segunda-feira, 28 de julho de 2014

Você sabia!

Cientistas descobrem como os egípcios moveram pedras gigantes para formar as pirâmides


Por: Andrew Tarantola

1 de maio de 2014 às 11:38 859030


Uma civilização antiga, sem a ajuda de tecnologia moderna, conseguiu mover pedras de 2,5 toneladas para compor suas famosas pirâmides. Mas como? A pergunta aflige egiptólogos e engenheiros mecânicos há séculos. Mas agora, uma equipe da Universidade de Amsterdã acredita ter descoberto o segredo – e a solução estava na nossa cara o tempo todo.
Tudo se resume ao atrito. Os antigos egípcios transportavam sua carga rochosa através das areias do deserto: dezenas de escravos colocavam as pedras em grandes “trenós”, e as transportavam até o local de construção. Na verdade, os trenós eram basicamente grandes superfícies planas com bordas viradas para cima.
Quando você tenta puxar um trenó desses com uma carga de 2,5 toneladas, ele tende a afundar na areia à frente dele, criando uma elevação que precisa ser removida regularmente antes que possa se ​​tornar um obstáculo ainda maior.
A areia molhada, no entanto, não faz isso. Em areia com a quantidade certa de umidade, formam-se pontes capilares – microgotas de água que fazem os grãos de areia se ligarem uns aos outros -, o que dobra a rigidez relativa do material. Isso impede que a areia forme elevações na frente do trenó, e reduz pela metade a força necessária para arrastar o trenó. Pela metade.



Ou seja, o truque é molhar a areia à frente do trenó. Como explica o comunicado à imprensa da Universidade de Amsterdã:

Os físicos colocaram, em uma bandeja de areia, uma versão de laboratório do trenó egípcio. Eles determinaram tanto a força de tração necessária e a rigidez da areia como uma função da quantidade de água na areia. Para determinar a rigidez, eles usaram um reômetro, que mostra quanta força é necessária para deformar um certo volume de areia.
Os experimentos revelaram que a força de tração exigida diminui proporcionalmente com a rigidez da areia… Um trenó desliza muito mais facilmente sobre a areia firme [e úmida] do deserto, simplesmente porque a areia não se acumula na frente do trenó, como faz no caso da areia seca.



Estas experiências servem para confirmar o que os egípcios claramente já sabiam, e o que nós provavelmente já deveríamos saber. Imagens dentro do túmulo de Djehutihotep, descoberto na Era Vitoriana, descrevem uma cena de escravos transportando uma estátua colossal do governante do Império Médio; e nela, há um homem na frente do trenó derramando líquido na areia. Você pode vê-lo na imagem acima, à direita do pé da estátua.

Agora podemos finalmente declarar o fim desta caçada científica. O estudo foi publicado na Physical Review Letters. [Universidade de Amsterdã via Phys.org via Gizmodo en Español]


Imagens por wmedien/Shutterstock; Al-Ahram Weekly, 5-11 de agosto de 2004, edição 702; Universidade de Amsterdã.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br/estudo-egipcios-piramides/

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Reflexões sobre a violência

Livro de ex-fuzileiro compara torturas praticadas durante a ditadura civil-militar às realizadas por nazistas, na Segunda Guerra. O militar democrata conta que foi preso e revela nomes de seus algozes

Déborah Araujo
  • Mergulho no inferno, de E. P. Cavalcante / Editora APED / R$ 45,00
    Mergulho no inferno, de E. P. Cavalcante / Editora APED / R$ 45,00
    Em seu mais recente livro, o militar aposentado Eunício Precílio Cavalcante conta a história de luta contra a extrema-direita que travou junto com alguns colegas, que teria começado antes da ditadura civil-militar. Em Mergulho no inferno, o ex-capitão-de-mar-e-guerra do Corpo de Fuzileiros Navais conta que foi preso e “torturado barbaramente”, além de revelar nomes de torturadores pouco conhecidos. “Militar democrata”, ele traça um paralelo entre as torturas havidas no Brasil e as praticadas por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Para dar corpo à obra, o autor, aos 82 anos, utilizou a própria memória como fonte e extensa bibliografia. Em entrevista para a Revista de História, Cavalcante fala sobre a importância de compartilhar suas histórias e reflexões com o grande público.
    Revista de História: O senhor fez parte do Corpo de Fuzileiros Navais na juventude. Como que acabou se engajando na luta contra a ditadura militar?
    Eunício Precílio Cavalcante: Nós, os militares subalternos, e mesmo alguns oficiais, já vínhamos lutando muito antes da ditadura. Nós sentíamos a ameaça do complô, que já se preparava desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Eles [os altos oficiais da ultradireita] queriam de qualquer forma tirar o presidente do cargo, por conta de medidas nacionalistas, entre outras. O alto comando militar era praticamente todo golpista e antinacionalista. Não chegava a 1% os oficiais do alto comando que eram convictamente a favor do presidente. Isso desde o governo Vargas até a deposição de João Goulart. Eu chego a dizer no meu livro que o Brasil é talvez o único país do mundo em que a direita é antinacional. A direita argentina, francesa, inglesa, portuguesa, suíça, são todas nacionalistas, menos a brasileira.
    RH: O livro começa com o momento em que o senhor já está preso. Como foi sua prisão?
    EPC: Fui preso em São Paulo no dia 4 de novembro de 1969, no mesmo dia em que assassinaram Carlos Mariguella. Nós fomos presos pela manhã e depois fomos torturados. Eu fui torturado 15 dias depois porque mantive uma historinha. Todo resistente que está lutando na clandestinidade tem que manter uma história, e a minha história de que eu era vendedor de livros era coerente. Só que 15 dias depois caiu um companheiro em Ribeirão Preto, que disse que eu não era nada de inocente, que eu participava da ALN (Ação Libertadora Nacional) e que eu fornecia armas para ele. Era a minha palavra contra a dele. Nós dois fomos torturados barbaramente pela equipe do delegado Sérgio Fleury, agentes da Marinha, agentes do Cenimar (Centro de Informações da Marinha).
    Outras perspectivas sobre a ditadura:
    RH: Como foi, depois de tantos anos, trazer sua história a público?
    EPC: Eu e alguns companheiros já falávamos em escrever algo para que a juventude brasileira saiba o que aconteceu. Se subestima muito o papel dos militares democratas. Essa história não vem sendo levada à população. Um pequeno número de militares democratas foram os primeiros a lutar dentro dos quartéis tentando impedir o rolo compressor dos militares da ultradireita.
    RH: O livro traz temas como a tortura como instrumento de poder e a má formação dos oficiais militares no Brasil. Quais conjunturas permitiram esse quadro brasileiro?
    EPC: As nossas forças armadas atuavam no período da Guerra Fria como milícia de ocupação colonial, estavam submetidas ao Pentágono e aos Estados Unidos. O Brasil viveu 400 anos sob o domínio do latifúndio. E antes nós erámos colônia de uma colônia, Portugal, que era submetida à Inglaterra. Depois nós nos tornamos colônia da Inglaterra, e passamos a ser colônia dos Estados Unidos da América. Então, a partir da Guerra Fria, essa questão se acentua a cada dia.
    RH: Pensando essa questão nos dias atuais, o senhor acha que a militarização da polícia no Brasil também é fruto desse cenário?
    EPC: A polícia militar foi criada como milícia dos coronéis donos de terra. Cada presidente de estado (como eram chamados os governadores até 1930) tinha em sua mão um pequeno exército. A polícia de São Paulo, por exemplo, teve treinamento da Comissão francesa antes do Exército brasileiro. A polícia militar, como a de São Paulo e de Minas Gerais, foi muito importante no Golpe de 1964 porque os soldados do Exército não estavam preparados para briga. Quem estava era os policiais as milícias estaduais, que não são nem atuam como policiais porque não formados, não têm capacidade para atividades como investigação, entre outras coisas. E nem tão pouco são militares. Nas mãos dos presidentes estaduais, os policiais militares agiam como um contingente de jagunços fardados e armados. Depois da democratização do país, depois do fim desse período horrível que foi a Ditadura Militar, o cenário mudou. Hoje nós sabemos que a polícia militar não é algo bom, que é uma polícia meramente de repressão. Além de ser uma força de jagunços a serviço dos governadores, após o golpe a polícia militar se especializou em perseguir os chamados “comunistas”, que podiam ser os nacionalistas, democratas, entre outros.

O “Levante de Soweto” e o apartheid na África do Sul

 17 de junho de 2014
levante-de-soweto
Há 38 anos, no dia 16 de junho de 1976, a África do Sul assistiu perplexa a um massacre: centenas de jovens – a maioria negra – foram mortos no episódio conhecido como “Levante de Soweto”, hoje símbolo da luta contra o racismo no mundo.
Na época, vigorava no país o regime de apartheid: uma minora branca governava, segregando a população negra. Essa política racial durou mais de quatro décadas, de 1948 até 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul.
Mas voltemos a 1976. As escolas para os negros estavam superlotadas e os professores eram desqualificados. Além disso, era necessário pagar pelos estudos, o que contrastava com a educação destinada à população branca, gratuita e de qualidade.
Para piorar, o governo sul-africano proibiu os alunos do bairro de Soweto, localizado no subúrbio de Joanesburgo, de estudarem em sua língua “bantu”. Obrigatoriamente, deveria ser ensinado nas escolas o africâner – língua-símbolo do apartheid – e o inglês. Línguas nativas, portanto, estavam vetadas. Isso foi a gota d’água.
Cerca de 20 mil estudantes sul-africanos se reuniram para protestar contra a medida. A manifestação começou calma, porém as tropas de segurança entraram em choque com os manifestantes e um estudante de 13 anos, Hector Petersen, foi assassinado pela polícia.
Os estudantes responderam atirando pedras. A polícia abriu fogo e matou mais 22 estudantes. Nos dias seguintes, muitos sul-africanos ficaram indignados com a truculência do regime e saíram às ruas, protestando contra as mortes. Até o final de 1976, o saldo era catastrófico: 600 manifestantes mortos e milhares de feridos. Em 1991, o 16 de junho passou a ser celebrado como o Dia da Criança Africana.
Fontes: Soweto, Agangsa, Unicef, BBC.