terça-feira, 13 de março de 2012

Um jovem ditador para a velha Coreia do Norte

Tirania e sucessão
Um jovem ditador para a velha Coreia do Norte
Diante da apreensão internacional, Kim Jong-un sucede o pai, o ex-ditador "descido dos céus" Kim Jong-il

Por Morgana Gomes



Fabiana Neves
Desde o falecimento do exditador Kim Jong-il, em 17 de dezembro de 2011, Kim Jongun, o único membro da família Kim, que viveu por sete anos no Ocidente, devido ao silêncio, aparentemente, compactua com as bizarrices de um dos países mais fechados do planeta - onde o poder hierárquico, o culto a personalidade, o arsenal nuclear, a fome, a incapacidade de produzir alimentos, que ainda se alia a ursos enlutados, que deixam de hibernar em pleno inverno para aparecerem de olhos lacrimejantes em lugares incomuns, suscitam muitas incertezas.

Em meio a tudo isso, a imprensa oficial da Coreia do Norte ainda distribuiu imagens para todo o mundo, nas quais uma indeterminada camada da população, formada por homens, mulheres e crianças, todos bem vestidos e de aparência sadia, chorava compulsivamente, mas de forma teatral e coreografada, a morte do ditador de 69 anos, que se impôs por quase duas décadas perante o país. Se não bastasse, também foi divulgado que, "por volta das 17h30 de 19 de dezembro de 2011, centenas de corvos apareceram do nada e pairaram sobre uma estátua do presidente Kim Il-sung (avô do atual e pai do ex- ditador) no campus da Escola Changdkok, no distrito de Mangyongdae, grasnando como se estivessem lhe contando a má notícia" - embora com um atraso: Kim Jong-il, tinha morrido dois dias antes, devido a um infarto que sofreu a bordo de um trem, após uma partida de golfe, na qual fez uma jogada extraordinária...


Afp/North Korean TV
Kim Jong-un, o novo líder da Coreia do Norte
Com tantas informações mirabolantes, o que esperar de Kim Jongun, o terceiro líder de um regime hierárquico? Guindado ao poder antes de completar 30 anos, a construção do seu mito já começou, no momento em que ele foi decretado "líder supremo" do país, durante as cerimônias em memória de seu pai, em 29 de dezembro do ano passado.

Retratado como sósia do seu avô, o jovem também foi apelidado de "gênio dos gênios" em questões militares, apesar da inexperiência nesse campo. Em consequência, após uma reunião do Birô Político do Comitê Central do Governista Partido dos Trabalhadores, foi nomeado "comandante supremo" do Exército da Coreia do Norte, que conta com aproximadamente 1,2 milhão de militares - montante que o torna uma das forças armadas mais poderosas do mundo, do qual o jovem já era general quatro estrelas desde 2010.





"Kim Jong-un foi nomeado "comandante supremo" do Exército da Coreia do Norte - apesar da inexperiência."


Reuters
Kim Jong-un chora a morte do pai durante o funeral
De posse do poder adquirido por hierarquia, órgãos estatais da Coreia do Norte ainda pediram ao povo que se agregasse em torno do novo líder, para formar uma espécie de "escudo humano", cuja função é a de protegê- lo durante os trabalhos que visam à resolução da escassez de alimentos no país e à defesa da política de seu falecido pai, Kim Jong-il.


Esse tipo de apoio extremado também veio dos três principais jornais estatais, que afirmaram em editoriais, logo no primeiro dia de 2012, que Kim Jong-un tem legitimidade para levar adiante a batalha revolucionária iniciada por seu avô, Kim Il-sung, e que, posteriormente, foi desenvolvida por seu pai. De forma diferenciada, mas somente pelo uso das palavras, eles ainda enfatizaram que o jovem, o líder supremo do Partido e do povo, "é a bandeira da vitória e glória da Coreia Songun (política militar do país) e o centro eterno de sua unidade".

"Longe das agruras do povo norte-coreano, que padecia de fome, ele desfrutou de comodidades do capitalismo."

Sabe-se que o filho mais novo do ex-ditador Kim Jong-il, Kim Jongun, estudou na Suíça por sete anos, período em que teve parcialmente a companhia de seus dois irmãos. Embora essa fase de sua vida também seja envolta por mistérios, tudo indica que longe das agruras do povo norte-coreano, que padecia de fome durante a década de 1990, ele desfrutou de todas as comodidades oferecidas pelo capitalismo.
Aluno da Escola Internacional de Berna, instituição privada que custa cerca de US$ 25 mil por ano, usou o pseudônimo de Pak Tchol, para se manter na obscuridade, durante a época em que esteve na pequena capital suíça de 120 mil habitantes. Contudo, contrariando o costume local, um carro com motorista o buscava todos os dias, enquanto os demais alunos - incluindo filhos das famílias mais ricas do mundo - faziam uso apenas do transporte público.


AP
Kim Jong-un entre lideranças norte-coreanas na cerimônia de despedida de seu pai
Apesar da posse na Coreia da Norte, ao ser consultado, o governo suíço alegou não saber ao certo se o filho do ex-ditador realmente esteve por lá. Já a direção da escola, pela discrição tradicional, não deu nenhuma informação sobre Kim Jong-un. Mas, de acordo com outros ex-estudantes, ele era um bom aluno, tanto que aprendeu inglês, francês e o dialeto alemão usado em Berna. Tido como tímido e introvertido, dizem que tinha um comportamento exemplar. Gostava de esportes coletivos e, como a maioria dos jovens da década de 1990, era fã do astro do basquete Michael Jordan e do ator Jean-Claude Van Damme. Segundo Ron Schwartz, exaluno canadense que conviveu com o jovem norte-coreano em Berna, durante o inverno, ele dedicava todos os fins de semana de folga ao esqui, esporte do qual é amante.



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Fonte: Portal Ciência e Vida (Revista Leituras da História)

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