Ciência
Estudo descarta chegada de humanos às Américas pelo Estreito de Bering
Pesquisa aponta que rota só seria 'biologicamente viável' mais de 400 anos após chegada dos primeiros povos; hipótese é de caminho pela orla do Pacífico
A principal teoria para explicar como os humanos chegaram às Américas é inviável do ponto de vista biológico, de acordo com um novo estudo realizado por um grupo internacional de cientistas e publicado nesta quarta-feira na revista Nature.
Por muito tempo, a ciência considerou que a rota mais provável das populações que saíram da Sibéria e chegaram ao atual Alasca para se espalharem pelo continente americano, há pelo menos 13 mil anos, teria sido uma ponte terrestre que ligava a Ásia à América do Norte, onde hoje fica o Estreito de Bering.
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Com a última glaciação chegando ao fim, a retração de duas enormes geleiras que cobriam essa área teria formado um corredor — na região oeste do atual Canadá —, que teria permitido a passagem dos povos asiáticos, antes que a elevação do nível do mar deixasse o caminho submerso, formando o Mar de Bering.
O novo estudo, no entanto, aponta que o corredor entre as geleiras, formado há 15 mil anos, não poderia ter sido atravessado antes de 12,6 mil anos atrás, já que não era colonizado por plantas e animais, impossibilitando a longa viagem migratória. A conclusão da pesquisa é que esse não foi o caminho dos primeiros povos que chegaram à América, já que existem vestígios que confirmam a presença humana no continente há pelo menos 13 mil anos.
De acordo com os autores do estudo, coordenado por Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), a hipótese mais plausível agora é que os povos da Ásia tenham migrado para a América viajando ao longo da costa do Oceano Pacífico - pela orla, ou por mar. Além dos pesquisadores dinamarqueses, o grupo inclui cientistas do Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.
— Embora o corredor físico já estivesse aberto há 13 mil anos, apenas vários séculos depois tornou-se possível usá-lo como passagem. Isso significa que os primeiros povos a entrar nas Américas devem ter tomado uma rota diferente. Eles simplesmente não poderiam passar pelo corredor, como foi alegado por muito tempo — declarou Willerslev. — O que ninguém havia estudado até agora é quando o corredor se tornou biologicamente viável. Sem plantas e animais disponíveis, como eles poderiam ter sobrevivido à longa e difícil viagem por aquele caminho?
O cientista afirmou, no entanto, que a passagem pode ter sido usada mais tarde, em migrações mais recentes.
Análise genética
Para descobrir que não existiam plantas ou animais no corredor por onde teria passado a onda migratória, os cientistas analisaram os sedimentos no fundo dos lagos Charlie e Spring, nas províncias de British Columbia e Alberta, no Canadá. As duas regiões são as últimas áreas do corredor a terem ficado livres do gelo que o bloqueava.
A partir dos sedimentos locais, os cientistas conseguiram reconstruir a história do ambiente local, analisando o DNA de animais e plantas que viveram ali no passado. A análise demonstrou que a paisagem só começou a ser colonizada por vegetação há 12,6 mil anos. Só a partir de então começaram a aparecer animais, incluindo bisões e mamutes, que foram essenciais na dieta dos caçadores que migraram para as Américas.
Com a hipótese da migração pelo corredor descartada, os cientistas acreditam que o caminho mais provável para os primeiros colonizadores das Américas tenha sido uma travessia ao longo da orla do Oceano Pacífico, caminhando pelas margens livres de gelo e expostas pelos baixos níveis do mar naquela época, ou por navegação costeira.
A hipótese, no entanto, será de difícil confirmação, porque as linhas costeiras da América do Norte naquela época foram inundadas com a elevação do nível do mar, após o fim da última glaciação, deixando as evidências arqueológicas submersas.
*Estadão Contéudo
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