sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A REPRESENTAÇÃO CRISTÃ DE TIRADENTES: DE TRAIDOR NO BRASIL COLÔNIA A HERÓI NACIONAL REPUBLICANO.


A figura de Joaquim José da Silva Xavier, o “TIRADENTES”, é uma presença marcante nas aulas de história das séries da Educação Básica. O curioso é que, em um primeiro momento, ele é apresentado como traidor por sua participação na Inconfidência Mineira (1789), sendo inclusive condenado à morte por crime de “lesa-majestade”, e, em um segundo momento, ele é apresentado como herói nacional de nossa República instaurada em 1889. Mas, afinal de contas, como esse personagem, num espaço de 100 anos (1789-1889), vai de traidor a herói nacional, ganhando inclusive representações semelhantes à de Cristo?
A resposta para a pergunta acima deve ser formulada a partir do contexto histórico da Proclamação da República (1889). Quando nosso regime republicano foi instaurado não gozava de simpatia popular. Lembremos aqui que, o golpe republicano foi coordenado por parte de uma facção militar (MOCIDADE MILITAR), contando também com a participação de alguns republicanos civis, mas tudo muito longe de uma participação popular ativa. Murilo de Carvalho chegou a dizer que o povo assistiu a tudo “bestializados”. Somado a isso, o processo de secularização do Estado (separação entre Estado e Igreja) também contribuiu para que a República não conquistasse a simpatia popular. Logo, o regime que chegou ao poder em 1889 tinha uma difícil tarefa: Conquistar o apoio popular.
É nesse contexto que surge a figura heróica e messiânica de Tirandentes. Nossas autoridades republicanas aproveitaram o histórico de vida do nosso personagem, principalmente sua participação na Inconfidência Mineira (só para lembrar que este movimento buscava instaurar uma República independente de Portugal) para torná-lo o grande herói da Pátria que conhecemos hoje. Mas qual foi a estratégia que nossos republicanos utilizaram para transformá-lo em herói?
Ora, em um país de esmagadora maioria cristã como o nosso, qual a grande figura que se destaca quando falamos em justiça, salvação e libertação? Jesus Cristo. Pois ai está a estratégia republicana para tornar Tiradentes o grande herói nacional que conhecemos hoje. Como fizeram isso? Através de representações simbólicas: Tiradentes que provavelmente nunca teve barba, agora apresentava longas barbas. Também adicionaram um camisolão que o mesmo utilizava um pouco antes de sua execução. E assim, semelhante a Cristo, nascia nosso novo herói republicano nacional.

2 comentários:

  1. Oi Professor José Lima, fico honrado que um post do "História, Educação, e Cultura" esteja em seu blog. Abraços e já estou seguindo.

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  2. Boa oportunidade para pensarmos sobre este paradoxo da história brasileira.
    Parabéns pelo blog!

    Maris Stella

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