sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O velho Salustiano

Nesse lugar escuro, mal iluminado, reinava o cheiro acre da agonia...  Respirando o odor da morte, algo sombrio, parecia que os dias eram mais longos e a vida mais curta. Aquele velho, coroado, de cabelos brancos ficava mudo e se fazia chorar diante da estupidez dos algozes. Olhando com avidez as paredes nuas, denunciava o inferno na alma daqueles homens rudes. Sobre o olhar atento do torturador, o ano não passava de uma sucessão dos dias agitados.

A luz negra que penetrava o antro subterrâneo da repressão aumentava seu suplício entrecortado pela violência gratuita dos desejos mais violentos, onde "a lei e a força ainda reinavam". Como pensar esse imenso país, onde a justiça era feita para castigar os espíritos livres? Separado de sua mulher e filhos passava os dias sobre uma ameaça visível, percebida no ar desbotado das ruas; aproximando lentamente os movimentos obscuros da noite.
Aquele mundo brutal de gritos revelava, de modo ávido, longamente o desejo de viver... Naquela obscuridade onde o tédio, o cansaço e o calor que sempre habitara conservava as imagens de sua infância. O tempo da juventude que passava repentinamente aumentava seu apetitie de viver. Apesar do corpo decrépito e cansado, ele, chorava desesperadamente. O pranto denunciava o aniquilamento daqueles que substancialmente sustentaram a duras penas o desejo de liberdade. Onde a força do "ordem tórrida" fosse quebrada com um golpe só e para sempre. Aquele imenso vazio, fechado e restrito às vezes chegava assumir uma dimensão trágica. Salustiano, com os olhos tristes, trazia consigo um "sentimento condoído". Mas, o que ficou foi uma amizade contínua, seus gestos nobres que desfila em minhas lembranças o total valor de nossa camaradem.

A nossos filhos, o que  dizer do passado, do país... Salustiano, tivera sua gênese marcada pela não aceitação da autoridade constituída, do poder central. Ávido pelo anseio de conviver, era contrário à ordem estabelecida...

À noite chega. Ouvem-se ao longe tiros... Para sempre estavamos separados. Porém, na luz leve da manhã, por entre as cores brilhantes das flores escorre o orvalho da madrugada fria.


Por Lima Júnior...

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