Posted: 11 May 2012 10:00 AM PDT
A  fome que atinge 1 bilhão de seres humanos (em 2009, um em cada seis  habitantes do planeta estava desnutrido) talvez seja a prova mais  incontestável que as coisas não andam bem em termos de dignidade e  respeito ao próximo. Dizem alguns que temos que produzir mais porque  somos muitos. Será isso verdade? Não seria melhor mudarmos o foco:  produzir melhor com qualidade, de maneira sustentável?
No  que toca a estupidez da existência da fome, tem-se que evitar o  desperdício que beira cifras indecentes de 30% a 40% da produção de  grãos e distribuir melhor os alimentos cuja produção atual, em termos  mundiais, é suficiente para todos. Segundo o Conselho Internacional de  Grãos (IGC, na sigla em inglês) na safra 2011/2012 a produção mundial de  grãos será de 1,817 bilhão de toneladas. A produção mundial de  alimentos atualmente dá conta suficiente das 7 bilhões de bocas a serem  alimentadas, o que falta é uma melhor distribuição. 
De  acordo com a FAO (Fundo para Agricultura e Alimentação – ONU), entre  1950 e 2000, a produção mundial de grãos mais que triplicou, passando de  cerca de 590 milhões para mais de 2 trilhões de toneladas métricas ao  ano. De 1950 a 1975, a produção de grãos aumentou em média 3,3% ao ano;  um percentual maior do que o do crescimento populacional, de 1,9% ao  ano.
No entanto, o “probleminha” da alocação/distribuição dessa produção nos lugares mais necessitados de ajuda não acontece. Menos  da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a  maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros  produtos industriais. Além disso, deve-se computar o efeito de pragas  sobre a plantação e o apodrecimento entre a colheita e o consumo. Disso  decorre o inusitado: o que falta para uns, sobra para outros. É a  distribuição, assim, que não é feita a contento.
Desse  modo, de um lado há no mundo 1 bilhão de famintos (75% das pessoas que  passam fome no mundo estão no campo); do outro, 1 bilhão de obesos. E  assim, outros e outros “probleminhas” que giram em torno da má  distribuição de recursos e rendas vão se agravando, contribuindo,  sobremaneira, para desumanizar ainda mais as relações entre nossos  pares.
Em  especial sobre a questão dos subnutridos, cabe ressaltar que esse mal  acomete uma entre três crianças. Em números absolutos, a subnutrição e a  fome crônica afetam aproximadamente 250 milhões de pessoas na Índia;  mais de 220 milhões na África; 40 milhões em Bangladesh; 22 milhões no  Brasil, 15 milhões no Afeganistão. O número de mortes por causas  relacionadas com a fome é da ordem de nove milhões por ano. Isso resulta  em uma média estúpida de 25 mil mortes por dia.
Mais números dessa insensatez econômica e social
Se  as relações econômicas fossem, ao menos, próximas do equilíbrio,  bastaria dividir a produção mundial (76,3 trilhões de dólares – base  2010) por 6,9 bilhões de pessoas para obter-se algo em torno de 11.128  dólares por pessoa – base 2010. 
No  entanto, sabemos que não é bem assim que a coisa funciona. E sabemos  também que a desigualdade não é natural, é imposta. E sendo imposta é  certo que alguns estão no “centro” dessas decisões dirigindo o destino  de muitos que vão sendo, dessa forma, condenados à miséria e a  exploração. É a desumanização por completo da economia que provoca  indubitavelmente a desumanização de nossos pares.
Os países de alta renda concentram 55% da produção mundial e abrigam apenas 16,4% da população. Vejamos  o inverso: os países de renda baixa e média, onde residem 83,6% da  população mundial, respondem por apenas 45% do produto. A renda per capita  dos Estados Unidos é 4,2 vezes maior do que a renda média mundial e 21  vezes maior do que a renda média da África Sub-Sahariana, a região mais  pobre do planeta.
E  a exploração cada vez mais se esparrama por todos os lados. Cabe  reiterar que os números dessa “desumanização” são alarmantes. Do lado  dos óbitos tem-se entre 9 e 10 milhões de crianças mortas a cada ano por  problemas com “insegurança alimentar”; 30 milhões de vítimas do  HIV/AIDS; 1 bilhão e meio de pessoas sem acesso à água potável; 4  milhões de mortes ao ano na África em decorrência da malária; meio  milhão de mulheres que morrem no parto por deficiências no sistema de  saúde. Acrescenta-se a isso um aquecimento global que faz provocar o  desequilíbrio do ecossistema a ponto de levar-nos a seguinte conclusão:  não é o planeta Terra que está prestes a entrar em decomposição; somos  nós. Não são os animais que entrarão em extinção; somos nós. Não é o  habitat que soçobrará; somos nós.
Do  jeito que está, com as desigualdades sociais e econômicas esparramando  miséria e indecência por todos os lados, até mesmo sonhar a  possibilidade de construir uma vida igualitária e digna torna-se algo  espinhoso. Parte daí a necessidade de “humanizar” a atividade econômica.  Ladislau Dowbor, a esse respeito, nos diz que “a  economia é um meio que deve servir para o desenvolvimento equilibrado  da humanidade, ajudando-nos, como ciência, a selecionar as soluções mais  positivas, a evitar os impasses mais perigosos”. 
Em nosso entendimento, a economia (ciência e atividade produtiva) só faz sentido de ser e torna-se útil se, e somente se,  agrupar em seu intento crescimento econômico (equilibrado), equilíbrio  ecológico (meio ambiente sustentável) e progresso social (justiça e  equidade). Fora disso, a Economia encontra-se totalmente fora da  realidade.
Fonte: Carta Potiguar 

Nenhum comentário:
Postar um comentário