sábado, 25 de abril de 2009

Canudos: a luta pela terra

A guerra no sertão baiano não tinha como objetivo a restauração da Monarquia e nem, eminentemente, contrário a República (1889), mas a luta pela posse da terra.

Antônio Vicente Mendes Maciel ou, simplesmente, "Antônio Conselheiro", natural de Quixaramobin-CE, mobilizou os camponese contra a tirania das classes possuidoras e contra o poder do Estado. A vida miserável e incerta dos campesinos compunha o cenário da realidade social no sertão nordestino. Para Conselheiro, havia algo de errado na ordem social existente, portanto, era preciso modificá-la. Haviam três fatores de descontentamento para os poderosos da época:
1º) Para os fazendeiros: porque perdiam mão-de-obra na saída dos sertanejos ao arraial do Belo Monte;
2º) Para a Igreja: porque perdia fiéis;
3º) Para o Governo: porque perdiam contribuintes.

Para as classes dirigentes, o "Arraial do Bom Jesus" era visto como caráter subversivo ou núcleo de hostilidade ao governo. Escolhido pelos sertanejos como guia espiritual, seguiu sua "missão apostolar" procurando defender os despossuídos vítimas da prepotência das elites. Envolvido por um forte misticismo passou a peregrinar pelo sertão nordestino. Numa região onde o poder público se fazia ausente, Antônio Conselheiro era visto como a única esperança por dias melhores. Para os milhares de sertanejos que o seguia, a única forma de extirpar seus problemas era seguir o 'Velho Beato', que acreditanto na redenção do Paraíso aqui na terra manifestava o anseio de tempos melhores.

Fruto de uma sociedade rústica e atrasada, propunha uma solução imediatista para as diferenças sócio-econômicas. Todavia, sua missão foi advertir em nome da fé, aqueles que têm sede de justiça para libertar-se da longa disciplina católica e da natureza política orientada e dominada pelas classes dominantes. Para Antônio Conselheiro, a miséria e a opressão ainda latente e enquadrada no interior do sertão era resultado da ingerência administrativa das autoridades. Pregava a luta pela terra e o fim do latifúndio. Sonhava com uma sociedade igualitária onde os frutos produzidos fossem divididos equitativamente entre todos. Numa cidadela com mais de 25.000 habitantes, somente superada pela capital Salvador, Canudos sobrevivia do que produzia, era autosuficiente. Canudos chegou a exportar carne e pele de caprino. Um local onde havia escola, igrejas, mercado, não havia delegacia, onde todos os canudenses não sabia o que era fome, não pode ser considerado um reduto de ignorantes guiados por um "louco".

Mediante a sua pregação religiosa e social, Antônio Conselheiro consegue o apoio dos sertanejos, que alijados do processo político questionavam a intolerância dos grandes latifundiários. Para os grandes proprietários de terra, Conselheiro não passava de um simples fanático.
Sempre ao lado os poderosos, o clero criticava sua obra social, uma vez que ele, "opunha-se ao latifúndio e a exploração dos camponseses". A imagem de Conselheiro foi bastante deturpada. A calúnia e a difamação foi a tônica da propaganda imposta pela imprensa contra o "velho beato". Euclides da Cunha em sua celebre obra Os Sertões, considerou Antônio Conselheiro como doente mental. A Igreja Católica, dizia que Conselheiro "fazia mal à religião e ao Estado". Não competia a ele, "a missão de doutrinar o povo", somente à Santa Igreja tinha autoridade para exercê-la. Acusado de ameaçar a ordem estabelecida, Conselheiro prometia um reino celeste "sem humilhação e sofrimento". Afirmava, que o novo regime de governo "significava outra forma de cativeiro para o povo".

Com o advento da República, os camponeses não foram agraciados com o progresso político e econômico do regime republicano. A queima dos editais de impostos, em praça pública, foi o primeiro ato de desobediência civel do 'velho beato' contra o governo. Manifestar-se contra o Estado e contra o poder dos latifundiários era um ato inaceitável, segundo as autoridades da época. Os políticos baianos, queriam o apoio de Antônio Conselheiro em tempo de eleições, já que congregava sobre si milhares de eleitores. Conselheiro estava ausente de "qualquer disputa partidária". Muitos monarquistas, aderiram ao novo regime porque este "se dispõe a respeitar a velha estrutura agrária", mantendo o latifúndio e a exploração dos camponeses.

Canudos foi a resistência daqueles que opuseram contra o poder das autoridades, dos grandes proprietários de terras e das Forças Federais e Estaduais; derrotadas em quatro expedições militares. Ver Canudos como uma sublevação de camponeses é ver a História sob a ótica do dominador. O verdadeiro papel histórico de Antônio Conselheiro foi deformado pela historiografia oficial, cujo erro foi afastar-se da realidade histórica. Uma história a serviço das classes dirigentes que enaltece os "grande homens", não passa de uma visão mitificadora dos fatos, o que dificulta a compreensão do processo histórico-social.

A História tem que tomar uma dimensão científica, afim de buscar um melhor entendimento acerca da participação popular na História do Brasil, ou seja, uma historiografia comprometida com a transformação social.
Canudos foi o maior movimento pela luta da terra no Brasil, tendo somente paralelo histórico com a Revolução Mexicana (1910), liderada por Emiliano Zapata e Pancho Villa.

Um comentário:

  1. Excelentes ponderações. Algo que deveria estar nos livros de história que são utilizados no ensino médio e fundamental.

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