quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Mudança na órbita da Terra provocou migrações de homens pré-históricos

Do UOL, em São Paulo
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  • Reprodução/Natural History Museum
    Antigos humanos saíram da África para o resto do mundo
    Antigos humanos saíram da África para o resto do mundo
"Berço da humanidade", a África é o continente primordial da história humana na Terra. Os cientistas, contudo, não entendiam exatamente o motivo de as populações terem migrado do continente para o resto do mundo. Um estudo publicado nesta quarta (21) pela revista Nature dá pistas sobre o que ocorreu no planeta naquela época.
De acordo com a pesquisa conduzida por Axel Timmermann e Tobias Friedrich, da Universidade do Havaí, a dispersão de humanos da África para o restante da Terra ocorreu em quatro grandes ondas distintas nos últimos 125 mil anos. Todas, contudo, estão conectadas a mudanças no clima terráqueo ocasionadas porvariações na órbita que deixaram o planeta mais gelado.
Estudos anteriores já avaliavam a possibilidade de mudanças climáticas impulsionadas por variações orbitais terem influenciado a dispersão doHomo sapiens para fora da África. Faltavam, contudo, dados concretos sobre situações climáticas e datações de fósseis para corroborar a teoria.
Tobias Friedrich
Esta imagem mostra ocupação populacional há 80 mil anos; áreas em vermelho mais escuro contêm por volta de 28 indivíduos por km quadrado
Agora, a equipe de pesquisadores construiu modelos numéricos que quantificam os efeitos de antigas mudanças climáticas e no nível do mar na migração global dos últimos 125 mil anos. Os modelos identificam ondas grandes de migração glacial pela Península Arábica e pela região do Levante nos seguintes períodos: 106 mil a 94 mil, 89 mil a 73 mil, 59 mil a 47 mil e 45 mil a 29 mil anos atrás. 
Os resultados se aproximam bastante aos dados arqueológicos e a fósseis já encontrados. A descoberta mostra que as mudanças climáticas ocasionadas por alteração na órbita da Terra tiveram um papel crucial para moldar a distribuição populacional no mundo. Além disso, estima que o Homo sapiens chegou quase simultaneamente à Europa e à China entre 90 mil e 80 mil anos atrás.

As populações pelo mundo

A revista Nature também publicou nesta quarta-feira uma vasta pesquisa que mostra a influência global do continente africano e que busca entender como funcionaram as migrações da África. Em três publicações diferentes, cientistas se debruçaram sobre o genoma de 280 diversas populações ao redor do mundo, na maioria de grupos que não tinham sido alvos de grandes estudos.
Um estudo conduzido por David Reich, de Harvard, e colegas sequenciou genomas de 300 pessoas de 142 diferentes populações pouco estudadas, na maioria pouco pesquisadas no campo científico. Os cientistas notam que a população que deu origem aos humanos atuais começou a divergir pelo menos há 200 mil anos.
Já a pesquisa que teve como autor Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, sequenciou o genoma de 83 aborígenes australianos e 25 indivíduos das terras altas da Papua Nova Guiné. Os dados apontam que os ancestrais dos aborígenes e da Papua Nova Guiné divergiram de populações euro-asiáticas entre 51 mil e 72 mil anos atrás. Ainda foram identificados materiais genéticos de antigos humanos, como os denisovans e de um grupo hominídeo desconhecido.
Outro estudo feito pelos cientistas Luca Pagani e Mait Metspalu, do Estonian Biocentre, descobriu que parte do genoma dos atuais moradores de Papua Nova Guiné mostram ligação com uma população que divergiu dos africanos mais cedo dos que os eurasianos. A descoberta fomenta evidências para uma onda de migração da África há 120 mil anos que levou ao povoamento da Papua Nova Guiné.
Os estudos são novas peças encaixadas no quebra-cabeça da evolução do homem pelo mundo em migrações da África, mas ainda há muitas perguntas sobre a colonização humana pelo mundo.

domingo, 11 de setembro de 2016

Chega de humanos às Américas

Ciência

Estudo descarta chegada de humanos às Américas pelo Estreito de Bering 

Pesquisa aponta que rota só seria 'biologicamente viável' mais de 400 anos após chegada dos primeiros povos; hipótese é de caminho pela orla do Pacífico

Por: Estadão Conteúdo
10/08/2016 - 20h49min | Atualizada em 10/08/2016 - 20h53min
Estudo descarta chegada de humanos às Américas pelo Estreito de Bering  Ver Descrição/Ver Descrição
Estreito de BeringFoto: Ver Descrição / Ver Descrição
A principal teoria para explicar como os humanos chegaram às Américas é inviável do ponto de vista biológico, de acordo com um novo estudo realizado por um grupo internacional de cientistas e publicado nesta quarta-feira na revista Nature.
Por muito tempo, a ciência considerou que a rota mais provável das populações que saíram da Sibéria e chegaram ao atual Alasca para se espalharem pelo continente americano, há pelo menos 13 mil anos, teria sido uma ponte terrestre que ligava a Ásia à América do Norte, onde hoje fica o Estreito de Bering.
Com a última glaciação chegando ao fim, a retração de duas enormes geleiras que cobriam essa área teria formado um corredor — na região oeste do atual Canadá —, que teria permitido a passagem dos povos asiáticos, antes que a elevação do nível do mar deixasse o caminho submerso, formando o Mar de Bering.
O novo estudo, no entanto, aponta que o corredor entre as geleiras, formado há 15 mil anos, não poderia ter sido atravessado antes de 12,6 mil anos atrás, já que não era colonizado por plantas e animais, impossibilitando a longa viagem migratória. A conclusão da pesquisa é que esse não foi o caminho dos primeiros povos que chegaram à América, já que existem vestígios que confirmam a presença humana no continente há pelo menos 13 mil anos.
De acordo com os autores do estudo, coordenado por Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), a hipótese mais plausível agora é que os povos da Ásia tenham migrado para a América viajando ao longo da costa do Oceano Pacífico - pela orla, ou por mar. Além dos pesquisadores dinamarqueses, o grupo inclui cientistas do Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.
— Embora o corredor físico já estivesse aberto há 13 mil anos, apenas vários séculos depois tornou-se possível usá-lo como passagem. Isso significa que os primeiros povos a entrar nas Américas devem ter tomado uma rota diferente. Eles simplesmente não poderiam passar pelo corredor, como foi alegado por muito tempo — declarou Willerslev. — O que ninguém havia estudado até agora é quando o corredor se tornou biologicamente viável. Sem plantas e animais disponíveis, como eles poderiam ter sobrevivido à longa e difícil viagem por aquele caminho?
O cientista afirmou, no entanto, que a passagem pode ter sido usada mais tarde, em migrações mais recentes.
Análise genética
Para descobrir que não existiam plantas ou animais no corredor por onde teria passado a onda migratória, os cientistas analisaram os sedimentos no fundo dos lagos Charlie e Spring, nas províncias de British Columbia e Alberta, no Canadá. As duas regiões são as últimas áreas do corredor a terem ficado livres do gelo que o bloqueava.
A partir dos sedimentos locais, os cientistas conseguiram reconstruir a história do ambiente local, analisando o DNA de animais e plantas que viveram ali no passado. A análise demonstrou que a paisagem só começou a ser colonizada por vegetação há 12,6 mil anos. Só a partir de então começaram a aparecer animais, incluindo bisões e mamutes, que foram essenciais na dieta dos caçadores que migraram para as Américas.
Com a hipótese da migração pelo corredor descartada, os cientistas acreditam que o caminho mais provável para os primeiros colonizadores das Américas tenha sido uma travessia ao longo da orla do Oceano Pacífico, caminhando pelas margens livres de gelo e expostas pelos baixos níveis do mar naquela época, ou por navegação costeira.
A hipótese, no entanto, será de difícil confirmação, porque as linhas costeiras da América do Norte naquela época foram inundadas com a elevação do nível do mar, após o fim da última glaciação, deixando as evidências arqueológicas submersas.
*Estadão Contéudo