domingo, 10 de outubro de 2010

Fragmentos

O social é que nos orienta e regula a nossa conduta, estabelecendo normas e valores para as coisas. É verdade que vivemos uma época trágica, onde é visível a angústia infinita das almas livres. Mas, toda essa gente resiste a todas as chuvas e ao vento da vida diária...

Algo me faz pensar, que estamos submersos na terrível velhice (deste último século), que os anos imprime. Talvez, a humanidade esteja a espera de Prometeu, que desejou salvarmos da miséria dos homens.

A revelação dos dias nos mostra que na luminosidade das manhãs ou na opulência natural das noites, os homens terminam anulados pelo cotidiano. Onde, gotas de luzes e cores oferecem à alma um gozo desmensurado.

Por entre  ruas escuras caí o amor dos homens em fontes profundas. Eis, alí, o afã que cavalga o presente futuro. Corações endurecidos, sórdidos e velhos invadem os jardins, onde o vento das alturas desprendem açoites que condicionam em nós o abrasamento das fogueiras vivas.

Que brota da alma, um corpo febril, símbolo e expressão de si mesmo. Que desterra de cânticos sagrados, o bem e o mal. E, arrebanha da obscuridade da sombra noturna a natureza humana.

Criaturas que se entregam a loucura dos sacerdotes. Falsos sábios, que divulgam uma pseudo-sabedoria, que glorifica o eu e santifica a alienação. Assim, vejo, os homens submissos aos pés divinos, receberem na face o cuspe do bendito egoísmo.

A manhã que está oculta, a tarde que se descobre. Assim, nos arrastamos sobre duros ombros e somos tolhidos pela mormente cotidianidade. Uns ajoelham-se e deixam-se carregar pelas falsas promessas. Outros, resistem as palavras e aos valores estranhos.

O interior da luz é vicioso, cheio de nobres adornos, de bela aparência. Alma minha que se lança no olhar dos teus olhos. Que chora as lágrimas e os prantos alheios.

Com um facho de claridade caminho pelo passado, onde jogo dados com os deuses, na mesa divina da terra. É, esse o meu universo! No domínio dessa órbita persigo o tempo, onde não deixo escapar uma verdade fugidia. Porém, degusto, como do puro alimento da vossa ciência. Mas, dificilmente, "estenden-se em mim, tua negra ignorância".


Não quero ser hóspede de teu corpo, o que me atrai é a tua doutrina, que explica à própria a gênese da vida. A dor tem que morrer, pois a vida é um espetáculo, embora nos conduza às angústias cotidianas.

Atrás das formas e cores variadas, sou visto como um pensamento inefável, oculto e espantoso. Um cego que pede e dar esmola, mas que não enche sua sacola. Contemplo a escuridão e me curvo diante de um deus desconhecido, incógnito.


Setes olhos trespassa e perseguem-me. Arranca(m) torturas, me impõe suplícios. Funesto e encantador é teu riso colérico, que anuncia em pensamentos falsas verdades. Desse modo escuto uma voz que diz:
-- Quem és tu?
Exclamou, o velho sábio, dizendo tristemente:
-- Eu, sou um deus verdugo, cansado dos tormentos humanos.
Desviando o olhar para o céu, procuro a grandeza do brilho da luz. Os olhos marejam, procurando por entre os bosques lunares à singular humanidade. Ao longe, vejo, os homens como "insetos cegos voando sem direção".
Agora, o subúrbio é um mundo estranho, que já não existe para o centro -- urbano e capitalizado -- de sonhos e prazeres. Do lado de cá, toda àquela gente louva com cantos, odes e poemas um deus diminuto.

À pobreza do alto e baixo sertão está regada pela fome, miséria e analfabetismo.       Que oportunidade terão
àqueles de seguirem seus destinos? Triste verdade não proporciona o disfarce de tal situação. As esmolas que recebem são acondicionadas em pacotes distintos. De distantes paragens, desvalidas criaturas esbarram na contra-mão da vida retirada.

Por aí, além, morrem-se da seca, da morte matada... Dotara a natureza a sombra de um velho juazeiro, que naturalmente remove o óbice da secura dos ares.

Com lágrimas nos olhos o sertanejo aprecia espantado o velho torrão. Fugindo dos raios do sol, caminha lentamente por sobre a aridez da terra inóspita. Seus olhos brilham diante da profunda solidão. A pele luzidia contrastava com o suor que rolava pelo rosto evidenciando as marcas que a vida imprime. Mesmo turvas, clama aos céus pelas águas da chuva.

Por entre o crepúsculo, rompe a luz, um vulto humano que salta em órbitas, cujos olhos adornados pelos espaços vazios em estilhaços, em meio a patéticos anos, condiciona em negras cores a dureza e o peso da vida diária.

Figura humana que responde em silêncio. Como a morte, colhe o ímpeto que nos obriga a mergulhar na extrema solidão dessa dor profunda, desfigurando a luz da manhã e a fisionomia de todo homem, descrevendo em diferentes fases o desespero de criaturas inanimadas, cujas as mãos piedosas arrastam-se em busca de Deus.

Depois de longo e profundo silêncio, o velho sucumbiu... Velho Chicó, voz altaneira das terras longinquas, morrera suspenso na cruz por não suportar seu inferno e o amor pelos homens. De expressão dolorosa e sombria, aquele pobre homem de aparente palidez anunciava uma excessiva piedade, estava cansado do mundo dos homens.



Por Lima Júnior...

Texto dedicado a memória do primo-irmão Irapuã Batista de Sousa, tangerino de sonhos...

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