O Fim de Jararaca
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Na cadeia de Mossoró, Jararaca era assistido por um médico enviado pelo humano prefeito Rodolfo Fernandes, quando chegou um soldado da volante de Quelé exigindo anel de brilhante que o cangaceiro ostentava em um dos dedos. Como o valioso produto de roubo não saia do dedo do bandoleiro, o militar mandou-lhe colocar o membro na cadeira que iria arrancá-lo de punhal, o que não aconteceu graças aos protestos do médico. Na verdade eram feras combatendo feras, não havia distinção em quase nada entre cangaceiros e soldados volantes, tudo era da mesma laia.
Cangaceiro Jararaca, na ocasião em que se encontrava preso em Mossoró
Sem papas na língua, Jararaca destilava ódio contra a polícia, fazendo denúncias gravíssimas contra oficiais que segundo ele eram corrompidos pelos cangaceiros. Soltou o verbo contra Teóphanes Ferraz Torres, captor de Antônio Silvino e responsável pela diligência que resultou em sério ferimento no tornozelo de Lampião, no ano de 1924.
Jararaca tornou-se atração em Mossoró. Perguntas eram feitas, a exemplo do número de riscos em sua arma, ou seja, se era o total de mortes que ele tinha nas costas. Inúmeras histórias surgiam a cada instante, como a que havia jogado criancinha para cima e aparado-a no punhal. Tudo era desmentido pelo cangaceiro que a cada momento se enrolava ainda mais.
Lauro da Escóssia, famoso jornalista mossoroense, conseguiu proeza impressionante, pois entrevistou demoradamente o cangaceiro, publicando a matéria no jornal “O Mossoroense”. Nisso, tudo já tinha sido acertado em Natal, pois Juvenal Lamartine de Faria, natural de Serra Negra do Norte (RN), acostumado a conviver com a vida e com a morte nos sertões violentos daquela época, ordenou que a transferência de Jararaca fosse realizada para a capital potiguar.
Lamartine de Faria, aparece ao centro na foto
Avisaram ao bandido que ele seria levado para Natal, quando este reclamou que havia esquecido as alpercatas na cela. O oficial responsável pela condução do preso disse-lhe que não se preocupasse, pois assim que chegassem à capital lhe compraria belo sapato de verniz.Jararaca entrou inocentemente no veículo dirigido por Homero Couto, sendo acompanhado por diversos militares responsáveis pela sua transferência de Mossoró para Natal.Tudo acertado, o motorista reclamou de pane no motor, justamente em frente ao cemitério São Sebastião. Jararaca relutou em sair do automóvel, quando um soldado puxou violentamente pela perna baleada. O cangaceiro valeu-se de Nossa Senhora, mas não houve jeito, pois assim que o desditado bandido caiu no solo foi alvejado por verdadeiro festival de coronhadas das armas dos soldados.
A cova de Jararaca já estava aberta, fora do campo sagrado. Quando foram colocá-lo no buraco, notaram que as pernas eram grandes demais, não cabiam na sepultura. Ele ainda estava vivo, mas mesmo assim quebraram-nas a golpes de picareta e o enterraram ainda estertorando, ao lado de Colchete.
Hoje o túmulo de Jararaca é o mais visitado quando do dia de finados em Mossoró. Pessoas vindas de vários lugares vão pagar promessa, pois a crendice popular transformou José Leite de Santana em Santo, talvez em razão do martírio abominável do qual foi vítima, em vista que, não obstante ter sido um criminoso bárbaro, o dever da justiça é garantir sua segurança e fazer com que pague na forma da lei pelos crimes que cometeu.
Romero Cardoso
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