A Teoria de Darwin
Por Claudio Recco
Julho de 2008
Introdução
Foi em 1858 que Charles Darwin apresentou a teoria da seleção natural das espécies. Pela primeira vez na história um estudioso apresentava uma hipótese racional e materialista sobre a evolução e expunha um novo ponto de vista para a origem do ser humano, causando grande polêmica, na medida em que sua teoria se contrapunha ás teses teológicas, que atribuíam ao homem uma origem divina.
Darwin estudou teologia na Universidade de Cambridge e posteriormente embarcou no navio Beagle, rumo a América do Sul, passando ainda pela África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, numa viagem de três anos, durante os quais observou que a fauna das distintas ilhas era similar, ainda que existissem variações muito significativas. Depois de um exaustivo trabalho empírico, supôs que as espécies não são imutáveis e que podem sofrer mudanças para sobreviver e se adaptar melhor ao meio.
Teoria
A partir de 1838 Darwin deu forma a uma teoria sobre a evolução dos seres vivos, incluindo a idéia de “seleção natural”, segundo a qual só sobreviviam os indivíduos de uma mesma espécie que sofriam mutações para se adaptar às mudanças da natureza, que eram incorporadas pelas gerações seguintes, possibilitando a continuidade de sua existência e sua evolução, incluindo os seres humanos.
No final de 1859, foi publicada a obra “A Origem das Espécies”, cuja primeira edição se esgotou num dia. As idéias apresentadas na obra criaram grande polêmica, que alcançou grande dimensão devido ao destaque dado pela imprensa, ampliando a repercussão fora do âmbito acadêmico. Apesar da agitação criada a partir da mídia, a comunidade científica valorizou suas idéias, que estavam bem argumentadas com uma sólida base de observações empíricas. A polêmica envolveu uma sociedade marcada pelo conservadorismo, determinado pela forte influência das concepções religiosas e do moralismo da época, que se recusava a aceitar sua visão científica.
Em 1871, Darwin publicou A origem do homem e a seleção natural. Ainda que a obra anterior - A origem das espécies - lhe parecesse suficiente para compreender a origem do homem e seu desenvolvimento, procurou satisfazer uma parte importante dos naturalistas que admitiam como princípio a seleção natural. Com essa nova obra, Darwin tratou de três problemas fundamentais. Primeiro: precede o homem, como qualquer outra espécie, de outra forma preexistente? Segundo: como ocorreu a evolução humana? Terceiro: como se explicam as diferenças entre os grupos humanos? Como Darwin receava inicialmente, a publicação da sua obra provocou intensas polêmicas por conta da hipótese de que o homem procedia de espécies inferiores e seu antepassado mais próximo era o macaco.
Era Vitoriana
A Rainha Vitória ascendeu ao trono inglês em 1837 e governou até 1901, quando faleceu. Esse perído ficou conhecido na história como “Era Vitoriana”, e foi caracterizado pela ascensão da classe média, pela moral conservadora, pelo intenso nacionalismo e por grande popularidade da soberana - uma época ainda de florescimento cultural e político, em que se amplia a participação dos cidadãos no governo.
Foi a época em que o imperialismo britânico se expandiu por todos os continentes, exercendo grande influência nos países americanos recém independentes da América – destacando-se a participação na organização da economia e da política externa do Brasil, como por ocasião da Guerra contra o Paraguai – da África à Oceania. Foi a época do Neocolonialismo, apoiado no poder econômico, militar, mas também nas teorias de superioridade do homem branco europeu, entendido como “cientifica” desde as teorias de Darwin, que foram usadas para sustentar a idéia de “missão civilizadora”. Era o “darwinismo social”.
Foi a época da intensa repressão aos movimentos sociais de populações afro-asiáticas, como a Guerra do Ópio, a Guerra dos Cipaios, a Guerra dos Boxers e a Guerra dos Bôeres. As vitórias inglesas garantiram a ampliação dos mercados aos produtos e capitais britânicos, que promoveram o enriquecimento da burguesia e possibilitaram ao Estado estender parte de seus ganhos a setores sociais até então marginalizados, assim como garantir direitos políticos e sociais para todas as camadas.
Essa situação de expansão econômica e de direitos se combinou com o discurso e comportamento puritanos da realeza, amparada pela Igreja Anglicana e assimilado pelo povo, que via positivamente o comportamento dos governantes, que deveriam ser tomados como modelo.
O ensino
Se entre os biólogos e os cientistas naturais a Teoria da Evolução é amplamente aceita e encontra pouca resistência, essa teoria ainda é de difícil compreensão para parcela significativa da população que, apesar de conhecer o trabalho de Darwin, a seleção natural e a evolução das espécies, conhece superficialmente, ou seja, de maneira preconceituosa e cheia de dúvidas. A falta de pesquisa e debate no ensino faz com que existam lacunas, situações não explicadas, portanto, não muito claras para os estudantes, que acham estranho ou desagradável descender de macacos e por isso passam a desconfiar, ou a não aceitar a Teoria da Evolução. Quando se ensina a Teoria Sintética da Evolução é necessário explicar corretamente os conceitos, para que se perceba que homens e macacos tiveram um ancestral comum, não exatamente um macaco, mas um primata”.
Criacionismo
Os criacionistas, grupo que apóia a visão bíblica de que Deus criou o mundo em seis dias há aproximadamente 6 mil anos, já investiram várias vezes contra a teoria de Darwin.
No entanto, nos últimos anos, os criacionistas deixaram de lado o discurso radical fundamentalista, tradicionalmente feito por religiosos que bradavam seus dogmas erguendo a bíblia, e os substituíram por uma teoria que se mostra mais racional e menos dogmática.
A Teoria do Plano Inteligente (IDT) é a forma de criacionismo mais recente, considerada mais sofisticada e que se apresenta com menor vigor religioso, preocupada em contestar a teoria evolucionista, utilizando um discurso científico. Essa teoria nasceu no Discovery Institute de Seattle, um centro conservador inaugurado em 1990. Os defensores modernos do criacionismo procuram se colocar no campo do debate científico, mas ao mesmo tempo se consideram como uma “ponte entre ciência e religião”, não escondendo a base religiosa da teoria em questão.
A mais recente polêmica ocorreu no Kansas (EUA), numa disputa jurídica quanto ao ensino sobre a origem da vida nas escolas. Nos últimos anos, numa séria de questões polêmicas – que incluí a eleição presidencial – nos Estados Unidos, e não apenas no debate sobre a criação, destaca-se a recuperação da influência do fundamentalismo religioso no país. No Brasil, a ex-governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho, introduziu o ensino do criacionismo como obrigatório nas escolas estaduais.
Julho de 2008
Introdução
Foi em 1858 que Charles Darwin apresentou a teoria da seleção natural das espécies. Pela primeira vez na história um estudioso apresentava uma hipótese racional e materialista sobre a evolução e expunha um novo ponto de vista para a origem do ser humano, causando grande polêmica, na medida em que sua teoria se contrapunha ás teses teológicas, que atribuíam ao homem uma origem divina.
Darwin estudou teologia na Universidade de Cambridge e posteriormente embarcou no navio Beagle, rumo a América do Sul, passando ainda pela África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, numa viagem de três anos, durante os quais observou que a fauna das distintas ilhas era similar, ainda que existissem variações muito significativas. Depois de um exaustivo trabalho empírico, supôs que as espécies não são imutáveis e que podem sofrer mudanças para sobreviver e se adaptar melhor ao meio.
Teoria
A partir de 1838 Darwin deu forma a uma teoria sobre a evolução dos seres vivos, incluindo a idéia de “seleção natural”, segundo a qual só sobreviviam os indivíduos de uma mesma espécie que sofriam mutações para se adaptar às mudanças da natureza, que eram incorporadas pelas gerações seguintes, possibilitando a continuidade de sua existência e sua evolução, incluindo os seres humanos.
No final de 1859, foi publicada a obra “A Origem das Espécies”, cuja primeira edição se esgotou num dia. As idéias apresentadas na obra criaram grande polêmica, que alcançou grande dimensão devido ao destaque dado pela imprensa, ampliando a repercussão fora do âmbito acadêmico. Apesar da agitação criada a partir da mídia, a comunidade científica valorizou suas idéias, que estavam bem argumentadas com uma sólida base de observações empíricas. A polêmica envolveu uma sociedade marcada pelo conservadorismo, determinado pela forte influência das concepções religiosas e do moralismo da época, que se recusava a aceitar sua visão científica.
Em 1871, Darwin publicou A origem do homem e a seleção natural. Ainda que a obra anterior - A origem das espécies - lhe parecesse suficiente para compreender a origem do homem e seu desenvolvimento, procurou satisfazer uma parte importante dos naturalistas que admitiam como princípio a seleção natural. Com essa nova obra, Darwin tratou de três problemas fundamentais. Primeiro: precede o homem, como qualquer outra espécie, de outra forma preexistente? Segundo: como ocorreu a evolução humana? Terceiro: como se explicam as diferenças entre os grupos humanos? Como Darwin receava inicialmente, a publicação da sua obra provocou intensas polêmicas por conta da hipótese de que o homem procedia de espécies inferiores e seu antepassado mais próximo era o macaco.
Era Vitoriana
A Rainha Vitória ascendeu ao trono inglês em 1837 e governou até 1901, quando faleceu. Esse perído ficou conhecido na história como “Era Vitoriana”, e foi caracterizado pela ascensão da classe média, pela moral conservadora, pelo intenso nacionalismo e por grande popularidade da soberana - uma época ainda de florescimento cultural e político, em que se amplia a participação dos cidadãos no governo.
Foi a época em que o imperialismo britânico se expandiu por todos os continentes, exercendo grande influência nos países americanos recém independentes da América – destacando-se a participação na organização da economia e da política externa do Brasil, como por ocasião da Guerra contra o Paraguai – da África à Oceania. Foi a época do Neocolonialismo, apoiado no poder econômico, militar, mas também nas teorias de superioridade do homem branco europeu, entendido como “cientifica” desde as teorias de Darwin, que foram usadas para sustentar a idéia de “missão civilizadora”. Era o “darwinismo social”.
Foi a época da intensa repressão aos movimentos sociais de populações afro-asiáticas, como a Guerra do Ópio, a Guerra dos Cipaios, a Guerra dos Boxers e a Guerra dos Bôeres. As vitórias inglesas garantiram a ampliação dos mercados aos produtos e capitais britânicos, que promoveram o enriquecimento da burguesia e possibilitaram ao Estado estender parte de seus ganhos a setores sociais até então marginalizados, assim como garantir direitos políticos e sociais para todas as camadas.
Essa situação de expansão econômica e de direitos se combinou com o discurso e comportamento puritanos da realeza, amparada pela Igreja Anglicana e assimilado pelo povo, que via positivamente o comportamento dos governantes, que deveriam ser tomados como modelo.
O ensino
Se entre os biólogos e os cientistas naturais a Teoria da Evolução é amplamente aceita e encontra pouca resistência, essa teoria ainda é de difícil compreensão para parcela significativa da população que, apesar de conhecer o trabalho de Darwin, a seleção natural e a evolução das espécies, conhece superficialmente, ou seja, de maneira preconceituosa e cheia de dúvidas. A falta de pesquisa e debate no ensino faz com que existam lacunas, situações não explicadas, portanto, não muito claras para os estudantes, que acham estranho ou desagradável descender de macacos e por isso passam a desconfiar, ou a não aceitar a Teoria da Evolução. Quando se ensina a Teoria Sintética da Evolução é necessário explicar corretamente os conceitos, para que se perceba que homens e macacos tiveram um ancestral comum, não exatamente um macaco, mas um primata”.
Criacionismo
Os criacionistas, grupo que apóia a visão bíblica de que Deus criou o mundo em seis dias há aproximadamente 6 mil anos, já investiram várias vezes contra a teoria de Darwin.
No entanto, nos últimos anos, os criacionistas deixaram de lado o discurso radical fundamentalista, tradicionalmente feito por religiosos que bradavam seus dogmas erguendo a bíblia, e os substituíram por uma teoria que se mostra mais racional e menos dogmática.
A Teoria do Plano Inteligente (IDT) é a forma de criacionismo mais recente, considerada mais sofisticada e que se apresenta com menor vigor religioso, preocupada em contestar a teoria evolucionista, utilizando um discurso científico. Essa teoria nasceu no Discovery Institute de Seattle, um centro conservador inaugurado em 1990. Os defensores modernos do criacionismo procuram se colocar no campo do debate científico, mas ao mesmo tempo se consideram como uma “ponte entre ciência e religião”, não escondendo a base religiosa da teoria em questão.
A mais recente polêmica ocorreu no Kansas (EUA), numa disputa jurídica quanto ao ensino sobre a origem da vida nas escolas. Nos últimos anos, numa séria de questões polêmicas – que incluí a eleição presidencial – nos Estados Unidos, e não apenas no debate sobre a criação, destaca-se a recuperação da influência do fundamentalismo religioso no país. No Brasil, a ex-governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho, introduziu o ensino do criacionismo como obrigatório nas escolas estaduais.
Fonte: www.historianet.com.br
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