sexta-feira, 27 de julho de 2012


Herança a ser descoberta



Presente no cotidiano dos brasileiros, a língua tupi expressa a visão de mundo dos habitantes autóctones antes da chegada dos portugueses


Marcelo Galli



 
A importância do tupi na língua falada diariamente por brasileiros do País todo pode ser quantificada. Estima-se que cerca de 20 mil vocábulos do português têm sua raiz no tupi.
A língua tupi, oral, mas felizmente registrada pelos colonizadores, é a principal herança pré-colombiana brasileira. É o que se tem para saber como os índios sentiam, falavam, sua visão de mundo, como eles enxergavam a terra na qual hoje habitamos. É importante porque esse discurso carrega um viés ecologista, ambiental, de sustentabilidade, para quem a terra era questão de vida ou morte. Visão essa que é esquecida porque não se sabe da sua origem, do significado das palavras e da sua importância pela falta de valorização das tradições culturais locais.
Tem-se a impressão de que à medida que o Brasil progrida, economicamente e, principalmente, do ponto de vista social e intelectual, haja um movimento de revalorização das coisas brasileiras e do passado. Ora, é parte do processo de afirmação de uma civilização que quer se fazer grandiosa e de respeito. Houve um movimento nesse sentido durante as décadas de 30, 40 e 50 dos 1900. Houve uma onda de tentativa de recuperação histórica do tupi na ocasião dos 500 de descobrimento do Brasil, mas depois parece que o interesse voltou aos meios acadêmicos. Fatalmente ocorrerá novamente com mais intensidade, embora aconteça atualmente ainda timidamente.
SÍMBOLO
TUPI
Originária do povo tupi, mas também falada pelos povos tupinambá, tupiniquim, caetés, tamoios e potiguara. A extinta língua teve sua gramática estudada pelos jesuítas e deu origem a dois dialetos, até hoje considerados línguas independentes: a língua geral paulista, e o nheengatú (língua geral amazônica), que ainda é presente na Amazônia.

BRASIL
Segundo projeções do Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês) publicadas em dezembro de 2011 na imprensa britânica, o Brasil superou o Reino Unido e se tornou a sexta maior economia do mundo. O tradicional jornal "The Guardian" atribuiu a perda de posição à crise bancária de 2008 e à crise econômica que continua em contraste com a bonança brasileira.
Em março deste ano, por exemplo, foi escolhido o apelido/símbolo "Tupi" para a Seleção Brasileira de Rugby, um esporte ainda pouco difundido no Brasil - e por esse motivo também considerado por alguns como elitista. Em votação pela internet, 4.387 participantes (47,16%) foram a favor da adoção do Tupi. Para o presidente da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), Sami Arap, "a escolha popular ratificou as raízes do povo brasileiro. O Tupi representa a essência de nosso país, remetendo à garra, perseverança, lealdade e espírito de equipe. Agora, as nossas seleções estarão prontas para enfrentar e derrotar qualquer adversário".
A importância do tupi na língua falada diariamente por brasileiros do País todo pode ser quantificada. Estima-se que cerca de 20 mil vocábulos do português têm sua raiz no tupi. É só prestar atenção no vocabulário. Por exemplo, mutirão. Algo a ver com fraternidade iluminista? Vem do tupi (moti'rõ). "Auxílio gratuito que prestam uns aos outros os lavradores, reunindo-se todos os da redondeza e realizando o trabalho em proveito de um só, que é o beneficiado, mas que nesse dia faz as despesas de uma festa ou função. Esse trabalho pode ser a colheita, ou queima ou roçado, ou plantio, ou taipamento ou construção de uma casa." A fonte é o dicionário Aurélio.
Ou ainda no jeito de falar do povo do interior. "A língua tupi não tem l; o nosso homem do povo paulista, mineiro, goiano ou fluminense nunca pronuncia o 1 com o h; não diz: melhor, mulher, milho, e sim: mio, muiê e mio, por que o tupi não tem 1", lembra José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898) na sua "7ª Conferência para o Tricentenário de Anchieta. Assunto: Anchieta, as raças e línguas indígenas". E acrescenta: "A língua falada no Brasil já não é o português de Camões, João de Barros, ou Frei Luiz de Souza; está, em sua gramática, em seus sons, e em centenas de termos populares, cruzada com a língua tupi ou nheengatú".

Os membros de uma tribo indígena ameaçada, o Kamayurá, tocando flautas sagradas em sua aldeia, na região do Alto Xingu.

NHEENGATÚ E NHENHENHÉM
RUGBY
Um esporte coletivo e de contato físico intenso, o que torna comum os atletas dessa modalidade serem verdadeiros gigantes. Tem origem na Inglaterra, mas o último campeão mundial (2011) foram os All Blacks da Nova Zelândia. O esporte tem variações, mas a maiss praticada é o rúgbi de quinze (em inglês: rugby union), seguida pela league (com 13 atletas) e por último a olímpica com sete jogadores.

FREI LUIZ DE SOUZA
Nasceu Manuel de Sousa Coutinho, mas adotou o nome eclesiástico de Frei Luiz de Sousa (1555 - 1632). O sacerdote católico e escritor português é hoje considerado um dos mais brilhantes autores de língua portuguesa. Uma de suas obras mais conhecidas é a "História de São Domingos".

JOÃO DE BARROS
Conhecido como o Grande, João de Barros (1496 - 1570). É considerado por muitos como o primeiro grande historiador português e pioneiro na construção da gramática da língua portuguesa. Isso se deve ao fato de ser autor da segunda obra que normatizou a língua falada em seu tempo.
VERNÁCULO
É o nome que se dá à língua nativa de um país ou de uma localidade. O termo tem origem no latim vernaculum, que é proveniente de verna, modo como eram chamados os escravos nascidos na casa do senhor.
Segundo a Enciclopédia das Línguas do Brasil, da Universidade de Campinas (Unicamp), "no século XVIII havia duas línguas gerais: língua geral paulista, falada ao sul do país no processo de expansão bandeirante, e a língua geral amazônica ou nheengatú, usada no processo de ocupação amazônica. Destas duas línguas gerais somente o nheengatú continua a ser utilizado entre os indígenas de diferentes etnias, habitantes da região Norte do País. A Gramática da língua mais usada na Costa do Brasil, de José de Anchieta, representa a normatização da língua falada pelos índios do litoral, antes de se tornar a língua geral paulista". Em São Gabriel da Cachoeira (AM), o nheengatú foi estabelecido como língua co-oficial do município em 2002, assim como o português, o baníua e o tucano. Nheengatú, língua do tronco tupi, quer dizer língua boa, bonita, é usada às vezes para denominar um conjunto de línguas tupínicas. Curiosidade. Nheen quer dizer fala, falar, daí "nhenhenhém" significar conversa repetitiva.
A língua geral foi falada durante pelo menos três séculos no Brasil, até o Marquês de Pombal, na condição de primeiro-ministro de Portugal, no fim do século XVIII, proibir seu uso na colônia. Os habitantes da cidade se comunicavam por meio dessa língua, era a língua franca, os bandeirantes, além do porrete, carregavam o vernáculo indígena para expandir suas fronteiras de comércio e negócios rumo ao interior. O tupi e o guarani, esta ainda falada no Paraguai como língua oficial, são do mesmo tronco linguístico de origem e pode-se fazer a analogia entre as semelhanças entre o português e o espanhol.
Ligados à terra, os índios foram precisos ao designar a geografia local. O escritor Lima Barreto, não só na ficção com o seu Policarpo Quaresma, defendia a importância da língua para o uso cotidiano. Diz ele em um texto do seu Histórias e Sonhos, ao citar o geógrafo e anarquista francês Élisée Reclus, que visitou países da América do Sul no século XIX, inclusive o Brasil: "Reclus, na sua Geografia universal tratando do Brasil, notava a necessidade de conservarmos os nomes tupis dos lugares de uma terra. Têm eles, diz o grande geógrafo, a vantagem de possuir quase todos um sentido claro, muito claro, nas suas palavras, exprimindo algum fato da natureza, a cor das águas correntes, a altura, a forma ou o aspecto dos rochedos, a vegetação ou a aridez da região". E continua Barreto, falando especificamente da sua terra natal e a mundialmente comentada geografia. "No Rio de Janeiro, há de fato nomes tupis tão eloquentes, para traduzir a forma ou o encanto dos lugares, que ficamos pasmos, quando lhes sabemos a significação, com o poder poético, com a força de emoção superior de que eram capazes os primitivos canibais habitantes desta região, diante dos aspectos da natureza tão bela e singular que é a que cerca e limita nossa cidade. Bastam os nomes da baía. Como não traduz bem a sua sedução, o seu recato, a sua fascinação, o nome: Guanabara - seio do mar? E se o mar abriu aqui um seio foi para nele esconder as suas águas - Niterói - água escondida."
Outro que abordou o assunto foi o engenheiro baiano Teodoro Sampaio (1855-1937). "O Tupi na Geografia Nacional", de 1901, ressalta o papel dos bandeirantes na difusão de topônimos de origem tupi por todo o País e esclarece a origem etimológica de muitos daqueles. "São frases acabadas, traduzindo uma ideia, um episódio, uma feição típica dos lugares a que se aplicam; são, a bem dizer, verdadeiras definições do meio local", diz. Alguns exemplos: Apiaí (rio dos homens ou dos machos), Anhangabaú (rio ou ribeiro do malefício, da diabrura ou do feitiço), Boipeba (cobra chata, cobra venenosa), Capibaribe (rio das capivaras), Curitiba (pinhal, mata de pinheiros, pinhões em abundância), Ipanema (água ruim, imprestável), Jararaca (o que colhe ou agarra envenenando), Moqueca (fazer embrulho), Paraná (rio enorme), Sambaqui (depósito de conchas e ostras), Toca (casa, refúgio) e Votu (vento).

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Fonte:  http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/44/heranca-a-ser-descoberta-presente-no-cotidiano-dos-brasileiros-262127-1.asp

segunda-feira, 23 de julho de 2012


O general francês que veio ensinar a torturar no Brasil

O general francês Paul Aussaresses, promotor do uso da tortura na guerra colonial da Argélia, foi adido militar no Brasil entre 1973-1975 e instrutor no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus, criado por oficiais brasileiros formados na não menos famosa Escola das Américas. Amigo do ditador João Figueiredo e do delegado Sérgio Fleury, Aussaresses já admitiu em livros e entrevistas a morte de um mulher sob tortura em Manaus, que teria vindo ao Brasil para espionar Figueiredo, e que a ditadura brasileira participou ativamente do golpe contra Allende. O artigo é de Eduardo Febbro.



Paris - “A tortura é eficaz, a maioria das pessoas não aguenta e fala. Depois, da maioria dos casos, nós os matávamos. Por acaso isso me colocou problemas de consciência? Não, a verdade é que não”. O autor dessa “confissão” é uma peça-chave da estratégia repressiva de prisões, torturas e desaparecimentos aplicada no sul da América Latina a partir dos anos 70. Trata-se do general francês Paul Aussaresses, ex-adido militar francês no Brasil (1973-1975), chefe do batalhão de paraquedistas, ex-combatente na Indochina, ex-membro da contra espionagem francesa, herói da Segunda Guerra Mundial, fundador do braço armado dos serviços especiais, promotor do uso da tortura durante a guerra colonial na Argélia e, sobretudo, instrutor das forças especiais norte-americanas em Fort Bragg, o famoso centro de treinamento da guerra contra insurgente, e no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus, criado por oficiais brasileiros formados na não menos famosa Escola das Américas, onde se formaram todos os militares latino-americanos que cobriram de sangue os anos 60, 70 e 80.

Paul Aussaresses é uma das espinhas dorsais da exportação da tortura e dos desaparecimentos, dois modelos herdados da guerra da Indochina a da Argélia e difundidos depois em todo o continente americano por um compacto grupo de oficiais francesas do qual Aussaresses foi um dos mais ativos representantes. Paul Aussaresses abriu muitos de seus segredos em várias ocasiões: em 2000, em uma explosiva entrevista publicada pelo Le Monde, onde reconheceu o uso da tortura; em três livros, “Não disse tudo, últimas revelações a serviço da França” (2008), “Serviços especiais, Argélia 1955-1957, meu testemunho sobre a tortura” (2001), “Por França, serviços especiais 1942-1954” (2001); e ainda em um documentário filmado em 2003 por Marie-Monique Robin, “Esquadrões da Morte, a escola francesa” (ver vídeo acima).

O fio condutor desta internacional da tortura da qual Aussaresses é um dos braços começa na Indochina, segue na Argélia e termina com o Plano Condor, cuja gestação, através de uma longa série de reuniões entre os militares da América do Sul e os instrutores franceses, se gestou entre 1960 e 1974. Sua primeira estrutura se chamou Agremil. O general francês expandiu pelo mundo os ensinamentos de um dos papas da guerra moderna: o tenente coronel Roger Trinquier, o maior teórico da repressão em zonas urbanas: torturas, incursões noturnas, desaparecimentos, busca da informação por todos os meios, operações de vigilância, divisão das cidades em zonas operacionais.

Em seus anos de adido militar no Brasil, Paul Aussaresses foi, segundo suas próprias palavras, um “bom amigo” de João Baptista Figueiredo, ex-ditador e ex-chefe dos serviços secretos, o SNI, e também de Sérgio Fleury, chefe dos “esquadrões da morte”.

Em seu período como instrutor no CIGS, em Manaus, ensinou aos oficiais brasileiros e latino-americanos que faziam formação ali tudo o que havia feito na Argélia. Segundo o general francês o embaixador francês daquela época, Michel Legendre, estava perfeitamente a par do que ele fazia em Manaus.

Segundo precisou Aussaresses, no CIGS se formaram “oficiais brasileiros, chilenos, argentinos e venezuelanos porque era um centro único na América Latina”. Como prova disso, no documentário de Marie-Monique Robin “Esquadrões da Morte, a Escola Francesa”, o chileno Manuel Contreras, chefe da DINA, reconheceu ter enviado a cada dois meses contingentes inteiros de agentes da DINA para o centro de treinamento brasileiro em Manaus. Paul Aussaresses também trabalhou na Escola de Inteligência de Brasília, onde formou muitos oficiais.

Entrevistado pela Folha de São Paulo em 2008, o general se mostrou mais loquaz do que quando o juiz francês Roger Leloir o interrogou a propósito de seu conhecimento do Plano Condor e das atividades dos conselheiros militares franceses na Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Na entrevista à Folha de São Paulo, Aussaresses reconhece que o Brasil participou ativamente do golpe militar contra o presidente chileno Salvador Allende mediante o envio de armas e aviões. Também evoca o que já havia contado em seu último livro, “Não disse tudo, últimas revelações ao serviço da França”, a saber, a morte sob tortura, em Manaus, de uma mulher que, segundo João Figueiredo, havia vindo ao Brasil para espioná-lo. O general francês assegura que a morte daquela mulher foi “um ato de defesa”.

Para Aussaresses, “a tortura se justifica se pode evitar a morte de inocentes”. Aussaresses não foi o único militar de alta patente que confessou o recurso sistemático da tortura durante a guerra colonial da Argélia e, particularmente, no que ficou conhecido como “A Batalha de Argel”. Esses episódios de tortura foram amplamente narrados pelo jornalista e político franco-argelino Henri Alleg em vários livros, entre eles “Guerre d’Algérie: Mémoires parallèles”. O que Alleg conta ocorreu quando o general Jacques Massu foi enviado para a Argélia e começou a aplicar a estratégia do terror. Massu foi o segundo oficial a confessar o que mais tarde se expandiria pelo sul da América.

Tradução: Katarina Peixoto

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O processo de industrialização e a ascensão da burguesia. 

 

Fábrica de Tecelagem (Imagem: Enciclopédia Larousse).
Abordando o desenvolvimento da burguesia gaúcha ao longo da República Velha temos por premissa o fato que o país não reproduz, ao industrializarem-se, os padrões europeus, o empresariado que decorre desse processo é o agente de uma nova ordem, mas não o seu introdutor; não cabe a ele o nascer do capitalismo no Brasil. Porque a mesma já nasce subordinada a um contexto agrário predominante.
À herança colonial/escravista e à dependência do capital estrangeiro, a burguesia somaria mais um condicionante no seu processo formativo: a ambivalência da mescla de uma tradição senhorial, dos longos anos de predomínio da ordem agrária na sociedade.
Por meio da afirmação classista procuram sua identidade por meio da dominação do capital sobre o trabalho e da viabilização dos interesses do empresariado no interior da sociedade civil. Definindo os pontos de vista e interesses específicos do setor e da sua organização classista. A burguesia industrial busca firmar-se em um contexto agropastoril dentro do qual se desenvolve um setor industrial.
No Rio Grande do Sul as primeiras fábricas ligadas ao meio de acumulação de capital comercial na área do chamado complexo colonial imigrante. A liderança empresarial, com origens sociais marcadas pela influência imigrante e do capital mercantil, constitui-se basicamente de grupos familiares ligados pelo casamento.
Em relação aos aspectos sociais e políticos buscavam a dominação do capital sobre o trabalho, obtendo o domínio e disciplina do operário na empresa e expropriando o trabalhador do seu “saber” particular.
Quando o Rio Grande do Sul começou a industrializar-se a Europa já exportava máquinas para a América Latina. Este processo de mecanização altera a planta industrial obrigando a criação de métodos de fiscalização do trabalho, a imposição de normas reguladoras das tarefas fabris e o treinamento dos operários para a nova situação.
A maquinaria além de aumentar a produtividade destitui o trabalhador de seu controle sobre o próprio trabalho. Com a mecanização aplicasse técnicas como o taylorismo que difundia-se entre a burguesia gaúcha, que visa racionalizar a produção, aumentar a produtividade, economizar tempo, suprimindo gastos desnecessários e comportamentos supérfluos, aperfeiçoar a divisão social do trabalho e o controle do tempo do trabalhador pela classe dominante.
Mesmo diante dessa pratica desumana os burgueses procuravam fazer propaganda positiva sobre o trabalhador do novo modelo criando no proletariado um “relógio moral interno” que orientaria seu comportamento pelos padrões fabris.
Mas isso não significou que no Rio Grande do Sul o trabalhador abandonou de imediato suas características artesanais, as quais permaneceram por muito tempo antes de progressivamente irem se combinando com o uso das máquinas.
O pensamento fordista veio completa o taylorista no Rio Grande do Sul com as idéias de que os operários devem ser os seus melhores consumidores.
Periódicos do inicio do século XX divulgam os interesses empresariais, mostrando as fábricas como modernas e higiênicas e o trabalho era harmônico e cordial e os operários referidos como sadios e ordeiros, mas não era o retrato completo da verdade.
Surge a necessidade de pessoal técnico para operar e montar as máquinas que cada vez mais estão atuantes na industria gaúcha. Desencadeando o processo qualificação/desqualificação do operariado. A lógica técnica faz com que ocorra uma divisão entre o trabalho manual e o intelectual, acentuando o controle hierárquico do processo de trabalho.
A industria busca no exterior mão de obra qualificada para os novos maquinários.  Esta categoria de empregados atuava como um representante da do chefe da fábrica, investido de uma parcela de autoridade enquanto o operário só executava e produzia mercadorias. Em suma o trabalhador era despojado de seu saber técnico característico do ofício artesanal, fase ao enquadramento ás novas condições. Tornando sua mão de obra mais barata e considerada desqualificada e isso também permitiu a inserção da mão de obra de crianças e mulheres.
O empresariado tenta passar uma visão de ordem reinante nas fábricas, mas o processo de industrialização gaúcho é repleto de greves, tumultos, reivindicações operárias, contradizendo a aparência de tranqüilidade na fábrica.
O discurso nos jornais burgueses sobre as fabricas diverge muito dos boletins divulgados pelos operários onde é descrito um ambiente desumano de vigilância, repressão, salários baixos, acidentes de trabalho e longas horas de trabalho.
Os empresários procuram então um meio de projetar a industria para a vida do operário, reorganizando as estruturas e as relações reais entre os homens e o mundo econômico ou da produção. Buscando estender a ação burguesa além dos muros das fábricas, mascarando ideologicamente a coerção econômica, fazendo com que a empresa e o empregador assumam um papel de conotação paternalista na medida em que as atividades ligadas á educação, assistência social, habitação e lazer são mediados pela figura do “bom patrão” que como pai, decide, orienta e ampara seus subordinados, regulando as relações capital-trabalho.
Trata-se, de estender a dominação na vida operária, subtraindo-a as influências do mundo “de fora” da fábrica. Surge à preocupação em manter o operário sob a influência de seus camaradas de fábrica e de educá-los segundo os interesses da fábrica para evitar que sua agitação venha atrapalhar ou modificar a ordem social, o mais seguro era educá-lo e moralizá-los por intermédio da escola, particularmente a profissionalizante. A escola revela-se um importante instrumento de socialização, treinamento e CONTROLE da força de trabalho.
Outra pratica para estabelecer o domínio do capital sobre o trabalho foi a das práticas de assistência social, efetivadas pela empresa, envolvendo a criação de sociedades beneficentes, seguros contra acidentes, caixas de socorros, assistência médica, creches, casas para alugar ou comprar diretamente com o empregador dentre outros “benefícios”. Vale lembrar que eram iniciativas individuais da industria e de cada empresário em sua fábrica e não estava vinculada a nenhuma legislação trabalhista na época. É necessário, contudo verificar que nada era absolutamente gratuito, ou seja sempre havia retenção de parcela do ordenado do trabalhador para alguns ou todos os benefícios.
Deste modo a burguesia industrial criou no emprego o “seguro” para o empregado e a sua garantia de domínio sobre o mesmo. Porque perde o emprego significava perder a habitação, assim como todos os outros benefícios sociais.
Com o propósito de manter o funcionário ligado à empresa a nova elite burguesa vinda da industrialização, procurava fortificar os laços que unem seus funcionários e a empresa por meio do auxilio aos funcionários, para que os mesmo tenham conforto material e da assistência espiritual e cultural, abdicando mesmo que inconscientemente de maiores realizações pessoais e profissionais.


Leandro Claudir
 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Saiba mais sobre os esquimós

Há milênios, eles habitam algumas das mais inóspitas terras do planeta. Comiam carne crua e não conheciam dinheiro. Hoje, o Greenpeace quer que os esquimós troquem filés de baleia por bisteca de porco

Alexandre Rodrigues | 01/11/2010 17h34

Nas águas geladas do Ártico, em agosto de 1576, o ex-pirata inglês Martin Frobisher ficou impressionado ao ver algo: entre blocos de gelo no mar, o movimento era do que pensou serem baleias ou mesmo cardumes de um peixe desconhecido. "Mas, chegando mais perto", escreveu George Best, marinheiro da expedição, "ele descobriu que eram homens em pequenos barcos feitos de couro." Isolada do mundo e sob um frio intenso, a tribo resistia em algumas poucas casas feitas de blocos de gelo. Pelas feições de olhos puxados dos nativos, Frobisher concluiu: só podiam ser asiáticos. Eram fortes e ágeis, habilidosos na caça e na pesca, mesmo com instrumentos rústicos, e comiam a carne crua.

Podia ser uma surpresa para os europeus, mas os ancestrais dos esquimós já sobreviviam naquela região havia milhares de anos. A Europa medieval imaginava os povos ao norte como os hiperborianos, habitantes míticos de uma terra onde, segundo a mitologia grega, o sol quente brilha nas 24 horas diárias. Vikings - os primeiros a visitar a Groenlândia, no século 10 - os chamavam de skraeling. Hoje eles estão entre os povos mais conhecidos do planeta, retratados até nos desenhos animados. É só a aventura se passar no gelo e logo eles surgem, instalados nos iglus ou circulando em trenós puxados por cães. Mas os esquimós são assim mesmo? Como foram parar ali? O termo não existe em nenhum dos dialetos do Ártico e pode inclusive ser considerado ofensivo devido à sua explicação mais comum. Emprestado do vocabulário dos índios algonquins, skimatski ("comedor de carne crua") tornou-se esquimó no século 16. A teoria mais recente e correta, porém, diz que eles começaram a ser chamados dessa forma por causa de seus sapatos de neve (veja no infografico - clique para ampliar. Ilustrações: Licius Bossolan Design: Everton Prudêncio).



Migração

Antropólogos não tinham certeza de sua origem até que, recentemente, o exame de DNA de um corpo mumificado (pré-esquimó) encontrado na Groenlândia ajudou a resolver o quebra-cabeças. Segundo Ernest S. Burch, autor de The Eskimos (sem edição no Brasil), entre 15 mil e 20 mil anos atrás, na última glaciação, uma capa de gelo cobriu o atual Canadá, separando os grupos de asiáticos que chegavam à América pela "ponte de terra" entre o estreito de Bering e o Alasca - o mar estava em um nível mais baixo, criando o caminho. "Os índios americanos (como os algonquins e sioux) são descendentes daqueles povos que foram pegos embaixo do lençol de gelo do Canadá. Os esquimós descendem das pessoas que continuaram em algum lugar a norte ou oeste", diz Burch, do Centro de Estudos do Ártico, do Museu Smithsonian, nos Estados Unidos. Quando o clima deu uma chance, as tribos espalharam-se. Um dos mais antigos sítios arqueológicos esquimós, em Labrador, Canadá, tem cerca de 3,8 mil anos.

Hoje, dois grupos principais são chamados de esquimós: inuits (ou esquimós do leste) e yupiks (os do oeste). No norte do Canadá e na Groenlândia, dois terços são do primeiro grupo (que comporta várias subdivisões, como inupiat e inuvialuit). Apesar de traços comuns de linguagem, eles têm diferenças culturais e genéticas com os yupiks, que predominam na Sibéria e no Alasca e também mantêm subgrupos, como os naukans e alutiiqs.

Os yupiks são herdeiros da cultura e da bagagem genética dos primeiros povos que migraram da Ásia, estabelecidos nas terras mais férteis próximas ao litoral e com caça abundante. Moravam em casas de madeira ou pedra, que abandonavam e voltavam a habitar de acordo com a oferta de alimento, condicionada sobretudo pelo clima. Já os ancestrais inuits ocuparam as áreas mais inóspitas (embora em algumas regiões fizesse menos frio) por volta de 1400 a.C. Nômades e vivendo isolados nos iglus, os inuits que ilustram o imaginário sobre os esquimós não passavam de 5% da população estimada de 70 mil nativos durante o ciclo de explorações contínuas no século 18.

Eles praticavam uma religião xamânica, com rituais para atrair bons augúrios para as caçadas, curar ou controlar o clima. O principal meio de transporte era o trenó, puxado por cães. Animais nativos gozavam de um grande simbolismo. A caça ao urso era a cerimônia de transição dos jovens para a idade adulta. A da baleia tornou-se um evento principal, pois produzia carne capaz de sustentar uma tribo por semanas. Caribus, focas e outros mamíferos marinhos também estão entre as caças mais importantes, a base para roupas e equipamentos. O clima sempre ditou a rotina. No frio, que passava de -30 oC em certas áreas, não depender de ninguém de fora da tribo era essencial.

Se dá para falar em uma era de ouro dos esquimós, afirma Burch, ela ocorre no primeiro milênio. Com um longo período de clima favorável, a população cresceu e o artesanato se sofisticou. Clãs promoviam o comércio (na base da troca, sem dinheiro) e guerreavam entre si, fazendo a tecnologia dar um salto. Caiaques e técnicas engenhosas de armazenar comida são dessa época. O sistema político, porém, era quase anarquista. Dentro dos clãs, a liderança dependia de idade e do talento na caça e na guerra. No século 16, a Pequena Era do Gelo derrubou a temperatura na América do Norte e na Europa, levando ao despovoamento das regiões mais isoladas.

Mal de branco

Um grupo de inuits sobreviventes desse processo encontrou Martin Frobisher, em 1576. Mas a expedição inglesa, se ainda é lembrada pela história oral dos esquimós, teve um efeito efêmero (leia acima) diante da chegada de exploradores que reivindicaram suas terras para a Rússia, no início do século 18. A partir daí, em contato permanente com as novas culturas, foram expostos a doenças e epidemias até então desconhecidas, que nos séculos 18 e 19 dizimaram milhares de pessoas. No século 20, a medicina moderna conseguiu reverter a mortalidade. Estima-se que são hoje cerca de 150 mil esquimós. A maioria converteu-se ao cristianismo.
O estilo de vida se transformou radicalmente. Algumas práticas tradicionais são mantidas até para o bem do turismo, mas as "maravilhas do mundo moderno" estão em todo canto. Na caçada ao urso branco, para a ira dos ambientalistas, o rifle tomou o lugar do arpão. Pescam com barcos a motor e usam casacos de tecido sintético. O Greenpeace faz uma campanha para que eles troquem a carne de baleia e urso por bistecas de porco. Mas cobra cerca de 50 dólares pelo quilo da carne suína. No último meio século, as tribos se tornaram pequenas cidades, com casas de madeira e aquecimento central, escola, comércio e internet. Contrariando uma velha piada, aconteceu: com o aquecimento global, é complicado preservar alimentos ao ar livre. Mesmo no Ártico, é cada vez mais fácil vender uma geladeira a um esquimó.

A corrida do ouro (de tolo) no Ártico


Explorador enganou ingleses e acabou por adiar a colonização



Na Inglaterra de Elizabeth I, a expedição de Martin Frobisher ao Ártico foi o início de uma corrida do ouro... de tolo.


Após encontrar os esquimós, ele se deu conta de que não estava na verdadeira passagem entre a Ásia e a América - o estreito de Bering só seria descoberto em 1728 -, e sim numa baía, nas ilhas Baffin, que ainda leva seu nome.

Mesmo assim, o explorador voltou à Inglaterra garantindo que encontrara a passagem procurada por vários navegadores. Como prova, capturou um "asiático". A informação de que havia ouro numa rocha negra achada na região, porém, se impôs. Em 1577 e 1578, ele voltou ao Ártico, recolhendo as tais pedras, caçando esquimós e tomando posse das terras à Inglaterra.
Levou 1,35 mil toneladas de minério. Mas logo descobriu-se que era pirita, o "ouro dos tolos". Na época, o navegador foi inocentado. Em 1991, pesquisas indicaram que químicos da expedição sabiam do erro. Frobisher ainda serviu a coroa como corsário e tornou-se sir. Morreu em 1594.


Saiba mais



Livros


• The Three Voyages of Martin Frobisher in Search of a Passage to Cathai and India by the Northwest, George Best, Adamant Media Corporation, 2001.

Diários do participante das expedições de Frobisher no século 16.

• No País das Sombras Longas
, Hans Ruesch, Record, 1996.
Uma ficção sobre a vida no polo Norte baseada no cotidiano real dos esquimós.

Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/saiba-mais-esquimos-681830.shtml

sábado, 7 de julho de 2012

Saiba como era a infância em Esparta

Em Esparta, o Estado tomava os meninos das famílias para treiná-los na arte da guerra

Vinícius Cherobino | 23/05/2012 17h15

Um visitante de uma cidade do norte chegou a Esparta em 480 a.C. Foi bem recebido e experimentou a melas zomos, prato típico e orgulho da cidade-estado: uma sopa à base de porco, vinagre, sal e (muito) sangue suíno. Depois de provar a iguaria, sua conclusão foi rápida: "Agora entendo o motivo de os espartanos estarem sempre tão preparados para morrer". A anedota sobre a sopa sangrenta resume bem a vida da cidade. Os homoioi, os cidadãos espartanos, cresciam comendo mal e viviam com fome, enfrentavam-se entre si e suportavam um treinamento militar tão intenso que até soldados do Bope pediriam para sair na primeira semana. Os filhos da elite da cidade tinham vida dura desde o berço. Isso se o bebê sobrevivesse ao parecer do conselho dos anciãos - há referências textuais em Xenofonte e Plutarco de que bebês fora dos padrões da cidade eram mortos, arremessados ou abandonados, no monte Taigeto. "O infanticídio era comum na Grécia antiga, mas Esparta era a única a praticá-lo colocando a decisão nas mãos do Estado, e não na dos pais", afirma Paul Cartledge, autor de Spartans (sem edição em português) e professor de cultura grega na Universidade de Cambridge. "A palavra final era do conselho dos anciãos: eles é que decidiam se a criança estava apta a continuar viva ou teria de ser morta."

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A prática do infanticídio era apenas o início da educação espartana, a agoge, focada no militarismo, na disciplina e na obediência completa. Depois de passar os primeiros 7 anos de vida com a família, os meninos eram enviados para centros de treinamento para serem educados e transformados em guerreiros. Até os 11 anos, o jovem espartano passava pelo primeiro ciclo, a meninice, em que recebia o treinamento militar básico.

O menino estava ali para aprender a manejar lanças, espadas e escudos, além de praticar esportes como corrida e natação. A alfabetização não era, de acordo com Plutarco, o mais importante. O foco era a obediência - não ler e escrever. "Eles aprendiam as letras quanto fosse necessário: todo o restante do treinamento era direcionado para resposta rápida aos comandos, resistência, força e vitória nas batalhas", escreveu Plutarco na sua obra sobre a vida de Licurgo, o principal legislador espartano.

No dia a dia, a educação era supervisionada por um magistrado responsável, mas a disciplina (e as punições) era imposta pelos colegas mais velhos. Sessões de açoites eram comuns, assim como humilhações públicas. Quem já passou por uma escola sabe bem que esse modelo tem o potencial de incentivar a crueldade dos mais velhos contra os mais novos. Mas o uso da crueldade do grupo não era algo inesperado. "A ideia básica era deixar os meninos duros, resistentes, no melhor de sua forma física. Acima de tudo, eles tinham que ser autossuficientes e capazes de suportar a dor", afirma Cartledge.

Entre os 12 e os 15 anos, o rapaz passava pelo segundo estágio da agoge. Nessa fase, além dos exercícios tradicionais, havia maior foco no trabalho em grupo, além da maestria no uso das armas. Corridas com cavalos e com bigas também começavam a acontecer. Era definido um mestre, um homem mais velho que acompanhava individualmente os avanços do protegido - tanto militares quanto pessoais. Há discussão acadêmica sobre isso, mas é grande a probabilidade de que a educação entre discípulo e mestre envolvesse relações homoeróticas - traço comum nas cidades-estado gregas.

É durante o segundo ciclo que os meninos recebiam apenas um pedaço de pano para usar como túnica, a única roupa que podiam vestir durante o ano em uma região em que a temperatura chega aos 40 ºC no verão e -5 ºC no inverno. A restrição de comida também era parte do treinamento. Os jovens soldados recebiam apenas o necessário para sobreviver (inclusive da melas zomos) - quantidade que não chegava nem perto da saciedade. Constantemente com fome, os jovens só tinham uma solução: roubar comida. Para os espartanos, não havia problema algum em furtar alimentos - o problema estava em ser pego.

Outro caso contado por Plutarco ajuda a ilustrar a fome e a obediência cega dos aprendizes de soldado. O historiador conta que um jovem conseguiu apanhar um pequeno lobo selvagem para comê-lo. Ao ser descoberto, manteve o lobo sob a sua capa enquanto ouvia o sermão do supervisor. "Sem demonstrar dor, o menino ficou ouvindo o sermão enquanto o lobo o atacava embaixo da capa", afirma Maria Aparecida de Oliveira Silva, professora de história antiga na USP e autora do livro Plutarco Historiador: Análise das Biografias Espartanas. De acordo com Plutarco, o jovem suportou o ataque, até que morreu. Mais do que revelar algo factual, ressalta Maria Aparecida, esse tipo de história era fundamental para provar como se comportava um verdadeiro espartano. "Tais episódios eram contados para ilustrar a coragem dos espartanos, bem como a obediência cega aos seus costumes e às suas leis."

A partir dos 16 anos, começava a fase final da preparação, que ia até os 20. Era nesse momento que o treinamento passava a ser prático. Os hoplitas - guerreiros com grandes escudos redondos, lanças longas sobre o ombro direito e espada embainhada - eram unidos em grupos de até 15 para exercícios de guerra. Cada grupo era chamado de falange. Nas batalhas, as falanges se enfrentavam até que um soldado cedesse e as mortes começassem a acontecer aos borbotões. Além da força física e da resistência, era necessário muita confiança no seu parceiro ao lado - se ele correr ou cair, a lança rival aproveita o espaço e você está morto.

É por isso que um ditado comum sobre as falanges é que elas são tão fortes quanto o seu elo mais fraco. O treinamento espartano desde o início enfatiza isso - a falange deveria ser uma entidade única.

E isso justificava o treinamento rígido. Durante toda agoge, o papel do Estado espartano era gigantesco. Não se tratava apenas de deixar o filho na escola todas as manhãs e ele crescer até cursar uma universidade, mas a entrega completa do futuro cidadão à Esparta. E só havia um caminho possível: ser soldado. "Aos 7 anos, a criança era realmente doada ao Estado para a educação e, a partir dos 18 anos, começar a ter papel na vida da cidade. Basicamente, o objetivo final da agoge era incutir a ideia de que para viver em Esparta era preciso deixar de lado prazeres e interesses individuais", afirma José Francisco de Moura, historiador especializado em Esparta e professor de história na Universidade Veiga de Almeida.

Não há muitas evidências arqueológicas sobre a educação feminina, mas os textos clássicos indicam que as meninas recebiam algum treinamento, cujo foco estava na excelência física. Em resumo, as espartanas eram vistas como parideiras - as futuras mães dos guerreiros. "Como resultado da ênfase na reprodução, as meninas eram criadas para serem o tipo de mãe que Esparta necessitava. Uma mãe precisa ser saudável, educada de maneira apropriada e com bastante conhecimento dos valores espartanos", escreveu Sarah B. Pomeroy em Spartan Women (sem edição em português). "Apenas mulheres que morriam durante o parto podiam ter seu nome escrito na lápide, o que acontecia somente com os homens que morriam em batalha." Na prática, o que as evidências arqueológicas dão conta é que as mulheres espartanas estavam em forma - as estátuas mostram músculos definidos nos braços e nas coxas. Além disso, tinham fama de serem lindas: Helena, a mulher mais bela do mundo antigo, antes de ser de Troia e de virar a cabeça de Páris, era Helena de Esparta.

O casamento era uma instituição completamente diferente entre os espartanos. Feito por arranjos entre as famílias dos homoioi, a união não envolvia uma vida em conjunto entre marido e mulher. Ao contrário, o homem devia visitá-la apenas durante a noite para o ato sexual e voltar para a sua falange. Por isso, não era raro um homem de 30 anos jamais ter visto a sua mulher à luz do dia. Afinal, ele só tinha permissão de começar a morar com a esposa a partir dos 30 anos. A cerimônia era, evidentemente, espartana. A mulher tinha os seus cabelos cortados curtos, como os de um homem, e recebia uma toga masculina. Era nessa noite que o marido iria invadir a casa da esposa pela primeira vez para consumar o casamento. E voltar ao grupo assim que acabasse.

Admirada por priorizar o público sobre o privado, Esparta foi a inspiração de uma série de obras-primas, como a República de Platão, e até de crimes contra a humanidade - a eugenia, popular no começo do século 20, usava o exemplo espartano como base. Longe da idealização clássica ou moderna, os poucos artefatos recuperados e as escassas referências textuais ajudam a compor um retrato de uma cidade na qual a vida não era nada fácil - e onde a mão do Estado entrava nos lares em busca de crianças que seriam transformadas em guerreiros.

Guerra perpétua

Esparta vivia em permanente estado de sítio. Surgida como um pequeno conjunto de aldeias em torno do século 10 a.C., Esparta se desenvolveu agressivamente nos dois séculos seguintes para se tornar a maior cidade-estado grega em território. A base da sua expansão estava na aquisição de terras, de cidadãos livres para pagamento de taxas e de escravos, chamados hilotas - prisioneiros de guerra de outras regiões, que eram obrigados a realizar o trabalho braçal.
Apesar de a escravidão ser um traço comum em praticamente todas as comunidades gregas daquele período, os espartanos foram além. Descartaram a tradição quando, diferentemente dos rivais, como Atenas e Argos, passaram a escravizar os seus próprios vizinhos gregos. Os primeiros a cair foram os messênios, que tinham a mesma etnia dórica dos espartanos. Estimativas dão conta de que havia de 10 a 20 vezes mais messênios e cidadãos livres do que cidadãos espartanos na cidade, por volta de 500 a.C.


Saiba mais



Livro
The Spartans: The World of the Warrior-Heroes of Ancient Greece, Paul Cartledge, Vintage, 2004


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Fernando Gabeira abre o jogo e afirma: "A nossa luta na verdade era para implantar uma Ditadura"



Fernando Gabeira afirma que as intenções da luta armada no Brasil eram de implementação de um regime de força ditatorial e proletária e não de retomada democrática.
Jango tinha queda pelo Comunismo sim. Promoveu quebras de hierarquia e de disciplina nas forças armadas, sindicalizou sargentos, entre outras coisas. Em 4 de outubro de 1963 ele solicitou estado de sítio, que foi negado pelo Congresso, mesmo assim a partir dai ele começou a implementar medidas que terminariam num estado totalitário de esquerda.

Jango era marionete de seu cunhado, Leonel Brizola, que o incentivava a transformar o Brasil numa república sindicalista, promovendo o grevismo, a anarquia e o caos. No governo dele o Brasil passou a sofrer de estagnação econômica, inflação descontrolada, enquanto isso Brizola unificou as frentes de esquerda e criou o grupo dos '11 companheiros', a qual ele adorava comparar com a 'guarda vermelha' de 1917, pra tomar o poder pela luta armada.

Em 13 de março de 1964, num comício realizado na praça Central do Brasil, no Rio, que ficou conhecido como a 'Comissão das Reformas', mais de 100 mil comunistas participaram pedindo a legalização do PCB e a entrega de armas pra luta armada. No palanque estava João Goulart, Leonel Brizola e Miguel Arraes. Brizola e Arraes fizeram discursos violentíssimos, e houve uma enorme profusão de bandeiras com o símbolo do comunismo (foice e o martelo).

No dia 19 de março, em resposta ao comício do dia 13, mais de 500 mil pessoas realizaram a primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade, mostrando o descontentamento da população com os rumos que o Brasil tomava. Em 20 de março Brizola incentivou marinheiros a praticar motim, Luis Carlos Prestes manifestou o desejo que o Brasil deveria ser a primeira nação sulamericana a seguir o exemplo de Cuba.
Ele tentou fazer mudanças constitucionais que facilitariam essas medidas, e o PCB preparava um golpe em 1 de maio de 1964 caso essas mudanças não fossem aprovadas pelo congresso. A Esquerda preparava o Golpe de Estado, mas não teve tempo de executá-lo, e Jango era conivente com tudo.

Aqui Fernando Gabeira admite que a intenção da 'luta armada' não era de implantar democracia porcaria nenhuma, era de derrubar o governo e instaurar uma ditadura do proletariado: 
Resumindo, a população ordeira e de bem pediu uma atitude por parte dos militares.
Você quer saber mais? 
http://www.construindohistoriahoje.wordpress.com


Fonte:  http://construindohistoriahoje.blogspot.com