sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Olimpíadas: Esporte e Poder


Claudio Recco*

Introdução
A Grécia Antiga deixou para toda humanidade, principalmente para o mundo ocidental, um dos mais expressivos legados culturais da história, com destaque para filosofia e dramaturgia. Outro aspecto que se desenvolve na sociedade grega é o esporte, pois até então, os exercícios executados pelo homem eram involuntários, em busca da caça para sobrevivência. 


O lema do atletismo “mais rápido, mais alto e mais forte” (“citius, altius e fortius”), representado pela trilogia correr, pular e arremessar, foi criado pelo padre Dére Didon em 1896, mas surgiu bem anteriormente, por volta de 776 a C. entre os jovens e soldados gregos, para desenvolver as habilidades físicas e criar competições. Os gregos iniciaram o culto ao corpo e, em homenagem a Zeus, inauguraram os Jogos Olímpicos.
Para os gregos cada idade tinha a sua própria beleza e a juventude tinha a posse de um corpo capaz de resistir a todas as formas de competição, seja na pista de corridas ou na força física. A estética, o físico e o intelecto faziam parte de sua busca para perfeição, sendo que um belo corpo era tão importante quanto uma mente brilhante.
Apesar de falarem a mesma língua e de terem unidade cultural, os gregos antigos não tinham unidade política, encontrando-se divididos em cidades-estado, ou seja, cidades com governos soberanos que, a cada quatro anos se reuniam num festival religioso na cidade de Olímpia, deixando de lado suas divergências.

Origem dos jogos

Originalmente conhecidas como Festival Olímpico, faziam parte dos quatro grandes festivais religiosos pan-helênicos celebrados na Grécia Antiga e eram assistidos por visitantes vindos de todas cidades-estado que formavam o mundo grego. Sediado na cidade de Olímpia, o Festival era muito antigo, mas foi a partir de 776 a C. que passou a ser feito um registro ininterrupto dos vencedores. 
Os primeiros jogos limitavam-se a uma única corrida com cerca de 192 metros. Em 600 a C., foi erguido o templo de Hera (esposa de Zeus), onde passaram a ser depositadas coroas de louros para os campeões e o estádio ganhou tribunas de honra e a cidade um reservatório de água.
Até 472 a C. as provas eram realizadas num único dia, sendo que apenas os cidadãos livres poderiam competir, além da participação feminina ser proibida. Os atletas que infringiam as regras estabelecidas eram multados rigorosamente, sendo que da receita das multas eram erigidas estátuas de bronze a Zeus. Os vencedores recebiam uma palma ou coroa de oliveira, além de outras recompensas de sua cidade, para a qual a vitória representava grande glória.
O caráter festivo dos jogos foi alterado a partir da segunda metade do século V a C., quando a rivalidade entre as cidades, principalmente entre Esparta e Atenas, resultou numa guerra civil conhecida na história como Guerra do Peloponeso; o mundo grego estava mais do que nunca esfacelado e enfraquecido. Na Grécia antiga, a cada quatro anos declarava-se uma trégua nas guerras, a fim de que a população pudesse participar dos jogos de Olímpia, competição que originou os modernos Jogos Olímpicos, e que eram realizados em honra de Zeus;


Durante o Império Romano, as modalidades de combate foram mais valorizadas e apesar da sobrevida, os Jogos Olímpicos acabaram juntamente com a antiga cultura grega, tendo sido banidos em 393 pelo imperador cristão Teodósio, possivelmente por suas práticas pagãs.

Retomada
Tolerância, fraternidade e igualdade: foi com esses ideais em mente que, em 1892, o barão Pierre de Coubertin apresentou à comunidade esportiva internacional a idéia de ressuscitar os Jogos Olímpicos. Na Grécia antiga, os jogos da cidade sagrada de Olímpia enfatizavam que competir sem vencer equivalia a desonra suprema. As corridas, as lutas, os saltos e os lançamentos de disco e de dardo serviam como a coroação da superioridade do indivíduo, oferecida em homenagem ao deus Zeus.
No entanto, na sociedade contemporânea, embora mantenham como ideal o congraçamento entre os povos, os Jogos Olímpicos têm sido palco de manifestações de conflitos políticos. Em abril de 1896, depois de 15 séculos de interrupção, as Olimpíadas voltaram a ser realizadas, com a participação de 311 atletas de treze países.
Ao contrário do que ocorreu na antiguidade, as guerras não foram suspensas e os conflitos políticos e militares entre as nações afetaram as Olimpíadas ao longo do século XX.
Os Jogos Olímpicos de Londres em 1908 foram marcados por disputas políticas. A Rússia conseguiu que a bandeira da Finlândia não fosse hasteada quando foram entregues as medalhas para o país, pois alegavam que a Finlândia era sua possessão.
Na cerimônia de abertura dos Jogos, o porta-bandeiras dos EUA James Sullivan, nascido na Irlanda e naturalizado norte-americano, recusou-se a prestar reverência à família real em um protesto contra o domínio inglês em seu antigo país.
Em 1932, os Jogos de Los Angeles foram duramente afetados pela depressão econômica que atingia grande parte do mundo, após a quebra da Bolsa de valores de Nova York. No ano em  que o presidente Roosevelt elaborou o New Deal, para a recuperação da economia, mas que teve seus efeitos percebidos nos anos subseqüentes.

As Guerras
Nos anos de 1916, 1940 e 1944, os jogos não ocorreram devido as Grandes Guerras. Terminada a Primeira Guerra Mundial, a Olimpíada seguinte foi realizada na cidade de Antuérpia e não contou com a participação da Alemanha e de seus aliados no conflito que terminara, pois não foram convidados para o evento como parte das punições do pós-guerra. Situação semelhante ocorreu em 1948 (Londres), com o banimento de Alemanha, porém Japão e Itália foram convidados, mas os orientais não compareceram.
Os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, tornaram-se, para muitos, o exemplo emblemático dos esforços dos nazistas para comprovar a superioridade dos arianos, glorificando a força física, a saúde e a pureza racial dos alemães. No entanto, esse mito nazista de superioridade da "raça ariana" foi derrubado pelo negro norte-americano Jesse Owens, vencedor de quatro medalhas de ouro nessa Olimpíada.
A política internacional teve grande impacto nos Jogos de Melbourne, em 1956. Alguns países árabes como Egito, Iraque e Líbano não participaram do evento devido à guerra árabe-israelense, após a nacionalização do Canal de Suez. Holanda, Espanha e Suíça boicotaram os Jogos como protesto pela intervenção do Exército soviético na Hungria. A China Popular abandonou os Jogos para evitar competir com Taiwan.
Guerra Fria
O clima de “Guerra Fria”, apresentada como a disputa internacional entre os blocos capitalista e socialista, liderada por Estados Unidos e União Soviética, apresentou situações distintas; em 1956 as duas “Alemanhas” desfilaram e competiram sob a mesma bandeira, como uma única nação. Em 1949 as zonas de ocupação dos países ocidentais foram transformadas na República Federal da Alemanha capitalista), enquanto que a zona sob influência soviética tornou-se a República Democrática Alemã. Na época ainda não existia o muro de Berlim, construído 6 anos depois das Olimpíadas.
Um certo clima de cordialidade ainda existiu em 1960, em Roma, quando na cerimônia  de encerramento os atletas dos Estados Unidos e da União Soviética trocaram os uniformes e caminharam juntos no estádio Olímpico. Nesse ano, a África do Sul fez sua última aparição antes de ter sua participação interditada por 32 anos devido à política do apartheid.
A Guerra Fria também produziu o efeito inverso, com o boicote dos Estados Unidos e de outros países ocidentais aos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980 – primeira olimpíada organizada por uma país comunista – por conta da invasão soviética no Afeganistão. Em 1984 foi a URSS e 16 de seus aliados que boicotaram os jogos de Los Angeles dos Estados Unidos. Mas isto não impediu um recorde de participações, com representação de 140 países, entre eles China, que voltou depois de 32 anos de ausência.

1968
Duas semanas antes da abertura dos Jogos Olímpicos na Cidade do México, os primeiros na América Latina, aproximadamente 10 mil estudantes ocuparam a Plaza de lãs Três Culturas para protestar contra a presença de soldados nas Universidades públicas e foram violentamente reprimidos numa ação que matou cerca de 300 pessoas. O presidente do COI, o americano Avery Brundage, considerou o problema "problema interno". Durante as competições os atletas estadunidenses Tommie Smith e John Carlos, primeiro e terceiro colocados nos 200 m, subiram ao pódio e, ao som dos primeiros acordes do hino dos Estados Unidos, abaixaram a cabeça e ergueram o punho cerrado com luvas pretas, no gesto de luta tradicional do movimento negro “black power”, diante de milhões de espectadores de todo o mundo. Foram expulsos da delegação dos Estados Unidos, apesar de conservarem suas medalhas.

Munique
No dia 5 de setembro de 1972 um grupo de terroristas invade a Vila Olímpica, mata dois e toma nove integrantes do restante da delegação de Israel como reféns. Assim começou o mais trágico episódio dos Jogos Olímpicos. Membros de um grupo  denominado "Setembro Negro", os seqüestradores queriam a libertação de 236 palestinos presos em Israel, além de um avião para fugir da Alemanha.



A resposta irredutível do governo israelense levou os governo alemão a buscar negociações ao mesmo tempo em que procuraram organizar uma ação armada para o resgate dos reféns. A emboscada preparada pela polícia alemã no aeroporto Fuerstenfeldbrueck foi descoberta pelos terroristas que explodiram um avião e mataram todos os reféns. Cinco terroristas, um atirador de elite e um piloto de helicóptero também morreram após a troca de tiros. O incidente provocou a paralisação dos Jogos por 34 horas. Alguns países, como a Holanda e a Noruega, abandonaram a competição.

O “fim da Guerra Fria”
Em 1988, as olimpíadas ocorreram em Seul, na Coréia do Sul e apenas 6 países boicotaram o evento, em solidariedade á Coréia do Norte. Quatro anos depois, na cidade de Barcelona, a Alemanha unificada competiu com uma única equipe e as quinze repúblicas da antiga União Soviética participaram sob a bandeira da CEI (Comunidade de Estados Independentes)


Claudio Recco é o coordenador do HISTORIANET
Esse texto é parte do livro História em Manchete – no vestibular, editado em 2008

Fonte: www.historianet.com.br

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