sábado, 16 de abril de 2011

Sobre as origens da História

Existem interessantes polêmicas sobre se a origem da História teria se dado a partir de um desdobramento da Filosofia ou de um desdobramento da Poesia. Charles Norris Cochrane (1889-1945), por exemplo, em seu ensaio Cristandade e Cultura Clássica (1944, cap.12), irá conceber a História proposta por Heródoto como um desdobramento do desenvolvimento da filosofia grega (ele acredita ser possível propor a hipótese de que Heródoto havia sido discípulo de Heráclito; e, de certa maneira, não seria mesmo possível encontrar tutor filosófico mais apropriado para esta ciência do devir humano). Por outro lado, a Mitologia autoriza a encetar uma aproximação entre a História e a Poesia. Ambas – Clio e Erato – eram musas, e filhas de Mnemosine (a “Memória”). É também na mesma categoria que Aristóteles dispõe a tarefa do Historiador e a tarefa do Poeta, pois ambos teriam seus olhos e sensibilidades voltados para a Práxis – isto é, para as “ações humanas” – e cada um a seu modo teria por responsabilidade fazer perdurarem estas ações. Sem o historiador e o poeta, capazes de assegurar a recordação dos grandes feitos e a presentificação das belas ações através da invenção poética, tudo aquilo que se refere ao mundo da Práxis deixaria de existir no instante imediato à realização das ações, sem deixar quaisquer vestígios. Desta maneira, tanto a História como à Poesia teriam por referência este mundo das ações humanas, ao contrario da Filosofia, que se volta para o mundo da Theoria (contemplação das coisas que pairam acima do homem).

Hannah Arendt, aliás, desenvolve uma brilhante digressão sobre o tema: antes mesmo de Heródoto, a História aparece como uma realidade imaginada no interior da poesia grega. “Poeticamente, seu início encontra-se no momento em que Ulisses, na corte do rei dos Feácios, escutou a estória dos seus próprios feitos e sofrimentos, a estória de sua vida, agora algo de fora dele próprio, um ‘objeto’ para todos verem e ouvirem. O que fora pura ocorrência torna-se agora ‘História’” (ARENDT, 2009, p.74)


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Este pequeno trecho foi extraído de uma nota do primeiro capítulo do 'Volume II' de Teoria da História (p.32). No primeiro volume da série (capítulo 1), também é desenvolvido um capítulo mais extenso que principia por discutir a formação dos campos disciplinares, de maneira geral, e que toma a História como um dos exemplos (BARROS,José D'Assunção.Teoria da História, volume I: Princípíos e Conceitos Fundamentais. Petrópolis: Editora Vozes. 2011, p.17-40).

Fonte: Rede Histórica, em 10/04/2011.

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