quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Entre a Democracia e o Fascismo

Entre a Democracia e o Fascismo
Um General no arame
A história do delicado equilíbrio do Ministro da Guerra de Vargas entre a sedução exercida pelos Nazistas e a pressão do Governo Roosevelt

Por Roberto Lopes



DIP
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DUTRA FOI O SEGUNDO MARIDO DA PROFESSORA CARMELA TELES, A SANTINHA, UMA CATÓLICA DEVOTA
“Como seja do seu possível interesse, informação recebida de uma fonte confidencial, acredita-se que confiável, aponta que a Sra. Santinha de Correa Dutra, esposa do Ministro da Guerra Brasileiro, General Eurico Dutra, exibe simpatias pró-Nazi e se reporta que está tentando converter suas ligações procedentes do mais alto estrato da sociedade Brasileira para o Nazismo. À Sra. Dutra também é atribuída a declaração de que se o Brasil for à guerra, seus dois filhos poderiam ser os primeiros a desertar do Exército Brasileiro”.
No início da segunda semana de outubro de 1942, esse curto alerta preparado por J. Edgar Hoover, o Diretor do FBI – a famosa Polícia Federal Americana –, “queimou” os dedos de Adolf A. Berle, o Secretário-Assistente de Estado (espécie de ministro adjunto das Relações Exteriores dos Estados Unidos) para Assuntos Latinoamericanos.
Hoover e Berle tinham a mesma idade – 47 anos – e, ao longo daqueles anos de guerra, desenvolveriam uma densa cooperação. Mas no último trimestre de 1942, espionar a irascível professora Carmela Teles Leite Dutra – a “Dona Santinha”, de 58 anos –, mulher do chefe do Exército do Brasil, era um atividade tão delicada quanto arriscada.
Afinal, há menos de dois meses o Governo Vargas declarara guerra à Alemanha de Hitler. Por tudo isso, Hoover classificou sua mensagem para Berle de “PESSOAL E CONFIDENCIAL”, e mandou que ela fosse entregue no gabinete do destinatário por “MENSAGEIRO ESPECIAL”.
Filhos
Na verdade, não apenas Berle a recebeu. As desconfianças do FBI acerca das inclinações políticas de Santinha Dutra foram parar também nas mesas do Diretor de Inteligência Naval – que mantinha um oficial informante no Rio de Janeiro –, e do General Hayes Adlai Kroner, de 52 anos, o respeitado Chefe do Serviço de Inteligência Militar da Força Terrestre Americana. Aquele era um tempo em que o General Dutra vinha se aproximando do Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, General George C. Marshall. Deixar vazar aquela informação sobre a vigilância dos passos de “Dona Santinha”, equivaleria a colocar tudo a perder.
O GENERAL MARSHALL, DOS EUA, CONDECOROU O MINISTRO DA GUERRA DO BRASIL; DUTRA, MAIS TARDE VISITOU AS TROPAS BRASILEIRAS QUE LUTAVAM NA ITÁLIA (ABAIXO)

“Santinha” era viúva do oficial do Exército José Pinheiro Uchoa Cintra, com quem tivera um casal de filhos: Carmelita e José. A Eurico, 15 meses mais velho do que ela – e que desposou quando ele ainda era 2º Tenente –, era daria outro casal de rebentos: Emilia (nome da mãe dela) e Antônio. José seguiu carreira de oficial do Exército (e chegou a General), mas nem ele, nem os seus três irmãos jamais manifestaram um sentimento anti-americano.

Pêndulo
O cuiabano Dutra formou-se na Escola de Estado-Maior do Exército ainda em 1922, e apesar de ter cursado a Escola Preparatória e Tática do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, não participou da Revolução de 1930, chefiada pelo gaúcho Getúlio Dornelles Vargas. Bem ao contrário disso, ele esperou para sentir se a Revolução de 1930 vingaria – e só então, discretamente, aderiu a ela.
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