As trincheiras de Rodolfo, em 1927: I - O Palácio da Resistência
Imagem 01 - Palácio da ResistênciaA leitura da obra do médico-escritor Raul Fernandes,  A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró,  induziu-me a criar esta pequena série que a intitulei de As trincheiras de Rodolfo, para descrever, utilizando sempre que possível uma imagem identificadora, sobre os locais na cidade, definidos pelo Prefeito Rodolfo Fernandes, (1872-1927), quando da elaboração do plano estratégico voltado para defesa da mesma, em 1927, do ataque do bandoleiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, (1900-1938). Esta pequena Série não tem o objetivo de debater ou contar a história sobre os temas cangaço ou Lampião, pois, estes temas têm vasta literatura disponível sobre os mesmos, com estudiosos de plantão para elaborá-la.
Recomendo a leitura da obra em destaque, por tratar-se de trabalho bem feito, escrito numa linguagem elegante e correta; a obra é fruto, não somente de alguém que foi testemunha dos fatos descritos, mas, também, de uma pesquisa bem elaborada, de acordo com os princípios metodológicos aplicados à ciência histórica, e além de tudo isto, é um registro único deste fato histórico. Por meio dela, pude construir uma idéia mais clara a respeito deste fato, e realmente, tem um aspecto que nos entristece que é reconhecer que o banditismo social que tanto retrocesso acarretou a região nordeste, nada mais foi do que a conseguência do banditismo político existente, naquela época, na região.
Após concluir a leitura desta obra, muitas perguntas surgiram e, claro, ficaram sem respostas, pois somente uma profunda pesquisa, talvez, respondesse estes questionamentos. Alguns deles deixo aqui, esperando, quem sabe, alguma indicação: A quem interessava a destruição da cidade e a derrota do Prefeito Rodolfo Fernandes com o ataque do Lampião?  Por que os Rosados não participaram da resistência ao ataque? Por que saíram todos da cidade antes da convocação para a resistência? Pois, na obra está bem claro que quase metade da população local não acreditava na possibilidade do ataque; não acreditava na ousadia do bandido. Contudo, os Rosados acreditaram e partiram para Porto Franco, em Areia Branca-RN.  ....  Já que todo cidadão mossoroense que, naquele momento,  estivesse com saúde e pudesse pegar em armas, participou da defesa da cidade. Este sentimento cívico deu forças para empreender a vitória sobre o bando de cangaceiros. Quem sabe, no futuro, estas respostas possam aparecer .....
A mansão da imagem 01 era a residência de Rodolfo Fernandes, situada na Av. Alberto Maranhão, número 1751, no bairro Cidade Nova. Esta imagem já foi objeto desta postagem que apresenta outras informações sobre a edificação. Exatamente neste local, o prefeito estabeleceu a trincheira principal de resistência ao ataque de Lampião, à cidade, na tarde de 13 de junho de 1927. As armas e munição necessárias à defesa foram adquiridas às expensas das empresas particulares Tertuliano, Fernandes & Cia., Alfredo Fernandes & Cia., M.F. do Monte & Cia., (leia-se Miguel Faustino do Monte), F. Marcelino Hollanda e Luiz Colombo Ltda. Estas defesas eram formadas por donos das firmas, funcionários e trabalhadores, clérigos - não portaram armas, profissionais liberais e até estudantes, enfim, todos civis, sem experiências no campo bélico. Em síntese, o governo estadual, na época, representado pela figura política de José Augusto de Medeiros, absolutamente não fêz nada, ou seja, entregou o destino da cidade ao Deus Dará ....
A residência do prefeito transformou-se num grande quartel general. Participaram da defesa planejada desta trincheira principal, além do Prefeito Rodolfo Fernandes, as pessoas abaixo:
1) no telhado da frente - Manoel Duarte, tido como exímio atirador, e, Honório Ferreira;
2) no telhado detrás - Francisco Pinto e o irmão Antônio e Bodoca;
3) no alpendre da entrada principal - Francisco Fernandes de Queiroz e dois senhores;
4) Julio Maia e José Pereira comandavam 8 homens na barricada central, em frente à casa;
5) no muro divisor do quintal - Enedino Inácio da Silva e João Domingos;
6) - no corpo do casarão, vigiavam através dos vãos das janelas: José Rodolfo Fernandes, (filho de Rodolfo Fernandes), Amaro Silva, (funcionário federal),  Abel Freire Coelho, (promotor público adjunto), Adrião Duarte, Francisco Vidal, os irmãos Francisco e Raimundo Calixto, Herculano Barbosa, Geraldo Dunga, Joaquim Benedito, Rochinha Freire, Antonio Coló, José Grosso, Francisco Elpídio, José Romão, José Conrado, Antonio Rolim e Antonio Caldas.
Várias pessoas desarmadas ou não procuraram a residência do prefeito, por segurança. Estas pessoas ficaram no sótão da casa e na sala de jantar, e ajudavam limpando as armas e selecionando a munição. Foram elas:
7) José de Oliveira Costa, (Costinha Fernandes - sócio da firma Tertuliano, Fernandes & Cia.), José Martins Fernandes, José Ribeiro Dantas, José Miguel de Oliveira Martins, Mirabeau de Carvalho Costa e Jofily Paiva de Carvalho, (estudantes do Ginásio Diocesano Santa Luzia), Joaquim Mafaldo de Oliveira, (estudante),  Raimundo Nonato da Silva, José de Paula, (motorista do prefeito), e  Epifânio Dias Fernandes, (estudante).
A estratégia desta trincheira principal foi de extrema importância para a derrota que imposta ao grupo de Lampião. Ao final da tarde, do dia 13 de junho, os bandoleiros bateram em retirada da cidade, deixando para trás muitos dos seus elementos feridos ou mortos naquele combate. O Prefeito Rodolfo Fernandes mostrou às demais cidades do estado como não ficar refém de bandido ....
 Vide Trincheiras IIIII, IV, V , VI, VII, VIIIIX, X, XI
Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Télescope. Fontes: FERNANDES, Raul. ( 1908-1998). A Marcha de Lampião, Assalto a Mossoró. 7a. edição, Coleção Mossoroense, Volume 1550,  Fundação Vingt-un Rosado, outubro de 2009; Fonte do  arquivo fotográfico P&B - Azougue. Provável autor da fotografia: Manuelito Pereira, (1910-1980);  Índice das Matérias Publicadas em Memória Fotográfica

Fonte: Memória Fotográfica - UOL Blog