domingo, 16 de outubro de 2011

Luz de lampião

Luiz Bernardo Pericás
Luz de lampião
Historiador Luiz Bernardo Pericás lança luz nova sobre um tema ainda controverso na História brasileira

Por Robson Rodrigues

                     

LUIZ BERNARDO PERICÁS é formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México). Foi Visiting Scholar na Universidade do Texas. É também autor de Che Guevara: a luta revolucionária na Bolívia (Xamã, 1997), Um andarilho das Américas (Elevação, 2000), Che Guevara and the Economic Debate in Cuba (Atropos, 2009) e Mystery Train (Brasiliense, 2007)

O cangaço, um dos mais importantes fenômenos sociais brasileiros, volta a chamar a atenção da historiografia nacional. O livro Os Cangaceiros, Ensaio de Interpretação Histórica, do historiador Luiz Bernardo Pericás, esclarece aspectos de um tema ainda controverso na história do Brasil e pouco explorado por outros pesquisadores.
Tema já retratado por grandes nomes da literatura como Graciliano Ramos e José Lins do Rego, porém no caso destes autores com uma abordagem mais literária. O historiador Luiz Bernardo Pericás avança nas análises utilizando documentação nova, rigor científico e atenção ao contexto do assunto. O resultado do trabalho foi a publicação pela editora Boitempo.
O livro deve se tornar um clássico do assunto em pouco tempo, com um mergulho a fundo no mundo dos grandes personagens que marcaram a história do cangaço no Brasil. Pericás desmistifica impressões pré-estabelecidas a respeito do fenômeno que foi o cangaço e explicita a importância de um registro detalhado dessa peça da história do nordeste brasileiro, nos dias de hoje.
Entre herói e vilão, o cangaço trouxe à tona os problemas sociais do Brasil. Elucidar um entendimento mais amplo dessa questão, como o proposto pelo historiador talvez proporcione uma revisão histórica dos estigmas e mitos que o cangaço carrega até hoje. Na medida em que o movimento transformou a realidade nordestina, o que resta não é acusar ou perdoar, mas tão somente compreender.
Leituras da História (LDH) – Como surgiu o interesse pelo tema do Cangaço?
Luiz Bernardo Pericás (LBP) –
Desde meus tempos de garoto me interesso pelo tema, mas, como a maioria dos brasileiros, o que eu conhecia eram versões ficcionalizadas ou romantizadas daqueles bandoleiros em livros, cordéis e filmes. Talvez, a primeira imagem que me marcou profundamente em relação ao cangaço foi o filme Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. Depois, assisti a uma grande quantidade de filmes sobre o assunto, como O cangaceiro, de Lima Barreto, Memórias do cangaço, de Paulo Gil Soares e Thomas Farkas, Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry, entre tantos outros. E li bastante sobre o cangaceirismo, assim como realizei viagens para o sertão e agreste do Nordeste brasileiro, para colher material e depoimentos.
Percebi que muito do que havia sido escrito era tratado de forma literária, sem rigor ou caráter científico. Diversos livros estavam esgotados, fora de catálogo; ou seja, eram de difícil acesso ao grande público. Também notei que as interpretações sobre esse fenômeno social eram por vezes divergentes, com pouca profundidade e excessivamente carregadas de preconceitos ou ideologias de época. Assim, achei que valia a pena tentar dar uma nova contribuição sobre esse assunto.


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Fonte: Portal Ciência & Vida 

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