quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Posted: 30 Nov 2011 04:15 AM PST
O que seria apenas um conto, uma sátira aos sanatórios para tuberculosos, virou um calhamaço. Mas, se A Montanha Mágica cresceu em tamanho, não deixou de crescer igualmente em profundidade e tornar-se um romance imponente da literatura mundial, ajudando a consagrar (o seu autor, Thomas Mann). Com esta obra, contemplamos a cultura européia do século XX (lembrando das duas guerras mundiais) e, quem sabe, juntamente com o protagonista, passamos por um amplo processo “educacional”.
A Montanha Mágica conta a história de Hans Castorp, jovem engenheiro alemão que, ao visitar seu primo Joachim num sanatório para tuberculosos nos Alpes Suíços, manifesta sintomas da doença e acaba adiando seu regresso por um tempo indeterminado. Na montanha, Hans trava conhecimento com pessoas de diversas nacionalidades e participa, como uma espécie de aprendiz, de contendas intelectuais entre dois outros personagens importantes na obra: Lodovico Settembrini e Leo Naphta. Estes, por sua vez, são figuras antitéticas, representantes das principais idéias difundidas naquele tempo, mas que, não raro, tropeçam em argumentos contraditórios. A exposição de Hans a tais diálogos filosóficos e ao próprio ambiente do sanatório “contribuem para semear em Castorp dúvidas sobre temas cruciais da existência humana e desenvolverem-lhe o gosto por semelhantes questões”¹.
As vertentes interpretativas para a Montanha Mágica são variadas, o que não implica necessariamente em mútua anulação. Alguns preferem buscar as idéias de Nietzsche e Schopenhauer, outros, partindo da explicação de Thomas Mann (conferência dada na Universidade de Princeton), analisam-na como romance histórico ou do tempo (o tempo é um tema muito discutido pelo narrador), e assim por diante. Porém, acredito que a forma de se obter uma visão mais panorâmica e irrestrita da obra seja interpretando-a como o que os alemães chamam de bildungsroman, em outras palavras, como um romance de formação.
O que é, então, o bildungsroman? É o romance que narra a história do aperfeiçoamento do herói como ser humano, no sentido moral, psicológico, político, etc. O termo bildung se aproxima da paidéia dos gregos, ou seja, a formação do espírito humano, tendo em vista um ideal de Homem, os valores e os objetivos que regem sua vida. Essa educação está também vinculada à comunidade, não é meramente individual, pois ensina seu “lugar no mundo”¹. Seria bom até citar, sem entrar em pormenores, que a história da educação grega coincide com a da literatura². Assim sendo, podemos ainda adicionar que o objetivo do romance de formação não é apenas o de narrar o desenvolvimento do protagonista, é fazer com que o leitor, acompanhando os erros, acertos e reflexões do herói, seja educado pela arte.
Muito interessante é a explicação do próprio Thomas Mann da razão da Montanha Mágica ser um romance de formação: “O que ele aprende (Hans) a compreender é que toda saúde mais elevada deve ter passado pelas profundas experiências da doença e da morte, assim como o conhecimento do pecado é uma condição prévia da salvação (…) essa concepção de doença e morte como uma passagem necessária para o saber, para a saúde e para a vida torna a Montanha Mágica um romance de iniciação”. Esta afirmação já é capaz de nos lançar a ponderações filosóficas, às quais me abstenho aqui por motivos práticos. Contudo, é preciso afirmar que mesmo o leitor pouco conhecedor da filosofia do século XX pode fazer uma boa leitura. Logicamente, ele perderá o prazer de reconhecer a intertextualidade com filósofos importantes e outras sutilezas, mas nem por isso deixará de sentir a força da obra.
Durante todo o romance, Hans Castorp parece manter uma postura de distanciamento diante dos temas tratados, ouve as infindáveis disputas entre Naphta e Settembrini simplesmente por prazer e curiosidade. Settembrini sempre tenta alertá-lo quanto aos assuntos da “planície”, do ideal de civilização e do nosso dever de contribuir para a humanidade, para o progresso, “mas encontrara ouvidos moucos por parte de um discípulo que (…) imaginava, na verdade, isto ou aquilo das sombras espirituais das coisas, mas não se preocupava com as próprias coisas”³. Até que a guerra eclode e, como sob o efeito de uma trovoada, Hans acorda, “esfrega os olhos, como quem faz quem se omitiu”³.
Se Hans Castorp “desperta”, é do mesmo modo certo que não se perde entre aquelas elucubrações filosófica. Ele possui o distanciamento capaz de dotá-lo de uma postura mais analítica e de uma maior habilidade de escutar abertamente o que o outro tem a dizer. Por outro lado, ao contrário do que pensava, percebe como todos os ideais defendidos por Naphta e Settembrini estavam além do plano puramente intelectual, que possuíam uma força extraordinária no tocante ao rumo da nossa história.
O romance de Thomas Mann nos estimula à busca do nosso desenvolvimento como seres humanos, à abertura ao conhecimento e ao questionamento do mesmo, a assumir um papel ativo e crítico na sociedade. Finalmente, nos lembra da proximidade que os ideais representados na arte ou defendidos na filosofia têm em relação ao destino da humanidade. Esta é a catarse da Montanha Mágica para o leitor atual.

1 FONTANELLA, Marco Antonio Rassolin. A Montanha Mágica como Bildungsroman. Dissertação (Mestrado em Letras). Curso de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Campinas, 2000.
2 JAERGER, Werner. Paidéia: A Formação do Homem Grego. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
3 MANN, Thomas. A Montanha Mágica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
REED, T. J. Mann and History. In: ROBERTSON, Ritchie (ed.). The Cambridge Companion to Thomas Mann. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
BISHOP, Paul. The Intellectual World of Thomas Mann. In: ROBERTSON, Ritchie (ed.). The Cambridge Companion to Thomas Mann. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
MANN, Thomas. Extrato de Conferência apresentada por Thomas Mann em Maio de 1939 aos estudantes da Universidade de Princeton. Disponível na internet: http://citador.weblog.com.pt/arquivo/020393.html

Fonte: Carta Potiguar

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Islã: Sua Origem e Expansão

Por Nathalia Bastos


Mesquita Al Nabawi Medina na Arábia Saudita

Não tinham motivo os habitantes de Medina e os beduínos que os cercavam de abandonar o Mensageiro de Deus nem de querer proteger suas vidas em detrimento da dele. Pois quando lutam pela causa de Deus, não se expõem nem à sede nem à fome nem à exaustão. Todo passo que dão irrita os descrentes. Mas seus prejuízos contarão como boas obras aos olhos de Deus. Ele não deixa de recompensar os benfeitores.”
CHALITA, Mansur – Alcorão – Capitulo 09 “O Arrependimento”, versículo 120.

** Cidade de Meca ou Makka
  
O Islã é uma das três religiões monotoístas e foi revelada na Península Arábica no século VII, transformando essa região em cenário de uma das principais transformações religiosas e políticas da Idade Média. “Pregava a submissão total a Deus, nominado em árabe por 'Allah'” (RIBAS – p.45).
Renata R. Sancovsky nos chama atenção para o pensamento de Muhammad ibn Abdallah (570 – 632 d.C) ou Maomé como é conhecido no Ocidente, e que segundo Rogério de Oliveira Ribas, era mebro da tribo Banus Qoraush, na cidade de Meca.
Maomé segundo ambos pesquisadores, recebeu, segundo a crença, a revelação de Deus por intermédio do Arcanjo Gabriel, “através da intercessão de um 'nâmous', identificado pela visão popular dos submetidos, os muçulmanos” (RIBAS – p.45), e a partir de então no mundo árabe surge uma proposta de organização e civilização totalemnte diferente do que já tinham visto, proposta com base na submissão “incondicional a Deus que deveria substituir os cógigos de conduta social e fé, tradicionalmente praticados pelas tribos árabes e pelos seus esquemas familiariares de organização política” (SANCOVSKY – 200? - p.09).
Maomé promoveu uma unidade das tribos árabes, da Península Arábica, segundo Ribas tendo apoio na revelação corânica que o titulava “Profeta de Allah”, como dito anteriormente, tal unidade se dava através da substituição dos laços de sangue em virtude dos laços da fé o que deu origem a formação de um estado teocrático chamado de o Califado.

Rompendo com as visões belicistas, Maomé se afastava dos padrões ancestrais no relacionamento das tribos árabes, e instituiu um modelo de organização comunitária baseada no ideal da Ummah*, a unidade intertribal. O principio da guerra como ideal instrumento de consquista, que não intencionava a destruição física ou a eliminação cultural dos conquistados (salvo no combate às diversas expressões de paganismo), se estenderia aos modelos de centralização política que regeram a expansão islâmica após a morte do Profeta, em 632.”
SANCOVSKY, Renata R. - História Medieval - “Maomé, o Corão e a formação do Islã” - p.09

* Ummah – do árabe comunidade ou congregação muçulmana. Princípio de unidade política religiosa que permeou todas as pregações de Maomé efoi perpetuado pelos regimes dos Califas medievais. Apenas muçulmanos praticantes poderiam fazer parte da Ummah (SANCOVSKY – 200? - p.09)

Não muito diferente de Sancovsky, Ribas destaca que os muçulmanos motivados pelo combate pela causa de Deus ou a chamada jihad, deslocaram-se em uma expansão pela orla do Mediterrâneo, sob comando dos califas durante os séculos VII e VIII. Conquistando bizantinos, Síria, Egito, Palestina, o Norte da África e a Penísula Ibérica.
Sobre essa expansão territorial, o historiador e demógrafo Colin McEvedy (1930 – 2005) nos ilustra com dois mapas da expansão muçulmana, um de 651 e outro de 737 demonstrando todo o avanço do Califado Omíada.



Fonte: MCEVEDY, Colin – Atlas de História Medieval – p.37.(Scans)





Fonte: MCEVEDY, Colin – Atlas de História Medieval – p.39. (Scans)
 


A conversão islâmica dos habitantes desta última região [a antiga Mautitânia Romana], chamados de mouros pela cristandade européia, engrossou as fileiras do 'exército e Allah', permitindo aos muçulmanos, na primeira metade do século VIII, conquistar a Península Ibérica, onde permaneceriam por séculos. Somente seriam dali expulsos, progressivamente a partir do século XI, com a chamada Reconquista Cristã, concluída no século XV com a conquista de Granada.”
RIBAS, Rogério de Oliveira - “O Islam na diáspora: crenças mouriscas em Portugal nas fontes inquisitoriais quinhentistas” - p.46.





BIBLIOGRAFIA:

CHALITA, Mansur – "Alcorão - Livro Sagrado do Islã" – BestBolso - Rio de Janeiro - 2010.

MCEVEDY, Colin – "Atlas de História Medieval" - Companhia das Letras - São Paulo - SP- 2009

SANCOVSKY, Renata R. - História Medieval - “Maomé, o Corão e a formação do Islã”
RIBAS, Rogério de Oliveira - “O Islam na diáspora: crenças mouriscas em Portugal nas fontes inquisitoriais quinhentistas”

*Imagem da Mesquita Al-Nabawi (ou Mesquita do Profeta) em Medina na Arábia Saudita retirada do site: http://alexandreolsson.blogspot.com/2010/12/isla-islamismo.html. Pesquisa realizada no dia 14 de julho de 2011 às 09:40

**Imagem da cidade de Meca retirada do site: http://www.absolutegipto.com/15000-egipcios-no-podrian-viajar-a-la-meca-este-ano/. Pesquisa realizada no dia 14 de julho de 2011 às 09:20. 


Fonte: www.escolaruralis.blogspot.com/

domingo, 20 de novembro de 2011

LIBERDADE! O QUE É?


Fonte: Portal Ciência & Vida

sábado, 19 de novembro de 2011

HORRENDA PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS DA NIGÉRIA.

Mãe e filho cristãos foram mortos a golpe de facão e depois queimados.
Persiste a expulsão de cristãos de regiões majoritariamente islâmicas. Com seus ataques planejados, os muçulmanos tentam forçar a emigração dos cristãos, especialmente das províncias multireligiosas do centro da Nigéria (como Adamara, Plateau State e Taraba). No final de fevereiro de 2003, muçulmanos armados atacaram regiões predominantemente cristãs, que ocupam o Centro e o Sul do país, foram enxotados pelos povos muçulmanos.
Os muçulmanos querem introduzir a sharia (A doutrina dos direitos e deveres religiosos do islã) em toda a Nigéria. Segue o relato do jovem Nsikak Apkaidiok:
"Tornei-me cristão quando estava na universidade. Ao retornar para casa compartilhei com minha família as experiências que tive com o Senhor. Meu pai ficou furioso pois não queria saber do cristianismo. Ele amarrou minhas mãos nas costas e não me dava comida. Mas eu fiquei firme! Quando minha situação piorou, fui levado ao hospital. Mas era tarde demais: minhas duas mãos tiveram de ser amputadas".
Em março de 2010, cerca de 500 cristãos foram massacrados a facadas por muçulmanos na Nigéria. São mortos como animais e enterrados como animais!
Como esse novo convertido, milhares de outros cristãos têm sido vítimas das piores barbáries. Pelo menos 528 agricultores de aldeias cristãs foram assassinados no mês passado (23 de outubro de 2011) em confrontos com pastores muçulmanos no centro da Nigéria. Em pelo menos três aldeias ao sul de Jos, capital do Estado de Plateau, homens, mulheres e bebês foram cortados a golpes de facão e tiveram seus corpos queimados. Peter Gyang, morador da aldeia de Dogo Nahawa, a mais afetada pelos ataques, disse que os pastores "dispararam para assusar as pessoas e, em seguida, mataram todos com golpes de facão". Segundo ele, o ataque começou às 3 horas (horário local) e durou até as 6 horas.
A região já estava sob toque de recolher, que durava das 18 horas às 6 horas, desde janeiro desse ano, quando 326 pessoas morreram em confrontos semelhantes nos arredores de Jos, segundo a polícia. Os moradores locais acusam o exército e a polícia local de omissão. As atrocidades não param por ai, militantes islâmicos pertencentes ao grupo Boko Haram, ou 'A educação ocidental é um pecado', reivindicou responsábilidade pelos ataques. Executaram ataques coordenados com bombas e armas contra igrejas e delegacias de polícia no norte da Nigéria, matando pelo menos 150 pessoas e ferindo outras 100, confirmaram os assistentes humanitários e testemunhas no dia 5 de novembro.
Cristãos estão sendo cortados como animais em um matadouro e queimados como lenha.
Testemunhas disseram que homens armados também tinham atacado o vilarejo próximo de Potiskum e a cidade de Maiduguri mais cedo e tinham se engajado em várias horas de batalha armada com as forças de segurança, disseram testemunhas. Jovens bloquearam estradas durante a noite para um ataque na quinta-feira, 3 de novembro, contra uma reunião de oração da Igreja Católica Santo Agostinho, que deixou duas pessoas mortas, disse o grupo de advocacia Christian Solidarity Worldwide (CSW).
“Testemunhas teriam dito que homens armados invadiram a igreja no final da reunião de oração, dispararam contra a congregação que consistia, em sua maioria, de mulheres e crianças, e escaparam para dentro da mata.”
“Duas mulheres morreram no local, doze outras ficaram feridas nos braços e nas pernas e estão recebendo tratamento no Hospital S. Louis, próximo a Zonkwa”, disse a CSW em uma declaração a Worthy News. As violênias entre cristãos e muçulmanos são uma constante da Nigéria, e desde de 2000 até hoje, já provocaram milhares de mortes. A população da Nigéria se divide em cristãos e muçulmanos, em proporções iguais. Os primeiros estão predominantes no Sul e os segundos no Norte, embora muitas vezes, misturem-se nas duas religiões influências de crenças animistas. Existem mais de 200 grupos étnicos no país, que é o mais populoso de toda a África com mais de 140 milhões de habitantes.
Irmãos que sofrem perseguição na Nigéria, ou em qualquer outro lugar da Terra. RESISTAM COMO NOSSO SENHOR NOS ENSINOU. LUTEM UMA BOA LUTA E GUARDEM A FÉ. Esse sofrimento é temporário e Deus não deixará impune aqueles que maltratam aos seus filhos.
Mas já em 1994, a situação na Nigéria estava complicada para os cristãos. Fanáticos muçulmanos decapitaram Gideon Akaluka, um cristão detido em uma prisão de Kano, sob a alegação de que ele havia profanado o Alcorão. Na Nigéria, cerca de 13 mil pessoas teriam morrido em conflitos violentos entre muçulmanos e cristãos desde 1999.
Atenção! Há, sim, uma religião perseguida no mundo hoje. É o cristianismo! A quase totalidade de mortes em razão de perseguição religiosa se dá contra cristãos: na Nigéria, no Sudão, na Indonésia, em quase todos os países árabes, sejam eles aliados do Ocidente ou não. Há quase dois milhões de filipinos católicos trabalhando na Arábia Saudita, fazendo o serviço que os nativos se negam a fazer. Estão proibidos de cultuar sua religião. A transgressão é considerada um crime grave. Na Nigéria, no Sudão ou na Indonésia, não se queimam exemplares da Bíblia, não; queimam-se pessoas mesmo!
“E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus.” Mateus 10:22,28,32,33
“Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome.” Mateus 24:9
“E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.” Marcos 13:13
“E de todos sereis odiados por causa do meu nome.” Lucas 21:17
Você quer saber mais?

Fonte: Construindo História

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Paixão pelo poder

A figura de D. Pedro, sempre polêmica, gerou tensões políticas, polarizando defensores e desafetos

Cecilia Helena de Salles Oliveira
14/11/2011

























  • Poucos protagonistas da história política do Brasil e de Portugal no século XIX foram tão estudados quanto ele. São inúmeras biografias de D. Pedro de Alcântara (1789-1834) e vasta a coleção de livros, teses e artigos que tratam das revoluções liberais em Portugal e do processo de Independência e fundação de um Império constitucional no Brasil. De todo o material emerge uma figura controvertida. Ora aparece como valoroso liberal, lutando pelos princípios constitucionais, ora como monarca absolutista, incapaz de compreender opiniões e reivindicações dos súditos. Quais seriam os fundamentos para imagens tão diversas?
    Nas biografias, são comuns as referências às paixões, ao espírito romântico e volúvel, à impulsividade nas atitudes e à falta de educação refinada. São corriqueiras, também, as menções, não menos românticas, ao fato de ser um homem partido, dividido entre duas pátrias: a de nascimento, Portugal, e aquela em que viveu entre 1808 e 1831, o Brasil.
    Por duas vezes abdicou do poder em favor de seus filhos – em 1826, para Maria da Glória se tornar rainha em Portugal, e, em 1831, para Pedro ser o segundo imperador do Brasil. Na sequência, envolveu-se numa guerra contra o irmão, Miguel, que pretendia apropriar-se do poder da sobrinha e mulher, Maria da Glória. Venceu o irmão e também os adversários da filha e da monarquia constitucional que defendia para Portugal, mas não pôde usufruir inteiramente essa conquista, pois faleceu de tuberculose, em 1834, no Palácio de Queluz, nas proximidades de Lisboa, no mesmo quarto onde nascera, rodeado por pinturas que reproduziam cenas de D. Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.
     
    Restos mortais entre Brasil e Portugal
    Seu engajamento voluntarioso nessas batalhas é geralmente interpretado como heroico e vem acompanhado da convicção de que D. Pedro conseguiu criar raízes profundas, tanto lá como cá. Daí o enorme simbolismo que adquiriu a repartição de seus restos mortais entre os dois países. Desde 1835, seu coração foi depositado em relicário na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, na cidade do Porto. E, a partir de 1972, por meio de acordo diplomático luso-brasileiro, os demais restos mortais foram transladados para a cidade de São Paulo e colocados na cripta do Monumento do Ipiranga, às margens do famoso riacho, hoje córrego canalizado e poluído. 
    Entretanto, em paralelo a essa memória gloriosa, há outra. A que divulga a imagem de D. Pedro como um político personalista e incapaz de superar o ranço do passado. O peso das tradições da monarquia portuguesa e a ambição de manter sob os Bragança as coroas do Brasil e de Portugal teriam feito com que adotasse medidas de força, atuando como um monarca absolutista, disposto a impor suas posições e poder.
    No Brasil, após a declaração de Independência e da coroação como imperador, teria ordenado que tropas sob seu comando fechassem a Assembleia Constituinte em 1823, outorgando uma Carta Constitucional, no ano seguinte, que contrariava reivindicações de vários segmentos da sociedade. Além disso, enquanto as oposições políticas não conseguiram impor barreira a seu governo, obrigando-o à abdicação, a ele se atribui ação à revelia do Poder Legislativo e da imprensa, governando com os ministros e conselheiros de Estado.
    Em Portugal, por poucos meses foi rei com o nome de D. Pedro IV. Com a morte de D. João VI, em 1826, tornou-se herdeiro do trono, abdicando em julho do mesmo ano em favor da filha Maria da Glória, então com sete anos, após a outorga de uma Carta Constitucional que reproduziu, na maior parte dos artigos, a Carta brasileira de 1824. Mas essas decisões não o distraíram da política europeia, tampouco do confronto que à distância manteve contra absolutistas, vinculados à mãe, Carlota Joaquina, e ao irmão e genro, D. Miguel.
    A guerra civil deflagrada abertamente em Portugal, a partir de 1828, não foi decorrente apenas da postura de D. Miguel, que se apoderou do trono, quebrando acordos anteriores, mas da decisão de D. Pedro de não abrir mão de reconquistar o poder para a filha. Foram os liberais moderados, exilados especialmente na Inglaterra, que se articularam com D. Pedro, ajudando-o a compor o exército e o suporte financeiro necessário na Europa para manter uma guerra até 1834. Durante essa campanha militar, recebeu apoio da população da cidade do Porto, importantíssimo para sua vitória. Destinou seu coração à cidade, em testamento, para manifestar seu apreço a essa adesão.
     
    Decisivo na unificação da nação brasileira
    O que chama a atenção nesses episódios é que D. Pedro se defrontou com situações complexas e cheias de labirintos, em que muitos interesses, valores, pessoas e grupos estavam envolvidos, em ambos os lados do Atlântico. Incoerências e reviravoltas em sua trajetória fazem parte da complexidade da época em que viveu e dos desafios que enfrentou.
    No Rio de Janeiro – em função da posição de príncipe regente que assumiu a partir de 1821, quando D. João retornou a Portugal –, passou a representar e a exercer o poder. É certo que procurou para si esse lugar, pois já demonstrava ambições políticas havia algum tempo. As memórias que cercaram sua personalidade e atitudes desde esta época foram construídas quer por meio de seus opositores, quer por partidários, cada qual buscando justificar versões e pontos de vista para convencer os contemporâneos e a posteridade. São frutos, também, daquilo que o próprio D. Pedro foi criando e registrando em cartas, proclamações, documentos oficiais ou vinculados à sua vida pessoal, à medida que ganhava experiência para governar e atuava na política como sujeito de uma história da qual participava ativamente e na qual sua autoridade foi lapidada e consolidada.
    É ingênuo imaginar que quando foi indicado príncipe regente do reino do Brasil, em abril de 1821, D. Pedro fosse reconhecido como tal por lideranças políticas da Corte, das províncias ou mesmo pelo conjunto da sociedade. Pelo contrário: nem no Rio de Janeiro havia uma opinião formada sobre o que poderia representar. Entre 1821 e 1822, a sociedade no Brasil estava profundamente dividida e o debate político era intenso, envolvendo diferentes projetos de futuro. Não havia consenso sobre a construção de uma monarquia e tampouco a separação de Portugal recebia o apoio da maioria da sociedade.  A figura do príncipe foi adquirindo importância aos poucos, e especialmente nas províncias do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais. Isto porque essas regiões eram interligadas pelo comércio, pelo tráfico de escravos, pela produção de gêneros de abastecimento e de exportação, assim como pela presença de estreitos interesses e relações pessoais com a Corte radicada na cidade do Rio de Janeiro.
    Dificuldades e incertezas, entretanto, não aparecem nos textos dos partidários do príncipe nem naqueles dos que lutavam por vê-lo ascender como monarca no Brasil. A memória que divulgaram foi a de que a proclamação da Independência foi obra exclusiva do regente. E mais: se não fosse sua atitude decisiva, a Colônia teria se dissolvido em diferentes regiões, inviabilizando o Império, a monarquia e a separação da antiga metrópole. Por outro lado, seus adversários, que desconfiavam de seu constitucionalismo desde 1821, passaram a fazer campanha aberta contra ele a partir de 1823, com o fechamento da Assembleia Constituinte. Ao longo do Primeiro Reinado, construíram uma memória na qual D. Pedro, mesmo sendo elogiado pelo 7 de setembro, é qualificado como  absolutista e déspota não só por ter outorgado a Carta de 1824, mas por demonstrar enorme incapacidade de se despregar dos problemas políticos de Portugal e de se assumir como efetivamente brasileiro.  Justificavam desse modo as pressões para que abdicasse.
    Entre uma memória que exalta e outra que só deprecia, perde-se a possibilidade de compreender D. Pedro como político, que muitas vezes atuou de modo incoerente, movido por razões, pressões e sentimentos múltiplos, vendo-se diante de decisões cujas consequências não podiam ser previamente determinadas, pois estavam inseridas no movimento revolucionário – aberto pela independência das treze colônias inglesas da América e pela Revolução Francesa – por meio do qual se forjaram as nações e os Estados nacionais no século XIX. Mais interessante do que condenar, absolver e fazer uma caricatura de um personagem histórico é certamente tentar compreendê-lo em sua densidade, divisando nuances e contornos que o tornam fascinante.
     
     
    Cecilia Helena de Salles Oliveira é diretora do Museu Paulista da Universidade de São Paulo e autora de A astúcia liberal (Universidade São Francisco/Ícone, 1999).
                                                   
     
     
    Saiba Mais
    BITTENCOURT, Vera Lucia Nagib. “De alteza real a imperador: o governo do príncipe D. Pedro entre abril de 1821 e outubro de 1822”. Tese de doutorado. Série Produção Acadêmica Premiada (USP, 2007). Disponível no endereço http://spap.fflch.usp.br
    GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, vol I, 1808-1831.
    SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada. O Brasil como corpo político autônomo, 1780-1831. São Paulo: Unesp, 1999.
     
     

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Esparta e a educação



Esparta e a educação
Por Claudio Recco – coordenador do Historianet

Uma das principais características da cidade-estado de Esparta, na antiguidade, foi sua educação. A cultura espartana caracterizou-se por três elementos fundamentais que foram responsáveis pela sua formação ideológica: o militarismo, a xenofobia e o laconismo

 Situada nas margens do rio Eurotas, na região do Peloponeso, a cidade que na época era denominada de Lacedemônia, é considerada a grande exceção da antiguidade grega, com características peculiares, diferente das demais cidades, diferença essa utilizada ao longo do tempo como contraponto ao desenvolvimento de Atenas. No estudo da História, enquanto a preocupação principal é compreender a formação da democracia e o desenvolvimento da cidadania ao longo do período Arcaico da história grega, entendendo as transformações vividas por Atenas, percebe-se a situação inversa em Esparta, ou seja, a manutenção de suas estruturas tradicionais no mesmo período. Transformações e permanências colocam em oposição as duas cidades.

Se Atenas tornou-se paradigma para outras sociedades e criou modelos ainda hoje valorizados, Esparta tornou-se a antítese dessa situação. Isso significa que, uma das maneiras de valorizar a democracia e a cidadania e seu berço ateniense, é demonizar a situação oposta, aquela que negou esses valores, que ainda hoje – apesar das grandes diferenças – são considerados importantes.

Militarismo
Para o filósofo Aristóteles, em sua obra “Política”, "Todo o sistema da legislação dos lacedemônios visa uma parte das qualidades do homem - o valor militar, por este ser útil nas conquistas; consequentemente a força dos lacedemônios foi preservada enquanto eles estiveram em guerra, mas começou a declinar quando eles construíram um império, porque não sabiam como viver em paz, e não foram preparados para qualquer forma de atividade mais importante para eles do que a militar."

As grandes guerras e conquistas espartanas estão na base da própria formação da cidade. O processo de conquista das terras centrais do sul da Grécia, em particular a planície da Lacônia, implicou em uma sucessão de guerras que exigiam permanente estado de organização militar. Essa situação tendeu a perpetuar-se na medida em que a resistência dos povos dominados foi constante.
O desenvolvimento do escravismo dos povos dominados – ou hilotismo, como muitos preferem – representou uma eterna preocupação para os conquistadores ao longo do tempo, uma vez que a relação numérica entre os grupos era desfavorável aos espartanos, chegando os escravos a um número dez vezes maior do que o de espartanos.
As constantes revoltas dos povos dominados determinou a manutenção do militarismo, como forma de preservar as terras férteis e a exploração do trabalho. Segundo o historiador Arnold Toynbee, “os espartanos tornaram-se escravos dos seus escravos”.

Ao contrário das afirmações mais comuns, que associam o militarismo espartano a sua origem dória, havia uma situação objetiva, material, que determinou as concepções e práticas militares. A idéia de que os dórios invadiram a Grécia no século XII a.C. e provocaram a segunda diáspora reforça uma concepção de “cultura militar” anterior, base da cultura espartana. No século XII a.C. os dórios migraram em direção a Grécia, como outros povos já haviam feito e, caçadores e guerreiros nômades – como todo povo nômade – se enfrentaram com aqueles que já estavam instalados na Grécia e viviam da criação de animais e de pequena agricultura.
O militarismo foi justificado e teorizado ao longo dos séculos pela elite espartana que, para tanto, criou elementos jurídicos e ideológicos, como as tradições de Licurgo e a xenofobia, apoiados no estímulo ao laconismo.

Devido à militarização generalizada dos costumes, desenvolveram uma linguagem peculiar, com a preocupação de expressar-se com o mínimo possível de palavras. Numa sociedade em que não se cultivava a democracia nem o fascínio pela oratória, não era necessário um estudo muito profundo das coisas nem estimulava-se os discursos retóricos, muito menos a especulação filosófica. A idéia final era restringir a comunicação e desestimular os debates e, portanto, as possibilidades de críticas ao sistema predominante

Licurgo

Os espartanos atribuíam a existência da sua severa e abrangente legislação a Licurgo, personagem lendário, que seria um dos fundadores de Esparta, descendente de Hércules. Segundo a lenda, teria sido um dos primeiros governantes da cidade, um estadista, considerado como “pai da nação” e responsável pela implantação de rigoroso código, a Grande Rhetra, famoso em todo o mundo antigo e inspirado pelo deus Apolo.

A Agogê, a educação espartana

Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê, isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a domesticação dos seus jovens. O objetivo maior dela era formar soldados educados no rigor para defender a coletividade. A educação infantil tinha como objetivo a coletivização. Os jogos realizados tinham por objetivo não a competição e vitória de um sobre os demais, mas a organização em equipe, assim como as histórias e as lendas eram contadas para reforçar o patriotismo dos jovens. Os castigos físicos faziam parte desse adestramento e admitiam o roubo como parte da formação dos jovens que, caso pegos em flagrante, sofriam castigos violentos.
A etapa final da educação, entre os 16 e 20 anos, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e espadas, no arco e flecha, preparados para o ingresso no serviço militar da pátria. Já participavam de operações militres simuladas nas montanhas ao redor da cidade. Segundo Plutarco “ andavam como as abelhas que sempre são partes integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe... parecendo consagradas inteiramente à pátria.” Dessa maneira a educação produzia a jovem soldado necessário à Esparta: silencioso, disciplinado , antiintelectual e antiindividualista, obediente aos superiores, vigoroso, ágil, astuto , imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, odiando qualquer demonstração de covardia e dedicado à cidade.

Laconismo

A cidade de Esparta foi fundada na planície da Lacônia e um dos hábitos de seus habitantes é o laconismo; que significa “expressar-se em poucas palavras”. Por um lado esse comportamento é entendido como um desdobramento da educação militarizada, pois as ordens deveriam ser cumpridas e nunca discutidas. Por outro lado, Sabe-se que os homens da elite eram soldados até os 60 anos de idade, quando poderiam participar mais ativamente da vida política. O direito de participação política iniciava-se aos 30 anos, com o direito de voto nas assembléias, porém as votações não eram acompanhadas de discussões e cada cidadão apenas aprovava ou rejeitava as propostas apresentadas.
Essa situação de dedicação quase exclusiva ao militarismo deu à mulher espartana uma situação diferenciada, quando comparada aos demais povos da época. As mulheres espartanas também possuíam uma educação militarizada e, posteriormente, eram incumbidas da administração das terras, do controle sobre o trabalho dos hilotas e da administração da produção, além de participarem da vida política cotidiana em funções administrativas.


Fonte: historianet.com.br

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CANUDOS

Filosofia





O primeiro grito da terra
Em tempos de Fundamentalismo Islâmico, convém revisitar e refletir sobre a revolta
que se iniciou perto do Rio Vaza-Barris, no norte da Bahia - a prova de que o fanatismo
religioso é capaz de destruir até as causas mais justas.


Da Redação




Montagem: Fabiana Neves com foto Nailson Moura


Arquivo 2D
I. Primeiras lições
Canudos é, do ponto de vista histórico, uma sucessão de equívocos lamentáveis. Em primeiro
lugar, sem dúvida, a demonstração de que, em seus primórdios, a República brasileira - ou, o
poder central, instalado no Rio de Janeiro - pouco administrava para além das fronteiras
setentrionais de Minas Gerais; e também de que o fanatismo religioso é péssimo conselheiro.
Não há intenção de se fazer blague com o nome do líder revoltoso da Fazenda Canudos. A 
revolta liderada por Antônio Conselheiro reflete uma triste realidade: a do país esquecido
pelos governantes à beira-mar. Uma nação de geografia inclemente, povo pessimamente
instruído e ausência de Estado - o terreno fértil para um... conselheiro.
Araquém Alcântara Pereira
Canudos: geografia inclemente, povo pessimamente instruído e ausência de Estado
II. O Brasil esquecido
Nessa época, governava o Brasil Prudente de Morais, um republicano e abolicionista de bons
princípios, mas pouco tino administrativo - e, ainda por cima, tolhido por problemas de saúde.
Foi nesse cenário que, silenciosamente - as vias de comunicação do Nordeste com a capital
eram, naquela época, de difícil funcionamento e lentíssimas -, instalou-se na antiga Fazenda
Canudos, ainda em 1893, o sertanejo Antônio Conselheiro, de 65 anos. Em torno de sua
pregação foi se formando uma comunidade.
O Brasil interiorano do fim do século 19 era, do ponto de vista das leis, da ação do 
Estado e da criatividade local para seu desenvolvimento econômico, terra arrasada.
Especialmente na parte oriental da região Centro-Norte, que abarcava o sertão
Nordestino - distante do mar, dos entrepostos de comércio, dos principais jornais.
Bruno Rizzo
Rio Vaza-Barris e o Riacho de Umburanas, vida difícil e de pouco esperança
IPHAN/SR - BA
Antonio Conselheiro e seus camponeses-combatentes que raramente se deixavam fotografar
Os descendentes dos indígenas viviam à míngua, misturados a antigos escravos, à miséria
social controlada pelos latifundiários. Os negros padeciam da falta de qualificação para os
modos de produção inspirados na Revolução Industrial. A semente capitalista exigia
proletários - trabalhadores com alguma especialidade -, não escravos. Os brancos e
miscigenados das camadas mais pobres da sociedade interiorana conformavam uma
crescente massa de deserdados da sorte, à procura de uma voz - ou um poder - que lhe
servisse de guia. A propaganda oficial consistia em palavras que não se traduziam em atos - ou
levavam tempo demais para fazê-lo.
Para além dessas circunstâncias sociais desfavoráveis havia a inclemência do clima e a fome.
As culturas do milho e da mandioca mal vingavam em um solo árido. E mesmo para a 
comunidade de Canudos, instalada perto do Rio Vaza-Barris, a vida era difícil, de pouca
esperança. No sertão baiano, a alternativa era contar com a "generosidade" e a modernidade
das máquinas adquirida por uma elite de "coronéis". E pelo socorro nem sempre em tempo
das obras caritativas da Igreja Católica.
No norte da Bahia apareceu, então, uma outra via: as pregações de Antônio. Antônio
Conselheiro. Foi para essa população sem terra, forçada a se submeter aos coronéis, que ele
surgiu. As terras que os sertanejos aravam pouco produziam, e o Conselheiro se apresentava
como um emissário de Deus, vindo para abolir as desigualdades sociais, o descaso da
República, os impostos escorchantes. No arraial de Canudos, começou a correr a notícia de
que o líder era, na verdade, um divino mestre. Alguém, por sua sabedoria, capaz até de
praticar milagres - afinal, não era ele um enviado de Deus?
IPHAN/SR - BA
IPHAN/SR - BA
Prisioneiros sobreviventes do massacre
1897, as crianças órfãs foram levadas como "trófeus"


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Fonte: Portal Ciência & Vida 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

 

Fim do mundo previsto pelos maias é um erro de interpretação

O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição "A Sociedade e o Tempo Maia" inaugurada recentemente no Museu do Ouro de Bogotá.
O arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) e um dos curadores da mostra, Orlando Casares, explicou à Agência Efe que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.
Eles se baseavam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do sol, da lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final.
"Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir".
Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização.
"Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado 'Haab' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o 'Tzolkin', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.
A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".
Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.
Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.
Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.
De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.
A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.
Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição desta mostra sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente.
"Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.
A exposição estará aberta ao público até o dia 12 de fevereiro de 2012, para depois deve ser transferida para a cidade de Medellín. 

Fonte: www.yahoo.com.br