segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Então é Natal.

Hoje recebi e-mail de um velho amigo utopiense. Como aqui, é natal em Utopia. Perguntava se não iria visitá-lo nas comemorações natalinas. Nesta época, mais do que em qualquer outra do ano, a ilha se alegra. Apressado, falei que infelizmente não teria como, estava ocupado demais com o trabalho.
 
Agora lembro como os utopienses ficaram surpresos aos lhes falar do nosso Natal. A árvore, a neve, as luzes e tantas outras coisas que em Utopia não existem. Riram por comemorarmos o Natal de forma individual, cada um em sua casa. Mais ainda quando souberam que nelas havia grades que, segundo eles, faziam-nos parecer prisioneiros. Acharam interessante também a troca de presentes, talvez porque eu não tenha conseguido explicar a ligação entre eles e a data, nem sabido o que dizer às crianças que o Papai Noel todo ano esquecia. Foi um bom papo, mas lá pelas tantas ficaram enfadados e pediram pra mudar de assunto, acho que quando falei do sentido dado por nós ao Natal.

Lá em Utopia todos sabem qual o seu real significado e por isso celebram-no. Até os não-cristãos comemoram a data. Apesar de não creditarem no menino-Deus, dizem eles existir algo mágico neste dia. De fato, o ideal de esperança, amor e justiça não tem credo. Interessante como esse tempo longe de Utopia já tinha me feito esquecer as diferenças que existem entre aqui a aquela longínqua ilha. 

Então é Natal, pelas bandas de cá tempo de enfeitar a árvore, de trocar presentes e reformar a casa exterior, e só. E só. Não precisamos de mais nada. Já temos até as luzinhas. Agradecemos ao menino Cristo por nos emprestar a sua data. Como há dois milênios atrás a história se repete. O menino, sem–teto, não tem onde nascer. A árvore é muito grande, ocupa muito espaço, ficaria feio, anti-estético. Imagina só ter que tirar a árvore? Porém, desconfio seriamente que ele prefira assim, nunca iria conseguir dormir com aquelas luzinhas piscando sem parar. Acho que lhe agrada mais o escuro de uma marquise ou de uma ponte. Aqueles brinquedos também o chateiam, eles brincam sozinhos. É mais afeito aos animais, são mais simpáticos, não precisam de pilhas. Sob a ponte há vários deles, uns até parecem com gente. Pena que, talvez devido ao escuro, o velho Noel nunca consiga chegar lá. 

Que vivamos então o Natal. Em Utopia Cristo nasce no coração dos homens. Aqui, qual sem-teto, tem como berço pontes, guetos e favelas, fazendo com isso uma opção:  a de classe!
Por João Paulo MedeirosProfessor universitário, advogado e militante social.
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Um mosaico chamado Índia


 O segundo país mais povoado da Terra - com cerca de um bilhão de habitantes -, apontado como uma das potências econômicas do século 21 é também um dos mais desiguais do ponto de vista social

Por Bianca Encarnação

Tecnologia digital de ponta, projetos espaciais desenvolvidos em ritmo acelerado, dívida externa em franco retrocesso, maior indústria cinematográfica do planeta. Mobilidade social restrita por um sistema de castas extra-oficial, taxas de analfabetismo elevadas, casamentos arranjados, opressão às mulheres. Eis a Índia. O segundo país mais povoado da Terra - com cerca de um bilhão de habitantes -, apontado como uma das potências econômicas do século 21 é também um dos mais desiguais do ponto de vista social.


Compor um panorama da sociedade indiana é de encantar e estarrecer. A agricultura é um dos pilares da economia do país, por isso as áreas rurais concentram aproximadamente 70% da população. Os outros quase 30% estão nas cidades. A grande metrópole da Índia é Mumbai - antiga Bombain - com 16,5 milhões de habitantes, dos quais metade é de favelados e cerca de um milhão vive nas ruas. E é andando nas ruas, obviamente, que se entra em contato com a realidade de qualquer lugar. Em Mumbai, os mais modernos automóveis circulam ao lado de elefantes, que lá são meio de transporte. Modernidade e tradição? Sim. É esse um dos paradoxos que mais chamam a atenção no país.

A Índia da prosperidade científica e tecnológica é a mesma que tem 40% da sua população analfabeta. Ascender socialmente, mudar de vida, para os indianos em situação mais pobre, é uma rara conquista. A desigualdade na distribuição de renda, característica do neoliberalismo, é uma realidade no país, além do mais, os contrastes econômico-sociais encontram-se fortemente justificados por um sistema de castas, algo sem similar em qualquer cultura ocidental.

Tentar entender a Índia sem considerar o seu sistema de castas é perda de tempo. Oficialmente banido do país em 1946, esse sistema milenar de divisão da sociedade, na prática, ainda vigora. As castas são quatro, que, originalmente, foram divididas da seguinte forma: a dos brâmanes, incluindo a elite religiosa, pesadores e os proprietários de terra; a dos kshatriyas, dos militares e administradores; a dos vaishyas, comerciantes; e a dos sudras, na qual se enquadram artesãos e trabalhadores braçais. Fora do sistema de castas, conseqüentemente, no lugar mais baixo da pirâmide social, estão os dalits ou parias, também chamados de intocáveis. São denominados assim porque, para boa parte dos hindus, quem toca em um paria fica impuro.


 O governo da Índia vem tentando combater esse preceito tradicional e introduzindo medidas para proporcionar a esses membros da sociedade - estimados em 160 milhões de pessoas - acesso a educação e a empregos mais dignos que os trabalhos sub-humanos que lhes são oferecidos. Os próprios dalits protestam contra a sua exclusão e se organizam para lutar pelos direitos que o governo lhes garante, mas que boa parte das classes mais altas deixa de reconhecer. De acordo com uma ativista da Campanha Nacional Pelos Direitos Humanos dos Dalits, que deu seu depoimento no Fórum Social Mundial, realizado na Índia em 2004, antigamente os dalits tinham que andar com sinos ou chocalhos para avisar que estavam se aproximando e assim as pessoas de outras castas sabiam que tinham que evitá-los. Anupam Wankhede, a ativista em questão, disse que isso não é mais realidade no país, pelo menos, nas cidades. Ela trabalha para conscientizar as pessoas de que o sistema de castas não foi criado por Deus, mas pelos homens, pela elite - os brâmanes - que queriam ter poder sobre os demais.

Observar a importância da religião na Índia é absolutamente indispensável para se verificar as peculiaridades dessa sociedade. Mais de 80% da população segue o hinduísmo e, para estes, a vida é um eterno retorno. O que se faz nessa vida conta para a próxima. Por isso é importante aceitar a própria condição e praticar boas ações, assim como os rituais de purificação, para se conseguir uma posição melhor ao reencarnar. Alguns estudiosos apontam o hinduísmo como responsável pela passividade e pelo conformismo do povo ante a sua condição de miserabilidade.


O islamismo, segunda religião em número de seguidores no país, congregando cerca de 12% da população, segue os preceitos de Alá, ditados pelo profeta Maomé, cujas palavras estão no Corão. Os muçulmanos acreditam que a vida tanto pode ser uma benção quanto uma penitência. Por definição, a mulher muçulmana deve ser submissa a seu marido.

O cristianismo é seguido por uma pequena fatia da população, aproximadamente 3%. O budismo e demais religiões dividem a fatia restante. Esses dados estatísticos são interessantes para se ter uma idéia do cenário religioso na Índia, mas não dão conta de expressar o quanto a religião está intrinsecamente relacionada com a vida dos indianos. Para a maciça maioria, ela explica e justifica tudo na vida, o que se verifica no discurso das famílias e mesmo nas relações de trabalho.

A Índia que chama a atenção pelo polêmico sistema de castas, pela espiritualidade que tudo permeia, vem despontando também como potência asiática. O Produto Interno Bruto (PIB), da ordem de 785 bilhões de dólares, coloca o país em 12º lugar no ranking da economia do mundial. No entanto, por sua grande população e a exitstência do desequilíbrio entre o número de ricos e miseráveis, a renda per capita é consideravelmente baixa - cerca de oito vezes menor que a brasileira. Mais de 25% por cento da população é classificada abaixo da linha de pobreza, apesar da existência de uma classe média crescente, atualmente estimada em 300 milhões de pessoas.

No começo dos anos 1990, quando seu governo abandonou políticas socialistas e deu início a um processo de liberalização da economia, houve no país um incentivo ao investimento estrangeiro, à redução de barreiras tarifárias, à importação, à modernização do setor financeiro e a ajustes nas políticas fiscal e monetária. O resultados dessas mudanças foram inflação mais baixa, crescimento econômico e redução do déficit comercial.

O freio no desenvolvimento econômico indiano  é composto por uma infraestrutura insuficiente, burocracia pesada, altas taxas de juros e uma "dívida social" elevada, como a pobreza rural e sistema de castas. Tudo isso tem raízes históricas, mas há interesse por parte dos atuais governos em reverter.

A Companhia Inglesa das Índias Orientais, fundada por comerciantes britânicos em 1600, a quem a rainha Elizabeth I concedeu o monopólio do comércio com as "Índias Orientais" - foi o marco para início a colonização da Índia. Desde de 1757, parte da região foi conquistada pela Inglaterra e, em 1858, a coroa britânica assumiu o controle político de todo o país.

Com a Índia colonizada, os dois grandes conflitos mundiais do início do século passado, as duas grandes guerras, tiveram o reforço de tropas indianas, que representaram os ingleses e tiveram importante papel para o desfecho dos confrontos. Em meio aos combates, uma figura se destacou por sua política de não-violência, trazendo para a Índia a esperança da liberdade. Essa figura que representava a resistência ao colonialismo britânico era Mahatma Gandhi, que junto com outros líderes políticos, como Jawaharlal Nehru, levou, com atitudes pacifistas, a Índia à independência, em 1947.

Gandhi foi mentor do moderno estado indiano e defensor do princípio de não-agressão, porém de protesto e ativismo, como um meio de revolução. Com isso, ele mobilizou a população a reagir. Incentivou os indianos, por exemplo, a produzir os próprios tecidos, para mostrar que não precisavam depender da Inglaterra, por isso, a imagem do líder pacifista se tornou o símbolo do país. A título de curiosidade: a produção de têxtil na Índia é uma dos setores mais prósperos da nação.

Mas o período de colonização inglesa, apesar dos pesares, contribui com o avanço da Índia em alguns setores. Vale citar a introdução dos sistemas de trens, que cobre todo o país, e as bases que levaram à modernização nas comunicações.

Hoje, a Índia é um país auto-suficiente, principalmente, em relação aos alimentos. Com a maioria da população vegetariana - a maior parte não come carne, pois, entre os indianos, o boi é um animal sagrado - faz com que a agricultura cresça e que o povo não tenha carência com a alimentação. Outro aspecto da auto-suficiência é a política adotada, como o "sistema de conselho municipal", chamado Panchayati, constituído por cinco membros, geralmente mais idosos, portanto, para eles, mais sábios, que cuidam dos assuntos da comunidade. Essa cultura vem dos tempos ancestrais, decorrente dos clãs, que foi caindo em desuso. A autoridade legal desses conselhos foi restaurada oficialmente em 1989, por Rajiv Gandhi. Assim, dois milhões e meio de habitantes das vilas são eleitos para posições no panchayat e o governo é exercido por pessoas comuns, que fazem da democracia um fenômeno, genuinamente, de massa.

A Índia é considerada a maior democracia do mundo em função de ter o maior eleitorado entre os países democráticos. O sistema político é parlamentar. O presidente, na qualidade de chefe de Estado, exerce um papel principalmente protocolar, embora sua aprovação seja necessária para que qualquer lei que saia do parlamento. Ele é eleito indiretamente por um colégio eleitoral para um mandato de cinco anos. A chefia de governo é exercida por um primeiro-ministro, que concentra a maior parte dos poderes executivos. Este é nomeado pelo presidente, desde que conte com o apoio de um partido.

Em sua mais recente eleição, de julho de 2007, pela primeira vez na história do país, a Índia elegeu uma mulher para presidente. Pratibha Patil, ex-governadora e candidata pela aliança governista, teve maioria no Congresso. Mas, Patil, vale lembrar, não foi a primeira mulher a estar à frente do governo indiano. Indira Gandhi, assassinada em 1984, foi a primeira-ministra do país. Apesar do sobrenome, Indira não tinha qualquer parentesco com Mahatma Gandhi, e seu governo foi bastante polêmico. Combateu com rigor, por exemplo, os problemas sociais e econômicos decorrentes da explosão demográfica e uma de suas medidas foi a esterelização maciça obrigatória.

A interferência do governo no direito à natalidade de uma forma como esta foi mais uma marca no histórico de violência cometida contra as mulheres indianas. O domínio dos homens sobre as mulheres no país ainda é muito forte em qualquer nível social. Embora a modernidade esteja desbancando algumas tradições, os casamentos arranjados são bastante comuns e o pagamento de dote por parte da família da noiva ao noivo é uma prática associada a esse tipo de arranjo entre famílias. A justificativa mais comum pelo dote é a de que ele seria uma espécie de compensação para a família do noivo pelo investimento na educação dele e no seu preparo para sustentar a noiva e a família que virão a formar pelo resto da vida.

A conseqüência dramática dessa tradição é que o dote desestrutura financeiramente muitas famílias que dão suas filhas em casamento. Isso faz com que dar à luz a meninas seja um prejuízo a priori. Logo, o aborto seletivo - realizado logo após a identificação do sexo pelo exame de ultrassom - tornou-se recorrente.

O dote é uma prática presente em todas as classes sociais, mas proibida pelo governo indiano, estando o noivo que o recebe sujeito à prisão. O dote, obviamente, não é a causa, mas uma conseqüência de uma sociedade que oprime a mulher. Diversas organizações protestam contra os altos números de estupro e violência doméstica.

Não é de se espantar que as mulheres dalit tenham uma vida ainda mais difícil do que as demais. Elas não são estimuladas a estudar e a vasta maioria trabalha por salários de fome na agricultura. Por conta de todas as questões de gênero do país, elas trabalham consideravelmente mais do que os homens dalits, recebendo muito menos do que eles. Apesar de serem consideradas intocáveis, elas acumulam histórias de exploração sexual e são as grandes vítimas da Aids no país.

Mas nem tudo é tragédia na vida das mulheres indianas. Muitas conseguem casar por escolhas próprias e outros tantos casamentos arranjados acabam dando certo também. Fora isso, os novos tempos têm trazido perspectivas melhores para elas. Seus direitos estão garantidos em lei, mas a luta para fazê-los valer na prática é grande.

Se sob alguns aspectos, nossos olhos ocidentais se espantam e se revoltam diante de algumas tradições indianas, por outros ângulos é preciso reverenciar essa sociedade. A busca pelo saber está presente na cultura indiana e talvez seja um dos grandes propósitos da nação. A religiosidade acaba tendo, no país, uma função social, pregando o desenvolvimento do conhecimento como meio de sair das trevas da ignorância. Como resultado dessa premissa, a Índia foi o berço da primeira Universidade - que existiu em Nalanda, no estado de Bihar, nos tempos ancestrais. O conceito do zero, por exemplo, nasceu na Índia, assim como outros fundamentos matemáticos do modo como os entendemos hoje em dia. Todo o sistema de numeração é indo-arábico, ou seja, os árabes buscaram na Índia e difundiram os algarismos que usamos até hoje. A fórmula de Bhaskara, por exemplo, que foi criada na Índia, é usada para resolver todas as equações do atual Ensino Médio.

A Índia tem também uma incontestável contribuição na filosofia, ciência que faz parte da vida de todo indiano. Os avanços em áreas como na tecnologia da informação também são notórios. O país hoje "exporta" especialistas, principalmente, em softwares, para países da Europa e América.
Nos Estados Unidos, no campo de pesquisas espaciais, o telescópio Chandra, da NASA, que leva o nome do físico indiano, é superior em tecnologia ao Hubble, mais conhecido por ser responsável por telecomunicações. Outra área importante é a biotecnologia, campo que a Índia domina sobre muitos países.

Em 2006, a Índia e a Alemanha anunciaram uma nova iniciativa de colaboração de ciência e tecnologia que irá fortalecer e expandir a cooperação nessas áreas. A parceria foi selada após a sexta reunião do Comitê Indo-Alemão de Ciência e Tecnologia, concluída em 25 de setembro de 2006, em Nova Delhi. Na reunião, representantes do Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha e do Departamento de Ciência e Tecnologia da Índia identificaram as áreas de foco para cooperação. Entre elas, estão a de nanotecnologia, biotecnologia e estudos do cérebro, entre outras frentes de pesquisa. O Brasil também já conta com profissionais indianos em seus institutos de pesquisas e universidades. Exemplos são o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade de São Paulo (USP).
 
A boa formação em ciências exatas nas instituições de ensino técnico e superior, a língua inglesa - que é falada pela classe média e pelas classes mais altas em decorrência da colonização britânica -, entre outras políticas, como a de importações, que criou ilhas de competitividade, são atitudes que renovam cada vez mais os avanços da Índia. Aliado a essas iniciativas está o desenvolvimento de pesquisas voltadas para o aprimoramento das condições de vida no meio rural, cuja representatividade na economia do país é considerável.

Tanta ciência e tecnologia não ofuscam a Índia das artes milenares. Como uma das civilizações mais antigas do planeta, a Índia é plural, de línguas diversas e de hábitos e modos de vida também diferentes. Por tudo isso, a arte não poderia se apresentar como uma grande unidade e sim de diversas cores, formas e significados.

Entre os muitos significados, a arte indiana é pautada também por seus credos, o que coloca a espiritualidade presente nas diversas expressões artísticas, como na arquitetura, na escultura, na pintura, na joalheria, na cerâmica, nos metais e nos tecidos, revelando diversos traços dessa sociedade.

Essa cultura estendeu-se por todo o Oriente, com a difusão, principalmente, do hinduísmo, e exerceu uma grande influência da arte indiana sobre outros países como a China, o Japão e a Tailândia.

Do hinduísmo, por exemplo, têm-se as divindades, com seus muitos braços, cada um deles carregando objetos ou armas. Eles indicam as direções, a maioria representa os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste.

Entre as esculturas, a lamparina, chamada de deepak, tem muita importância como símbolo. Tradicionalmente feita em cerâmica, representa o corpo humano porque para o entendimento de algumas religiões, assim como o barro, todos viemos da terra. Já o óleo que é queimado nela é um símbolo do poder da vida.

Na arquitetura, a primeira mostra indiana foi inovadora, com construções milenares de edifícios de tijolos, ao tempo que se levantavam estruturas de madeira. Embora estas últimas tenham desaparecido ao longo dos séculos, foram imitadas por construções de pedra que ainda estão de pé. São exemplos também, as stupas - pequenos templos para guardar as relíquias dedicadas a Buda - e os chaityas - templos rupestres -, entre os quais destacam-se a Grande Stupa de Sanchi, o Chaitya de Karli, do início do século II.

A partir do século V, a marca da arquitetura indiana, que aparecem talhados nas rochas, formam as sanefas. Os exemplos mais importantes estão na colina de Parasnath, em Bihar; no monte Abut, em Abu Rajasthan; e em Strunjaya, em Gujarat.

A influência islâmica na Índia vem desde o século XIII até os nossos dias. A ela pertencem o famoso mausoléu de Gol Gundadh, de 1660, em Bijapur a torre Qutb Minar, do século XII. Na fase mongol do estilo indo-islâmico, entre os séculos XVI e XVIII, eram utilizados materiais luxuosos, como o mármore. Um exemplo desse estilo é o mausoléu do Taj Mahal, em Agra, uma das maravilhas do mundo.

Os murais das cavernas de Ajanta estão em destaque entre as pinturas indianas. É destaque também a cova de Jogimara, em Orissa, que pertencem a dois períodos: ao século I a.C. e à época medieval. A fase clássica conserva-se um Kalpa Sutra - manual de liturgia religiosa - do ano 1237, ilustrado em folha de palma. A pintura, de maneira geral, era de imagens religiosas, feitas no interior dos templos. Algumas eram em miniatura. Influenciadas pelas técnicas persas, são especialmente famosas as do século XVII e XVIII, com suas cores e detalhes mínimos. Cabe lembrar que, com o declínio do Império Mogol, os ingleses se tornaram a força dominante entre as nações européias que passaram a estar presentes na Índia, influenciando inclusive, em suas expressões artísticas.

Eis um mosaico da Índia, enfim.

Fonte: Revista Sociologia

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sociedades Secretas — Os Illuminati: Senhores do Mundo



Apesar do nome, a entidade é considerada a mais sinistra organização secreta que já existiu. Agindo nas sombras, seus membros tinham um objetivo maior: a destruição da Igreja Católica

Por Rose Mercatelli



Quando a maçonaria moderna ressurgiu entre o fim do século 17 e início do século 18, logo encontrou um campo fértil entre a intelectualidade europeia. A partir daí, inúmeras sociedades começaram a aparecer e se transformar em um canal que permitia a seus membros, professores, juristas, teólogos, filósofos, cientistas, escritores - entre outros! - questionarem as instituições políticas e religiosas vigentes na época.
Entre essas sociedades, algumas ficaram conhecidas pela aura de misticismo e mistério que as envolviam. Entre todas as que mais se notabilizou pelo seu lado obscuro foi a Illuminati da Baviera.
Confusão geral

Durante alguns séculos, o termo Illuminati (do latim, os iluminados) foi usado por diversos grupos, alguns reais, outros nem tanto. A maioria deles, inclusive, estava em conflito com as autoridades políticas e religiosas de seu tempo. As teorias dessas associações, todas se autodenominando "iluminadas", eram contraditórias, o que acabou gerando uma confusão enorme para os historiadores diferenciarem umas das outras.
No século 14, por exemplo, a expressão serviu para nomear uma fraternidade conhecida como os Irmãos do Livre Espírito, um movimento leigo cristão que floresceu no norte da Europa. A fraternidade pregava a pobreza, mas no sentido de purificar o homem do pecado e ressuscitar Cristo nele e não de se desfazer dos bens materiais.
No século 15, o título foi usado também por entusiastas das ideias ditas "iluministas". Esses pensadores acreditavam que a luz, ou seja, o conhecimento espiritual e psíquico, era o resultado não de uma fonte autorizada - escolas, professores, mentores, filósofos, pensadores, teólogos, entre outros -, mas, sim de uma revelação interna e secreta, gerada por um estado alterado de consciência. De acordo com alguns estudiosos, algumas seitas usavam o haxixe para a expansão da consciência.
Hoje, porém, o termo é usado para designar principalmente aos Illuminati da Baviera, uma sociedade secreta criada na Alemanha, no ano fim do século 18.


Um jovem gênio


Adam Weishaupt, professor de Direito Canônico na Universidade de Ingolstadt, famoso por funda a "Ordem dos Perfeitos" mais conhecida como Illuminati.

Fundada por Adam Weishaupt, professor de Direito Canônico da Universidade de Ingolstadt, na Baviera, a sociedade, primeiramente, recebeu o nome pomposo de Antigos Visionários Iluminados da Baviera. As teorias e preceitos da fraternidade foram um reflexo de todo o conhecimento filosófico, espiritual e místico adquiridos por Weishaupt desde os cinco anos de idade, quando passou a morar com o avô, o barão de Ickstatt. Por influência dele, foi estudar com jesuítas, entre os quais ficou famoso por sua inteligência e capacidade de memória.
Weishaupt nasceu em 1748, época em que as ideias iluministas dominavam as mentes mais brilhantes da Europa. E foi na biblioteca do avô que o jovem tomou contato pela primeira vez com os filósofos dessa linha de pensamento. As visões do mundo propostas por esses pensadores o levaram a "descobrir" a maçonaria francesa.
Seu enorme interesse o levou a Paris, onde conheceu Maximilien Robespierre, um dos idealizadores da Revolução Francesa, nome dado a um conjunto de acontecimentos que ocorreram entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799 e que alteraram profundamente o quadro político e social da França.
Depois de se formar advogado, Robespierre ganhou fama ao defender os pobres contra as arbitrariedades da justiça da corte francesa. Por sua austeridade e dedicação, passou a ser chamado de "o incorruptível".
Outra influência sobre Adam Weishaupt foi o de um místico dinamarquês chamado Kolmer que o introduziu nos mistérios esotéricos do Antigo Egito. Weishaupt sempre demonstrou uma queda por rituais pagãos e, ainda por cima, se encantou pelo maniqueísmo, religião fundada pelo profeta Mani da Pérsia, atual Irã, cujo dogma se baseia na guerra entre a luz e a escuridão (Deus e o Diabo) que estão em constante disputa para reclamar a alma das pessoas. Quando os jesuítas souberam das atividades heterodoxas de seu pupilo Weishaupt, acabaram por expulsá-lo da escola onde ele estudava.

Maximilien de Robespierre, advogado e político inglês.


Seita elitista

Ele, então, saiu à procura de uma fraternidade que abarcasse os princípios de disciplina mental criado pelo jesuíta santo Inácio de Loyola com os conhecimentos da maçonaria junto a ideias do misticismo islâmico. Como não encontrou nenhuma, resolveu fundar a sua sociedade secreta em maio de 1776.
Segundo a pesquisadora americana Sylvia Browne, autora de As Sociedades Secretas Mais Perversas da História, Weishaupt decidiu formar um corpo de conspiradores para libertar o mundo da "dominação jesuíta da Igreja em Roma, trazendo de volta a pura fé dos mártires cristãos". Alguns autores, como Sylvia, relatam que o primeiro nome do grupo foi, na verdade, Sociedade dos Mais Perfeitos, que mudou para Illuminati, ou os intelectualmente inspirados.
Os cinco primeiros membros da fraternidade foram escolhidos entre os alunos da Universidade de Ingolstadt, onde ele ensinava Direito Canônico. Weishauspt não desejava presidir uma organização numerosa, mas poderosa. Por isso, só aceitava pessoas com uma boa situação social e econômica.
Seus pupilos tinham de jurar obediência à organização, que se dividia em três categorias. O Berçário, para iniciantes, incluía os níveis Preparação e Noviço, Minerval e Illuminatus Menor. Na fase intermediária encontravam-se os níveis Maçonaria, com os graus Illuminatus Major e Illuminatus Dirigens. Já o alto escalão, o Ministério, englobava os graus Presbítero, Regente, Magus e Rex, o ponto mais alto da sociedade.

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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

 A origem do Partido Comunista em Mossoró


Os relatos históricos dizem que foi a professora Celina Viana quem, sem nenhuma intenção, iniciou os meninos da família Reginaldo (Raimundo, Lauro, Glicério, Antonio, Amélia e Jonas) na leitura da doutrina marxista.


A professora Celina, penalizada com a situação dos meninos, que não tinham condições financeiras para comprar livros, os presenteou com a obra de Marx e Engels. Livros que o seu marido, o professor Eliseu Viana, tinha adquirido, mas não tinha se interessado em ficar com eles. Eliseu, um conservador, não se interessou por aquelas idéais revolucionárias.

O objetivo do presente, segundo os relatos, era treina-los na arte da leitura e da escrita e não despertá-los para as lutas revolucionárias. A professora Celina Viana não imaginava que aquele seu ato iria mudar a vida daquela família, transformando-a em importante núcleo de militantes comunistas, ao ponto de um dos seus membros, Lauro Reginaldo, vim ocupar, a nível nacional, o secretariado geral do partido.

Os irmãos Reginaldo foram pioneiros na organização política da classe operária mossoroense, primeiro através da Liga Artística Operária e depois através do Partido Comunista. São os comunistas que vão conduzir a organicidade dos trabalhadores das salinas, criando o famoso Sindicato do Garrancho, como também dos camponeses, já que a maioria desses homens trabalhavam seis meses nas salinas e seis messes na agricultura, equivalentes ao período chuvoso (agricultura) e estiagem (salina).

É junto aos trabalhadores das salinas que os Reginaldos vão encontrar um terreno fértil para disseminar as idéais marxista-leninistas. Idéais intérpretes da realidade econômica e social do mundo, que expõe de forma clara e objetiva as causas da pobreza, da fome e da miséria e, dando rumo à luta do proletariado.

Segundo depoimento de Lauro Reginaldo da Rocha (registrado no livro Bangu: memórias de um militante – organizado pela professora Brasília Carlos Ferreira e publicado pela Ufrn-1992) o seu irmão mais velho, Raimundo Reginaldo, que era professor, foi pioneiro na defesa das idéias marxista-leninistas em Mossoró e incentivou os seus irmãos a organizarem os primeiros núcleos do partido da classe operária em terras nordestinas. Ainda segundo esse depoimento, na revolução de 1935 o professor Raimundo Reginaldo lutou de arma na mão nas ruas de Natal, ao lado de sua filha Amélia Reginaldo, de apenas 16 anos de idade. Ele libertou todos os presos da Cadeia Pública de Natal. E, após a tomada do poder, distribuiu fartamente gêneros alimentícios à população necessitada, em nome do Governo Revolucionário.

O Partido Comunista é criado no Brasil no dia 25 de março de 1922 e em Mossoró em 1928. Muito antes de 1922 os Reginaldos já propagandeavam as ideias marxistas, depois de 1917, a Revolução Soviética passou a ser exemplo para o proletariado de todo o mundo e a Internacional passou a ser hino das lutas populares.

Mossoró, como o restante do país, vivia nos anos 20, do século passado, uma grande efervescência revolucionária, reflexo do que estava ocorrendo no mundo, principalmente na Europa, sobretudo depois da vitoriosa Revolução Soviética (1917).

Na década de 1920, aqui no Brasil, temos fatos históricos marcantes na vida do país: a criação do Partido Comunista, a Semana de Arte Moderna e a Coluna Prestes, fechando a década com a Revolução de 1930. Esse conjunto de fatos históricos demonstra inquietação reinante entre os militares e os intelectuais, com reflexos positivos nas lutas populares e na organização da classe trabalhadora. Foi um momento de ruptura, de formatação de um novo modelo econômico para o país, não é por menos que a nossa historiografia classifica esse período como sendo o fim da Velha República e o início de uma Nova Era. O Partido Comunista tem um papel basilar nesse processo, sendo o vetor das esperanças do proletariado brasileiro.

Com a criação do PCdoB, aqui em Mossoró (1928), é escolhido o seu primeiro diretório, sendo este formado por Jonas Reginaldo, Secretário Político; Lauro Reginaldo, Secretário de Agitação e Propaganda; Francisco João de Oliveira e João Reginaldo e mais um representante de cada célula.

Com isso o Partido Comunista vai ter um papel terminante na organização dos trabalhadores mossoroense, apesar de todas as perseguições a que os seus militantes e simpatizantes foram submetidos. Com a criação do diretório municipal tem início o processo de fortalecimento do partido junto aos trabalhadores, atraindo para seus quadros líderes da classe operária tais como: Chico Guilherme, Joel Paulista, Francisco Florêncio; Manoel Torquato, Manoel Feitosa e muitos outros.

Essa é uma história que vamos tentar contar em diversos artigos. Com esse primeiro registro, estamos saudando os 90 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil, como também saudando a todos os militantes que ajudaram a construir essa história aqui no Rio Grande do Norte.

Antonio Capistrano – ex-reitor da Uern é filiado ao PCdoB


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Feriado de 3 de Outubro é um Insulto a Indígenas!
Posted: 03 Oct 2012 05:02 AM PDT
Por Alípio Sousa Filho
(Sociólogo e Professor do Dep. de Ciências Sociais – UFRN)

Causa espanto saber que a Assembléia Legislativa do Estado aprovou por unanimidade e a Governadora sancionou lei criando o feriado estadual de 3 de outubro para culto público e oficial dos chamados mártires de Uruaçu e Cunhaú. A lei estadual 8.913, de 6 de dezembro de 2006, é um insulto aos nossos indígenas de ontem e de hoje e um atentado aos princípios do Estado Laico. Inconcebível que seja o próprio Estado a colaborar com a igreja católica nos seus intentos de criar beatos, santos, mártires, milagres etc. e a partir de qualquer história forjada e narrada como se quer.


Quadro do Monsenhor Assis sobre os mártires de Cunhaú.

O que se chama de massacre dos mártires de Uruaçu e Cunhaú (mártires católicos!, pois do outro lado estavam protestantes holandeses e indígenas) é fato ocorrido no século XVII e não difere de outras situações que o território brasileiro conheceu, em todas as partes, no período colonial. No fundo, o que se visa exaltar é a fé católica que, nesse mesmo período histórico, foi responsável pela morte de milhões de indígenas.
Os tapuias e potiguares que habitavam a região e que, ao lado de holandeses calvinistas, figuram na narrativa construída sobre o tal martírio, que agora se visa cultuar, faziam parte da grande civilização indígena aqui existente que, pela catequese cristã e predominantemente católica, viu ser dizimados três milhões de seus integrantes nos três primeiros séculos da colonização.Que cidadãos, isolados ou em grupos organizados, queiram praticar suas crenças, organizar e participar de romarias (a cavalo, em paus-de-arara, bicicletas, motos, carros ou a pé), que as igrejas, incluindo a dos católicos, queiram difundir suas crendices, incluindo inventar milagres e os santos milagreiros, que o façam no usufruto dos direitos que são os seus.
Todavia, o Estado não pode ser cúmplice do absurdo que é tornar feriado um dia da semana para culto de uma narrativa que insulta os indígenas de ontem e de hoje.Os poderes Legislativo e Executivo estaduais, com a criação do feriado de 3 de outubro, dão mostras que não praticam a laicidade exigível desses poderes no âmbito da esfera pública e estatal e confirmam que, no Brasil, o Estado, longe de ser laico, permanece vergonhosamente submetido, pelas mãos de seus dirigentes, aos ditames e interesses de igrejas e religiões. Os interesses da igreja católica (ou de qualquer outra) não podem ser colocados acima do caráter universalista que o Estado está obrigado a preservar para permanecer como esfera autônoma, independente. Esta que é a única condição do Estado poder legitimamente representar a sociedade como um todo e agir pela sua emancipação social, livrando-a do domínio de crenças sem fundamentos que se tornam obstáculos aos seus avanços culturais, sociais. No Brasil, são inúmeros os exemplos de ações das igrejas, contrariando a implementação de medidas emancipatórias pelo Estado.
Multinacional capitalista, que enriquece com a mais-valia da fé alheia explorada, mas continuamente sedenta de criar santos e milagres para a conservação do seu domínio sobre uma população pobre e abandonada à sua própria miséria (emocional, cultural, econômica), a igreja católica não pode contar com a cumplicidade dos dirigentes do Estado para realizar seus intentos.
O fato representa uma tomada de posição desses dirigentes em favor de um segmento da sociedade, e apenas de um de seus segmentos, ferindo o principio da laicidade e da universalidade de valores a predominar e a ser preservado pelo Estado no âmbito das decisões político-públicas.
Se há algo a ser feito sobre o que se passou em 1645 é o Estado narrar a tragédia de nossos indígenas, vencidos pela violência, dividindo-se, em desesperadas estratégias, entre os colonizadores.

Fonte: Revista Potiguar