quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Do Brasil para a câmara de gás

Num ofício confidencial transmitido ao Itamaraty em 24 de abril de 1936, José Joaquim Moniz de Aragão, embaixador brasileiro em Berlim, assim escreveu: "Pelas informações agora obtidas, Olga Meirelles, Olga Villar, Maria Bergner ou Maria Prestes, citada nos jornais brasileiros como esposa de Luís Carlos Prestes, pode ser identificada como sendo Olga Benário, agente comunista da Terceira Internacional (...), de raça israelita, tendo nascido em 12 de fevereiro de 1908 em Munique, na Baviera". Era a informação que faltava para Filinto Müller, chefe de polícia do Distrito Federal: agora seria possível chegar ao decreto de expulsão para a companheria de Prestes, capturada com ele no mês anterior, pouco tempo depois do fracassado levante comunista.

Estava sendo escrita uma das páginas mais tristes do governo Vargas. Com base na Lei de Segurança Nacional, que previa a expulsão do território naiconal de estrangeiros perigosos para a ordem pública, Olga, apesar do pedido de habeas corpus e de sua gravidez avançada, é embarcada num navio cargueiro diretamente para a Alemanha. Ale, é conduzida por oficiais da Gestapo para uma prisão berlinense, onde dará à luz Anita Leocádia, entregue pouco tempo depois á avó paterna.

Oriunda de família judia, a jovem militante do movimento comunista alemão e mais tarde enviada para o Brasil pela organização internacional do partido, Olga Benário é encaminhada em 1939 para o campo de concentração de Ravensbrück e depois paa o de Bemburg, onde morreu em abril de 1942. Era judia e comunista, dois crimes imperdoáveis aos olhos dos nazistas. Mas, talvez, também aos olhos de Getúlio Vargas.





Texto extraído (por Marcello Scarrone) da Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 5, nº 58, julho de 2010.

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