sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CANUDOS

Filosofia





O primeiro grito da terra
Em tempos de Fundamentalismo Islâmico, convém revisitar e refletir sobre a revolta
que se iniciou perto do Rio Vaza-Barris, no norte da Bahia - a prova de que o fanatismo
religioso é capaz de destruir até as causas mais justas.


Da Redação




Montagem: Fabiana Neves com foto Nailson Moura


Arquivo 2D
I. Primeiras lições
Canudos é, do ponto de vista histórico, uma sucessão de equívocos lamentáveis. Em primeiro
lugar, sem dúvida, a demonstração de que, em seus primórdios, a República brasileira - ou, o
poder central, instalado no Rio de Janeiro - pouco administrava para além das fronteiras
setentrionais de Minas Gerais; e também de que o fanatismo religioso é péssimo conselheiro.
Não há intenção de se fazer blague com o nome do líder revoltoso da Fazenda Canudos. A 
revolta liderada por Antônio Conselheiro reflete uma triste realidade: a do país esquecido
pelos governantes à beira-mar. Uma nação de geografia inclemente, povo pessimamente
instruído e ausência de Estado - o terreno fértil para um... conselheiro.
Araquém Alcântara Pereira
Canudos: geografia inclemente, povo pessimamente instruído e ausência de Estado
II. O Brasil esquecido
Nessa época, governava o Brasil Prudente de Morais, um republicano e abolicionista de bons
princípios, mas pouco tino administrativo - e, ainda por cima, tolhido por problemas de saúde.
Foi nesse cenário que, silenciosamente - as vias de comunicação do Nordeste com a capital
eram, naquela época, de difícil funcionamento e lentíssimas -, instalou-se na antiga Fazenda
Canudos, ainda em 1893, o sertanejo Antônio Conselheiro, de 65 anos. Em torno de sua
pregação foi se formando uma comunidade.
O Brasil interiorano do fim do século 19 era, do ponto de vista das leis, da ação do 
Estado e da criatividade local para seu desenvolvimento econômico, terra arrasada.
Especialmente na parte oriental da região Centro-Norte, que abarcava o sertão
Nordestino - distante do mar, dos entrepostos de comércio, dos principais jornais.
Bruno Rizzo
Rio Vaza-Barris e o Riacho de Umburanas, vida difícil e de pouco esperança
IPHAN/SR - BA
Antonio Conselheiro e seus camponeses-combatentes que raramente se deixavam fotografar
Os descendentes dos indígenas viviam à míngua, misturados a antigos escravos, à miséria
social controlada pelos latifundiários. Os negros padeciam da falta de qualificação para os
modos de produção inspirados na Revolução Industrial. A semente capitalista exigia
proletários - trabalhadores com alguma especialidade -, não escravos. Os brancos e
miscigenados das camadas mais pobres da sociedade interiorana conformavam uma
crescente massa de deserdados da sorte, à procura de uma voz - ou um poder - que lhe
servisse de guia. A propaganda oficial consistia em palavras que não se traduziam em atos - ou
levavam tempo demais para fazê-lo.
Para além dessas circunstâncias sociais desfavoráveis havia a inclemência do clima e a fome.
As culturas do milho e da mandioca mal vingavam em um solo árido. E mesmo para a 
comunidade de Canudos, instalada perto do Rio Vaza-Barris, a vida era difícil, de pouca
esperança. No sertão baiano, a alternativa era contar com a "generosidade" e a modernidade
das máquinas adquirida por uma elite de "coronéis". E pelo socorro nem sempre em tempo
das obras caritativas da Igreja Católica.
No norte da Bahia apareceu, então, uma outra via: as pregações de Antônio. Antônio
Conselheiro. Foi para essa população sem terra, forçada a se submeter aos coronéis, que ele
surgiu. As terras que os sertanejos aravam pouco produziam, e o Conselheiro se apresentava
como um emissário de Deus, vindo para abolir as desigualdades sociais, o descaso da
República, os impostos escorchantes. No arraial de Canudos, começou a correr a notícia de
que o líder era, na verdade, um divino mestre. Alguém, por sua sabedoria, capaz até de
praticar milagres - afinal, não era ele um enviado de Deus?
IPHAN/SR - BA
IPHAN/SR - BA
Prisioneiros sobreviventes do massacre
1897, as crianças órfãs foram levadas como "trófeus"


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Fonte: Portal Ciência & Vida 

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