domingo, 24 de agosto de 2014

O dia em que todo o Brasil chorou

Publicação: 24 de Agosto de 2014 às 00:00 | Comentários: 0
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Ricardo WestinAgência Senado

Em quase 19 anos como presidente, Getúlio Vargas nunca havia sido atingido por ataques tão pesados quanto os desferidos em agosto de 1954. A exigência de que renunciasse ecoava no Congresso Nacional, nas Forças Armadas, na imprensa e na sociedade. Da tribuna do Palácio Monroe, sede do Senado no Rio, Othon Mader (UDN-PR) bradou: “O senhor Getúlio Vargas domina o Brasil há anos. Se nada fez pela pátria até agora, o que mais poderá realizar em um ano e poucos meses que lhe restam de mandato? É hoje apenas o presidente nominal. Compactua com todos os abusos e já não exerce o poder. A opinião nacional reclama o afastamento como condição para reingressarmos num regime de segurança. O senhor Getúlio Vargas praticaria um ato de patriotismo se atendesse ao apelo da nação”, dizia Mader.
DivulgaçãoGetúlio Vargas com o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt na visitam a Base Aérea de Natal, em 1943Getúlio Vargas com o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt na visitam a Base Aérea de Natal, em 1943

O senador não previa que a crise chegaria ao fim dias depois nem que seria de forma tão brusca e dramática. Getúlio não renunciou. Na manhã de 24 de agosto, ainda vestindo pijama, deu um tiro no coração. O fatídico suicídio completa 60 anos neste domingo.

O Arquivo do Senado guarda os discursos feitos pelos senadores naquele agosto. As falas permitem entender, pelo prisma do Senado, um dos episódios mais surpreendentes da história nacional. O governo estava em crise, por causa de denúncias de corrupção, mas perderia de vez as rédeas da situação com o atentado da Rua Tonelero. Na madrugada de 5 de agosto, o jornalista Carlos Lacerda saía de casa, no Rio, quando foi surpreendido por um atirador. Dono do jornal Tribuna da Imprensa, ele era o mais virulento crítico de Getúlio. Lacerda escapou, mas o major da Aeronáutica que o acompanhava levou um tiro mortal. Uma investigação concluiu que a emboscada fora tramada por Gregório Fortunato, chefe da equipe de segurança de Getúlio.

Desde o atentado, não houve dia em que senadores não tenham subido à tribuna para exigir a renúncia. Bernardes Filho (PR-MG) argumentou que, tendo o crime respingado no presidente, só lhe restaria seguir o exemplo de dom Pedro I e do marechal Deodoro e deixar o poder: “A responsabilidade pela emboscada da Rua Tonelero não para no pavimento térreo do Palácio do Catete, de onde partiram os empreiteiros para a execução do crime. Ela sobe ao segundo andar e envolve indiretamente o senhor Getúlio Vargas. Infelizmente, a Constituição e a lei não previram punição para o presidente que acoitasse um bando de homicidas nos quartos baixos do palácio.”

Em razão da morte do major, as Forças Armadas entraram com tudo na campanha pela renúncia de Vargas. Os políticos da oposição davam a entender que, se Getúlio ignorasse as pressões, apoiariam os militares num golpe para tirá-lo do Catete à força. O senador Hamilton Nogueira (UDN-DF) discursou: “O senhor Getúlio Vargas quer ensanguentar o Brasil. Às classes armadas está dado o poder de trazer a tranquilidade ao país. A Aeronáutica já demonstrou seu ponto de vista. A Marinha está solidária com a Aeronáutica (....) As Forças Armadas saberão cumprir seu dever.

Até o vice-presidente da República mudou de lado. Café Filho — que, por ser vice, era também presidente do Senado, como mandava a Constituição — usou os microfones do Palácio Monroe para anunciar que havia proposto a Getúlio Vargas a renúncia de ambos. O Congresso elegeria o sucessor para terminar o mandato.

“Era uma solução que colocaria os interesses nacionais acima de quaisquer sentimentos pessoais ou partidários. Sua Excelência disse que precisava pensar e prometeu-me uma decisão, que ontem me foi transmitida de modo negativo”, contou o vice, na véspera do suicídio.

Impacto deixou oposição assustada
Diante dos ataques incessantes, os senadores governistas se apequenaram. Eles simplesmente não conseguiam responder à altura. Gomes de Oliveira (PTB-SC) tentou argumentar que a morte do major havia sido um “incidente pessoal”, e não uma agressão aos militares, e que as eleições estavam próximas:

“Achamo-nos às vésperas de uma eleição, que no próximo ano renovará o Poder Executivo, e não temos paciência de esperar. Em vez disso, queremos logo que as Forças Armadas, chamadas a resolver o incidente, levem o país à desordem e às armas.

Na manhã do dia 24, a notícia do suicídio se espalhou pelo país. Os brasileiros se inteiraram pelo rádio, atônitos. O senador governista Dario Cardoso (PSD-GO) afirmou: “Indescritíveis são o meu pesar e a minha perturbação ante o ocorrido, em cuja realidade ainda custo a crer. Getúlio Vargas foi indiscutivelmente um dos mais eminentes homens públicos do Brasil e das Américas. 

O senador Alencastro Guimarães (PTB-DF) disparou contra os inimigos de Getúlio: “A campanha destes últimos meses contra a pessoa do senhor Getúlio Vargas excedeu todos os limites  que neste país alguma vez se permitiram. Morre o senhor Getúlio Vargas. Não morre pela própria mão, mas assassinado pela covardia daqueles que não puderam vencê-lo no coração do povo brasileiro.

Assustados, os adversários adotaram um tom mais diplomático. Entre eles, o senador Ferreira de Sousa (UDN-RN), que se disse consternado: “O momento é de reverência diante da eternidade, de silêncio à borda do túmulo. Não vale fazer discussões em torno de pessoas, de fatos. Por um instante, cessam as divergências, calam-se os argumentos, suspendem-se os dissídios e não se pronuncia palavra de crítica.”

O corpo foi velado no Catete. Milhares de pessoas fizeram fila para se despedir do presidente. Depois, num emocionado cortejo, acompanharam o caixão até o Aeroporto Santos Dumont. Getúlio foi enterrado em São Borja (RS), sua cidade natal. Café Filho afastou-se do Senado e assumiu a Presidência. “O julgamento de Getúlio Vargas pertence à história, que saberá fazer justiça”, disse, dias depois, o senador Attilio Vivacqua (PR-ES).

domingo, 10 de agosto de 2014

Você sabia!

POMBOS: O PRATO PREFERIDO DOS NEANDERTAIS

Por João Gustavo Reva, 08 de agosto de 2014


Paris (AFP) – Nosso primo, o homem de Neandertal, provavelmente capturava pombos para se alimentar, segundo cientistas que descobriram marcas de utensílios de cozinha, dentes e vestígios de cozimento em ossos de pombos encontrados em uma caverna do penhasco de Gibraltar.



Os antropólogos estudaram a caverna de Gorham, situada em um desfiladeiro em frente ao Mediterrâneo, onde se refugiavam muitos Homo neanderthalensis, uma espécie de humanoide que habitou a Europa há 28 mil anos, antes de entrar em extinção.

No total, eles encontraram mais de 17 mil ossos de pombo-das-rochas, um antepassado selvagem do nosso pombo doméstico (Columba livia), distribuídos em 20 sítios de ocupação na gruta (19 de neandertais, um de humanos modernos).

“Descobrimos os testes de intervenção humana nestas ossadas de pombo em onze sítios de neandertais”, bem como pelos ocupados por humanos modernos (Homo sapiens).
A proporção de ossos que apresentam cortes praticados por utensílios é relativamente reduzida, mas os cientistas destacam que “o tamanho das presas dispensava os neandertais da utilização de tais utensílios para consumi-las”.



“Depois de depenar e esfolar a ave, recorrer a mãos e dentes era a melhor forma de desprender a carne e a gordura dos ossos. Prova disso são as marcas de dentes que se observaram em alguns ossos de pombo”, escreveram os arqueólogos em seu estudo, publicado na revista Nature Scientific Reports. Em mais de 10% dos casos, os ossos apresentam também indícios de queimaduras e cocção.

“Nossos resultados demonstram, sem dúvida nenhuma, que os neandertais e, mais tarde, os humanos modernos consumiam pombos das rochas”, um fenômeno que não constitui um caso isolado e que se prolongou por um período muito longo, disseram os autores.

Os neandertais que se refugiavam na gruta puderam, com isso, aproveitar a presença de pombos que faziam ninho nos desfiladeiros para capturá-los com as mãos, afirmaram. O pombo selvagem teria constituído uma “fonte estável de alimentação no entorno rochoso de Gibraltar, mas também em outras regiões habitadas pelo homem de Neandertal”.


Fonte: http://www.emresumo.com.br/2014/08/08/pombos-o-prato-preferido-dos-neandertais_30712.html?utm_source=HomePortal&utm_medium=baixaki

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Você sabia!

Cientistas descobrem como os egípcios moveram pedras gigantes para formar as pirâmides


Por: Andrew Tarantola

1 de maio de 2014 às 11:38 859030


Uma civilização antiga, sem a ajuda de tecnologia moderna, conseguiu mover pedras de 2,5 toneladas para compor suas famosas pirâmides. Mas como? A pergunta aflige egiptólogos e engenheiros mecânicos há séculos. Mas agora, uma equipe da Universidade de Amsterdã acredita ter descoberto o segredo – e a solução estava na nossa cara o tempo todo.
Tudo se resume ao atrito. Os antigos egípcios transportavam sua carga rochosa através das areias do deserto: dezenas de escravos colocavam as pedras em grandes “trenós”, e as transportavam até o local de construção. Na verdade, os trenós eram basicamente grandes superfícies planas com bordas viradas para cima.
Quando você tenta puxar um trenó desses com uma carga de 2,5 toneladas, ele tende a afundar na areia à frente dele, criando uma elevação que precisa ser removida regularmente antes que possa se ​​tornar um obstáculo ainda maior.
A areia molhada, no entanto, não faz isso. Em areia com a quantidade certa de umidade, formam-se pontes capilares – microgotas de água que fazem os grãos de areia se ligarem uns aos outros -, o que dobra a rigidez relativa do material. Isso impede que a areia forme elevações na frente do trenó, e reduz pela metade a força necessária para arrastar o trenó. Pela metade.



Ou seja, o truque é molhar a areia à frente do trenó. Como explica o comunicado à imprensa da Universidade de Amsterdã:

Os físicos colocaram, em uma bandeja de areia, uma versão de laboratório do trenó egípcio. Eles determinaram tanto a força de tração necessária e a rigidez da areia como uma função da quantidade de água na areia. Para determinar a rigidez, eles usaram um reômetro, que mostra quanta força é necessária para deformar um certo volume de areia.
Os experimentos revelaram que a força de tração exigida diminui proporcionalmente com a rigidez da areia… Um trenó desliza muito mais facilmente sobre a areia firme [e úmida] do deserto, simplesmente porque a areia não se acumula na frente do trenó, como faz no caso da areia seca.



Estas experiências servem para confirmar o que os egípcios claramente já sabiam, e o que nós provavelmente já deveríamos saber. Imagens dentro do túmulo de Djehutihotep, descoberto na Era Vitoriana, descrevem uma cena de escravos transportando uma estátua colossal do governante do Império Médio; e nela, há um homem na frente do trenó derramando líquido na areia. Você pode vê-lo na imagem acima, à direita do pé da estátua.

Agora podemos finalmente declarar o fim desta caçada científica. O estudo foi publicado na Physical Review Letters. [Universidade de Amsterdã via Phys.org via Gizmodo en Español]


Imagens por wmedien/Shutterstock; Al-Ahram Weekly, 5-11 de agosto de 2004, edição 702; Universidade de Amsterdã.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br/estudo-egipcios-piramides/

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Reflexões sobre a violência

Livro de ex-fuzileiro compara torturas praticadas durante a ditadura civil-militar às realizadas por nazistas, na Segunda Guerra. O militar democrata conta que foi preso e revela nomes de seus algozes

Déborah Araujo
  • Mergulho no inferno, de E. P. Cavalcante / Editora APED / R$ 45,00
    Mergulho no inferno, de E. P. Cavalcante / Editora APED / R$ 45,00
    Em seu mais recente livro, o militar aposentado Eunício Precílio Cavalcante conta a história de luta contra a extrema-direita que travou junto com alguns colegas, que teria começado antes da ditadura civil-militar. Em Mergulho no inferno, o ex-capitão-de-mar-e-guerra do Corpo de Fuzileiros Navais conta que foi preso e “torturado barbaramente”, além de revelar nomes de torturadores pouco conhecidos. “Militar democrata”, ele traça um paralelo entre as torturas havidas no Brasil e as praticadas por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Para dar corpo à obra, o autor, aos 82 anos, utilizou a própria memória como fonte e extensa bibliografia. Em entrevista para a Revista de História, Cavalcante fala sobre a importância de compartilhar suas histórias e reflexões com o grande público.
    Revista de História: O senhor fez parte do Corpo de Fuzileiros Navais na juventude. Como que acabou se engajando na luta contra a ditadura militar?
    Eunício Precílio Cavalcante: Nós, os militares subalternos, e mesmo alguns oficiais, já vínhamos lutando muito antes da ditadura. Nós sentíamos a ameaça do complô, que já se preparava desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. Eles [os altos oficiais da ultradireita] queriam de qualquer forma tirar o presidente do cargo, por conta de medidas nacionalistas, entre outras. O alto comando militar era praticamente todo golpista e antinacionalista. Não chegava a 1% os oficiais do alto comando que eram convictamente a favor do presidente. Isso desde o governo Vargas até a deposição de João Goulart. Eu chego a dizer no meu livro que o Brasil é talvez o único país do mundo em que a direita é antinacional. A direita argentina, francesa, inglesa, portuguesa, suíça, são todas nacionalistas, menos a brasileira.
    RH: O livro começa com o momento em que o senhor já está preso. Como foi sua prisão?
    EPC: Fui preso em São Paulo no dia 4 de novembro de 1969, no mesmo dia em que assassinaram Carlos Mariguella. Nós fomos presos pela manhã e depois fomos torturados. Eu fui torturado 15 dias depois porque mantive uma historinha. Todo resistente que está lutando na clandestinidade tem que manter uma história, e a minha história de que eu era vendedor de livros era coerente. Só que 15 dias depois caiu um companheiro em Ribeirão Preto, que disse que eu não era nada de inocente, que eu participava da ALN (Ação Libertadora Nacional) e que eu fornecia armas para ele. Era a minha palavra contra a dele. Nós dois fomos torturados barbaramente pela equipe do delegado Sérgio Fleury, agentes da Marinha, agentes do Cenimar (Centro de Informações da Marinha).
    Outras perspectivas sobre a ditadura:
    RH: Como foi, depois de tantos anos, trazer sua história a público?
    EPC: Eu e alguns companheiros já falávamos em escrever algo para que a juventude brasileira saiba o que aconteceu. Se subestima muito o papel dos militares democratas. Essa história não vem sendo levada à população. Um pequeno número de militares democratas foram os primeiros a lutar dentro dos quartéis tentando impedir o rolo compressor dos militares da ultradireita.
    RH: O livro traz temas como a tortura como instrumento de poder e a má formação dos oficiais militares no Brasil. Quais conjunturas permitiram esse quadro brasileiro?
    EPC: As nossas forças armadas atuavam no período da Guerra Fria como milícia de ocupação colonial, estavam submetidas ao Pentágono e aos Estados Unidos. O Brasil viveu 400 anos sob o domínio do latifúndio. E antes nós erámos colônia de uma colônia, Portugal, que era submetida à Inglaterra. Depois nós nos tornamos colônia da Inglaterra, e passamos a ser colônia dos Estados Unidos da América. Então, a partir da Guerra Fria, essa questão se acentua a cada dia.
    RH: Pensando essa questão nos dias atuais, o senhor acha que a militarização da polícia no Brasil também é fruto desse cenário?
    EPC: A polícia militar foi criada como milícia dos coronéis donos de terra. Cada presidente de estado (como eram chamados os governadores até 1930) tinha em sua mão um pequeno exército. A polícia de São Paulo, por exemplo, teve treinamento da Comissão francesa antes do Exército brasileiro. A polícia militar, como a de São Paulo e de Minas Gerais, foi muito importante no Golpe de 1964 porque os soldados do Exército não estavam preparados para briga. Quem estava era os policiais as milícias estaduais, que não são nem atuam como policiais porque não formados, não têm capacidade para atividades como investigação, entre outras coisas. E nem tão pouco são militares. Nas mãos dos presidentes estaduais, os policiais militares agiam como um contingente de jagunços fardados e armados. Depois da democratização do país, depois do fim desse período horrível que foi a Ditadura Militar, o cenário mudou. Hoje nós sabemos que a polícia militar não é algo bom, que é uma polícia meramente de repressão. Além de ser uma força de jagunços a serviço dos governadores, após o golpe a polícia militar se especializou em perseguir os chamados “comunistas”, que podiam ser os nacionalistas, democratas, entre outros.

O “Levante de Soweto” e o apartheid na África do Sul

 17 de junho de 2014
levante-de-soweto
Há 38 anos, no dia 16 de junho de 1976, a África do Sul assistiu perplexa a um massacre: centenas de jovens – a maioria negra – foram mortos no episódio conhecido como “Levante de Soweto”, hoje símbolo da luta contra o racismo no mundo.
Na época, vigorava no país o regime de apartheid: uma minora branca governava, segregando a população negra. Essa política racial durou mais de quatro décadas, de 1948 até 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul.
Mas voltemos a 1976. As escolas para os negros estavam superlotadas e os professores eram desqualificados. Além disso, era necessário pagar pelos estudos, o que contrastava com a educação destinada à população branca, gratuita e de qualidade.
Para piorar, o governo sul-africano proibiu os alunos do bairro de Soweto, localizado no subúrbio de Joanesburgo, de estudarem em sua língua “bantu”. Obrigatoriamente, deveria ser ensinado nas escolas o africâner – língua-símbolo do apartheid – e o inglês. Línguas nativas, portanto, estavam vetadas. Isso foi a gota d’água.
Cerca de 20 mil estudantes sul-africanos se reuniram para protestar contra a medida. A manifestação começou calma, porém as tropas de segurança entraram em choque com os manifestantes e um estudante de 13 anos, Hector Petersen, foi assassinado pela polícia.
Os estudantes responderam atirando pedras. A polícia abriu fogo e matou mais 22 estudantes. Nos dias seguintes, muitos sul-africanos ficaram indignados com a truculência do regime e saíram às ruas, protestando contra as mortes. Até o final de 1976, o saldo era catastrófico: 600 manifestantes mortos e milhares de feridos. Em 1991, o 16 de junho passou a ser celebrado como o Dia da Criança Africana.
Fontes: Soweto, Agangsa, Unicef, BBC.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Índios isolados do Acre

Atualizado: 08/07/2014 16:45 | Por Herton Escobar, estadao.com.br

Índios saem do isolamento no Acre e buscam contato com o 'mundo exterior'

Funai enviou uma equipe para estabelecer contato com os índios, cuja origem ainda é desconhecida
Funai enviou uma equipe para estabelecer contato com os índios, cuja origem ainda é desconhecida (© Índios isolados do Acre, fotografados de um avião alguns anos atrás)
Gleison Miranda/FUNAI/Survival (2011)


Índios de uma etnia não identificada resolveram deixar sua situação de isolamento na floresta amazônica e fazer contato com o "mundo exterior" pela primeira vez no final do mês passado, segundo uma nota divulgada pela Funai no dia 1º de julho e reproduzida na terça-feira (8) por uma reportagem no site de notícias da revista Science -- que transformou o caso em notícia internacional.
O contato ocorreu na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, na fronteira do Acre com o Peru. Foi pacífico, apesar de os índios da aldeia (da etnia Ashninka) terem se assustado com o aparecimento dos "forasteiros". Não se sabe ainda de onde eles vieram ou o que os motivou a sair do isolamento -- ameaças de madeireiros ou produtores de cocaína no Peru são duas hipóteses bem plausíveis, dado o histórico de conflitos com esses grupos na região (leia mais aqui). Uma equipe de contato da Funai, incluindo médicos e linguistas, foi enviada para o local, liderada pelo sertanista José Carlos Meirelles.
Será muito interessante acompanhar o que eles poderão aprender sobre esses índios. Trata-se de uma oportunidade única de saber mais sobre como vivem essas tribos isoladas da Amazônia, já que a política padrão da Funai é não fazer contato com elas, a não ser que sua sobrevivência esteja ameaçada (entre outras razões, porque fazer esse contato, por mais bem intencionado que seja, pode se transformar numa sentença de morte para os índios, por causa de transmissão de doenças).
Imagine só que incrível seria poder sentar para conversar com um desses índios -- pessoas que sobrevivem totalmente da floresta, sem qualquer contato com o mundo exterior e sem o auxílio de qualquer tipo de tecnologia, além daquelas desenvolvidas por eles próprios; pessoas que nunca viram um carro, uma televisão ou um telefone; que nunca ouviram falar de guerras mundiais, países, eleições nem Copa do Mundo, Jesus Cristo nem Maomé. O que será que eles comem, no que acreditam e o que pensam ser aqueles pontos luminosos no céu da noite? Tem algum tipo de religião? Como enterram seus mortos? Como tratam suas doenças? Seria como estudar a cultura de um povo antigo, só que olhando para uma pessoa de carne e osso, em vez de um hieroglifo.
E eles, o que poderiam aprender conosco?
A notícia da Science (em inglês) pode ser lida aqui.
O site Amazônia Real publicou uma reportagem mais detalhada sobre o assunto.
Nenhuma imagem dos índios foi divulgada pela Funai até agora. A foto acima foi divulgada em 2011, após um sobrevoo na região, para o lançamento de uma campanha de proteção ao território dessas tribos isoladas. A tribo que aparece na imagem não é necessariamente a mesma dos índios que fizeram contato agora na Aldeia Simpatia.
Abaixo, a nota da Funai:
A Fundação Nacional do Índio vem publicamente informar que no dia 29 de junho de 2014 um povo indígena isolado estabeleceu contato com indígenas Ashaninka e servidores da Funai, na Aldeia Simpatia, na Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, no estado do Acre.
O contato ocorreu com a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Envira e o sertanista José Carlos Meirelles, da Assessoria Indígena do Governo do Estado do Acre. A FPE Envira vinha acompanhando a aproximação dos índios isolados desde o dia 13 de junho. A permanência do grupo isolado na região ocorre de forma pacífica.
No presente momento, a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém contatados - CGIIRC, juntamente com o Distrito Sanitário Especial Indígena - DSEI, do Alto Rio Juruá/Secretaria Especial de Saúde Indígena, encontram-se na região para dar início ao Plano de Contingência para Situações de Contato. A equipe de servidores no local está qualificando as informações por meio de interpretes para que haja maior conhecimento deste grupo indígena.
A Politica de Proteção aos Índios Isolados da Funai tem a premissa do não contato, respeitando a autodeterminação dos povos e realizando o trabalho de proteção territorial com a presença destes. No entanto, são previstas ações de intervenção - planos de contingência - quando o grupo indígena isolado procura estabelecê-lo.

Fonte: Jornal Estadão