terça-feira, 22 de maio de 2012

A carta do cacique Seatle ao presidente dos Estados Unidos

A Carta do Índio Cacique Seattle
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz já mais de cento e cinquenta anos. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:
"Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós.
    Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
        Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento, quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, os gamos, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e do homem, tudo pertence a uma só família.
    Assim, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós.
    A límpida água que percorre os regatos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de lembrar a nossos filhos que ela é sagrada, e que qualquer reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida do meu povo. O marulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais.
    Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a nossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão.
    Nós mesmos sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seus irmãos, o céu como coisas a serrem comprados ou roubados, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho.
    Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal, nada possa compreender.
Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
    O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume dos pinhos.
    O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que vossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro.
    Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
    Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
    Sou um selvagem e não compreendo de outro modo. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento.
    Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos.
    Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo isso pode cada vez mais afetar os homens. Tudo está encaminhado.
    Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza a as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; O homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra.
    O homem não tece a teia da vida: É antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
    Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha e com quem conversa como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos.
    Nós o veremos. De uma coisa sabemos, é que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: Nosso Deus é o mesmo deus.
    Podeis pensar hoje que somente vós o possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho.
    Esta terra é querida dele, e ofender a terra é insultar o seu criador. Os brancos também passarão talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos.
    Mas no nosso parecer, brilhareis alto, iluminado pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes.
    Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver." 

Fonte:  http://www.culturabrasil.pro.br/cartaindio.htm

sábado, 12 de maio de 2012

Posted: 11 May 2012 10:00 AM PDT
Imagem: Carlos Porto
A fome que atinge 1 bilhão de seres humanos (em 2009, um em cada seis habitantes do planeta estava desnutrido) talvez seja a prova mais incontestável que as coisas não andam bem em termos de dignidade e respeito ao próximo. Dizem alguns que temos que produzir mais porque somos muitos. Será isso verdade? Não seria melhor mudarmos o foco: produzir melhor com qualidade, de maneira sustentável?
No que toca a estupidez da existência da fome, tem-se que evitar o desperdício que beira cifras indecentes de 30% a 40% da produção de grãos e distribuir melhor os alimentos cuja produção atual, em termos mundiais, é suficiente para todos. Segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) na safra 2011/2012 a produção mundial de grãos será de 1,817 bilhão de toneladas. A produção mundial de alimentos atualmente dá conta suficiente das 7 bilhões de bocas a serem alimentadas, o que falta é uma melhor distribuição.
De acordo com a FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação – ONU), entre 1950 e 2000, a produção mundial de grãos mais que triplicou, passando de cerca de 590 milhões para mais de 2 trilhões de toneladas métricas ao ano. De 1950 a 1975, a produção de grãos aumentou em média 3,3% ao ano; um percentual maior do que o do crescimento populacional, de 1,9% ao ano.
No entanto, o “probleminha” da alocação/distribuição dessa produção nos lugares mais necessitados de ajuda não acontece. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais. Além disso, deve-se computar o efeito de pragas sobre a plantação e o apodrecimento entre a colheita e o consumo. Disso decorre o inusitado: o que falta para uns, sobra para outros. É a distribuição, assim, que não é feita a contento.
Desse modo, de um lado há no mundo 1 bilhão de famintos (75% das pessoas que passam fome no mundo estão no campo); do outro, 1 bilhão de obesos. E assim, outros e outros “probleminhas” que giram em torno da má distribuição de recursos e rendas vão se agravando, contribuindo, sobremaneira, para desumanizar ainda mais as relações entre nossos pares.
Em especial sobre a questão dos subnutridos, cabe ressaltar que esse mal acomete uma entre três crianças. Em números absolutos, a subnutrição e a fome crônica afetam aproximadamente 250 milhões de pessoas na Índia; mais de 220 milhões na África; 40 milhões em Bangladesh; 22 milhões no Brasil, 15 milhões no Afeganistão. O número de mortes por causas relacionadas com a fome é da ordem de nove milhões por ano. Isso resulta em uma média estúpida de 25 mil mortes por dia.
Mais números dessa insensatez econômica e social
Se as relações econômicas fossem, ao menos, próximas do equilíbrio, bastaria dividir a produção mundial (76,3 trilhões de dólares – base 2010) por 6,9 bilhões de pessoas para obter-se algo em torno de 11.128 dólares por pessoa – base 2010.
No entanto, sabemos que não é bem assim que a coisa funciona. E sabemos também que a desigualdade não é natural, é imposta. E sendo imposta é certo que alguns estão no “centro” dessas decisões dirigindo o destino de muitos que vão sendo, dessa forma, condenados à miséria e a exploração. É a desumanização por completo da economia que provoca indubitavelmente a desumanização de nossos pares.
Os países de alta renda concentram 55% da produção mundial e abrigam apenas 16,4% da população. Vejamos o inverso: os países de renda baixa e média, onde residem 83,6% da população mundial, respondem por apenas 45% do produto. A renda per capita dos Estados Unidos é 4,2 vezes maior do que a renda média mundial e 21 vezes maior do que a renda média da África Sub-Sahariana, a região mais pobre do planeta.
E a exploração cada vez mais se esparrama por todos os lados. Cabe reiterar que os números dessa “desumanização” são alarmantes. Do lado dos óbitos tem-se entre 9 e 10 milhões de crianças mortas a cada ano por problemas com “insegurança alimentar”; 30 milhões de vítimas do HIV/AIDS; 1 bilhão e meio de pessoas sem acesso à água potável; 4 milhões de mortes ao ano na África em decorrência da malária; meio milhão de mulheres que morrem no parto por deficiências no sistema de saúde. Acrescenta-se a isso um aquecimento global que faz provocar o desequilíbrio do ecossistema a ponto de levar-nos a seguinte conclusão: não é o planeta Terra que está prestes a entrar em decomposição; somos nós. Não são os animais que entrarão em extinção; somos nós. Não é o habitat que soçobrará; somos nós.
Do jeito que está, com as desigualdades sociais e econômicas esparramando miséria e indecência por todos os lados, até mesmo sonhar a possibilidade de construir uma vida igualitária e digna torna-se algo espinhoso. Parte daí a necessidade de “humanizar” a atividade econômica. Ladislau Dowbor, a esse respeito, nos diz que “a economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais positivas, a evitar os impasses mais perigosos”.
Em nosso entendimento, a economia (ciência e atividade produtiva) só faz sentido de ser e torna-se útil se, e somente se, agrupar em seu intento crescimento econômico (equilibrado), equilíbrio ecológico (meio ambiente sustentável) e progresso social (justiça e equidade). Fora disso, a Economia encontra-se totalmente fora da realidade.

Fonte: Carta Potiguar

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Campo de concentração na Grécia...

Foi aberto o primeiro campo de concentração para imigrantes na Grécia

Esta semana, foi inaugurado o primeiro campo de reclusão para imigrantes na Grécia. Está localizado em Amygdaleza, na província da Ática de Atenas. No domingo passado, 56 imigrantes foram movidos e durante a semana outros 220, que estão alojados em contentores e sendo monitorados 24 horas por dia, por policiais de corpos especiais da polícia grega.

Neste repugnante quartel de inspiração fascista vão ser transportados cerca de 1.200 imigrantes em 52 contentores. O governo, pelo chamado Ministério de Defesa do Cidadão, anunciou a instalação de 30 campos de concentração para imigrantes no território da Grécia. Estes estabelecimentos são chamados, pelos meios de desinformação de “centros de acolhida” ou “centros fechados de hospitalidade”, como termos eufemísticos utilizados pelos nazistas há 65 anos para seus campos de concentração.

Destacamos que a maioria dos imigrantes a ser presos nestes campos de concentração será deportada, no âmbito da política da União Europeia contra a imigração. No mesmo âmbito que o governo vai construindo um muro ao longo do rio Evros, na fronteira com a Turquia, e está intensificando as chamadas operações vassoura contra imigrantes em Atenas e outras grandes cidades da Grécia.

Ao mesmo tempo, o governo promulgou uma lei que criminaliza a hospitalidade e o aluguel de qualquer tipo de alojamento para imigrantes não documentados, ao mesmo tempo que permite a detenção e deportação de qualquer imigrante ilegal. Notamos que com a lei de imigração vigente é extremamente difícil conseguir uma autorização de residência, mesmo que temporariamente.

Sob o pretexto da saúde pública, o Regime está tentando realizar uma operação para exterminar aqueles que foram forçados pela barbárie capitalista para deixar seus países e buscar um futuro melhor longe de casa. Na chamada “operação contra a ilegalidade” do Ministério de Defesa do Cidadão durante a última semana desencadeou uma perseguição desenfreada de imigrantes e foram detidos cerca de 2.000. Destes, apenas houve acusações contra 420, dos 200 casos por não ter documentos de residência em ordem, o que significa que mais de 1.500 imigrantes foram detidos sem qualquer acusação. Estes são alguns detalhes na Democracia...

O funcionamento do primeiro dos campos de concentração e reclusão para imigrantes, alguns dias antes das eleições gerais de 6 de maio, visa à desorientação da sociedade, tentando apresentar a imigração como fonte de todos os males, enquanto o Capital transnacional e o Estado têm desencadeado uma ofensiva sem precedentes contra a sociedade, com medidas dolorosas que levam o povo à miséria e à indignação.

O mesmo sistema que obrigou milhões de trabalhadores gregos (e não apenas gregos) a emigrar no século XX está forçando milhares de pessoas a abandonarem suas casas e irem para a Grécia (e não só para a Grécia). É o mesmo sistema podre que hoje nos reprime, nos explora, nos aterroriza, conduz à miséria, nos reserva um futuro sombrio. A todos, nativos e imigrantes. Porque a opressão e a exploração do homem pelo homem não tem fronteiras.

agência de notícias anarquistas-ana
Entardecer na praia -
Ao longe, o sol parece
que vai tocar o mar
Maria Teresa Costa

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ditadura 'incinerou' comunistas

Publicação: 03 de Maio de 2012 às 00:00
Jornal Tribuna do Norte

Um mistério que já 38 anos pode ter chegado ao fim. No livro "Memórias de uma Guerra Suja", o ex-delegado do Departamento de Ordem Político Social (DOPS) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, que trabalhou na repressão aos opositores do regime militar, revela que o corpo do potiguar Luiz Ignácio Maranhão Filho, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi incinerado na fornalha de uma usina de processamento de açúcar no interior do Rio de Janeiro. Luiz Maranhão foi preso em São Paulo no dia 3 de abril de 1974 quando saía de uma reunião com  dirigentes do PCB. Ele foi detido por homens do temido delegado Sergio Paranhos Fleury, colocado numa viatura policial e levado para DOPS.
www.dhnet.org.brLuiz Maranhão Filho: uma nova versão para a morte do militante do Partido Comunista BrasileiroLuiz Maranhão Filho: uma nova versão para a morte do militante do Partido Comunista Brasileiro

O livro, escrito pelos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros com base em depoimento do ex-delegado, revela o destino dos corpos de uma dezena de militantes políticos que até então era um mistério. Além de Luiz Maranhão, foram incinerados na usina de açúcar João Batista e Joaquim Pires Cerveira, detidos na Argentina pela equipe do delegado Fleury; Ana Rosa Kucinsk e Wilson Silva; David Capistrano, João Massena Mello, José Roman, dirigentes históricos do PCB;  Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho, militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML).

De acordo com Cláudio Guerra, o corpo de Ana Rosa "apresentava marcas de mordidas pelo corpo, talvez por ter sido violentada sexualmente." Wilson não tinha as unhas da mão direita. Os torturadores arrancaram a mão direita de Capistrano.  "O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano", lembra ele.

Torturador, sabotador, matador de aluguel, Cláudio Guerra era um  dos policiais mais poderosos da década de 1970. "Circulava no eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais com a desenvoltura de uma autoridade anônima consciente de seu poder de destruição humana. Hoje é um pastor evangélico que passa boa parte das manhãs de domingo estudando hebraico, e grande parte de seu tempo estudando a Bíblia", informa o livro.

Foi preso pelo assassinato do bicheiro capixaba Jonathas Borlamarques de Souza e condenado a 18 anos de prisão - que está suspensa judicialmente - pelas mortes da primeira esposa e da cunhada.

Na lista de mortes atribuídas ao repressor estaria também outro potiguar perseguido pela ditadura: Emanuel Bezerra, torturado pela equipe de Fleury. Segundo denúncia dos presos políticos registradas no livro Tortura Nunca Mais, "Emanuel foi morto no DOI/CODI-SP, onde o mutilaram, arrancando-lhe os dedos, umbigo, testículos e pênis. No livro, Guerra relata como matou outro militante - Nestor Veras, do Comitê Central PCB: "Ele tinha  sido torturado e estava agonizando. Dei o tiro de misericórdia, na verdade dois, um no peito e outro na cabeça."

De acordo com o portal iG, que teve acesso ao livro,  editado pela Topbooks, "o relato de Cláudio Guerra é impressionante. Tão detalhado e objetivo que tem tudo para se tornar um dos roteiros de trabalho da Comissão da verdade, criada para apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988.

Notícia surpreende família Santa Cruz

Os 38 anos de procura por um filho morto e torturado durante o Regime Militar foi tema de dois livros da pernambucana Elzita Santa Cruz, mãe do jurista Fernando Augusto Santa Cruz  Oliveira. Ontem, a primeira notícia real sobre o destino do filho, que teve o corpo incinerado em 1974, surpreendeu a família. João Arthur Santa Cruz, que mora em Natal e é irmão de Fernando,  cobra punição aos envolvidos.

Vindo de uma família ligada ao socialismo, João Arthur explicou que Fernando Santa Cruz foi o terceiro filho de Elzita Santa Cruz que foi vítima do Regime Militar. Rosalina e Marcelo, hoje vereador em Olinda, também foram presos e torturados nos anos 70. Fernando Santa Cruz, que cursava Direito e era militante de movimentos políticos, foi impedido de prosseguir no curso e desapareceu no dia 24 de fevereiro de 1974, aos 24 anos de idade.

A prisão ocorreu em um sábado de Carnaval. O jovem estava no Rio de Janeiro, hospedado no apartamento do irmão, Marcelo, que residia na cidade. Fernando foi encontrar com o amigo e também militante político Eduardo Colier, em um bar localizado na rua Praia do Lemos, em Copacabana, zona Sul da capital Fluminense. Marcelo chegou a acompanhar o irmão até as proximidades do bar, mas retornou para casa devido à presença de visitas no apartamento. Foi a última vez que um familiar viu Fernando Santa Cruz - e início da via-crúcis de Elzita.

A mãe do jovem buscou informações junto a pessoas dentro do Exército e clamou pela vida do filho. Elzita percorreu várias unidades onde presos políticos estavam encarcerados e recebeu a notícia de que Fernando estava em um quartel em São Paulo. Chegando lá com roupas e alimentos para o filho, ela disse que não poderia encontrar com Fernando porque ele estava se recuperando de agressões que havia sofrido na prisão e, por isso, somente no outro dia poderia encontrá-lo. Porém, ao retornar, informaram que ele nunca esteve preso no local, o que revoltou a família. "Devolveram a sacola com as roupas e mantimentos com o nome Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira escrito. Mas minha mãe só tinha informado que o nome dele era Fernando Santa Cruz. Como eles sabiam do nome completo se não estava preso?", argumentou João Arthur, que mora em Natal e trabalha na Secretaria Estadual de Saúde  "Minha mãe nunca se conformou e hoje (ontem), com 98 anos, ela está lançando a segunda edição do livro "Onde está meu filho", que trata exatamente sobre o sumiço dos presos da época do Regime Militar.

Ele disse que os familiares sabiam da morte, mas que a expectativa era que Fernando tivesse sido colocado em uma vala junto a outros presos. O objetivo da família é continuar cobrando que os responsáveis pelos crimes que continuam vivos paguem pelos delitos e informem onde podem estar os restos mortais dos presos. "Torço para que a presidenta finalize a composição da Comissão da Verdade para que sejam apurados todos os crimes e punidos os responsáveis."

Alex RégisMery: aberrações da ditaduraMery: aberrações da ditadura
Livro deve apressar trabalhos da Comissão da Verdade

Militantes dos direitos humanos avaliam que a divulgação dos relatos do ex-delegado do DOPS, Cláudio Guerra, reforça a necessidade de se apressar o trabalho da Comissão da Verdade, a ser criada pela presidência da República para apurar os crimes cometidos durante a Ditadura Militar. A comissão terá sete membros, que ainda não foram escolhidos pela presidenta Dilma Rousseff. Mery Medeiros, ex-preso político e militante da causa, acredita que a comissão é fundamental.

"Estamos sabendo mais do que realmente aconteceu durante a ditadura. Isso, essa confissão, esse mea culpa, é resultado da democracia. Tem coisas que ainda não foram divulgadas e que precisam ser apuradas. A sociedade ainda se choca com as aberrações, as barbáries cometidas naquele período", afirma Mery Medeiros, que ficou preso durante quatro anos. Ele complementa: "A comissão não visa o revanchismo, mas o estabelecimento da verdade".

Marcos Dionísio, também militante na área de direitos humanos, acredita que o livro com as confissões de Cláudio Guerra servirá de estímulo para que mais pessoas falem. "Isso sinaliza com a necessidade de se apressar a criação da comissão da verdade, para pôr um fim no sofrimento das famílias de pessoas atingidas pelo regime", encerra.


Alex RégisHaroldo Maranhão, sobrinho-neto de Luiz MaranhãoHaroldo Maranhão, sobrinho-neto de Luiz Maranhão
Bate papo

Haroldo Maranhão, sobrinho-neto de Luiz Maranhão

Nada muda para nossa família

Como a família viu a divulgação do relato do ex-delegado Cláudio Guerra?

Havia uma versão anteriormente contada pelo médico Amílcar Lobo, que fazia as perícias no regime. Nela, Luiz Maranhão havia recebido uma injeção letal, teve o corpo decepado e jogado em um rio em São Paulo. A nova versão tem fatos diferentes, mas nada muda para a família. Ainda se trata de um ato de barbárie contra um brasileiro, um patriota, um cidadão.

Por que nada muda?

Porque não temos nenhuma prova concreta, nenhum documento, nada que indique com certeza o que aconteceu. Esse relato foi feito por um ex-delegado, mas o Estado brasileiro ainda não se pronunciou sobre o que verdadeiramente aconteceu.

Na sua opinião, esse livro reforça a necessidade de uma comissão da verdade?

Reforça sim, sem dúvidas. Dei uma olhada no material publicado e o que há é a confissão de uma pessoal que participou da ditadura militar. Por que vou acreditar nessa e não na outra versão, embora o relato do ex-delegado tenha vários detalhes? São relatos trágicos e dolorosos que revelam a barbárie praticada nesse país.


Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia/ditadura-incinerou-comunistas/219166

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O primeiro jumento de Mossoró

Por Geraldo Maia do Nascimento

Notícias recentes da imprensa local dão conta que o estado do Rio Grande do Norte assinou um protocolo de intenções com a China para exportação de jumentos para o mercado asiático, na ordem de 300 mil animais por ano. Apesar de tratar-se apenas de um protocolo de intenção, a transação é dada como certa.
Desde os tempos bíblicos, os jumentos são um dos mais importantes instrumentos do homem na agricultura e no transporte. Entre o povo hebreu era considerado rico aquele que tivesse a maior criação de jumentos. E mesmo aqui, no Nordeste brasileiro, o jumento ou jegue, como também é conhecido, foi uma das espécies que mais prestou serviços no campo. Mas hoje, a espécie anda desprezada, abandonada pelas rodovias, sem nenhum valor comercial.
Meditando sobre essa notícia, lembrei-me de um texto lido em um velho jornal da cidade que falava do primeiro jumento que chegou a Mossoró, e da reação do povo diante do estranho animal.
Consta que no século XIX era proprietário de um vasto terreno na Quixaba, Manoel João da Silveira que, segundo a tradição, todos os anos, pelo mês de Santana (julho) só de potros em sua fazenda, nasciam mais de cem. Como tinha em suas terras um vasto carnaubal, tornou-se também fabricante de velas de cera de carnaúba, que na época eram muito usadas. Anualmente viajava para o Piauí onde vendia suas velas e voltava com suas bestas carregadas de rapadura, açúcar, etc.
Em 1829, numa dessas suas viagens ao Piauí, trouxe na volta além das bestas carregadas, um grande e bonito jumento que comprara por cinco patacas a um fazendeiro piauiense. O animal causou admiração e espanto aos parentes e vizinhos que vinham visitá-lo.
Jumento  no Maranhão
No dia da chegada, já ao entardecer, o jumento colocado num cercado. Talvez saudoso da sua terra natal, o animal passou a noite relinchando. No dia seguinte, a vizinhança em peso recorreu ao fazendeiro para saber que bicho era aquele que não tinha deixado ninguém dormir na redondeza. E a estória do jumento espalhou-se, tornando a propriedade da Quixaba um ponto turístico da ribeira do Mossoró. Pessoas que moravam a mais de dez léguas de distância apareceram para conhecer o animal, impulsionados pela curiosidade. E muitos só se retiravam depois de ouvir o grito do jumento, como diziam. Com o tempo a vizinhança perdeu o medo do animal, que já o viam com naturalidade.
Um fato curioso é que por essa época existia na região um boêmio, Casimiro Carlos da Silveira, tocador de rebeca, que regressando altas horas da noite de um baile, ouve, de repente, o relincho do jumento. O pavor foi tão grande que o rabequeiro jogou o seu instrumento pro lado e subiu rapidamente em uma carnaubeira, ficando ali o resto da noite. Já no outro dia as pessoas que passaram no local se depararam com a cena e convenceram o boêmio a descer já que o animal que tanto o amedrontara com o seu relincho não causava mal a ninguém. 
E foi dessa maneira, entre admirados e assombrados, que os moradores da ribeira do Mossoró tomaram contato como o primeiro exemplar da espécie asinina. Podemos dizer, portanto, que esse jumento de propriedade de Manoel João da Silveira foi o avô de todos os jumentos que existem hoje aqui em Mossoró.
A espécie, em período passado, já havia sofrido duros golpes. Em 1954, milhares de jumentos nordestinos foram sacrificados para a fabricação de vacina antirrábica. Houve protestos. O jumento também sofreu uma redução de seu rebanho entre 1967 e 1981 de 75% (segundo dados da Embrapa).
Nos anos 80, o jumento nordestino voltou a correr risco de extinção, com o abate indiscriminado feito pelos frigoríficos, motivando uma nova série de manifestações. Os matadouros clandestinos realizam abates indiscriminados com a finalidade de exportar sua carne para o preparo de rações para animais de estimação. Grande parte da carne de jumento brasileira era exportada para o Japão. E agora mais uma ameaça ronda o nosso jegue com esse protocolo de intenção assinado com a China. Pelo que parece, vão acabar com o jumento nordestino.
 
Fonte: Extraído de: http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br