quinta-feira, 29 de julho de 2010

A ação evangelizadora dos Carmelitas

A presença da Ordem Carmelita em terras brasileiras remota desde o ano de 1580, quando os frades carmelitas aportaram em Olinda/PE, passando a concorrer com outras ordens religiosas na catequese indígena. Sua existência se deu após a chegada dos jesuítas, em São Vicente (SP), em 1549. Depois estabeleceram-se na Bahia, em 1581, os Beneditinos. Em 1585, chega a Pernambuco os Franciscanos ou "Capuchos da Reforma de Fr. Gomes do Porto", ambos com o propósito de levar a "Fé Católica" àqueles indígenas e convertê-los em vassalos da Coroa Portuguesa.

Os operários da "Religião de Jesus Cristo" notabilizaram-se pela coragem, bravura, audácia e obstinação na conversão dos gentios percorrendo longas jornadas pelos incultos sertões do Norte e Sul do Brasil. Sem a missão apostolar dos missionários seriam, ainda hoje, desconhecidos para nós "os famosos Rios Paraná, Madeira, Tocantis, Solimões, Negro e tantos outros que regam um país imenso (...)", ressalta o Fr. Carmelita André Prat. É notório que, a necessidade de evangelização e exploração dos índios através das Missões (ou aldeamentos), serviram para instrumentalizar a prática missionária e legitimar o domínio da expansão colonial dos países ibéricos (Portugal e Espanha).

Avançando progressivamente sobre as terras indígenas, os portugueses protegidos em suas armas de fogo "procuraram estabelecer currais de gados" no interior da Providência do RN. O prélio da "Guerra dos Bárbaros", ocorrida na região da ribeira do Assu, foi enquadrada pelos colonizadores como "guerras justas", onde a violência contra a população indígena foi uma constante. A Legislação portugues da época, ora condenando os abusos praticados pelos colonos, ora autorizando a escravidão dos silvícolas, quiçá tenha levado a ação missionária dos Frades Carmelitas, em terras potiguares, em "empreender a Catequese dos Índios".

"De fato, embora houvesse o objetivo evangelizador para a Igreja, o que estava em jogo era controle da mão-de-obra indígena a ser utilizada nas fazendas de gados e nas missões de aldeamentos", observa Denise Mattos Monteiro (Departamento de História/UFRN). Aqui, cabe suscitar um questionamento acerca do primeiro núcleo de povoamento na ribeira do Rio Mossoró/Upanema. Não seria a edificação dos Carmelitas em 1701, localizada na serra Carmo, uma alternativa para o processo de pacificação das populações indígenas às margens do rio Assu, que após a "Guerra dos Bárbaros" passaram a vagar pelo interior da Paraíba e do Ceará, a procura de abrigo e fugindo da violência dos colonizadores? É sabido de todos, que no ano de 1694, o Rei de Portugal ordena que fossem fundadas novas povoações e vilas com a presença de índios pacificados e cristianizados para o povoamento "em diferentes pontos do sertão", como ocorreu com a fundação do Arraial do Assu, que recebeu o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, em 1696. Conforme Denise Monteiro: "Em 1700, tentando fixar essa população de indígenas sobreviventes e errantes, atraindo-os para o convívio dos padres, o rei de Portugal determinou que a cada Missão de Aldeamento fosse dada 1 légua quadrada de terra (36 Km, aproximadamente). Dessa forma, porções de terra poderiam voltar a ser utilizadas pelos indígenas, mas através do controle missionário" (Introdução à História do RN, EDUFRN).

Apesar das missões ou reduções, estabelecidas pelas Ordens Religiosas colaborarem para o ajustamento do sistema de dominação, onde o modo de ser e de viver dos índios foram deformados, isso não desqualifica a importância dos serviços prestados pelos missionários carmelitas. Não obstante, o sistema de ideias e representações dos indígenas cristianizados passaram a ser impregnados de valores e preconceitos do grupo social dominante. Assim sendo, tal situação não tira o papel da ação evangelizadora dos Frades Carmelitas.

Segundo Frei Tito Figuerôa de Medeiros, do Convento de Recife, no lançamento da segunda edição da célebre obra (Notas Históricas sobre as Missões Carmelitas no Extremo Norte do Brasil, Séculos XVII e XVIII) do Frade Carmelita André Prat, cuja publicação ficou a cargo da Coleção Mossoroense. Nesta obra, Fr. Tito em sua apresentação elenca uma lista das descobertas feita pelos carmelitas tais como: a quina (encontrada na casca de certas plantas que têm propriedades febrífugas), da borracha ete. Ademais, observa a participação dos missionários na "vacinação dos índios contra varíola, da máquina de extrair a lã do algodão entre outras descobertas. Contudo, estas ações são dignas de louvor, apesar de estarem (os religiosos de todas as Ordens) a serviço dos Reis de Portugal e contribuírem para garantir a dominação e destruição de inúmeras culturas indígenas, os Carmelitas tiveram um papel imprescindível para a atual configuração do espaço geográfico brasileiro.



Texto escrito em outubro de 2004.

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