Claudio Roberto de Souza* | ||
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João Pessoa assumiu o governo da Paraíba em 1927 indicado pelo seu tio, Epitácio Pessoa, que já havia sido presidente da República e era o líder da oligarquia paraibana. Outro sobrinho, Francisco Pessoa de Queiroz, foi preterido na disputa e mudou-se para o Recife onde se afirmou como empresário e político, mas sem desistir de influir na vida paraibana. Ao assumir o governo, tomou medidas no sentido de reprimir o clientelismo que marcava as relações entre o governo estadual e os coronéis nos municípios. De fato, não respeitou indicações de mandatários locais para nomeações de cargos públicos, apreendeu armas e cobrou impostos de aliados e opositores indistintamente. O tesouro estadual, por sua vez, vinha de uma severa crise do antecessor, João Suassuna, e a arrecadação era baixa. O comércio mais importante ocorria entre as regiões interioranas e os estados vizinhos, sem que as mercadorias viessem para o litoral. João Pessoa quis forçar a realização deste comércio através da própria capital, permitindo assim uma maior cobrança de tributos. Para isso criou pedágios, barreiras alfandegárias e altas tarifas para os produtos que passassem pelas fronteiras interioranas, reduzindo simultaneamente as taxas para os que fossem dirigidos ao porto da capital. Essas medidas desagradaram não apenas os comerciantes paraibanos, mas também a praça do Recife, cuja reação foi liderada por Pessoa de Queiroz através das páginas de seu jornal. João Pessoa feria assim, a base do compromisso coronelista da República Velha, o reconhecimento da figura do “coronel” como intermediador dos investimentos e nomeações para cargos no município, ao mesmo tempo em que procurou redefinir os eixos geográficos da economia paraibana.
O coronel José Pereira rompeu com João Pessoa depois de este preterir o grande aliado de Pereira, o ex-governador João Suassuana, ao compor a chapa de candidatos a deputados e a senador no estado. As relações estremecidas ficaram insustentáveis depois que a polícia prendeu vários membros da família Dantas, também aliados do coronel de Princesa, na Serra do Teixeira. Nesse momento, vários dos Dantas exilaram-se no Recife. A sedição foi apoiada, tácita ou diretamente, pelos Pessoa de Queiroz e pelo presidente de Pernambuco, Estácio Coimbra, aliado aos paulistas contra Vargas/João Pessoa.
Após vários meses de lutas, João Dantas, vivendo no Recife, teve a sua residência e escritório de advocacia na capital da Paraíba invadidos pela polícia e parte dos documentos apreendidos foi publicada pelo jornal A União, quase um diário oficial do estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de suas relações com a jovem Anayde Beiriz. Em uma época em que honra se lavava com sangue, Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em sua procura para matá-lo. Em 26 de julho ao final da tarde, João Pessoa tombou na Confeitaria Glória ao lado da Praça Joaquim Nabuco, no Centro da Cidade. João Dantas foi capturado e preso na Casa de Detenção, onde também cairia assassinado durante os distúrbios da Revolução de 1930.
A morte de João Pessoa pôs fim à sedição de Princesa, que perdeu seu objetivo. Mas provocou um efeito inesperado. Vargas perdeu a eleição para o paulista Júlio Prestes, e as tentativas de conspiração para um golpe já haviam sido rejeitadas pelo próprio e também por Pessoa. O assassinato, entretanto, reacendeu os ânimos. O crime foi apresentado como obra dos perrepistas, o Partido Republicano Paulista, e em 3 de outubro Washington Luis foi deposto e a República Velha sepultada. José Pereira e muitos outros fugiram de Princesa e viveram pelos próximos anos em muitas cidades diferentes, embora seus descendentes continuem disputando as eleições locais até hoje.
*Aluno do mestrado em história/UFPE
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