quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O mandonismo local

Praça Vigário Antônio Joaquim - 1937
A política é uma prática social. Portanto, é "o lugar onde se articulam o social e sua representação, a matriz simbólica na qual a experiência coletiva se enraiza e ao mesmo tempo se reflete", observa Pierre Rosanvallon.

É no cotidiano que descobrimos a dimensão do político, da esfera político-social. Com isso, o ato de pensar é "um ato de vontade política". Posto desta forma, é dentro do contexto das relações sociais (isto é, das representações sociais) e materiais que os indivíduos determinam suas reações (ou aceitações!) à estrutura normativa (ao poder constituinte; ao mando do coronel, do prefeito, do deputado etc) e suas escolhas com o respeito a ela.

Neste contexto de dominação, movem-se as pessoas que arrancam (inconscientemente!) das relações de poder os traços desta dominação. Por isso, como explicar, a persistência no poder de grupos políticos tradicionais conservadores e corporativistas? Dentro da estrutura social capitalista, as classes ou grupos sociais são divididos hierarquicamente, mediante os valores e padrões dominantes, e consequentemente, as condições socioeconômicas é que atuam para incluir alguns (como capazes e prontos para mandar) e excluir outros (vistos como incapazes e prontos para obedecer). Logo, os relacionamentos socias e pessoais desempenham um papel determinante no estabelecimento das relações de poder.
As relações de poder e de dominação se perfaz de modo cabal nos substratos político e cultural. Peças forte da ideologia ao mesmo tempo conservadora e dominante. A interação dos caracteres políticos e culturais determina a subordinação da comunidade aos valores dominantes. Em síntese, com o domínio político (das famílias tradicionais no Nordeste, ou seja, das oligarquias regionais) da família Rosado, funda-se na cidade de Mossoró um modo de viver pautado na dominação da coletividade, enquanto massa eleitoral. Tal sistema de dominação instaurou no imagínário social e político local um sentimento de devoção absoluta "subjulgar o outro ao seu próprio mundo de dominação". Mas, com essa premissa fica entendido, o que se pretende é a reprodução e manutenção da ordem estabelecida.

Apesar dos mecanismos de dominação característicos da República Velha (1889-1930), estarem manifestados na prática política da oligarquia Rosado, de modos amplos e diversos, acredito que serviram para ancorar firmamente os Rosado como legitimos representantes do poder político local. De fato, os mecanismos de poder, parecem não se esgotarem. Assim, a ação dominante e conservadora da oligarguia vaí operando ao longo da história. Formado ao longo do século XX, o clã Rosado tem se transformado num núcleo familiar conservador, definindo-se pela voz dos seus líderes Jerônimo Rosado, Dix-sept, Vingt e Dix-huit. A história politica desse grupo é a de uma aliança estratégica (isto é, ao sabor da conveniências!) entre os principais grupos políticos tradicionais no âmbito nacional e estadual. Não obstante, as "divisões interna" não tocaram sua unidade. Ou seja, o clã se mantêm, politicamente, fortalecido.

Assim sendo, o discurso político oligárquico, desde Jerônimo Rosado, foi de manter sob controle sociedade e opositores. Mas, que, está presente, ainda hoje, na cena política. Para entender o caráter ideológico dominante dos Rosado, convém examinar que tal discurso não produz a liberdade social e política. Os agentes politicos de hoje (Rosalba Ciarlini, Laire Rosado, Sandra Rosado, Larissa Rosado e Fatíma Rosado) deitou raízes nas práticas reprodutoras e conservadoras de poder dos antepassados. É no interior do discurso ideológico que são formuladas as estratégias politicas dominante.

O sistema hegemônico dos Rosado têm lhes assegurado uma dominação ideológica sobre a população através da cultura. A cultura as elites se insere no cotidiano dos grupos sociais como formas culturais dominantes, que está sempre presente na dominação social. A nosso ver, os espetáculos culturais Chuva de balas no País de Mossoró e o Auto da Liberdade patrocinados pelo Poder Executivo, ultimamente, não tem contribuído para uma maior compreensão do passado e do presente histórico.

O que desejamos afirmar é que, ditado pela lógica do sistema capitalista, a reprodução da dominação ideológica -- já posta historicamente! --, do clã Rosado tem criado por condicionamentos políticos e culturais formas de exploração variadas sobre a população. Nesse sentido, a sociedade mossoroense se enxerga pelos valores da classe dominante.
Muitas vezes, a cultura contribue para mascarar, na vida social, a existência de indivíduos socialmente diferenciados. Raciocinando a partir desse conceito (cultura), as relações de poder construída(s) pelas ações humanas, tem gerado "cargas históricas desiguais", mesmo sob a ação da instância politica que tem assegurado as condições de reprodução do modo de produção dominante. Portanto, a dominação espacial por parte da família Rosado é, também, uma forma de manter a opacidade de compreensão da realidade.

A ação política das elites locais produziram (e reproduz!) um modelo determinado de convivência social, onde os interesses se apresentam harmônicas. Os Rosado ao chegarem a Mossoró fixaram um espaço de atuação social, econômica e politicamente definida. Disto pode-se concluir que o oligarquismo como comportamento político é um dos elementos válido para análise do contexto local. A perspectiva histórica evidencia que na evolução politica do país, o poder burguês, "para assegurarem os seus mecanismos de controle no interior do aparelho estatal: seja na esfera local, regional ou central". Verifica-se, então, que as "políticas públicas" têm sido utilizadas com a finalidade de permitirem a dominação política, do que a promoção da cidadania. Nesse contexto, as classes dominantes locais têm se pautada do discurso conservador, indispensável para preservação dos seus domínios politicos e econômicos.

Assim, o discurso político ideológico dos agrupamentos políticos que compõe a oligarquia Rosado têm escamoteado as contradições políticas, econômicas, sociais e culturais diluíndo das classes subalternas a visibilidade social, isto é, da percepção do que está a sua volta. Incobrindo, assim, o sentido dos conflitos sociais, lutas de classes e relações de poder. Nesse sentido, cabe, aqui, uma indagação. Qual o espaço de atuação da família Rosado, enquanto grupo político, na sociedade mossoroense para legitimar sua posição de predomínio e hegemonia na cidade? A história de Mossoró, mesmo patrocinada pelos meios oficiais, apresenta uma visão tradicional e conservadora, onde as ações dos benfeitores e construtores (os Rosado!) da cidade move os acontecimentos.

Deste modo, pode-se dizer que a história local criou a ideia de que na sociedade mossoroense não havia hierarquia ou distinção sociais. Havendo, somente, uma sociedade harmônica e equânime.Os Rosado se apresentam com herdeiros deste passado, no qual pontificam com heróis seus antepassados (Jerônimo, Dix-sept, Dix-huit e Vingt). Para a oligarquia Rosado, Mossoró sempre foi (e será!) o "paladino da liberdade e do pioneirismo", representada na figura de seus heróis-civilizadores, que destacaram-se por serem destemidos, altaneiro etc. Dentro de um contexto histórico forjado, verificou-se um processo de extrema concentração de poder nas mãos as elites locais, onde o negro, após o 30 de Setembro de 1883, tornou-se um elemento subalterno, dominado e despossuído socialmente. A historiografia oficial local tem, ideologicamente, instrumentalizado a auto-imagem da família Rosado, universalizando-a para toda a sociedade. Tece-se, assim, uma visão não-crítica da realidade local.

A ideia que a oligarquia Rosado constrói de si mesma e que se projeta na figura de seus membros, como dignos, justos e merecedores da posição que ocupa, passa a ser aceita por todos os mossoroenses. Uma vez que, o conjunto de ideias e valores dominantes são aceitos por todos, imaginando uma nova sociedade e que realize seus sonhos.

Entretanto, para que pudesse se manter no poder ao longo de muitos anos, os Rosado estabelecem uma sólida aliança política, de acordo com as circunstâncias, com os grupos políticos conservadores para que a oposição (sem força política) se mantenha à margem do processo político.

 É relevante observar que, a cada Rosado no comando do Palácio da Resistência (sede o executivo municipal), os aparatos ideológicos de sua sustentação no poder são reforçados. Os "intelectuais orgânicos" da historiografia oficial, reunidos no Boletim Bibliográfico/Coleção Mossoroense irão construir uma determinada imagem da história da cidade na qual a família Rosado é vista como protagonista principal. A historiografia oficial difundiu nas escolas "uma visão saudosista do passado", onde era (e, ainda é) exaltada as virtudes e os grandes feitos dos seus antepassados.

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