Os questionamentos acerca da cangaceira Sila não tem sido um debate histórico-científico controverso? Um segmento importante da historiografia do cangaço tem se pautado no discurso de que a esposa de “Zé Sereno” não era uma pessoa digna de crédito. Quaisquer que tenham sido as suas contribuições reais ou irreais não diminui o seu papel histórico, não podemos execrá-la ou o que viu e vivenciou seja algo sem alguma plausibilidade.
Lampião imbuído de inteligência, coragem e em nome de qualquer imperativo ético encontra no cangaço, justificativa para quase todas as ações que propõe sejam viáveis a sua vida errante. Entre o rei do cangaço, coiteiros, autoridades política e policial havia uma ambiguidade moral.
Para alguns pesquisadores Sila é vista e compreendida como alguém que apesar de ter vivenciado um mundo erradio, produziu acontecimentos modificados. A verdade será fundamentada em evidências. Porém, é necessário observar que a verdade científica não é uma verdade absoluta, ela “é uma simples aproximação”. Sila em algum momento faltou com a verdade? Por quais razões? Para alguns, sim. Para outros, não.
Com relação ao evento da Grota do Angico, ela já formou uma opinião sobre o caso, com base nos fatos apresentados no trágico dia 28 de julho de 1938. O que poderia ter influenciado a cangaceira Sila a gerar um julgamento controverso a tal evento? Ela própria já teve alguma discussão com ex-cangaceiro ou com familiares destes, que poderia causar uma modificação no seu parecer sobre o desfecho na Grota do Angico? Porque há contradições nos depoimentos de Sila em relação ao dia 28 de julho? O que fez as experiências de Sila com o cangaço tornar obscuro seu julgamento ou afetar sua reputação? As respostas para esses questionamentos só serão possíveis à luz da ciência, pautada em um rigoroso método de investigação das fontes históricas. Não podemos por hipótese nenhuma “aceitar sem crítica qualquer coisa que nos dizem” (SAGAN: 2006, p. 335). Contudo, não podemos esquecer que as especulações, a inexatidão, a falsidade e a mentira coexistem com o mundo prosaico, isto é, sem grandiosidade; comum, trivial, corriqueiro.
Portanto, quando se tem a busca do conhecimento não podemos varrer para baixo do tapete desígnios subjacentes (mesmo que não se manifeste claramente ou que esteja implícito) de importância capital.
A dúvida parece-me ser “uma virtude fundamental” para o pesquisador. Quanto à dúvida é imprescindível observar o pensamento do filósofo, físico e matemático francês René Descartes (1596-1650): “Não imitei os céticos que duvidam apenas por duvidar, e fingem estar sempre indecisos; ao contrário, toda a minha intenção foi chegar a uma certeza, afastar os sedimentos e a areia para chegar à pedra ou ao barro que está embaixo.”
Em meio à inventividade das histórias, novos equívocos são revelados, porém disfarçados como fatos. Um grande número de pessoas sinceras está explorando nuances, vieses ou abordagens histórica, sociais, antropológicas e culturais em relação ao cangaceirismo.
A busca dessas pessoas pela verdade, talvez se baseie no princípio da legitimidade, onde reconhecem que o que parece ambíguo, duvidoso não deve ser aceitado. Assim sendo, ocultar a verdade para que ninguém saiba da sua existência é algo absurdo.
A hipótese de envenenamento é para mim profundamente misteriosa — na verdade, oculta. Tal fato é discutido, mas não é compreendido, nem certamente confirmado. Logo, não se tem por parte dos pesquisadores meios cabais para decidir se a suposta conjectura é verdadeira ou falsa.
O que está acontecendo é que algumas teorias estão sendo criticadas, ridicularizadas. Claro, eu posso estar errado. Esse ponto é decerto relevante, mas por si só não é convincente para explicar o fim trágico de Lampião.
Em se tratando de conjecturas não podemos ignorar uma enorme variedade de novas informações descobertas. A consistência dessas informações deve ser detalhada, apuradas sobre a hora do seu nascimento em relação à longitude e à latitude do lugar onde ocorreu tal fato.
Como tenho tentado enfatizar, no cerne do cangaceirismo existe duas vias aparentemente contrária — uma aberta para novas ideias e outra de visão cética e fechada. Porém, é esse “empreendimento coletivo” que mantém a ciência em andamento, apesar de haver certa tensão nessas duas formas de pensar o cangaço. Embora, impossível, a teoria da conspiração (tese do envenenamento) não pode ser refutada, pois ela poderá ser aceita amanhã. Se formos tão abertos a novas ideias, há hipótese do envenenamento pouco vale?
As ideias novas devem ser submetidas às críticas feitas pela comunidade científica, embora haja hipóteses conflitantes e extravagantes levantadas pelos estudiosos. Sendo assim, os pesquisadores devem ser desafiados para que o trabalho científico seja desmistificado e humanizado. Pois, antes de refutar as ideias contrárias é necessário, antes, compreendê-las.
Nesse caso tentar impingir certas informações ao universo do cangaço não nos impede de caminhar na busca pela verdade. Apesar de não podermos ver na escuridão total das incertezas, acredito que há um progresso substancial na área da historiografia cangaceira, basta citar os trabalhos de Antonio Amaury Corrêa de Araújo, Alcino Alves da Costa, Élise Grunspan-Jasmin, Frederico Pernambucano de Mello, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros entre outros. Portanto, é necessário libertar-se do “racionalismo irracional” se desejamos o crescimento da ciência. Assim, a ciência histórica requer que nos libertemos tanto dos anacronismos como dos exageros crassos.
Na aridez inóspita da caatinga, pequenos mundos sofreram impactos pela violência explicita dos grupos de cangaceiros. Para mim, o lado estratégico de Lampião se deve as suas habilidades, ainda que possuísse desde a infância o conhecimento da geografia do lugar. Creio, também, que todo membro do bando é reconhecido pela sua destreza. Mas tudo isso é uma precondição da sobrevivência. O que havia de concreto no universo do cangaço era a pluralidade de mundos (volantes versus cangaceiros).
A busca dessas pessoas pela verdade, talvez se baseie no princípio da legitimidade, onde reconhecem que o que parece ambíguo, duvidoso não deve ser aceitado. Assim sendo, ocultar a verdade para que ninguém saiba da sua existência é algo absurdo.
A hipótese de envenenamento é para mim profundamente misteriosa — na verdade, oculta. Tal fato é discutido, mas não é compreendido, nem certamente confirmado. Logo, não se tem por parte dos pesquisadores meios cabais para decidir se a suposta conjectura é verdadeira ou falsa.
O que está acontecendo é que algumas teorias estão sendo criticadas, ridicularizadas. Claro, eu posso estar errado. Esse ponto é decerto relevante, mas por si só não é convincente para explicar o fim trágico de Lampião.
Em se tratando de conjecturas não podemos ignorar uma enorme variedade de novas informações descobertas. A consistência dessas informações deve ser detalhada, apuradas sobre a hora do seu nascimento em relação à longitude e à latitude do lugar onde ocorreu tal fato.
Como tenho tentado enfatizar, no cerne do cangaceirismo existe duas vias aparentemente contrária — uma aberta para novas ideias e outra de visão cética e fechada. Porém, é esse “empreendimento coletivo” que mantém a ciência em andamento, apesar de haver certa tensão nessas duas formas de pensar o cangaço. Embora, impossível, a teoria da conspiração (tese do envenenamento) não pode ser refutada, pois ela poderá ser aceita amanhã. Se formos tão abertos a novas ideias, há hipótese do envenenamento pouco vale?
As ideias novas devem ser submetidas às críticas feitas pela comunidade científica, embora haja hipóteses conflitantes e extravagantes levantadas pelos estudiosos. Sendo assim, os pesquisadores devem ser desafiados para que o trabalho científico seja desmistificado e humanizado. Pois, antes de refutar as ideias contrárias é necessário, antes, compreendê-las.
Nesse caso tentar impingir certas informações ao universo do cangaço não nos impede de caminhar na busca pela verdade. Apesar de não podermos ver na escuridão total das incertezas, acredito que há um progresso substancial na área da historiografia cangaceira, basta citar os trabalhos de Antonio Amaury Corrêa de Araújo, Alcino Alves da Costa, Élise Grunspan-Jasmin, Frederico Pernambucano de Mello, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros entre outros. Portanto, é necessário libertar-se do “racionalismo irracional” se desejamos o crescimento da ciência. Assim, a ciência histórica requer que nos libertemos tanto dos anacronismos como dos exageros crassos.
Na aridez inóspita da caatinga, pequenos mundos sofreram impactos pela violência explicita dos grupos de cangaceiros. Para mim, o lado estratégico de Lampião se deve as suas habilidades, ainda que possuísse desde a infância o conhecimento da geografia do lugar. Creio, também, que todo membro do bando é reconhecido pela sua destreza. Mas tudo isso é uma precondição da sobrevivência. O que havia de concreto no universo do cangaço era a pluralidade de mundos (volantes versus cangaceiros).
Por José Lima Dias Júnior (Professor da Rede Municipal de Ensino e coautor de Os Carmelitas em Mossoró/Coleção Mossoroense).
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