Índios saem do isolamento no Acre e buscam contato com o 'mundo exterior'
Funai enviou uma equipe para estabelecer contato com os índios, cuja origem ainda é desconhecida
Índios isolados do Acre, fotografados de um avião alguns anos atrás
Gleison Miranda/FUNAI/Survival (2011)
Índios de uma etnia não identificada resolveram deixar sua situação de isolamento na floresta amazônica e fazer contato com o "mundo exterior" pela primeira vez no final do mês passado, segundo uma nota divulgada pela Funai no dia 1º de julho e reproduzida na terça-feira (8) por uma reportagem no site de notícias da revista Science -- que transformou o caso em notícia internacional.
O contato ocorreu na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, na fronteira do Acre com o Peru. Foi pacífico, apesar de os índios da aldeia (da etnia Ashninka) terem se assustado com o aparecimento dos "forasteiros". Não se sabe ainda de onde eles vieram ou o que os motivou a sair do isolamento -- ameaças de madeireiros ou produtores de cocaína no Peru são duas hipóteses bem plausíveis, dado o histórico de conflitos com esses grupos na região (leia mais aqui). Uma equipe de contato da Funai, incluindo médicos e linguistas, foi enviada para o local, liderada pelo sertanista José Carlos Meirelles.
Será muito interessante acompanhar o que eles poderão aprender sobre esses índios. Trata-se de uma oportunidade única de saber mais sobre como vivem essas tribos isoladas da Amazônia, já que a política padrão da Funai é não fazer contato com elas, a não ser que sua sobrevivência esteja ameaçada (entre outras razões, porque fazer esse contato, por mais bem intencionado que seja, pode se transformar numa sentença de morte para os índios, por causa de transmissão de doenças).
Imagine só que incrível seria poder sentar para conversar com um desses índios -- pessoas que sobrevivem totalmente da floresta, sem qualquer contato com o mundo exterior e sem o auxílio de qualquer tipo de tecnologia, além daquelas desenvolvidas por eles próprios; pessoas que nunca viram um carro, uma televisão ou um telefone; que nunca ouviram falar de guerras mundiais, países, eleições nem Copa do Mundo, Jesus Cristo nem Maomé. O que será que eles comem, no que acreditam e o que pensam ser aqueles pontos luminosos no céu da noite? Tem algum tipo de religião? Como enterram seus mortos? Como tratam suas doenças? Seria como estudar a cultura de um povo antigo, só que olhando para uma pessoa de carne e osso, em vez de um hieroglifo.
E eles, o que poderiam aprender conosco?
A notícia da Science (em inglês) pode ser lida aqui.
O site Amazônia Real publicou uma reportagem mais detalhada sobre o assunto.
Nenhuma imagem dos índios foi divulgada pela Funai até agora. A foto acima foi divulgada em 2011, após um sobrevoo na região, para o lançamento de uma campanha de proteção ao território dessas tribos isoladas. A tribo que aparece na imagem não é necessariamente a mesma dos índios que fizeram contato agora na Aldeia Simpatia.
Abaixo, a nota da Funai:
A Fundação Nacional do Índio vem publicamente informar que no dia 29 de junho de 2014 um povo indígena isolado estabeleceu contato com indígenas Ashaninka e servidores da Funai, na Aldeia Simpatia, na Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no estado do Acre.
O contato ocorreu com a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira e o sertanista José Carlos Meirelles, da Assessoria Indígena do Governo do Estado do Acre. A FPE Envira vinha acompanhando a aproximação dos índios isolados desde o dia 13 de junho. A permanência do grupo isolado na região ocorre de forma pacífica.
No presente momento, a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém contatados - CGIIRC, juntamente com o Distrito Sanitário Especial Indígena - DSEI, do Alto Rio Juruá/Secretaria Especial de Saúde Indígena, encontram-se na região para dar início ao Plano de Contingência para Situações de Contato. A equipe de servidores no local está qualificando as informações por meio de interpretes para que haja maior conhecimento deste grupo indígena.
A Politica de Proteção aos Índios Isolados da Funai tem a premissa do não contato, respeitando a autodeterminação dos povos e realizando o trabalho de proteção territorial com a presença destes. No entanto, são previstas ações de intervenção - planos de contingência - quando o grupo indígena isolado procura estabelecê-lo.
Fonte: Jornal Estadão
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