A educação como um campo de possibilidades
José Lima Dias Júnior*
O estudo e a compreensão da diversidade cultural de um povo contribuem para a construção de uma sociedade democrática.
A obrigatoriedade do estudo da História e Cultura Afro-Brasileira, além do resgate da História dos primeiros habitantes do Brasil (os povos indígenas) no currículo escolar da educação básica, através dos dispositivos da Lei Federal n° 10.639, de 09 de janeiro de 2003, possibilita “uma ruptura do modelo eurocêntrico no ensino e a construção de uma educação multicultural na escola brasileira.” (José Ricardo Oriá Fernandes, Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 378, set./dez. 2005).
É essencial que nós educadores tenhamos uma visão interdisciplinar ao tratar a temática diversidade cultural, e não tê-la como um estudo específico a determinadas disciplinas (Artes, Língua Portuguesa, Literatura, Geografia, História do Brasil), mas que seja trabalhada no contexto de todo o currículo escolar.
A cultura brasileira deve ser pensada a partir de suas múltiplas dimensões. Pois, o que a caracteriza é a riqueza de sua diversidade. O que de fato existe dentro do processo histórico-social é a constituição de várias “culturas brasileiras” (da influência marcante da cultura européia, além da rica pluralidade cultural que herdamos de índios e negros) que contribuíram para a sua formação.
Somos, assim, uma nação multirracial e pluriétnica, de notável diversidade cultural. Nesse sentido, cabe a escola mostrar a participação de outros segmentos sociais (especialmente, índios e negros) no processo histórico do país. Que de forma pejorativa, preconceituosa ou estereotipada aparecem nos livros didáticos e nos discursos de alguns educadores, que por falta de uma formação adequada, discriminam crianças e jovens negros e mestiços.
É importante, observar que currículos e manuais didáticos silenciam, omitem e chega até negar a participação de negros e índios na construção da história e da cultura brasileiras, bem como a condição de sujeitos históricos. As palavras do historiador José Ricardo Oriá Fernandes são bastante elucidativas:
Enquanto o negro brasileiro não tiver acesso ao conhecimento da história de si próprio, a escravidão cultural se manterá no País.
Porém, não cabe aos professores nem a escola abordar as referidas culturas (indígena e africana) de forma “folclorizada e pitoresca” e tratar a cultura de matriz européia como sendo uma “cultura superior e civilizada”.
Apesar disso, não podemos mais aceitar que a escola esteja moldada ou se identifique, somente, com os padrões eurocêntricos, que não compreende, respeita e valoriza a diversidade étnico-cultural. É necessário, urgente, que a escola aprenda a com a diversidade cultural.
Assim, ao invés de silenciar, negar ou omitir as riquezas culturais de índios e negros, é preciso que a escola através do seu Projeto Político Pedagógico estabeleça objetivos que sejam fundamentais no combate ao preconceito e à discriminação, além de possibilitar a “formulação de atitudes e valores essenciais à formação da cidadania de nossos educandos” (Oriá).
Por fim, a pluralidade étnico-cultural que resultou na nossa formação deve ser respeitada e valorizada, pois cabe a nós (educadores e escola) desfazer os preconceitos e estereótipos criados ao longo dos séculos pela ideologia dominante. Mesmo sabendo que a política, assim como, a cultura “modela formas de agir e pensar”, a escola e professores não deve está consubstanciados a um exagerado discurso político-ideológico, onde “faz parte do exercício de poder ocultar a diferença, a construção, decidindo o que deve ser lembrado, como deve ser lembrado e, em contrapartida, o que deve ser esquecido” (Maria do Pilar de Araújo Vieira, ett alli. A Pesquisa em História. 4ª Ed. Ática, São Paulo, 2003, p. 27).
Por isso, é só através de uma escola plural e democrática, e, que contemple em seu projeto pedagógico a riqueza da diversidade étnico-cultural (de matriz afro-brasileira e indígena) de nosso país que possibilitaremos aos afrodescendentes e aos povos indígenas uma melhor compreensão do seu passado, dos seus costumes, tradições, da sua história, isto é, da sua cultura.
A existência de muitas culturas em nosso país, expressa no multiculturalismo ou no pluralismo cultural, não deve ser permitido por nós que uma delas predomine, mas que passe a conviverem entre si, buscando sempre o “respeito e valorização das diferenças sócio-culturais”.
Partindo deste pressuposto, precisamos, nesta “aldeia global” de culturas e tradições, para identificar aquelas que são as nossas origens, ou seja, nossas raízes, o legado esquecido da nossa história que começa com os povos indígenas, depois, com a contribuição do africano e não apenas nas heranças culturais deixadas pelos colonizadores europeus.
Professor de História da rede municipal de ensino/Mossoró - RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário