quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um monumento aos almocreves de outrora


Por José Romero A. Cardoso/ UERN



Mossoró já foi um dos mais extraordinários pólos de crescimento que o semi-árido nordestino já registrou em sua espacialização geográfica, convergência de boa parte da produção sertaneja dos vizinhos Estados do Ceará e Paraíba, além de sua órbita gravitacional, as cidades circunvizinhas.

Algodão, peles, couros e cera de carnaúba, além de sal e gesso, eram exportados pelas inúmeras casas especializadas que eram facilmente encontradas no município, sucessoras da saga comercial do negociante suíço Johannes Ulrick Graff.
A produção sertaneja contava com imprescindíveis agentes econômicos, responsáveis pelo transporte dos bens obtidos com as atividades econômicas do semi-árido. Eram os almocreves ou comboieiros, os quais saíam com tropas de burros dos mais distantes lugares, trazendo seus fardos de pele e algodão.

Graças aos almocreves, muito da prosperidade desfrutada pela capital do oeste potiguar pôde ser efetivada, sobretudo durante os anos áureos do bom da economia do semi-árido, durante a década de 20 século passado. O término da guerra urgiu a necessidade de se reconstruir a velha Europa, devastada pelo conflito. Posteriormente, registrou-se a catástrofe da Bolsa de Nova York em 1929, da qual surtiu efeito contundentes sobre a economia da região.

Campina Grande, Estado da Paraíba e Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, rivalizam quanto ao grau de importância dos velhos almocreves para a economia local, em determinada época. A primeira já rendeu seu tributo aos bravos tangerinos dos pretéritos tempos e lucra extraordinariamente com isso. Exemplo maior encontramos no reconhecimento internacional ao grupo Tropeiros da Borborema, oriundos da magnífica composição de Raimundo Yasbek Ásfora e Rosil Cavalcante, imortalizada em esplêndida interpretação de Luiz "Lua " Gonzaga.
Monumento em Campina Grande, além de destaque em museu, embora referente ao algodão, denotam a reverência dos paraibanos a um dos mais importantes elo da cadeia produtiva da economia sertaneja.

A terra de Santa Luzia precisa fomentar com urgência esse reparo quanto tributo de gratidão àqueles que trouxeram tantas riquezas que deram posição de destaque regional, nacional e internacional ao País de Mossoró durante boa parte do século XX, refletindo-se no presente através dos marcos indeléveis no imaginário popular transmitido de geração a geração.

Seguir os passos de Campina Grande, imitando sua originalidade e pioneirismo, pode representar futuros investimentos em turismo e cultura, pois a história é um alicerce irremovível na assistência a projetos futuros.
Em um tempo em que os transportes de grande calado, que comportassem o volume da produção, eram escassos ou quase inexistentes, esses agentes econômicos marcaram siginficativamente o cotidiano das terras semi-áridas, contactando centros civilizados com os mais recônditos rincões esquecidos do vasto mundo das caatingas e dos carrascais.

Homenageá-los significa recuperar parte de nossa memória, se evitando dessa forma que suas lutas e o estoicismo em vencer obstáculos de um sertão tenaz e indomável de outrora caiam no ostracismo imposto pela aculturação que se propaga e faz as gerações atuais e futuras tenderem a esquecer as raízes e os valores das veredas da terra do sol.

Fonte: Jornal Gazeta do Oeste, 02 de outubro de 2003, Caderno Escola.

domingo, 26 de dezembro de 2010

HISTÓRIA DE MOSSORÓ I

O Fim de Jararaca

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Na cadeia de Mossoró, Jararaca era assistido por um médico enviado pelo humano prefeito Rodolfo Fernandes, quando chegou um soldado da volante de Quelé exigindo anel de brilhante que o cangaceiro ostentava em um dos dedos. Como o valioso produto de roubo não saia do dedo do bandoleiro, o militar mandou-lhe colocar o membro na cadeira que iria arrancá-lo de punhal, o que não aconteceu graças aos protestos do médico. Na verdade eram feras combatendo feras, não havia distinção em quase nada entre cangaceiros e soldados volantes, tudo era da mesma laia.

 Cangaceiro Jararaca, na ocasião em que se encontrava preso em Mossoró

Sem papas na língua, Jararaca destilava ódio contra a polícia, fazendo denúncias gravíssimas contra oficiais que segundo ele eram corrompidos pelos cangaceiros. Soltou o verbo contra Teóphanes Ferraz Torres, captor de Antônio Silvino e responsável pela diligência que resultou em sério ferimento no tornozelo de Lampião, no ano de 1924.
Jararaca tornou-se atração em Mossoró. Perguntas eram feitas, a exemplo do número de riscos em sua arma, ou seja, se era o total de mortes que ele tinha nas costas. Inúmeras histórias surgiam a cada instante, como a que havia jogado criancinha para cima e aparado-a no punhal. Tudo era desmentido pelo cangaceiro que a cada momento se enrolava ainda mais.

Lauro da Escóssia, famoso jornalista mossoroense, conseguiu proeza impressionante, pois entrevistou demoradamente o cangaceiro, publicando a matéria no jornal “O Mossoroense”. Nisso, tudo já tinha sido acertado em Natal, pois Juvenal Lamartine de Faria, natural de Serra Negra do Norte (RN), acostumado a conviver com a vida e com a morte nos sertões violentos daquela época, ordenou que a transferência de Jararaca fosse realizada para a capital potiguar.

Lamartine de Faria, aparece ao centro na foto

Avisaram ao bandido que ele seria levado para Natal, quando este reclamou que havia esquecido as alpercatas na cela. O oficial responsável pela condução do preso disse-lhe que não se preocupasse, pois assim que chegassem à capital lhe compraria belo sapato de verniz.Jararaca entrou inocentemente no veículo dirigido por Homero Couto, sendo acompanhado por diversos militares responsáveis pela sua transferência de Mossoró para Natal.Tudo acertado, o motorista reclamou de pane no motor, justamente em frente ao cemitério São Sebastião. Jararaca relutou em sair do automóvel, quando um soldado puxou violentamente pela perna baleada. O cangaceiro valeu-se de Nossa Senhora, mas não houve jeito, pois assim que o desditado bandido caiu no solo foi alvejado por verdadeiro festival de coronhadas das armas dos soldados.

A cova de Jararaca já estava aberta, fora do campo sagrado. Quando foram colocá-lo no buraco, notaram que as pernas eram grandes demais, não cabiam na sepultura. Ele ainda estava vivo, mas mesmo assim quebraram-nas a golpes de picareta e o enterraram ainda estertorando, ao lado de Colchete.

 
Hoje o túmulo de Jararaca é o mais visitado quando do dia de finados em Mossoró. Pessoas vindas de vários lugares vão pagar promessa, pois a crendice popular transformou José Leite de Santana em Santo, talvez em razão do martírio abominável do qual foi vítima, em vista que, não obstante ter sido um criminoso bárbaro, o dever da justiça é garantir sua segurança e fazer com que pague na forma da lei pelos crimes que cometeu.

Romero Cardoso
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Fonte: cariricangaco.blogspot.com

HISTÓRIA DE MOSSORÓ II

O Trucidamento de Jararaca em Mossoró

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Trincheira da casa de Rodolfo Fernandes (Foto Museu da Resistência)

José Leite de Santana era pernambucano de Buíque, nascido no ano de 1901. Antes de entrar para o cangaço servia ao Exército Brasileiro, em Sergipe, quando desertou em razão de ter participado de insurreição militar contra o comando do quartel no qual servia na capital sergipana.No cangaço, devido sua fúria irascível, ganhou o apelido de Jararaca, mas não era tão perverso como os irmãos Ferreira, pois quando da marcha de lampião intuindo atacar Mossoró, protagonizou ato benevolente na localidade de Cantinho do Feijão, hoje município de Santa Helena (PB).

Ezequiel Ferreira, irmão mais novo de Virgulino Ferreira da Silva, destacava-se pela pontaria impecável, razão pela qual ganhou o apelido de Ponto-Fino.  Foi ele quem matou Raimundo Luiz, subdelegado e fundador da localidade. Depois do assassinato, Lampião arrastou punhal de setenta e cinco centímetros de lâmina para rasgar o ventre da viúva do desditado homem da lei. Queria saber como era a cara do filho de um “macaco” saído das entranhas. Jararaca intercedeu e evitou mais uma barbaridade que seria cometida naturalmente pelo “rei do cangaço”.

 Cadete Jararaca

No combate em Mossoró, as colunas comandadas por Sabino Gório e Jararaca tentavam tomar de assalto a residência do prefeito Rodolfo Fernandes, hoje sede da chefia executiva do município, conhecido como Palácio da Resistência. O valente prefeito havia mandado empiquetar os principais pontos de defesa com fardos de algodão, inclusive sua residência se encontrava totalmente arrodeada com o principal produto exportado por Mossoró naquela época, vindo de diversos lugares do nordeste semiárido.

Cangaceiro apelidado de Colchete conseguiu gasolina e encheu uma garrafa, fazendo um coquetel molotov para ser arremessado nos fardos de algodão em volta do Palácio de Rodolfo Fernandes. Na parte superior da residência do prefeito postava-se exímio atirador, de nome Manuel Duarte, que logo notou a intenção do famoso bandido do vale do Pajeú. 

O bravo defensor mossoroense esperou momento oportuno, quando Colchete ficou com a cabeça visível o suficiente para que o winchester calibre 44 do homem postado em cima da residência do prefeito detonasse projétil certeiro que esfacelou o crânio do cangaceiro de Lampião. Colchete estertorava devido o estrago causado pela bala da arma de Manuel Duarte, quando outro indômito integrante da trincheira do prefeito pulou a janela de punhal em riste para terminar o serviço, sangrando-o impiedosamente.  Imediatamente esse homem que não sabia o significado da palavra medo voltou ao seu posto para continuar o combate. 

 Manuel Duarte

Jararaca sabia, como todos os cangaceiros, que o código dos bandidos permitia que um companheiro quando era morto àquele que estivesse mais próximo tinha o “direito” de desarvorá-lo, ou seja, retirar armas, munição e tudo de valor que o defunto carregasse.    Corajosamente, Jararaca se expôs até demais, intuindo ficar com os pertences de Colchete. O mesmo Manuel Duarte que estourou a cabeça do cangaceiro que buscava transformar em churrasco os defensores da trincheira do prefeito escalou novamente seu winchester calibre 44 e pipocou Jararaca pelas costas. O cangaceiro caiu em forma de cruz sobre o companheiro morto. 

Passaram-se uns dez minutos para que Jararaca recobrasse a consciência devido ao impacto da bala calibre 44 detonado por Manuel Duarte. Este notou que o intrépido bandoleiro havia se mexido, fazendo menção de correr. Novo tiro deflagrado por Manuel Duarte varou a coxa de Jararaca, tornando sua situação periclitante ao máximo, ao extremo dos extremos. Jararaca conseguiu se arrastar por que Manuel Duarte se deparou com outro cangaceiro atrevido. Dessa vez era Sabino Gório. O tiro deflagrado, o qual buscava a cabeça do homem de confiança de Marcolino Pereira Diniz, arrancou o chapéu do cangaceiro, dando chance a Jararaca para sair da linha de tiro e se proteger.

O cangaceiro clamou por ajuda, chamando Sabino e Massilon, os quais não lhe deram ouvidos, pois a meta naquele instante era salvar a própria pele. O tiroteio no centro de Mossoró deixou os cangaceiros absolutamente desnorteados, tanto é que na fuga um “cabra” da confiança de Isaías Arruda, conhecido por Bronzeado, foi sair para as bandas do caminho de Upanema (RN), a leste, enquanto o bando tomava a direção de Limoeiro do Norte (CE), a oeste.
 
 
 Massilon Leite , Virgulino Lampião e Sabino Gório

Jararaca se arrastou penosamente até chegar aos trilhos da estrada de ferro, sendo preso no dia 14 de junho de 1927. Nesse ínterim, chegava em Mossoró uma volante paraibana, enviada pelo governador João Suassuna. Essa coluna militar era comandada pelo Sargento Clementino Quelé, o famoso “tamanduá vermelho”. O governador norte-riograndense depois presenteou João Suassuna com o punhal de Jararaca, como prova de gratidão pela atitude de enviar socorro à cidade que foi ameaçada pelos bandidos comandados por Lampião.  Mais tarde, Lampião e seus sequazes viriam o tamanho da besteira que tinham feito, pois uma coisa eles não sabiam que era a forma como os Lamartine de Faria levavam avante suas vinganças. A audácia dos cangaceiros em tentar atacar Mossoró não ia ficar por isso mesmo. Certa vez Vingt-un Rosado me disse que havia indagado a Juvenal Lamartine sobre o motivo por que tinha mandado matar todos os cangaceiros que haviam sido aprisionados e enviados para responder processo no Rio Grande do Norte. A resposta de Lamartine, segundo Vingt-un, foi curta e grossa: “Mandei matar, mandava de novo e só tenho pena dos que não pude mandar fechar para deixarem de serem cabras safados”. Essa resposta revelou como era o homem que foi responsável também pela morte do cangaceiro Francisco Pereira Dantas, talvez, tudo indica, devido sedução de uma sobrinha de Juvenal Lamartine em Serra Negra, a qual contava quando do defloramento a tenra idade de doze anos.
Por Romero Cardoso
Fonte: cariricangaco.blogspot.com

Catolé do Rocha: terra onde nasci

Município de Catolé do Rocha
"Catolé"
Brasão de Catolé do Rocha
Bandeira desconhecida
Brasão Bandeira desconhecida
Hino
Aniversário 26 de maio.
Fundação Não disponível
Gentílico catoleense
Lema Saxum Venerandum
Prefeito(a) Edvaldo Caetano da Silva (PTB)
(20092012)
Localização
Localização de Catolé do Rocha

Localização de Catolé do Rocha na Paraíba

Localização de Catolé do Rocha em Brasil
Catolé do Rocha
Localização de Catolé do Rocha no Brasil
06° 20' 38" S 37° 44' 49" O06° 20' 38" S 37° 44' 49" O
Unidade federativa  Paraíba
Mesorregião Sertão Paraibano IBGE/2008 [1]
Microrregião Catolé do Rocha IBGE/2008 [1]
Municípios limítrofes Brejo dos Santos, Riacho dos Cavalos, Jericó, Brejo do Cruz, Belém do Brejo do Cruz, São Bento, João Dias e Patu.
Distância até a capital 500 km
Características geográficas
Área 552,098 km² [2]
População 28 766 hab. IBGE/2010[3]
Densidade 52,1 hab./km²
Clima Semi-árido
Fuso horário UTC−3
Indicadores
IDH 0,668 médio PNUD/2000 [4]
PIB R$ 132 659,006 mil IBGE/2008[5]
PIB per capita R$ 4 684,29 IBGE/2008[5]
Catolé do Rocha é um município brasileiro no estado da Paraíba, localizado na microrregião de Catolé do Rocha. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2006 sua população era estimada em 27.691 habitantes. Área territorial de 552 km².

 História

Os historiadores mostram a descoberta destas terras, com os primeiros habitantes, presumivelmente, os índios Pegas (ou Degas), Coyacus e Cariris, nos fins do século XVII. As bandeiras do governo Geral, capitães Paulistas, matavam os índios requerendo sesmarias de três léguas de comprimentos por uma de largura. Eram eles, os Garcia D'Ávila, Rocha Pita e os Oliveira Ledo que povoaram principalmente a região do rio Piranhas.
A história registra, no entanto a presença de habitantes e fazendas de gado desde 1700, quando Dona Clara Espínola, o Conde Alvor, Manoel da Cruz, Bartolomeu Barbosa requerendo a sesmaria de três léguas para cada um entre os providos de Poty e Riacho dos Porcos e do meio, o governo de então concede a Dona Clara Espínola e Bento Araújo, terras no sertão de Piranhas e Riacho Agon ou Ogon.
Em 1717, Dona Clara solicita mais três léguas atingindo a corrente fértil, tendo início da colonização desde 1769.
Em 1754, Francisco da Rocha Oliveira, descendente de Teodósio de Oliveira Ledo, chega à região, estabelecendo-se as margens do riacho Agon.
O Tenente Coronel Francisco da Rocha Oliveira e sua esposa Dona Brásida Maria da Silva, iniciaram aqui as primeiras edificações, no ano de 1774, com a construção de uma capela erigida em honra de Nossa Senhora do Rosário.
O território compreendia uma extensão de aproximadamente 5.400 km. E como aconteceu em quase todas as cidades e povoações nordestinas que surgiram, o seu início se deu às margens de riachos e nascentes ou subsolos que apresentavam condições favoráveis para o abastecimento d'água. Com Catolé não foi diferente, o seu início foi às margens do Riacho Agon ou Ogon ou ainda Yagô, onde havia água farta mesmo nos anos de estiagem.
Logo após a sua chegada, o tenente tratou de explorar a parte de terra que lhe cabia, organizando plantações, construindo fazendas para criação de gado, construindo casas residenciais, fazendas de gado como também a construção de uma capela no local onde hoje é a Avenida Américo Maia, próximo ao Banco do Nordeste, denominada Capela do Rosário. Anos depois a capela do Rosário foi demolida para a abertura de novas avenidas, e construída a Igreja matriz, sob a invocação de Nossa Senhora dos Remédios.
O município conta com uma capela no sítio de Conceição, sendo a padroeira Nossa Senhora da Conceição, segundo os historiadores, foi a 1ª capela construída no município.
Após a construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário, em fins do século XVIII, o lugar teve um surto de desenvolvimento, com o surgimento de algumas construções que marcaram a época como: o prédio da Coletoria Estadual, um sobrado com a fachada revestida de azulejos trazidos de Portugal, o prédio da Intendência a antiga Prefeitura, onde hoje funciona o Projeto Arte de Viver, o sobrado de Américo Maia onde funciona dois Cartórios e a Rádio Panorama FM, o sobrado Coronel Valdivino Lobo, já demolido, a Casa de Caridade, depois Colégio Leão XIII, atualmente Centro de Catequese e Pastoral.
A toponímia Catolé do Rocha deve-se a abundância de uma palmeira nativa, de nome Coco Catolé, e Rocha, uma homenagem ao seu fundador que tinha sobrenome Rocha. Alguns historiadores, afirmam também, ser costume de se referir a uma localidade, utilizando o nome de seu dono, acreditam também, por haver outra localidade com o nome de Catolé, costumeiramente se referiam a "Catolé dos Rochas" por pertencer ao Tenente Francisco da Rocha.
A autonomia administrativa de Catolé do Rocha começa a se concretiza em 1835 quando o então governador Manoel Maria Carneiro, presidente da província da Paraíba, através da Lei Provincial nº. 5 de 26 de maio de 1835, cria a Vila Federal de Catolé do Rocha.
Em 1935, 100 anos depois, pelo Decreto de 21 de janeiro de 1935, é elevada a categoria de cidade.
No ano de 2010 ao completar 175 Emancipação Política, nossa cidade, apesar das intempéries do tempo e das dificuldades inerentes do seu próprio meio, ressurge a cada dia, na vontade imorredoura da tenacidade de seus filhos que buscam na realização de seus sonhos individuais a concretização de uma cidade mais humana.

Atualmente

Hoje, Catolé do Rocha é cidade pacata e hospitaleira. É uma das Cidades pólos mais importante do Sertão Paraibano. Catolé sofre um processo de industrialização, tendo sido criado recentemente diversas empresas de pequeno porte, na área têxtil, calçadista e de alumínio, desenvolvendo assim a economia do município, gerando emprego e renda para seus moradores, conta também com o nome de cidade mais verde da Paraíba, sendo uma cidade de clima arejado e tranquila. Na Educação, além das escolas públicas, tanto estaduais como municipais, conta com várias escolas particulares que está sendo a cidade que mais cresce em indíce de educação, entre elas, podemos destacar o Colégio Normal Francisca Mendes, Colégio João Agripino Filho e Colégio Técnico Dom vital, além, de um campus da UEPB.

Bairros

  • Centro
  • Corrente
  • Batalhão
  • Tabajara
  • Noel Veras
  • Sandy Soares
  • Luzia Maia
  • Natanael Maia
  • João Pinheiro Dantas
  • Santa Clara
  • Várzea
  • Tancredo Neves
  • Padre Pedro Serrão
  • Elezbão
  • Liberdade
  • Loteamento São Paulo
  • Loetamento Dr Benjamim

Distritos

  • Coronel Maia
  • Picos

Hidrografia

A área do município é banhada pelos afluentes do rio Piranhas. Os cursos principais de água são: o riacho Agon que corta cidade de Catolé, o Capim Açu, o Picos, o Jenipapeiro dos Porcos, e o de Coroatá. O município dispõe também de certa quantidade de açudes de pequeno porte. A pluviometria média anual é de 849,1 (Período do 1911-2005) e, desse total 84,1% concentra-se em 04 meses (FMAM). Os rios e riachos têm pouco poder erosivo, atingindo alguma impetuosidade somente nos seus cursos superiores, de maiores declividades quando descem das partes elevadas.

Clima

O município de Catolé do Rocha insere-se no Polígono das Secas. Possui clima Bsh-Semi-árido quente com chuvas de verão e, segundo a divisão do Estado da Paraíba em regiões bioclimáticas, possui bioclima 4bTh de seca média com 5 a 7 meses secos. A estação chuvosa ocorre de janeiro a julho, sendo que nesta época as chuvas caem mais nos meses de fevereiro, março e maio o que chamamos de inverno. O clima é caracterizado de clima semi-árido por ser um clima quente e seco.

Relevo

O Relevo de Catolé do Rocha apresenta uma superfície ondulada, formada por elevações que são parte do Planalto da Borborema, destacando-se as principais serras: Coroatá cuja altitude máxima é de 695 m, São Gonçalo 598m, Três Cabeços 748m, Almas 472m, Monte Tabor 300m. Temos também a serra do Capim Açu, do Moleque, do Prado, da Rajada e Serra Nova. O Monte Tabor caracteriza-se pela existência de uma capelinha construída no ano de 1910 pelo padre Belisário Dantas Correia de Góis. Este conjunto de serras serve de linha fronteiriça com o Rio Grande do Norte, tanto a oeste como ao Norte, onde destacam-se as serras Pedras Altas 354m e Cajueiro 580m

Aeroporto

Aeroporto de Catolé do Rocha: ICAO: SIBU Posição:6° 21' 45S 37° 45' 22W Altitude: 892 ft AMSL Desvio Magnético:: 22.122W Hora: UTC-3(-2DT) Pistas: 29/11 Dimensões(m):1000/20 Pavimento:Asfalto

Filhos ilustres

  • Hermam Benjamim - Advogado, Ministro do Superior Tribunal de Justiça.
  • Chico César - cantor, compositor, escritor e jornalista brasileiro.
  • Venâncio Neiva Juiz de Direito, Político brasileiro, Governador da Paraíba.
  • João Suassuna - Político brasileiro, Deputado federal, Governador da Paraíba, Pai do escritor Ariano Suassuna.
  • Manoel Paz de Lima - Político brasileiro, General do Exército Brasileiro, Interventor Federal, Prefeito de Campina Grande.
  • João Agripino Filho- Político brasileiro, Advogado, Promotor de Justiça, Deputado Federal, Governador da Paraíba, Senador da República, Presidente do Tribunal de Contas da União..
  • Dix-Sept Rosado- Político brasileiro, Prefeito de Mossoró, Governador do Rio Grande do Norte.
  • Yeda Dantas - Atriz da Globo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

AMÉRICA

A América foi totalmente transformada pela colonização européia. Os povos pré-colombinaos, numericamente pouco consideráveis, foram assimilados por mestiçagem (freqente na América do Sul, às vezes reconstituíndo uma civilização originária como a dos guaranis, no Paraguai), contidos nas reservas (índios da América do Norte) ou exterminados (Terra do Fogo). Os negros, trazidos outrora como escravos, foram um grupo parcial ainda segregados (nos Estados Unidos da América, onde constituem um problema) ou desigualmente miscigenado às demais raças (no resto do continente). A origem dos imigrantes permite distinguir uma América anglo-saxônica, em que predomina o elemento de origem britânica (E.U.A. e em menor proporção, Canadá, onde subsiste uma forte minoria de origem francesa), e uma América Latina (América do Sul e América Central mais o México), colonizada pelos espanhóis e pelos portugueses (Brasil).

A América anglo-saxônica é muito desenvolvida economicamente: a agricultura caracteriza-se pela alta produtividade de uma mão-de-obra numericamente pequena, que cultiva vastas extensões; a grande potencialidade industrial decorre da abundância de recursos naturais, da revelância do mercado interno, da concentração de capitais e de outros fatores. Seus habitantes desfrutam do mais elevado padrão de vida do mundo. Em contraposição, a América Latina, retalhada em grande número de países de importância muito variavél, é subdesenvolvida. Condições naturais (clima) e histórias (colonização de exploração, no início), a extensão das lavouras (cana-de-açúcar, café, algodão) e a precariedade de atividades industriais outras que não as extrativas (petróleo, ferro, cobre) caracterizam uma economia cuja expansão é refreada pela falta de técnicos e de capitais nacionais (atenuada, mais vezes, com resultados variavelmente satisfatórios, pelos Estados Unidos) e por um insento crescimento demográfico. O baixo nível de vida, agravado pela estrutura social, ainda frequente semi-feudal, o que acarreta grande disparidade de rendas, explica a turbulência política se sua história contemporânea.

HISTÓRIA:

A América pré-colombiana teve evolução muito desigual. Às regiões densamente povoadas (os Andes setentrionais, a América Central, o México), onde outrora floresceram  civilizações brilhantes (toltecas, astecas, maias, incas), opunha-se o resto do continente, de população esparsa e primitiva (sioux e outros ao Norte, índios da Amazônia ao Sul). A chegada de Cristovão Colombro, em 1492, abriu o continente à conquista européia. Os portuguesess instalaram-se ao longo da costa brasileira (1500-1526), os espanhóis destruíram o Império asteca (1521), conquistaram o México e, de lá, a América Central, depois o Peru (1531-1536) e o Chile (1540). Na colonização européia da América do Norte, mais tardia e mais progressista, coube o principal papel a ingleses e franceses. Os primeiros chegaram à Nova Inglaterra em 1620, os segundos fixaram-se na Terra Nova e na Nova França no início do século XVII. O século XVIII foi marcado pela rivalidades entre ingleses e franceses, que disputavam a posse dessas regiões. Pelo Tratdo de Paris (1763), a França perdeu o Canadá.

A revolta  das colônias inglesas e a conquista de sua independência (1776) foi um exemplo que a América Latina se apressou a seguir: San Martin libertou as regiões andinas (1816-1821); Itubribe, o México (1821); Bolívia e Sucre, vencedores dos espanhóis em Ayacucho (1824), a parte setentrional da América do Sul (1819-1825); e o Brasil se emancipou da tutela portuguesa em 1822. Em 1825, executado o Canadá, toda América era independente. Segundo a doutrina "a América para os americanos", formulada por Monroe, os Estados Unidos da América se opunham a qualquer ingerência dos europeus no Novo Continente.

No decurso do século XIX a disparidade entre o Norte e o Sul não deixou de acentuar-se. Enquanto, o bloco norte-americano firmava sua coesão e alcançava rápido crescimento econômico e demográfico, a América Latina fragmentava-se; a especulação e a instabilidade politica entravavam gravemente seu desenvolvimento econômico. Em 1917, os Estados Unidos participaram da Primeira Guerra Mundial e adquiriram rapidamente um papela preponderante no mundo.

Para satisfazer o pan-americanismo, firmaram-se alianças em escala continental: a conferência de Bogotá (1948), criou a Organização dos Estados Americanos (O.E.A), entretanto, persiste ainda como problema dominante, as relações entre os EUA e os países latino-americanos.

CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS:

TOLTECAS: grupo tribal indígena que ocupou o México a partir do século X, criando uma civilização notável, cujo centro se encontrava na região de Tula.

ASTECAS: primitivos habitantes do México, país que eles dominaram desde 1325, quando chegaram ao vale de Anahuac, onde fundaram a cidade de Tenochitlán, até a conquista espanhola (1519). Os astecas, que atingiram alto grau de civilização, cultura e organização política, eram governados por uma monarquia eletiva, dividiam-se em clâs e classes (nobres, sacerdotes, povo, comerciantes e escravos), possuíam uma escrita ideográfica e dispunham de dois calendários (astronômico e litúrgico). Seu último imperador foi Guatimozin, suplicado por ordem de Hernán Cortés (1522).

MAIAS: índios da América Central (Honduras, Guatemala, El Salvador e Yucatán). Atingiram alto grau de civilização na época pré-colombiana. O Antigo Império (320-987), teve como centro a região do Petén. O Novo Império (987-1687), estendeu-se apenas pelo Yucatán. Subsiste grande número de obras de arte maia (pirâmides, palácios, baixos relevos, afrescos). As cidades-estados constituíam a base da organização politica.

INCAS: poderoso império fundado no século XII por uma tribou de língua quíchua, procedente da região do Titicaca, e que, no seu apogeu (século XV), chegou a estender-se por toda a região andina desde o Sul da Colômbia até o Norte da Argentina e do Chile. Em Cuzco, sua capital, residia o Inca, monarca absoluto e hereditário. A sociedade incaica estava dividida em três classes: a nobreza, o povo e os yanaconas ou servidores dos grandes do Império. A atividade principal era a agricultura (milho, batata, algodão etc). Os incas dispunham de magnifica rede de estradas, embora o comércio fosse pouco desenvolvido. Adoravam o Sol, a Lua e os fenômenos naturais, e cultivavam os mortos. Sua arte estavam representada pela cerâmica, a poesia, a música, a dança e sobretudo pela arquitetura (palácio, templos, fortaleza). Foi uma brilhante civilização, que os conquistadores espanhóis destruíram no início do século XVI.

Fonte: KOOGAN, Abrahão, HOUAISS, Antônio. Enciclopédia e Dicionário ilustrado. Rio de   Janeiro: Delta, 1993.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal: ver com os olhos do coração

É o que mais nos falta hoje: a capacidade de resgatar a imaginação criadora para projetar melhores mundos e ver com o coração. Se isso existisse, não haveria tanta violência, nem crianças abandonadas nem o sofrimento da Mãe Terra devastada.

Leonardo Boff



Somos obrigados a viver num mundo onde a mercadoria é o objeto mais explícito do desejo de crianças e de adultos. A mercadoria tem que ter brilho e magia, senão ninguém a compra. Ela fala mais para os olhos cobiçosos do que para o coração amoroso. É dentro desta dinâmica que se inscreve a figura do Papai Noel. Ele é a elaboração comercial de São Nicolau – Santa Claus - cuja festa se celebra no dia 6 de dezembro. Era bispo, nascido no ano 281 na atual Turquia. Herdou da família importante fortuna. Na época de Natal saia vestido de bispo, todo vermelho, usava um bastão e um saco com os presentes para as crianças. Entregava-os com um bilhetinho dizendo que vinham do Menino Jesus.
Santa Claus deu origem ao atual Papai Noel, criação de um cartunista norte-americano Thomas Nast em 1886, posteriormente divulgado pela Coca-Cola já que nesta época de frio caía muito seu consumo. A imagem do bom velhinho com roupa vermelha e saco nas costas, bonachão, dando bons conselhos às crianças e entregando-lhes presentes é a figura predominante nas ruas e nas lojas em tempo de Natal. Sua pátria de nascimento teria sido a Lapônia na Finlândia, onde há muita neve, elfos, duendes e gnomos e onde as pessoa se movimentam em trenós puxados por renas.
Papai Noel existe? Esta foi a pergunta que Virgínia, menina de 8 anos, fez a seu pai. Este lhe respondeu:”Escreva ao editor do jornal local! Se ele disser que existe, então ele existe de fato”. Foi o que ela fez. Recebeu esta breve e bela resposta:
Sim, Virgínia, Papai Noel existe. Isto é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção. E você sabe que tudo isto existe de verdade, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Como seria triste o mundo se não houvesse o Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virgínias como você. Não haveria fé das crianças, nem a poesia e a fantasia que tornam nossa existência leve e bonita. Mas para isso temos que aprender a ver com os olhos do coração e do amor. Então percebemos que não há nenhum sinal de que o Papai Noel não exista. Se existe o Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá sempre que houver crianças grandes e pequenas que aprenderam a ver com os olhos do coração.
É o que mais nos falta hoje: a capacidade de resgatar a imaginação criadora para projetar melhores mundos e ver com o coração. Se isso existisse, não haveria tanta violência, nem crianças abandonadas nem o sofrimento da Mãe Terra devastada.
Para os cristãos vale a figura do menino Jesus que tirita sobre as palhinhas sendo aquecido pelo bafo do boi e do jumento. Disseram-me que ele misteriosamente através de um dos anjos que cantaram nos campos de Belém enviou a todas as crianças do mundo uma cartãozinho de Natal no qual dizia:
Queridos irmãozinhos e irmãzinhas:

Se vocês olhando o presépio e me virem aí, sabendo pelo coração que sou o Deus-criança que não veio para julgar mas para estar, alegre, com todos vocês,

Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas, especialmente no mais pobrezinhos, a minha presença neles,

Se vocês conseguirem fazer renascer a criança escondida no seus pais e nos adultoss para que surja nelas o amor a ternura,

Se vocês ao olharem para o presépio perceberem que estou quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta situação desumana e desejarem que ela mude de fato,
Se vocês ao verem a vaca, o boi, as ovelhas, os cabritos, os cães, os camelos e o elefante pensarem que o universo inteiro recebe meu amor e minha luz e que todos, estrelas, pedras, árvores, animais e humanos formamos a grande Casa de Deus,

Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda e recordarem que sempre há uma estrela sobre vocês, acompanho-os, iluminando-os, mostrando-lhes os melhores caminhos,

Então saibam que eu estou chegando de novo e renovando o Natal. Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia que só Deus sabe quando estaremos todos juntos na Casa de nosso Pai e de nossa Mãe de bondade para vivermos bem felizes para sempre.

Belém, 25 de dezembro do ano 1.
Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Fonte: Revista Carta Maior, 2010.





domingo, 19 de dezembro de 2010


Bruxas: as mulheres em chamas


Bruxas: as mulheres em chamas
Durante mais de 300 anos, a Europa, em plena Idade Moderna, condenou à morte nas fogueiras milhares de mulheres acusadas de feitiçaria.
Durante mais de 300 anos, a mesma Europa que viu nascer a Idade Moderna e presenciou feitos como a conquista do Novo Mundo, a ascensão da burguesia comercial e o fim do domínio feudal, fez das fogueiras um instrumento de repressão e morte para milhares de mulheres condenadas por bruxaria.


Por Cadu Ladeira e Beth Leite
As pilhas de lenhas e gravetos já estavam acesas e a multidão inquieta, aguardava o início do ritual que conhecia tão bem. Afinal, execuções eram espetáculos imperdíveis, que atraiam a atenção de pessoas vindas de vários cantos. Em meio ao ruído abafado dos comentários sobre os horrores que havia cometido, surgiu enfim a condenada. A turba, que já estava agitada, aproveitou para liberar a tensão reprimida: objetos, palavras de ódio, risos e piadas partiam de todas as direções contra a terrível criatura. Não houve muitas delongas. A sentença foi lida rapidamente, o carrasco, num gesto piedoso, estrangulou a condenada para que não enfrentasse as chamas viva e, em poucos minutos, seu corpo ardia, diante da aclamação selvagem da assistência. Durante mais de 300 anos, cenas como essa se tornaram corriqueiras nas praças públicas de boa parte da Europa e o caminho da fogueira se transformou no destino de milhares de mulheres. Nuas, montadas em vassouras, aterrorizando cidades, aldeias e castelos, no imaginário popular e religioso da época, as bruxas estavam por toda parte, semeando o pavor. A perversidade feminina campeava solta, a serviço dos mandos do demônio e precisava ser contida qualquer custo.De 1450 a 1750, poucas pessoas ousariam contradizer essa doutrina, repetida em tom de ameaça nos púlpitos dos pregadores católicos, assim como nos sermões protestantes depois da Reforma religiosa de Martinho Lutero no século XVI. Bruxaria era uma calamidade tão real quanto tempestades ou pestes, e intimamente ligada à natureza feminina. Com exceção de Portugal e Espanha, onde os principais perseguidos eram cristãos novos e judeus, em quase toda a Europa a porcentagem de mulheres excedeu 75% dos casos. Em algumas localidades, como o condado de Namur (atual Bélgica), elas responderam por 90% das acusações. Estima-se que 100 000 processos foram instalados pelo continente afora e pelo menos 60 000 vidas se perderam em meio às chamas.Foi em plena Idade Moderna a mesma que presenciou a descoberta de um novo mundo com as grandes navegações, a ascensão da burguesia comercial, o fim do domínio feudal e a formação dos primeiros Estados nacionais europeus que o temor às forças do mal deixou o campo da crendice popular para se tornar alvo de uma perseguição sistemática de tribunais leigos, religiosos e da Inquisição sob controle papal.Não que as fogueiras tenham sido estranhas à sociedade medieval. A Idade Média também presenciou exibições do poder purificador das chamas, a mais notável delas, sem dúvida, aquela que consumiu a vida da jovem Joana d'Arc em 30 de maio de 1431, na cidade de Rouen, então sob domínio inglês. Heroína nacional, Joana ficou famosa depois que conduziu o exército francês à vitória sobre os ingleses em Orléans e deu início à revanche de seu país na Guerra dos Cem Anos (1337-1453), até aquele momento vencida fragorosamente pelos britânicos. Em 1430, quando caiu prisioneira nas mãos do duque de Borgonha, aliado ao rei inglês Henrique V, seus inimigos aproveitaram a fama das visões que ela costumava ter desde pequena para levá-la à fogueira, mesmo sabendo de sua extrema devoção religiosa. Nesse caso, porém, o cunho político da condenação era tão óbvio, que antes do final daquele século ela seria reabilitada e em 1920 finalmente transformada em santa.Para bruxas menos famosas, no entanto, a chegada da Idade Moderna trouxe uma mudança radical na atitude da igreja e dos tribunais em relação ao universo da superstição, do paganismo e do mito com o qual, havia mais de 1500 anos, a Europa convivia. Na mitologia romana, Diana, deusa dos bosques e dos animais, já costumava guiar amazonas noturnas em cavalgadas celestes. Entre as crenças imemoriais germânicas, acreditava-se que figuras ameaçadoras, conhecidas como streghe, se reuniam na floresta em torno de caldeirões para realizar seus rituais. Depois se volatilizavam e invadiam as casas para chupar a vitalidade das crianças. Mas em meio à insegurança da aurora da modernidade, um tempo marcado por mudanças e desgraças contentes como fomes, pestes, guerras e conflitos religiosos, boa parte dessa tradição fantasiosa do passado acabou associada à certeza de que o demônio e suas seguidoras estavam determinados a dominar o mundo. Feitiços e mulheres voadoras tornaram-se, da noite para o dia parte te de uma grande conspiração demoníaca. Encantos e ungüentos chamados na época de maleficia que antes serviam para ajudar as pessoas se transformavam em passaporte certo para a morte.Não era preciso muito para provar que a ação infernal estava em andamento. Além das tradicionais acusações de possessões diabólicas, crises políticas e sociais, calamidades naturais ou qualquer outro acontecimento anormal eram capazes de detonar a mortandade. Em Trier, na França, uma feroz epidemia de processos contra as bruxas ocorreu entre 1580 e 1599, quando duas grandes colheitas foram dizimadas por alterações climáticas. No principado alemão de Ellwagen, em 1611, em Genebra em 1530,1545,1571 e 1615 e em Milão em 1630, para citar uns poucos exemplos, centenas foram condenadas à morte após um surto de peste. No século XVII, em Cambrai, também na Franca a instalação de novas indústrias no campo gerou uma onda de ansiedade entre os camponeses que logo desembocou numa grande caça.Algumas alegações contra a bruxaria eram tão descabidas, que só mesmo o clima de paranóia coletiva explicava a relação: em 1590, depois que uma tormenta no Mar do Norte destruiu um dos navios da comitiva de Jaime VI da Escócia e de sua noiva, Ana da Dinamarca, os dois países iniciaram uma cruel perseguição a feiticeiras. As grandes caçadas vinham assim: como tempestades de verão, chegavam avassaladoras e de surpresa, mas tinham curta duração. Quase sempre, após um período de frenética perseguição, as comunidades se aquietavam durante os anos seguintes. Era como se tivessem se livrado de um cancro.Escritos da época registram o quase inacreditável. Na diocese italiana de Como, 1000 execuções em um ano. Em Toulouse, na França, 400 cremações são contadas em um único dia. No arcebispado francês de Trier, em 1585, 306 bruxas delataram cerca de 1500 cúmplices. Embora a maior parte das acusadas tenha escapado à morte, isso não impediu que duas aldeias da região ficassem à beira do extermínio: sobraram apenas duas mulheres em cada uma delas.O mais impressionante é que a maior parte dessas mulheres, e mesmo dos homens, condenadas chegaram às fogueiras por confissão própria, graças à tortura. Durante esses quase três séculos de morte, conseguir uma confissão era apenas questão de tempo. Quando acontecia de o acusado resistir muito ,durante uma sessão de maus tratos, isso só aumentava a convicção de culpa dos interrogadores: afinal, tamanha resistência só podia ter por trás o auxílio de forças que não eram apenas naturais. Hoje, sabe-se que o uso indiscriminado desse instrumento macabro se confunde com o próprio mapeamento da caça às bruxas pela Europa.O predomínio do temido Tribunal de lnquisição, por exemplo, serviu para atenuar os casos de condenação à morte de bruxas nos países da Península Ibérica e na Itália. Embora tenha ficado famoso na Idade Média pela prática da tortura, na época em que começou a grande repressão européia, a partir do século XV, os inquisidores já haviam elaborado uma extensa reforma jurídica que garantia não só assistência legal aos acusados como restringia a ação dos torturados a casos muito especiais. Na Inglaterra, onde suspeitos de bruxaria só podiam ser submetidos à tortura com autorização dos conselhos superiores de Justiça, a caça às bruxas também teve pouca expressão. Já na Alemanha, dividida em dezenas de ducados e principados independentes política e judicialmente, a caça às bruxas ganhou proporções assustadoras. Nada menos de 50% dos processos contra elas aconteceram em terras germânicas, e a maior parte resultou em morte.Às vezes, a descoberta de uma fraude conseguia evitar que a perseguição chegasse a um final dramático. Em 1633, o jovem inglês Edmund Robinson denunciou uma mulher que o teria levado a um sabá de bruxas, onde estavam reunidas cerca de sessenta feiticeiras. O menino deu o nome de dezessete delas, todas imediatamente presas e condenadas. Algumas dúvidas sobre o depoimento, no entanto, levaram o bispo de Chester a interrogar Edmund e ele acabou admitindo ter forjado a história por sugestão do pai, que havia indicado todos os nomes por inveja, vingança e desejo de tirar vantagem, descobriram os juízes. Na Escócia, o ensaio de uma grande repressão nacional em 1661 entrou em colapso quando os eméritos caçadores de bruxas John Kincaid e John Dick foram flagrados dando picadas em mulheres acusadas de bruxaria: nos tribunais, essas pequenas marcas eram a prova de que elas haviam feito pacto com o diabo.Foram poucas, porém, as caças detidas por evidência de fraudes. Normalmente, quando uma perseguição se instalava, nada conseguia detê-la e o pânico tomava conta da população. A princípio, todos estavam sob suspeita e a melhor defesa era o ataque. Uma vez iniciada a caça, delações não paravam mais. Assustadas com a perseguição, multas pessoas logo se punham a entregar as vizinhas na tentativa de livrar a própria pele de potenciais acusações. Cada possível bruxa levada a julgamento, por sua vez, não tardava a incriminar mais uma lista de acusadas num efeito dominó que levava grandes levas de pessoas diante dos juízes.Cenas e relatos como esses não só foram realidade como contavam com uma robusta fundamentação teórica de uma obra sinistra. Publicado em 1486, o livro Malleus Maleficarum, escrito pelos inquisidores papais alemães Heinrich Kramer e James Sprenger, foi um eficaz instrumento nos tribunais para consolidar a crença de que uma grande conspiração arquitetada por Satã e suas seguidoras, as bruxas, tomava conta do mundo. Até o final do século XV, o manual já era um best seller, recordista absoluto entre qualquer livro anterior ou posterior sobre demonologia, com mais de uma dúzia de edições.Na detalhada obra, que explicava desde os feitiços mais comumente praticados até como localizar a presença das malignas criaturas no seio da sociedade, Kramer e Sprenger não pouparam esforços para mostrar que a mesma mulher que provocou a expulsão do homem do paraíso ainda era uma ameaça presente. O velho temor católico de monges e padres celibatários estava mais forte do que nunca. A perfídia é mais encontrada nas pessoas do sexo frágil do que nos homens garantiam os dois. Bruxas eram o mal total: renunciavam ao batismo, dedicavam seus corpos e almas ao demônio e, suprema lascívia, costumavam manter relações sexuais com ele. Principalmente durante os sabás, reuniões em que as forças do mal se reuniam para banquetear-se com criancinhas não batizadas e que sempre terminavam em fabulosas orgias. Testemunhos da época davam notícia de sabás reunindo até 1000 bruxas.Para provar a propensão natural da mulher à maldade não faltavam argumentos aos autores do Malleus. A começar por uma falha na formação da primeira mulher, por ser ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela no peito, cuja curvatura é, por assim dizer contrária à retidão do homem. A própria etimologia da palavra feminina confirmava essa fraqueza original: segundo eles, femina, em latim, reunia em sua formação as palavras fide e minus, o que quer dizer menos fé.Defender idéias assim não era exclusividade dos dois inquisidores alemães. A aversão à mulher como ser mais fraco e, portanto, mais propenso a sucumbir à tentação diabólica era moeda corrente em todas as regiões da Europa dos pequenos vilarejos camponeses aos grandes centros urbanos. Nos sermões de padres por toda a Europa, proliferava a concepção de que a bruxaria estava ligada à cobiça carnal insaciável do sexo frágil, que não conhece limites para satisfazer seus prazeres. Com seu furor uterino, para o homem a mulher era uma armadilha fatal, que podia levá-lo à destruição, impedindo-o de seguir sua vida tranqüilamente e de estar em paz com sua espiritualidade.O clima de desconfiança em relação às mulheres teve também predileções profissionais. Quando não era o caso de grandes perseguições orquestradas para expurgar males como a peste, certos ofícios tipicamente femininos tinham precedência na lista de denúncias. Curandeiras, vitais para uma sociedade onde a medicina ainda era uma ciência incipiente, tornavam-se herejes e apóstatas da noite para o dia Cozinheiras também viviam sob constante desconfiança, assim como as parteiras.Acusadas freqüentemente de batizar os recém-nascidos em nome do diabo ou de matá-los para usar seus corpos em rituais, elas foram vítimas de anos de suspeita acumulada, numa época em que a taxa de mortalidade infantil era altíssima Em 1587, a parteira alemã Walpurga Hausmannin, foi processada por ter causado a morte de quarenta crianças, algumas com até 12 anos. Entre os métodos que ela empregava, estavam o estrangulamento, esmagamento de cérebro da criança no parto e aplicação de um ungüento do diabo sobre a placenta, de modo que a mãe e a criança morressem juntas. Seu destino foi a fogueira. O mesmo de uma parteira húngara, que em 1728 conseguiu uma marca duvidosa, mas perfeitamente factível para seus contemporâneos: ela morreu queimada por ter batizado nada menos do que 2000 crianças em nome do demônio.Para quem se acostumou a relacionar a figura das bruxas a personagens pitorescas de contos da carochinha como a madrasta de Branca de Neve ou a fada malvada de Cinderela , às vezes fica difícil acreditar em histórias assim. Mas elas existiram e deixaram em seu rastro uma cruel realidade da morte de milhares de mulheres inocentes em fogueiras piamente acesas para limpar o mundo.


A identidade com o pecado original, principalmente na história do cristianismo, foi um fardo pesado para a mulher até o século XVII


Desde os primeiros eremitas cristãos, nos desertos da Síria é do Egito, a busca da austeridade religiosa pelo isolamento ascético tornou-se não só uma regra obrigatória para o aprimoramento espiritual, mas também consagrou o papel da mulher como a principal tentação mundana, capaz de afastar o homem do caminho da purificação. Uma norma que, na Europa, começaria a se consagrar a partir do século VI, quando São Bento de Nursia fundou o mosteiro de Monte Cassino, na Itália, e deu início ao movimento monástico beneditino, que marcaria profundamente a atitude religiosa do continente.


Toda malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher. (Eclesiástico 25:26)Tu deverias usar sempre o luto, estar coberta de andrajos e mergulhada na penitência, a fim de compensar a culpa de ter trazido a perdição ao gênero humano... Mulher, tu és a porta do Diabo. (Quinto Tertuliano, escritor cristão, século III)Dentre as incontáveis armadilhas que o nosso inimigo ardiloso armou através de todas as colinas e planícies do mundo, a pior é aquela que quase ninguém pode evitar: é a mulher, funesta cepa de desgraça, muda de todos os vícios, que engendrou no mundo inteiro os mais numerosos escândalos. (Marborde, monge de Angers, século Xl)Toda mulher se regozija de pensar no pecado e de vivê-lo.


(Bernard de Morlas, monge da Abadia de Cluny, século XII)A mulher é um verdadeiro diabo, uma inimiga da paz uma fonte de impaciência, uma ocasião de disputa das quais o homem deve manter-se afastado se quer gozar a tranqüilidade (Francisco Petrarca, poeta italiano, século XIV)Que se leiam os livros de todos aqueles que escreveram sobre feiticeiros e encontrar-se-ão cinqüenta mulheres feiticeiras, ou então demoníacas, para um homem. (Jean Bodin, jurista, sociólogo e historiador, século XVI)Pois a Natureza pretende fazer sempre sua obra perfeita e acabada: mas se a matéria não é própria para isso, ela faz o mais próximo do perfeito que pode. Então, se a matéria para isso não é bastante própria e conveniente para formar o filho, faz com ela uma fêmea, que é um macho mutilado e imperfeito. (Laurent Joubert, conselheiro e médico inglês, século XVII).


Revista Superinteressante  
terça-feira, 31 de agosto de 2010

TORTURA E FORMAS DE EXECUÇÃO NO ANTIGO REGIME

O referido tema foi proposto no IX ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA: História e Cultura, realizado pelo Departamento de História/UFRN, em 18/10/1995 e teve como palestrante o Prof. Dr. Ruston Lemos de Barros (UFPB).

AS PRINCIPAIS FORMAS DE TORTURAS E EXECUÇÕES NO ANTIGO REGIME:

- A CIGANA: este instrumento servia para mobilizar os prisioneiros através do pescoço. Foi adotado em Cuba, Brasil etc.
- MARCAS INFANTES: marcas que simbolizavam letras, este método era empregado da mesma forma em que se empregava nas regiões do nordeste brasileiro para ferração de gado. Foi conhecida em quase toda a Europa, no Brasil era utilizados em negros fujões.

- FORQUILHA DE HEREGE: está peça era constituída de metal, colocada em volta do pescoço, permitindo que o prisioneiro ficasse imobilizado. Era empregado pela Ordem Diocesana, para aqueles que blasfemasse dos seios de Nossa Senhora e de fazer alusão entre o profano e o religioso.

- POTRO: forma de tortura mais tradicional em Portugal. O potro dividia-se em duas formas: o potro de cama e o de escada.

- A FOGUEIRA: uma das formas de execuções mais conhecidas durante o periodo da Inquisição. Para cada réu havia uma fogueira separada, empregava-se madeira verde para se ter melhor a agonia do herege. Os inquisidores perguntava ao herege antes da morte, se queria morrer na lei de Deus (tinha uma morte menos sofrida) se escolhesse morrer na lei de Alá ou na de Jeová o herege era queimado vivo.

- EMPALAÇÃO: constituída de uma aste de metal (em forma de lança), que penetrava pelo anus e saía pela boca. Era empregado nos homens por motivo de feitiçaria, usada principalmente pela justiça espanhola.

- CUTELO: instrumento cortante (espécie de machado semicircular de ferro), foi empregado na Inglaterra, durante o período medieval, usado principalmente nos homens. Thomas Morus, foi um exemplo deste período, já nas mulheres eram usados uma espécie de espada bastante afiada para decepar a cabeça.

- MÁSCARAS INFAMES: aplicada pela Ordem Diocesana, esta máscara de ferro era composta de uma lingueta amarrada na região do pescoço para a nuca. Empregada em Portugal e no Brasil.

- PÊRA: era usada pela Inquisição espanhola, recebe este nome por ser semelhante a um pêra. Peça de metal constituída de um parafuso central, que servia para abrir e fechar as lâminas bastante afiadas. Era introduzida na vargina das mulheres com as astes fechadas, em seguida distorcia o parafuso central para que as lâminas ocupassem todo espaço do órgão genital e em seguida puxa-la.

- GARROTE: espécie de cadeira, que na altura da cabeça se tem uma coleira para fixar a mesma, onde em seguida girava-se um pino perfurando a nuca. Empregado na Espanha.

- LA VERGUENZA (A VERGONHA): utilizado nos bêbados, colocava-se o ébrio dentro de um tonel de madeira cheio de fezes e urina, em seguida um cortejo de crianças saía anarquizando o indivíduo. No tonel continha descrições bíblica de Adão e Eva.

Alguns instrumentos de torturas:

Estiramento


Roda


Cadeira inquisitória
Empalação




Pêndulo de Peso


Mesa de estiramento ou Evisceração

Rasga Peito
Este cruel instrumento de tortura era frequentemente utilizado em mulheres acusadas de heresia ou adultério. Como o seu nome indica, ele era usado para rasgar lentamente os peitos das vítimas até ficarem irreconhecíveis.
 
A PÊRA:

 Instrumento metálico em formato semelhante à fruta. O instrumento era introduzido na boca, ânus ou vagina da vítima e expandia-se gradativamente. 
Era usada para punir, principalmente, os condenados por adultério, homossexualismo, incesto ou "relação sexual com Satã".

Por Lima Júnior...