mesmo de animais vivos (o gato, encarnação do demônio). O fogo, representação do sol, ilumina, aquece, purifica, assa e coze os alimentos, prepara vestes e armas, enfim, dá segurança e conforto. Daí as superstições: faz mal brincar com fogo, urinar no fogo, cuspir no fogo, arrumar fogueira com os pés, e outras mais.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

A tumba do último imperador inca

Cientistas localizam no Equador o sepulcro de Atahualpa, soberano que governava o império andino no momento da chegada dos espanhois
 
Jaime Pástor Morris
O complexo arqueológico de Malqui Machay, no Equador
O segredo do último imperador inca foi desvendado. A tumba do soberano foi encontrada em Malqui Machay, a 70 km de Quito, no Equador, pela pesquisadora equatoriana Tamara Estupiñán, do Instituto Francês de Estudos Andinos (IFEA). “Machay significa gruta, santuário, e Malqui, corpo ou múmia de um ancestral, no idioma quéchua. Então, Malqui Machay significaria o local onde foi enterrado seu corpo”, explica a pesquisadora.

Em uma área próxima, a 45 km de Quito, há muito mais, segundo Tamara. Ela encontrou um complexo de muros, aquedutos e construções em pedra, em uma área rural de Machay. Ali, um monumento em forma de pirâmide leva a crer que seria o local onde ficaria o trono do imperador. Só depois de morto é que seus restos mortais teriam sido levados ao local onde foi encontrada a tumba.

Atahualpa, imperador inca no momento da chegada dos espanhóis, foi aprisionado pelos conquistadores europeus na cidade de Cajamarca, no Peru, e executado em 1533. A partir desse momento o Império Inca começou a desmoronar.

sábado, 16 de junho de 2012

Os 12 conflitos armados que mais mataram pessoas


imagem: El Tres de Mayo – do pintor Francisco Goya (Wikimedia Commons)
Os humanos se envolvem em disputas territoriais desde a Idade da Pedra, é verdade, mas a melhora tecnológica das “máquinas de matar” ao longo do último milênio fez com que os conflitos fizessem muito mais vítimas fatais em menos tempo – inclusive gente que não tinha nada a ver com a briga. Nesta lista, confira as guerras, revoltas e rebeliões que mais dizimaram vidas ao longo da história.
12 – Guerra dos Trinta Anos
Onde: Império Romano (Ásia, Europa e um pedacinho da África)
Quando: de 1618 a 1648
Número estimado de mortos: 3.000.000 a 11.500.000 pessoas
Esta versão “de bolso” de uma Guerra Mundial começou como um conflito religioso e foi tomando feições mais complexas até ninguém saber mais por que estava brigando. Muitos dos exércitos tinham mercenários em suas frentes de batalha, que trocavam de lado sempre que a oportunidade parecia interessante.
11 – Guerras Napoleônicas
Onde: Europa e ilhas nos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico
Quando: de 1804 a 1815
Número estimado de mortos: 3.500.000 a 6.500.000 pessoas
O francês Napoleão Bonaparte estava bombando nas conquistas de territórios na Europa, mas não deu conta de lutar no inverno russo – muitos soldados viraram picolé e outra boa parte morreu de fome. A estratégia russa era queimar as cidades pelas quais o exército invasor iria passar para evitar que fossem saqueadas e fornecessem recursos aos inimigos.
10 – Segunda Guerra do Congo
Onde: República Democrática do Congo, África
Quando: de 1998 a 2003
Número estimado de mortos: 3.800.000 a 5.400.000 pessoas
Este é o conflito mais recente da lista. A Guerra acabou em um acordo entre as partes, mas a população sofre com as consequências até hoje. Em 2004cerca de 1.000 pessoas morreram diariamente de desnutrição e doenças que seriam facilmente tratáveis se a região não estivesse tão debilitada.
9 – Guerra Civil Russa
Onde: Rússia
Quando: de 1917 a 1921
Número estimado de mortos: 5.000.000 a 9.000.000 pessoas
Ainda que se diga que a este conflito acabou em 1921, a verdade é que ele se prolongou por mais dois anos. O objetivo da revolta era acabar com a monarquia, mas os grupos envolvidos divergiam sobre que forma de governo seria implantada com o fim dos czares. Levou a melhor o pessoal do partido bolchevique, que estabeleceu o primeiro governo inspirado no socialismo de Karl Marx.
8 – Revolta Dungan
Onde: China
Quando: de 1862 a 1877
Número estimado de mortos: 8.000.000 a 12.000.000 pessoas
Os chineses da etnia Dugan (também chamada de Hui, de origem persa) se revoltaram e foram derrotados – os que sobraram desse conflito foram para territórios que hoje são parte da Rússia, Cazaquistão e Quirguistão.
7 – Investidas de Tamerlão
Onde: Ásia
Quando: de 1369 a 1405
Número estimado de mortos: 15.000.000 a 20.000.000 pessoas
Não se conquista um território sem matar umas pessoas, não é mesmo? Tamerlão e seus exércitos dizimaram muita gente na Ásia para expandir o Império Timúrida, que chegou a ter mais de 5,5 milhões de quilômetros quadrados. Saiba mais sobre Tamerlão e outros grandes conquistadores neste infográfico.
6 – Primeira Guerra Mundial
Onde: Todos os continentes – nem todos foram atacados, mas países de todos os continentes tomaram parte (e morreram) nesta guerra.
Quando: de 1914 a 1918
Número estimado de mortos: 15.000.000 a 65.000.000 pessoas
A estimativa mais alta de mortos (65 milhões) contabiliza as pessoas que pereceram da Gripe Espanhola, uma variação do vírus H1N1 (que no século XXI conhecemos como Gripe Suína). A Gripe Espanhola se espalhou generalizadamente pelo mundo no começo do século XX e a epidemia “pegou carona” na 1ª Guerra.
5 – Rebelião Taiping
Onde: China
Quando: de 1815 a 1864
Número estimado de mortos: 20.000.000 a 60.000.000 pessoas
Esta “rebelião” foi na verdade uma grande guerra civil no sul da China, liderada por um cristão, Hong Xiuquan, que dizia ser o irmão mais  novo de Jesus Cristo (pois é…).
4 – Disputa entre a dinastia Ming e QingOnde: China
Quando: de 1616 a 1662
Número estimado de mortos: 25.000.000 pessoas

Os Qing vieram do nordeste da Grande Muralha da China e eram vassalos dos governantes da dinastia Ming (aquela dos famosos vasos de porcelana). Houve uma revolta de camponeses que depôs os Ming e criou a Dinastia Shun – só que ela não durou muito tempo: os Qing dominaram a capital Beijing e assumiram o poder dizendo que estavam restabelecendo a “ordem imperial”. Mas na verdade eles estavam era pegando o poder pra eles mesmos.
3 – Investidas MongóisOnde: Ásia e leste europeu
Quando: de 1207 a 1472
Número estimado de mortos: 30.000.000 a 60.000.000 pessoasForam 265 anos de invasões empreendidas pelo povo mongol por toda a Ásia e parte da Europa. Haja fôlego para tanta briga! A recompensa: um império de mais de 12 milhões de quilômetros quadrados.
2 – Rebelião de An Lushuan
Onde: China
Quando: de 755 a 763
Número estimado de mortos: 33.000.000 a 36.000.000 pessoas
O general An Lushuan, durante a dinastia Tang, resolveu se declarar imperador de uma parte da China, o que não agradou a dinastia que reinava sobre o país. Foram 8 anos de confrontos que continuaram mesmo depois da morte de An Lushuan – e terminaram com a subjugação dos rebeldes e afirmação, mesmo que frágil, da dinastia Tang.
1 – Segunda Guerra MundialOnde: Todos os continentes - nem todos foram atacados, mas países de todos os continentes tomaram parte (e morreram) nesta guerra.
Quando: de 1939 a 1945 – 6 anos
Número estimado de mortos: 40.000.000 a 72.000.000 pessoas
Entre as vítimas deste conflito, 62% eram civis – ou seja: pessoas que não tinham nada a ver com a briga além do fato de estarem lá (e, bem, serem judeus, ciganos, homossexuais, terem uma deficiência…). Além das armas de fogo convencionais, nessa guerra rolou gás mostarda, testes com pessoas em campos de concentração e a última novidade do momento: bombas nucleares.
Livia Aguiar
[Fonte:  Revista Superinteressante]
 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ferra do Gado no Sertão nordestino




Tradição do sertão nordestino, a Ferra do Gado é uma prática introduzida pelos colonizadores portugueses e que consiste em marcar os animais. Dramático, o contexto em que ele é realizado é explicado em detalhes pelo historiador Benedito Vasconcelos Mendes neste ensaio.

Por Benedito Vasconcelos Mendes — Engenheiro agrônomo, mestre, doutor, membro correspondente da Academia Cearense de Letras, sócio da Academia Mossoroense de Letras, sócio-correspondente da Academia de Letras e Artes de Sobral e da Academia Apodiense de Letras
redacao@nordestevinteum.com.br


No sertão quente e seco do Nordeste brasileiro, o costume de marcar os animais domésticos, especialmente os bichos de pelo (mamíferos), foi introduzido pelos colonizadores portugueses e, ainda hoje, é usado na região. Os bovinos, equinos, asininos e muares são marcados com ferro em brasa, enquanto as miunças (ovinos, caprinos e suínos) são assinaladas com cortes nas orelhas. Os bovinos são ferrados com dois ferros diferentes; um para indicar o lugar onde está localizada a fazenda de criar, e o outro para indicar o proprietário da rês. O ferro do local é denominado ferro de ribeira, ferro de freguesia, ferro de município ou carimbo de município, e é marcado, geralmente, na coxa ou na anca, no lado esquerdo do animal.


A denominação mais antiga é a de ferro de ribeira, em alusão ao rio principal  que banhava a região onde a fazenda estava localizada. Na época da colonização do Brasil, as datas de terra doadas pela Coroa Portuguesa aos colonizadores eram localizadas nas margens dos rios intermitentes (temporários), para garantir água potável às famílias das fazendas e para dessedentar o gado. O tamanho da fazenda, geralmente, era de 3 léguas (18 quilômetros) de comprimento por uma légua (6 quilômetros) de largura, sendo meia légua (3 quilômetros) para cada margem do rio ou riacho existente no lugar. A denominação ferro de ribeira estava relacionada à ribeira (terreno drenado por um rio) do rio principal da região. Ribeira equivale ao que chamamos hoje de vale. Atualmente, dizemos vale do rio Acaraú, vale do  Piranhas/Açu, vale do Jaguaribe...


Com o passar do tempo, foram criadas as freguesias, ou seja, as divisões administrativas da Igreja Católica, que, à época, era vinculada à Coroa Portuguesa, daí que a freguesia era considerada a menor divisão administrativa do território colonial brasileiro. Cada freguesia, ou tinha um padre residente, ou recebia, periodicamente, a visita de um padre, que percorria as fazendas e vilas, realizando as tradicionais desobrigas. O padre escolhia uma determinada fazenda que possuísse uma capela, e se arranchava durante alguns dias naquele lugar, onde eram realizados os ofícios religiosos (celebrações de missa, confissões, batizados, casamentos e outros atos católicos).


As famílias dos fazendeiros e dos vaqueiros das fazendas vizinhas também participavam das celebrações religiosas, ficando, assim, desobrigadas, por um ano, de algumas obrigações estabelecidas pela Igreja, e que só podiam ser realizadas por um padre, como confissão e celebração de missa. Como visto, a denominação ferro de freguesia é mais nova do que a de ferro de ribeira. Com o aumento da população, as comunidades se transformaram em cidades, e os ferros de freguesia passaram a ser usados obedecendo à área geográfica de cada município, e a ser chamados, também, de carimbo do município, ou ferro do município, embora a denominação ferro de freguesia seja, ainda hoje, a mais usada.



Detalhes dos ferros


Oferro de freguesia geralmente é representado por uma letra ou, mais raramente, por um desenho simbolizando alguma coisa relacionada ao lugar. A letra pode ser a inicial do nome de um rio que banha a região. Os municípios banhados pelo rio Aracatiaçu, localizado na zona norte do estado do Ceará, como Sobral, Miraíma, Itapipoca, Amontada e Irauçuba, têm como ferro de ribeira duas letras “A”, sem o traço horizontal do meio, um dos quais é invertido, formando um losango, que significa as letras iniciais de Aracati e açu (Aracatiaçu).



Um  outro exemplo é o ferro da ribeira de São Gonçalo, no Rio Grande do Norte, que é o “P” de Potengi, rio que corta o referido município. A letra pode significar a inicial do nome do padroeiro ou da padroeira da cidade, como é o caso de Lajes-RN, que tem como ferro de freguesia um I, em referência à Imaculada Conceição, a padroeira deste município. A letra do ferro de freguesia pode expressar,  também, a inicial do nome do município, como ocorre em relação a Massapê-CE, cujo ferro do município é um “M”.


Às vezes, o ferro de freguesia é formado por um desenho e uma letra, como se observa relativamente ao município cearense de Morrinhos, que tem como padroeiro o Sagrado Coração de Maria, e como ferro de freguesia o desenho de um coração unido à letra “M”. O município litorâneo de Aracati-CE tem como ferro de freguesia uma cruz, símbolo da Igreja Católica, pois sua antiga denominação era Arraial da Santa Cruz do Aracati.  São, portanto, variadas as motivações para a escolha do desenho do ferro de freguesia. Cada município possui o seu ferro, cujo desenho era registrado na Prefeitura Municipal e na Secretaria de Agricultura do Estado, de modo que se podia identificar a origem de uma rês pela marca característica de cada município.


Não é raro dois ou mais municípios possuírem o mesmo ferro de freguesia. Isso ocorre quando um município, desmembrado de outro, resolve continuar com o ferro que já era usado na área ou por razões distintas. Às vezes coincide mais de um município possuir idêntica motivação para a escolha da marca da freguesia, como por exemplo, quando seus nomes se iniciam com a mesma letra, ou quando o padroeiro, ou padroeira do município, for o mesmo santo ou santa, ou, ainda, no caso dos antigos ferros de ribeira, os municípios serem banhados pelo mesmo rio. Os municípios cearenses de Fortaleza, Alto Santo e Sobral, possuem dois ferros de freguesia, cada um, todos os outros municípios apresentam apenas um.


Como já dito, a posse de gado graúdo (bovinos, equinos, muares e asininos) é garantida legalmente pela marca de ferrar do proprietário, que é posta no lado direito do animal.


Os ferros de fogo, geralmente, medem de 8 a 10 cm de diâmetro, com cabo de 30 a 40 cm de comprimento. Para não queimar a mão do vaqueiro, e ainda proporcionar maior apoio à pegada, a ponta do cabo é guarnecida de madeira, sabugo de milho ou osso. As marcas de ferrar gado são feitas de ferro batido, unido por cravos, trabalhadas pelos velhos ferreiros sertanejos. Cada fazendeiro idealizava o seu ferro de marcar boi, mas quase sempre ele aproveitava o caixão (desenho básico) do ferro do pai, que, por sua vez, aproveitara o do avô, este o do bisavô, e assim sucessivamente, de modo que os ferros de marcar a fogo o gado de uma mesma família são parecidos uns com os outros.


Por tradição, a diferenciação entre os ferros dos diversos familiares consiste em pequenas alterações denominadas “diferenças”, e que possuem formas (e nomes) particulares, como lua, flor, asa, martelo, puxete, flecha, e muitos outros, pois, ao todo, são mais de 20 diferenças, consagradas pelo uso da heráldica das marcas de ferrar gado, no Nordeste brasileiro. A expressão muito usada no sertão “ferro avoengo” significa ferro antigo, ferro idealizado pelos antepassados, que teve origem nos avós, e que ainda hoje mantém o caixão do ferro primitivo. Quando uma rês era vendida, o ferro do novo proprietário era colocado acima ou à direita do ferro antigo. Se fosse vendida para uma pessoa de outro município, a remarcação (contraferra) da nova freguesia também era feita acima ou à direita da marca da freguesia anterior.



Criação de gado foi determinante para o sertão do Nordeste


O sertão do Nordeste brasileiro foi povoado graças à criação de gado. A colonização do sertão semiárido foi tardia e traumática. Os índios tapuias, especialmente os da família linguística tarairiu, que habitavam às margens dos rios temporários da região, abatiam e comiam o gado bovino e cavalar, e flechavam os fazendeiros e vaqueiros.




A maioria das antigas fazendas de criar gado localizadas no sertão semiárido nordestino só foi estabelecida depois da Guerra dos Bárbaros (1687-1704), quando se exterminaram, ou expulsaram, os fortes, altos, corajosos, valentes, vingativos e canibais guerreiros tarairius e se escravizaram os curumins e as cunhãs, principalmente os que viviam nas margens dos rios secos dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Nessa época, a população nordestina era rarefeita e, nas fazendas, viviam poucas pessoas, já que a principal atividade econômica que nelas se desenvolvia era a pecuária, que absorve pouca mão de obra, de modo que um só vaqueiro era suficiente para tratar grande número de reses. As fazendas eram indivisas, pois não se usavam cercas; o gado era criado solto, extensivamente.


Uma vez por ano, após o período chuvoso, quando desaparecem as moscas varejeiras, causadoras das bicheiras, os proprietários das fazendas vizinhas, em regime de mutirão, juntavam o rebanho em uma determinada fazenda, para “apartar” o gado (separar as reses de cada proprietário), ferrar os garrotes e garrotas e castrar os novilhotes. Cada fazendeiro se deslocava, a cavalo, acompanhado por seus vaqueiros vestidos a caráter, gibão, peitoral, chapéu de couro, guarda-pés e guarda-mãos, rumo à fazenda escolhida para o evento. Era um dia de muito trabalho e, também, de muita alegria. O proprietário da fazenda escolhida matava um boi e chamava músicos (rabequeiros, violeiros, sanfoneiros, banda de pífano ou banda cabaçal) e repentistas, a fim de animar a noite.


Esses eventos anuais, de trabalho e diversão, deram origem às vaquejadas festivas, que se tornaram tradicionais em todo o sertão do Nordeste. Nesses acontecimentos, a ferra do gado era o que exigia mais perícia, pois os ferros de cada proprietário eram colocados em uma grande fogueira, ao lado, e quando a rês era identificada pela aparência, comparando a filha com a vaca-mãe, que já tinha sido marcada em anos anteriores, o proprietário, ou um de seus vaqueiros, trazia o ferro incandescente e marcava a rês derrubada e dominada pelos outros vaqueiros.

No lado esquerdo do animal era ferrada a freguesia do local, que era a mesma para todos os fazendeiros, e no lado direito, a marca individual de cada proprietário. Os ferradores eram dotados de grande habilidade. O ferro caldo deve queimar somente o couro, porém sem borrar a marca, ou seja, sem falhas, de modo a deixar bem visível o desenho do ferro. Se, por algum motivo, a marca apresentasse falhas, estas eram corrigidas com o giz (tipo de buril de ferro candente usado para corrigir falhas no momento da ferra do rebanho). A emenda era feita a mão livre.

As fazendas não possuíam brete de contenção. Cada rês era laçada com relho de couro cru e puxada até encostar no mourão de miolo de aroeira, localizado no centro do tosco mas seguro curral de pau a pique, onde era derrubada pelo aperto, no vazio (macaco), de uma corda de cabelo de rabo de bovino (vassoura). Esse tipo de corda trançada de cabelo é conhecido por sedenho, e é muito usado para arrelhar o bezerro por ocasião da ordenha (arrelhador).


A rês, após ser laçada pelos chifres, arrastada para o mourão, derrubada e dominada pelos vaqueiros, era ferrada a fogo. Muitas vezes, para levar o rebanho para o curral, era necessário colocar, em alguns touros mais ariscos, uma máscara (careta), com a finalidade de serem tangidos mais facilmente. Para colocar a máscara, a rês tinha que ser derrubada pelo rabo e dominada em plena Caatinga espinhenta e garranchenta. Nesses casos, somente os vaqueiros mais experientes eram capazes de “pegar a unha” o novilho bravo e forte no meio do mato. O cavalo, protegido com peitoral de sola, e os vaqueiros com seu traje típico (gibão, peitoral, perneiras, chapéu de couro, guarda-pés e guarda-mãos) enfrentavam os espinhos e os garranchos da vegetação agressiva regional. O calor, a sede, a poeira, o mato seco e fechado e o touro bravio e robusto eram vencidos pelo corajoso, forte, tenaz e hábil vaqueiro sertanejo.



Vestimenta do vaqueiro


De todas as regiões geográficas brasileiras, o único vaqueiro que possui vestimenta especial é o do sertão seco nordestino, visto que, para manejar o gado na caatinga desfolhada, seca, fechada, garranchenta e espinhenta é necessário proteger o cavalo e o vaqueiro das estrepadas dos tocos pontiagudos e dos espinhos das cactáceas, bromeliáceas e das inúmeras espécies arbóreas vegetais armadas com afiados espinhos.

É costume do sertanejo do semiárido nordestino marcar com o seu ferro as portas, janelas, gamelas, mesas, mourões de porteira de curral, caixões de guardar farinha e rapadura, formas de rapadura, baús e até os queijos feitos na fazenda. A marca de ferro quente identifica o dono do gado e de outros bens. É o símbolo do criador de gado. É um tipo de brasão, conforme a expressão “Heráldica Sertaneja” criada por Gustavo Barroso.


Algumas instituições filantrópicas ou confessionais, como santas casas de misericórdia, conventos, escolas e outras, também possuíam seus ferros de gado.


Na literatura existem três importantes livros sobre marcas de ferro a fogo. O primeiro livro publicado sobre esse tema foi do grande escritor paraibano Ariano Suassuna, que escreveu Ferros do Cariri: Uma Heráldica Sertaneja (Recife, editora Guariba, 1974). O segundo foi do potiguar Osvaldo Lamartine de Faria, emérito estudioso das coisas sertanejas, intitulado Ferro de Ribeiras do Rio Grande do Norte, lançado em 1984 pela Coleção Mossoroense (Vol. CCXLI, Série C). A última publicação é o excelente livro Rudes Brasões - Ferro e Fogo das Marcas Avoengas, do intelectual cearense Virgílio Maia, publicado pela Editora Ateliê Editorial (2ª edição revist
a e ampliada, 2004).

Fonte:  http://www.nordestevinteum.com.br/

domingo, 10 de junho de 2012

Anatália de Melo Alves: norte-riograndense, nascida em Martins, vítima do Regime Militar (1964-1985)

Memória da ditadura – Exclusivo: Dossiê aponta sevícias e assassinato de militante do PCBR

9/6/2012 20:17,  Por Denise Assis - do Rio de Janeiro

PCBR
Detalhe do laudo cadavérico constante no processo que ainda não foi julgado.

Ela nasceu no interior de Mossoró, no Rio Grande do Norte, na cidade de Martins (região serrana do Estado), em 9 de julho do ano de 1945. Recebeu o nome de Anatália, uma espécie de equívoco ortográfico, que evidencia a pouca escolaridade dos pais, ou do tabelião. Coisas do interior, de um Brasil tão diverso e gigante, que quando se diz Natália no Sul, ecoa no Norte como Anatália e assim fica sendo.
Logo, quando tinha apenas cinco anos, a família se transferiu para Mossoró, onde ela fez o curso primário, o ginásio e, por fim, cursou o científico, concluído em 1967. Trabalhava durante o dia, na Cooperativa de Consumo Popular, para estudar à noite. Em 1966, um ano antes da formatura, se apaixonou e iniciou namoro com um bancário, Luiz Alves Neto, emprego fixo no Banco do Brasil. Dava para se casar, e assim o fizeram, em 1968. Parou de trabalhar fora de casa, dedicando-se à atividade de costureira. A vida seguia sem sobressaltos, casa popular comprada pelo financiamento do Fundo de Habitação Popular do Estado de Pernambuco (FUNDHAP), louça e mobília.
Certo dia, em 1969, Luiz chamou-a para uma conversa séria. Precisavam deixar a cidade, onde ele se sentia mal visto. Anatália questionou, quis entender melhor a decisão da transferência repentina. Neto, porém, só revelou suas ligações com o PCBR e seu papel de liderança nas Ligas Camponesas na noite do embarque. Por decisão do partido, daquele dia em diante iriam para Pernambuco. Anatália vivia seu amor pelo marido e seguiu à risca as suas orientações. Ficou na casa dos pais o tempo suficiente para vender louça e mobília – com o que arrebanhou pouco mais de “um mil cruzeiros novos” – e esperou o aviso de seguir viagem ao encontro de Luiz.
Dez dias depois recebeu uma carta do marido, dizendo que estava à sua espera em Natal. Ela embarcou às seis da manhã e juntos seguiram para Pernambuco. Era dezembro de 1969 e Anatália partira para uma vida totalmente diferente da rotina pacata de dona de casa, que vivera até então. Agora atendia pelo codinome de “Marina” e dividia um “aparelho” com “Maia”- nome adotado por Luiz, seu marido -, “Alex” e “Adriana”. Anatália havia se transformado, por amor, em uma militante de esquerda. Aos olhos do governo militar de então, numa “terrorista”.
Muitos “aparelhos” depois, o casal foi designado para uma casa próxima ao Esporte Clube do Recife. A máquina de costura foi trocada pela de escrever. Os moldes para as roupas que costurava, por manifestos. Anatália podia não ter formação política, mas seguia à risca as orientações do marido e seu grupo, no enfrentamento ao regime militar. Na luta, foi adquirindo consciência do que se passava à sua volta. A movimentação da casa, sempre com, no mínimo, três moradores, no entanto, chamou a atenção da vizinhança.
No dia 13 de dezembro de 1972, o casal foi preso junto com o militante José Adelino Ramos, o “Lino”, detido em frente ao ponto marcado nas imediações da churrascaria “Gaiola de Ouro”. Os presos foram levados, segundo descrição contida em jornal da época, fornecida pela Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, para “local desconhecido”. Pode-se imaginar pelo que passaram até serem transferidos para a sede da Secretaria, o DOPS local, em 15 de janeiro de 1973, conforme o prontuário nº 38.216, daquela delegacia. Ali, depois de devidamente fichados e de darem entrada oficialmente como presos sob a custódia do Estado, voltaram a ser barbaramente torturados.
Anatália levava uma bolsa de couro marrom, arrematada por franjas, contendo uma carteira de trabalho falsa e uma identidade também falsa (nº 79.028), em nome de Maria Lucia dos Santos. Tinha, ainda, 20 cruzeiros e trinta centavos, e as chaves de casa.
Tamanho trabalho de “convencimento” os levou, a ela e o marido, a redigir, de próprio punho, depoimentos detalhados confessando suas participações nas atividades do PCBR. Não omitiram nomes, pontos, nada, rendidos pela ação violenta dos agentes e, talvez, por um rasgo de ingenuidade, de acharem que confessando estariam a salvo de novas jornadas de tortura. Luiz Neto escapou. Anatália, no frescor de seus 28 anos, 1,58m, bom corpo, bonita para os padrões da época, foi derrubada em uma cama de campanha, numa das salas da Secretaria, e seviciada até a morte.
PCBR
Prisioneira sofreu sevícia e maus tratos
Seu corpo foi entregue a um perito, que faz no laudo emitido, uma descrição, digamos, “olímpica”, do que viu no cadáver da jovem. O torso com equimoses, o pescoço com um sulco de três centímetros, evidenciando a esganadura e, o pior: suas partes pubianas com queimaduras que se estendiam até a altura inicial da coxa. O laudo descreve também hemorragia interna, nos órgãos do tórax e pulmões e conclui que Anatália morreu em decorrência de asfixia mecânica.
O delegado adjunto, Amauri Leão Brasil, responsável pela presa naquele dia, viu ali uma boa oportunidade de montar uma explicação que, a seu ver, era verossímil. Descreveu a morte da presa como “suicídio”. Aliás, não foram poucos, na época, a serem “suicidados”. Wladimir Herzog, é o mais emblemático deles, seguido do operário Manoel Fiel Filho e tantos outros que se “jogaram” sob carros pelas ruas das principais capitais do país.
Segundo a explicação do adjunto, à imprensa, que cobriu o caso sob censura, a presa teria usado a alça de sua bolsa – curtíssima, por sinal – encontrada presa ao seu pescoço para, em seguida ao pedido feito ao agente Artur Falcão Vizeu, para ir ao banheiro tomar um banho, se matar. O fato se deu às 17h20, no plantão do delegado adjunto. Segundo ele, Anatália foi encontrada morta no banheiro, de onde foi retirada para tentativas de socorro, na presença dos funcionários Genival Ferreira da Silva e Hamilton Alexandrino dos Santos, mas já estava morta.
Em uma das fotos feitas pela perícia no local, e contida no seu dossiê, a militante aparece de corpo inteiro, e há a seguinte legenda: “O cadáver jazia sobre uma cama de campanha, que se encontrava no interior do local em que funciona a Secção do Comissariado da Delegacia de Segurança Social da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de Pernambuco”. Ou seja, muito próximo ao poder do Estado. Em dependências vizinhas à sala do delegado de plantão, e não no banheiro, conforme descreveu o Dr. Delegado.

PCBR
Foto mostra marcas de esganadura.

Difícil, hoje, pela exaustiva quantidade de relatos de ex-presos, acreditar que durante sessões de tortura houvesse banho ou qualquer benesse desse tipo concedida aos presos. Ademais, o tempo, (20 minutos, descrito pelo carcereiro) não teria sido suficiente para criar a situação que a levou a falecer naquelas circunstâncias. Seu cadáver não estava atado a ponto nenhum, quando foi encontrado. E custa crer que alguém possa ter usado apenas as mãos para manter o laço da alça da bolsa retesado até alcançar a própria morte.
Observando-se uma das fotos tiradas pela perícia, e preservadas entre a documentação do Arquivo Estadual de Pernambuco, vê-se Anatália em posição de defesa, com uma das mãos à frente do corpo e a outra como quem afasta o agressor ou tenta se apoiar na parede. As fotos da região pubiana, porém, não deixam dúvidas. Ali se cometeu do modo mais literal e cruel a chamada “queima de arquivo”. Sua calcinha está descida e atearam fogo às suas partes genitais, numa tentativa grotesca de apagar os vestígios da prática mais comum entre os torturadores, contra as mulheres, na época: o estupro.
Para os responsáveis pela prisão e guarda de Anatália, pouco importou que ela já tivesse fornecido e detalhado todas as informações que eles queriam lhe arrancar. Anatália pagou com a vida o preço de ser mulher, jovem, bonita e, “subversiva”, como o aparato policial classificava os militantes de esquerda.
No dia 23 de janeiro daquele ano, poucos dias depois do fato, o delegado titular, Redivaldo Oliveira Acioly, corroborou a versão de suicídio engendrada pelo colega Amaruri Leão Brasil, enviando à 7º Circunscrição Juduciária Militar um ofício comunicando o “suicídio” da “subversiva” Anatália Melo Alves, vulgo “Marina”, e dando o caso por encerrado.
Luiz Alvez Neto cumpriu pena e foi anistiado. Anatália é nome de escola em Mossoró, e um prontuário amarelecido guardado no Arquivo Estadual de Pernambuco. Lá permanecem, ainda hoje, a sua bolsa de couro marrom, os documentos com nome falso de Maria Lucia dos Santos e as chaves da casa para onde ela jamais voltou.

Gota d’água

Em setembro de 1967, quando o Partido Comunista Brasileiro (PCB) perpetrou a expulsão de um dos seus mais importantes quadros, Carlos Marighella, outros nomes de peso do partido, tais como Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e Mário Alves, decidiram que era hora de empreender um rompimento e fundar um novo partido.
De uma reunião em Niterói, com a presença de trinta membros, entre eles Flávio Koutizii, do Rio Grande do Sul, Hélcio Pereira Fortes, de Minas e Bruno Maranhão, de Pernambuco, saiu o núcleo de fundadores do PCBR. As conversas entre os insatisfeitos com o PCB continuaram e geraram uma fragmentação ainda maior, que deram origem ao PCdoB e à ALN, bem como outras dissidências.
Depois de inúmeras discussões que envolveram Maurício Grabois, João Amazonas e demais líderes, em um encontro acontecido em 17 de abril de 1968, num sítio fluminense, situado na Serra da Mantiqueira, a assembleia fundadora do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) se reuniu para montar o programa do partido. Estiveram presentes cerca de 25 pessoas, entre ex-membros do Comitê Central do PCB e delegados de base de vários Estados. O programa, um texto eclético, se baseou no esboço redigido por Mário Alves que condensou o pensamento das variadas tendências em vigar na época. Sua tentativa foi a de enlaçar a tradição doutrinária marxista, à pressão avassaladora pela luta armada imediata. Sua meta era a revolução popular, destinada a destruir o estado burguês e a conquista de um governo popular revolucionário.
Desde abril de1969, o PCBR se ocupou com operações armadas urbanas, essencialmente voltadas para a propaganda revolucionária. O acirramento da repressão no segundo semestre daquele ano obrigou o partido a reforçar sua clandestinidade e lançar operações mais ousadas. No primeiro assalto a banco feito pelo PCBR no Rio, teve início uma série de prisões que atingiram o Comitê Central, levando centenas de militantes para os porões da repressão. Segundo levantamento feito pelo “Brasil: Nunca Mais”, houve 31 processos referentes ao PCBR, somando 400 cidadãos atingidos como réus ou como indiciados nos inquéritos. (O episódio de criação do PCBR está bastante detalhado no livro de Jacob Gorender, Combate nas Trevas, da Editora Ática)

As Ligas Camponesas
Originalmente surgidas com a organização dos camponeses na Europa durante a Idade Média, no Brasil, as ligas camponesas são conhecidas como a associação de trabalhadores rurais que se iniciou no Engenho Galiléia, no Estado de Pernambuco, em 1955, a partir da reivindicação de caixões para os camponeses mortos.

PCBR
O deputado e advogado Francisco Julião

O movimento ganhou força com a liderança do advogado e deputado pelo Partido Socialista, Francisco Julião, e teve amplitude nacional, empunhando a bandeira pelos direitos à terra e em defesa da Reforma Agrária. Julião aglutinou o movimento em torno do seu nome, conseguindo reunir idealistas, estudantes, alguns intelectuais e projetando-se como presidente de honra das Ligas Camponesas.
As primeiras Ligas surgiram no Brasil, em 1945, logo após a redemocratização do país depois da ditadura do presidente Getúlio Vargas. Primeiro, sob a iniciativa e direção do recém-legalizado Partido Comunista Brasileiro (PCB), quando camponeses e trabalhadores rurais se organizaram criando ligas e associações rurais em quase todos os estados do país.
Em 1948, no entanto, com a proscrição do PCB as organizações de trabalhadores no Brasil enfrentaram muita dificuldade para manter a mobilização. Entre 1948 e 1954, eram poucas as organizações camponesas que funcionavam e raríssimas as que ainda conservavam o nome de Liga, como a Liga Camponesa da Iputinga, dirigida por José dos Prazeres, um dos líderes do movimento em Pernambuco e localizada no bairro do mesmo nome, na zona oeste da cidade do Recife.
Em janeiro de 1955, com a criação da Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco, a SAPP, localizada no Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão, (PE) houve o ressurgimento das Ligas Camponesas no Nordeste. A esta altura, as ligas deixaram de ser organizações e passaram a ser um movimento agrário, que contagiou um grande contingente de trabalhadores rurais e também urbanos.
Em agosto de 1955, realizou-se no Recife, o Congresso de Salvação do Nordeste, que teve grande importância para o movimento camponês, uma vez que foi a primeira vez no Brasil, que mais de duas mil pessoas, entre autoridades, parlamentares, representantes da indústria, do comércio, de sindicatos, das Ligas Camponesas, profissionais liberais e estudantes, reuniram-se para discutir abertamente os principais problemas socioeconômicos da região.
A Comissão de Política da Terra era composta por mais de 200 delegados, em sua maioria, camponeses representantes das Ligas.
As Ligas Camponesas expandiram-se para diversos municípios de Pernambuco e também para outros estados brasileiros: na Paraíba, onde o núcleo de Sapé foi um dos mais expressivos e importantes, chegou a congregar mais de dez mil membros. Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro (na época, estado da Guanabara); Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Acre e também no Distrito Federal, Brasília, foram outros pontos onde as Ligas tiveram papel de destaque em defesa dos trabalhadores rurais.
Em 1962, foi criado o jornal A Liga, veículo de divulgação do movimento. Com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, nesse mesmo ano, muitas Ligas transformaram-se em sindicatos rurais.
No final de 1963 o movimento estava concentrado nos estados de Pernambuco e Paraíba e o seu apogeu como organização ocorreu no início de 1964, quando foi criada a Federação das Ligas Camponesas de Pernambuco, da qual faziam parte 40 organizações, com cerca de 40 mil filiados no Estado.
Na Paraíba, Rio Grande do Norte, Acre e Distrito Federal (Brasília), onde ainda funcionava o movimento, o número de filiados era de aproximadamente 30 mil, congregando assim as Ligas Camponesas entre 70 e 80 mil pessoas na época.
Com o golpe militar de 1964, o movimento foi desarticulado, proscrito, sendo seu principal líder preso e exilado. O movimento funcionou ainda durante algum tempo, através da Organização Política Clandestina, que possuía uma direção nacional formada por assalariados rurais e camponeses, que se infiltraram em sindicatos agrícolas, passando a ajudar presos e perseguidos políticos.

Denise Assis é jornalista e escritora.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sepultura misteriosa descoberta em região de Krasnodar

 
7.06.2012, 14:33
Sepultura misteriosa descoberta em região de Krasnodar
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Na região de Krasnodar foi descoberta uma sepultura que poderá revelar o segredo de dólmens. Num deles, os cientistas encontraram restos de um homem que viveu há 6 mil anos e era cerca de um milénio mais velho do que o faraó egípcio Quéops.
Os arqueólogos encontraram peças de cerâmica que, provavelmente, serviram para fins rituais, um crânio humano e muitos ossos. No entanto, os cientistas ainda não podem estudá-los visto terem sido apreendidos pela comissão de investigação da Procuradoria, que decidiu examiná-los apesar de os arqueólogos estarem seguros que a sepultura tem  milhares de anos.