quinta-feira, 27 de junho de 2013

Para ampliar a consciência socioambiental de todos os estudantes, a Escola Municipal Genildo Miranda, por sugestão da supervisora Elisabeth Marques, elaborou uma palestra, cujo o tema Lixo: uma questão de consciência, proferida pelo prof. José Lima Dias Júnior, abordou conceitos de cidadania, sustentabilidade, impacto ambiental, consumo consciente, lixo, educação ambiental e muitos outros, a fim de ajudar os alunos e professores a trazer a questão da sustentabilidade para o dia a dia da escola.


Prof. Lima Júnior

 A referida palestra teve como objetivos:

- Conscientizar os alunos sobre a enorme quantidade de lixo produzida diariamente pelos  seres humanos.
- Apresentar algumas possibilidades de redução na produção diária de lixo.

Alunos no momento da palestra

De acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente, as cidades brasileiras produzem 161.084 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. O grande problema do Brasil, contudo, não está apenas na quantidade de lixo produzida, mas na destinação dos resíduos. O que fazer com todo esse lixo? Vale lembrar que os dados oficiais mostram somente a quantidade de lixo produzida nas cidades, sem levar em consideração o que é produzido na zona rural, nem a destinação desses dejetos.

Procurando acompanhar as mudanças, os novos tempos, muitos têm pensado a Educação Ambiental como ferramenta que através de uma ação pedagógica promova entre os educandos mudanças no seu modo de perceber o mundo e entender o lugar onde vivem. Ainda que a percepção sobre as mudanças ambientais na sociedade sejam mais lentas, ela certamente muda, e, eventualmente, até para melhor, caso tenhamos uma consciência ambiental capaz de se contrapor uma prática de degradação da natureza. Partindo deste pressuposto, podemos observar que a EA tem um papel relevante nesta questão, uma vez que se torna indispensável na formação de uma consciência ambiental, isto é, numa postura ética diante do meio natural. Da relação que o homem estabelece com a natureza

Abaixo segue o texto que foi produzido a partir das inquietações e observações feitas pelos alunos das disciplinas de História e Geografia (6º ao 9º Ano).


Por uma educação ambiental

 
Lixo jogado às margens da estrada da Comunidade do Lajedo, zona rural de Mossoró.

A conservação do meio ambiente só será possível se houver uma ampla mudança na cultura e na maneira como os seres humanos se relacionam entre si e com a natureza.
As grandes transformações econômicas ocorridas no final do século XX causaram muita perplexidade entre ambientalistas e pesquisadores, criando, em certos círculos, atitudes de preocupação com relação aos problemas ambientais que vem atingindo o planeta Terra.
Por outro lado, diante da difusão das novas tecnologias globais e do consumo desenfreado, onde através do lucro e do enriquecimento, “o homem justificou uma política de exploração exaustiva e sem controle dos recursos naturais, motivada pela ideologia do progresso” (JUNGES, 2004, p.11), questiona-se e até duvida-se da existência dos ecossistemas diante da ação predatória do homem.

Procurando acompanhar as mudanças, os novos tempos, muitos têm pensado a educação ambiental como ferramenta que através de uma ação pedagógica promova entre os educando mudanças no seu modo de perceber o mundo e de entender o lugar onde vivem. Ainda que a percepção sobre as mudanças ambientais na sociedade sejam mais lentas, ela certamente muda, e, eventualmente, até para melhor, caso tenhamos uma consciência ambiental capaz de se contrapor uma prática de degradação da natureza.

Assim, a educação tem um papel relevante nesta questão, uma vez que se torna indispensável na formação de uma consciência ambiental, isto é, numa postura ética diante do meio natural. Na sala de aula, o pensamento analítico é substituído por  “achismos”, que sem uma conduta mais séria, educadores inábeis e incompetentes mantém o status quo

Portanto, em qualquer latitude do planeta os sinais de degradação são visíveis aos nossos olhos. Hoje, pagamos muito caro pela nossa insensatez. Após a Segunda Guerra Mundial, vimos despontar a cultura de massa, fundamentada por um modelo de mundo voltado para o consumismo sem limites. Deste modo, é preciso, nesse momento, mostrar que é possível desenvolver uma prática de ensino ambiental (socialmente responsável e transformadora) adequada aos novos tempos. 

O grande desafio ambiental que se apresenta neste novo milênio é adaptar nosso olhar às exigências do mundo real sem sermos tragados pelas ilusões da onda neoliberal. Mas, de criarmos uma “ética ecológica” que contemple um comprometimento com a diminuição da destruição dos ecossistemas, das desigualdades sociais, assim como da promoção dos valores humanistas.

Diante do pragmatismo e do materialismo dos novos tempos, as escolas parecem ter esquecido a formação humanistas dos alunos. Entretanto, as propostas curriculares (vistas como inadequadas e ultrapassadas) devem estar ligadas às realidades nacional e local como forma de transforma a realidade em curso.

Queiram ou não, é impossível negar a relevância, sempre atual, da educação ambiental. Ela deve ser referência. É preciso, portanto, que seja introduzida no currículo escola e que seja bem ensinada. Num momento em que relevantes mudanças vêm ocorrendo na área ambiental, muitas escolas parecem caminhar na contramão da Educação Ambiental. Essa contramão é perceptível principalmente no ensino fundamental e médio de certas escolas que não ver com prioridade esta disciplina.

crise ambiental é uma realidade mundial. Portanto, não podemos fechar os olhos diante dessa situação. Muitos professores abandonam ou se negam a questionar tais assuntos, alegando ser atribuição dos órgãos governamentais (Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, Secretárias de Meio Ambiente, etc.) instruírem a sociedade e não eles. Claro que uma parte da responsabilidade disso cabe a esses órgãos, mas, também cabe aos professores exercerem reflexões e práticas pedagógicas em sala de aula que façam efeito na vida social. 
A presença do homem civilizado tem causado terríveis males: destruímos a natureza, submetemos e excluímos o próximo, deixamos com  fome um terço da população mundial, etc. Porém, cada ser humano tem que se perceber, de fato, como sujeito histórico. Que mediante as relações sociais e culturais construímos  conhecimentos, crenças, artes, leis, moral, códigos éticos, costumes, etc., isto é,  nosso modo de pensar e agir. Pois, como membros da espécie humana, produzimos e, portanto, temos condições reais para combater com mais eficiência o que nos atingem. Assim, é necessário um desenvolvimento sustentável que possibilite a manutenção da vida na Terra. Logo, a educação ambiental nos serve para compreender o que nos cerca, isto é, as degradações e alterações ambientais.

Para entender ainda melhor a importância da educação ambiental nos dias de hoje, é preciso ter bem claro que devemos estar preparado para enfrentar os desafios e ocupar um espaço na sociedade globalizada sob o risco de sermos sufocados por ela.  Por isso, é que a escola tem um papel fundamental no processo de humanização do homem, ou seja, no sentido de fazê-lo perceber em sua organização social de produção.

Assim, o “saber cuidar” (BOFF), depende de uma prática educativa (educação ambiental) que oportunize a sociedade a aquisição de novas posturas, novos valores. Afinal, os países  que não agirem a favor do desenvolvimento sustentável ficarão  fadados a distanciar cada vez mais daqueles, ricos ou não, que colocam a educação com prioridade real.

É necessário, portanto, que a Educação Ambiental seja valorizada e que os educadores conscientizem-se de sua responsabilidade social perante os educandos, preocupando-se em ajuda-los a compreender e melhorar o mundo em que vivemos.


O efeito provocado pela intervenção humana sobre o meio ambiente é chamado de impacto ambiental. Como parte integrante de um ambiente natural, o ser humano, vem ao  longo do tempo transformando a paisagem.


 Essa alteração do ambiente se dá devido à explosão demográfica e o consumo crescente de energia, o que vem proporcionando impacto sobre o meio ambiente. Assim, algumas atividades humanas provocam efeitos negativos sobre o meio ambiente. Podemos destacar o desmatamento, que tem provado perda de biodiversidade; a extração sem controle de minérios para a construção pode esgotar os recursos em curto prazo e, além disso, alterar seriamente a paisagem.

Apesar de nos últimos anos ter surgido uma conscientização em nível mundial sobre a proteção da natureza, ainda é visível às alterações humanas os ecossistemas, tais como o desmatamento, a erosão, a poluição hídrica, atmosférica, do solo, etc. Porém, diversos encontros e conferências, além dos grandes acordos internacionais, são realizados em busca de soluções coletivas para os problemas ambientais.

As atuações da comunidade internacional pela biodiversidade tem levado, em parte,  a diminuição da degradação ocorrida nos ecossistemas. Para que isso ocorra, é necessário introduzir alterações significativas nas políticas, instituições e práticas que se realizam na atualidade.

A luta por uma consciência ecológica é dever de todos. Assim, é possível despertar uma consciência ecológica para os problemas ambientais da atualidade. Com essa consciência, os cidadãos podem chamar a atenção do poder público para a necessidade de atitudes preservacionistas. Assim sendo, a preocupação com o uso e a preservação dos recursos naturais, tanto por parte da sociedade como do poder público deve se pautar numa ética ambiental. A preocupação com a proteção do meio ambiente, a defesa e a conservação das espécies animais e vegetais, o uso do solo de forma racional deve ser uma obrigação de natureza moral e prática para todos. 

Em razão do modelo econômico atual  é imprescindível encontrar respostas aos problemas ambientais e sociais ocasionados por tal modelo. Com isso, a solução para tais problemas  necessita de uma estratégia global que se fundamente no modelo (desenvolvimento) sustentável e na educação ambiental. Deste modo, não podemos mais utilizar uma intervenção corretiva depois que a degradação já ocorrera. É preciso prevenir os problemas atuais globais, que afetam todos os países do planeta, buscando soluções coletivas, com políticas comuns eficientes baseadas em acordos entre as sociedades, portanto, capazes de darem conta de suas próprias necessidades.

Mesmo sabendo que em alguns casos, as extinções são naturais; em outros, devem-se à ação humana. Ação essa irracional, exagerada e avassaladora. Devemos ter maior sensibilidade diante do problema do meio ambiente na sociedade. Creio que a prática de atitudes éticas positivas mediante a interpretação e compreensão do ambiente. Assim, é necessária uma educação ambiental para que a sociedade compreenda as ações humanas no meio natural.

Conforme a Comissão de Educação da UNESCO reunida em Paris, em 1970, definiu a educação ambiental como:

“A educação ambiental é o processo que consiste em reconhecer valores e definir conceitos com o objetivo de promover as habilidades e atitudes necessárias para compreender e avaliar as interações entre o ser humano, sua cultura e seu meio biofísico. A educação ambiental implica também a participação ativa no momento de tomar decisões e na própria elaboração de um código de comportamento com respeito a questões relacionadas com a qualidade do ambiente”.

A implantação de um modelo sustentável  que permita um desenvolvimento sustentável, isto é, um desenvolvimento em que se respeitem o meio ambiente e o uso dos recursos naturais para as gerações humanas presentes e futuras só é possível de tivermos uma consciência ecológica pautada na educação ambiental. 

A necessidade de uma estratégia global é evidente, já que precisamos pensar a exploração e consumo dos recursos naturais não só como um problema ambiental, mas também como uma crise global, que afeta tanto o plano ambiental quanto o social e o econômico.

O aparecimento da espécie humana provocou mudanças que afetaram o planeta ao longo de sua existência. A excessiva produção industrial e o consumo desenfreado têm acarretado no aumento da quantidade de resíduos sólidos urbanos e rurais provocando grande impacto ambiental.

O excesso de resíduos sólidos é um dos principais problemas nas sociedades desenvolvidas.  Embora haja evidentes diferenças regionais e também entre o ambiente urbano e rural, é preciso uma ação conjunta da sociedade, do poder público e do setor produtivo, num esforço encontrar uma saída para o destino do lixo (resíduos sólidos).

Assim, cabe ao poder público municipal a responsabilidade pela coleta do lixo, bem como seu tratamento adequado e destinação. No entanto, o que se ver na maioria dos municípios brasileiros são lixões a céu aberto, ocasionando uma situação precária, o que implica sérios danos ambientais. Na comunidade rural do Lajedo, os resíduos são lançados no ambiente na forma sólida (lixo), o que pode no futuro, influir sobre a saúde da população e sobre o funcionamento do bioma caatinga. 

Com isso, é imprescindível que o poder público crie um modelo de gestão dos resíduos sólidos urbanos ou rurais que viabilize uma melhor qualidade de vida a população.  Caso, contrário caminhará para um futuro desolador, pois, estaríamos produzindo “modificações irreversíveis no ambiente que alterando a vida e provocam o mau funcionamento e a morte dos ecossistemas.” (CALDINI JUNIOR, Nelson (trad.). Enciclopédia do Estudante: Ecologia. São Paulo: Moderna, 2008, v.3).

Diante disso, é necessário que as pessoas e as indústrias se conscientizem ecologicamente, no sentido de modificarem seus comportamentos e procedimentos de produção, buscando gerar menos resíduos. Não desperdiçar e reaproveitar parte dos resíduos, assim como recicla-los para sua utilização seria uma forma ecologicamente correta de causar menos impacto no ambiente. No entanto, no caso da comunidade do Lajedo, o despejo dos resíduos sólidos em lixões podem provocar impactos ambientais tanto no solo, na biosfera e na paisagem.

O crescimento demográfico atual implica um problema ambiental devido à possibilidade do esgotamento dos recursos naturais do planeta.  Consequentemente, haverá um aumento do consumo e da produção de resíduos. Assim, para melhorar as condições urbanas e de planejar seu desenvolvimento são necessárias as cidades um modelo sustentável de gestão do espaço urbano e rural. Assim, a aglomeração da população humana  ocasiona aumento dos resíduos sólidos, alteração do uso do solo e degradação dos ecossistemas, causando impacto visual sobre a paisagem, além da poluição ambiental decorrentes dos resíduos industriais.


Nos últimos séculos, o que se tem visto é a “elevação do nível de consumo”. Refletir sobre a relação do ser humano com o planeta é algo necessário e um dever de todos.  É absolutamente preciso ouvir a voz de Gaia para vencermos possíveis crises socioambientais.
Partindo desta suposição, é inevitável discutir a responsabilidade ética do ser humano em relação ao planeta. Assim,  movidos por uma “ética de solidariedade” a convivência com o mundo natural de maneira harmônica e saudável, que nos proporcione tranquilidade e bem-estar, me parece possível. 

Os danos ambientais também se traduzem pelo quadro consumista atual. Nos tempos modernos, a economia “obedece aos imperativos do lucro, o que leva à instrumentalização e à exploração de outros seres humanos”.  Portanto, há nas pessoas uma necessidade infinita pelo consumo. A cultura do consumo se inicia em meados do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, na Inglaterra, e se consolida com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com isso, é visível no atual modelo econômico uma exploração ilimitada de espaços e recursos naturais finitos, o que tem afetado cada vez mais o meio ambiente, além dos próprios consumidores e suas relações sociais.


É preciso romper com a visão antropocêntrica (relação homem/natureza) e estabelecer uma visão biocêntrica “fundamental para a  manutenção de uma vida sustentável, que respeite as pessoas e o meio ambiente” (p.17). Para romper com essa visão antropocêntrica, é fundamental a criação de políticas públicas em todos os níveis: federal, estadual e municipal e local para se atingir o desenvolvimento sustentável.

No entanto, a ética ecológica/ambiental deve ser vista como a ética que conduz para a melhora da qualidade de vida. Ao estabelecerem relações, entre si, as pessoas devem construir valores sociais, morais, éticos, conhecimentos, habilidades, atitudes, comportamentos e competências voltadas para a preservação do meio ambiente, bem como promover qualidade de vida e sustentabilidade. 

Se nós somos, por natureza, transformadores do ambiente. Portanto, nós precisamos cuidar do que é de todos: o meio ambiente. Conservando e partilhando com os outros, não estaremos tirando o legítimo direito de cada um; um ambiente saudável.

Quanto ao progresso e o avanço tecnológico de novas invenções desenvolvidas pelo ser humano, é importante ressaltar, que todo esse avanço é fruto de decisões econômicas e políticas que aplicadas de forma irracional e exageradas estão deteriorando assim o meio ambiente. Assim, “a irresponsabilidade humana pode tornar o planeta inabitável”.  Diante desse quadro, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, a  ECO-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMADO), tendo como objetivo principal buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico  com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. 

Deste modo, penso que é imprescindível discutirmos os problemas ecológicos típicos da região onde se situa a escola, ou seja, onde fosse possível dar destaque ao descarte irracional dos resíduos sólidos.  Movidos por uma educação ambiental que  nos proporcione uma consciência ambiental, assim como, uma “ecologia humana”, penso que isso seja capaz de produzir um respeito maior pela conservação e preservação do meio ambiente.  Por isso, refletir sobre a preservação dos diferentes tipos de ambiente onde se desenvolve a vida humana é tarefa de todos.

Segundo o Art. 225 da Constituição de 1988, “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações”. Portanto, um meio ambiente saudável é uma necessidade que deve ser atendida como direito de todos.

Creio que por meio de ações pedagógicas, os educandos compreendam as relações de interdependência de um sistema ecológico. Que mediante observações possam “imaginar reações em cadeia, decorrentes de ações irresponsáveis: alguém joga lixo no chão, o bueiro entope, na próxima chuva a água não escorre, a cidade enche, algo desaba”...  Assim, poderemos conservar a água; controlar melhor o lixo; não jogar tantos gases no ar; criar novos hábitos de consumo, com menos desperdício, etc. Em relação à produção acelerada de produtos descartáveis é preciso reagir ao hábito de ter tudo descartável. Enquanto cidadãos, devemos exigir comportamento mais responsável das indústrias. 



José Lima Dias Júnior, professor de História na Escola Municipal Genildo Miranda.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Os filhos do nazismo

2ª Guerra

67 anos após o término do regime totalitarista empregado na Alemanha de 1933 a 1945, filhos de generais alemães, que contribuíram diretamente para o sofrimento e morte de milhões de pessoas, carregam o peso pelos pecados que não cometeram. Está no sangue de cada um a herança de um dos episódios mais aterradores da história...

Por Thais e Silva


Montagem: Fabiana Neves
Heinrich Himmler e sua filha Gudrun, 1941

Recentemente, foi descoberto que netos postiços do ministro da propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebbels, herdaram do avô biológico, Guenther Quandt, uma quantia milionária. Quandt era dono de indústrias bélicas que, entre 1940 e 1945, produziram armas e mísseis para o governo nazista, muitas vezes à custa de trabalho forçado realizado por prisioneiros dos campos de concentração. Quando morreu, em 1954, deixou uma grande fortuna para seus filhos, Herbert e Harald, que anos depois compraram parte da fabricante de automóveis BMW, aumentando consideravelmente seu capital.
Na década de 1960, a família de Herbert evitou a quebra da BMW em um momento delicado pelo qual a empresa passou. A estratégia foi a criação de novos modelos de carros e, diante do sucesso, tornou-se acionista majoritária da montadora. Já a família de Harald participava mais timidamente das ações da empresa, porém seus descendentes contam hoje com uma fortuna de cerca de R$ 6 bilhões.
Por mais que a herança não tenha vindo do avô postiço (Goebbels era o segundo marido de Magda, avó dos herdeiros), diretamente envolvido com o nazismo, a descoberta abriu margem para discussões sobre os possíveis caminhos que descendentes de pessoas envolvidas com o regime tenham percorrido. Quem são, por onde andam e quais fardos os filhos do nazismo carregam?
Courtesy of David Irving Heirler/DPA
Joseph Goebbels, em um retrato oficial Guenther Quandt Harald Quandt
BMW Archives German Federal Archive Sara Leigh Lewis
Herbert Quandt Magda Goebbels, avó de Harald e Herbert Katrin Himmler
A herança nazista
O regime político instaurado na Alemanha por Adolf Hitler, e que se estendeu de 1933 a 1945, deixou marcas profundas em todos os aspectos da história mundial. A visão nacionalista amplamente difundida entre o povo alemão, por meio de propagandas, discursos - e outras formas de contato do Führer com a população -, rapidamente se tornou uma "ideologia" e, como tal, subjugou a sociedade alemã, fazendo com que Hitler fosse literalmente venerado.
A "limpeza racial" foi uma das primeiras medidas tomadas pelo ditador. Judeus, negros, testemunhas de Jeová e homossexuais foram severamente perseguidos, mas os judeus eram odiados de maneira singular por Hitler - que os considerava responsáveis pelo fracasso da Alemanha na 1ª Guerra Mundial. Foi criada, então, a Gestapo (Polícia Política Secreta) com o propósito de perseguir e prender os que faziam parte desses grupos e, em seguida, os campos de concentração - destino das pessoas sumariamente capturadas durante o regime.
Os atos de violência praticados nesses campos jamais foram esquecidos - mesmo com o fim do regime. As imagens das atrocidades divulgadas após a chegada das tropas dos aliados estarreceram o mundo e legaram uma marca indelével na história mundial. Muitas vidas foram destruídas, outras tantas marcadas para sempre, porém, não apenas as dos sobreviventes ao massacre, mas também a dos descendentes dos que comandaram durante o período.
O passado presente
O alemão Rainer Hoess, neto de Rudolf Hoess, primeiro comandante do campo de concentração de Auschwitz, não consegue lidar facilmente com o passado de sua família. O pai de Rainer, que nunca perdeu a ideologia nazista, foi criado em uma casa próxima ao local e brincava com os brinquedos construídos pelos prisioneiros... Contudo, foi em uma passagem com a avó que Rainer ficou conhecendo a suástica, cruz símbolo do nazismo. Ela estava estampada em um baú em que fotos de família eram guardadas.
Rainer carrega consigo a culpa das atrocidades cometidas em Auschwitz a mando de seu avô. E também sente vergonha por sua família ter feito parte do regime que sentenciou a vida de milhões de pessoas. Somente após os 40 anos de idade decidiu visitar o local onde o campo de concentração funcionou. Após momentos de indignação ao sentir de perto a atmosfera de horror que paira no lugar, Rainer teve um momento de absolvição quando descendentes de sobreviventes ao regime lhe disseram que os familiares dos nazistas não têm culpa do que aconteceu.
Outra descendente que por algum tempo carregou culpa e vergonha por fazer parte da mesma família de um nazista foi Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heinrich Himmler, figura importante na organização e execução do Holocausto. Em uma tentativa de amenizar o peso negativo que existe sobre o sobrenome de sua família, Katrin escreveu o livro The Himmler Brothers: A German Family History (Os Irmãos Himmler: História de uma Família Alemã). Na obra, ela tentou contar a história da família de uma maneira mais distante e crítica, dissociando-se de todos os acontecimentos.
E Katrin Himmler foi além em seu intento de se desvencilhar de qualquer ligação com o regime nazista: casou-se com um judeu filho de sobreviventes da Polônia.
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