quinta-feira, 5 de agosto de 2010

OS DONOS DO LUGAR: uma reflexão sobre a prática política da oligarquia rosado

A necessidade de manter ativo os mecanismos de poder para sustentar uma ordem conservadora a serviço dos interesses das oligarquias regionais, parece-me ter sido o principal objetivo de alguns grupos políticos no Estado do Rio Grando Grande do Norte.

A oligarquia rosado, jamais, permitiu a participação de novos grupos políticos e/ou sociais no comando da administração pública que não fosse o seu. Ela, teme o avanço de outros grupos políticos desejosos de participarem do poder politico local. Durante os últimos 60 anos, Mossoró tem se resumido em uma espécie de "curral eleitoral" da Família Rosado.

A nível de elites, a oligarquia rosado desponta no cenário político nacional como sendo um dos grupos políticos que mais tempo está no poder. Não é por acaso, que ela tem esmagado os focos de oposição quando se trata das eleições municipais e estaduais. A máquina municipal ao longo da história política do clã vem funcionando como instrumento de força para afirmação da participação do poder oligárquico da familia. Implantada e consolidada, a ordem oligárquica dos Rosados impunha uma democracia de fachada como regime de governo. A sombra desta "democracia", encontra-se o assistencialismo, o paternalismo, o mandonismo e o proselitismo commo apêndices desse sistema oligarquico de poder. É claro que, a dominação política se encontra bem amparada por uma política a serviço da classe dominante.

A oligarquia rosado é vista como o centro das decisões políticas do município. Aproveitando as fissuras sócio-política, os líderes politicos da família, conseguiram se sobrepor aos esquemas politicos e passaram a patrocinar a melhoria da aparência da cidade como resultado de uma fugaz prosperidade e do bem-estar da população fruto das ações políticas dos dirigentes administrativos.

Grande parte da população, por não ter uma consciência política, tem votado de acordo com a vontade dos interesses da oligarquia. A massa da população acredita mais nas ações de seus representantes do que na "ação humana". A idéia de líder condutor e reparador dos problemas sociais está condicionada a uma estrutura paternalista do próprio sistema oligarquico. A cada eleição intensficam-se, novamente, as lutas pelo poder em Mossoró/RN. A familia rosado, há décadas vem promovendo uma democracia de elite, misto de uma combinação de práticas políticas "modernizantes" com o uso de práicas oligarquica e conservadoras. Dessa forma, assegura e reelabora uma nova prática oligárquica que nascera a partir da trajetória política do ex-deputado federal Vingt Rosado, já falecido. Os integrantes deste grupo político-familiar se revezam num poder aparentemente imóvel e inacessível...

A partir do primeiro decênio de 1900, chega em Mossoró, proveniente da cidade de Pombal no estado da Paraíba, o patriarca da familia rosado: Jerônimo Rosado. Somente, a partir de 1950, a família rosado assumiu o comando do poder politico na cidade, mediante eleições diretas, at ravés da liderança política de Dix-sept Rosado, além de atingir as esferas estadual e federal. A oligarquia rosado tornou-se dona absoluta do poder na cidade de Mossoró.

A dominação política do grupo familiar estar fundamentada na autoridade política de seus membros que, estabelece um laço entre o poder público e o poder privado. A autoridade política dos líderes do clã rosado é tanta, que basta uma indicação sua para que a sociedade concorde. Na verdade, o povo vota de acordo com a vontade do chefe político local que, habitualmente é um rosado. O resultado das eleições está consolidado mediante os métodos de dominação, via aparelhos ideológicos, quer seja através da máquina municipal ou dos órgãos de comunicação de massa assegurando obediência e submissão da população.

Predomina no cenário político do município, o estabelecimento de acordos politicos com os governos estaduais e as oligarquias locais a fim de assegurar a unanimidade nas eleições. Durante o mandato dos membros da oligarquia rosado é visível a formação de uma Assembléia Legislativa Municipal dócil às diretrizes dos grupos políticos.

A vontade do povo expressa a vontade dos chefes politicos locais, produtores das decisões políticas. Logo, os interesses particulares das oligarquias locais não traduz os interesses da coletividade. O povo, na sua maioria, desinformado não participa ativamente das decisões políticas. A política em qualquer nível (municipal, estadual ou federal), sempre representou a "manipulação de interesses particulares".

A forma de governo adotada pelos rosados na cidade de Mossoró a partir da segunda metade do século XX foi a "oligarquia" e não a democracia como costumam pregar. Tal forma de governo estabeleceu o distanciamento entre as classes provocando uma fissura na ordem societal. Manteve uma política de conchavos ao nível de compromissos e articulações com outros setores políticos a fim de garantir e preservar os seus interesses particulares e/ou dominantes.

Sem um nível de consciência política, capaz de compreender a realidade, a maioria da sociedade mossoroense encontra-se presa a um sistema de miséria e opressão reproduzido pela prática política do grupo oligarquico dominante que busca se manter de qualquer maneira no poder.

A implantação da ordem institucional conservadora da família rosado permance imutável, desde a gestão de Dix-Huit Rosado. Este sistema vigente, apoiado no mandonismo local encontra-se em vias de expansão. Os representantes da oligarquia rosado apresentam um discurso com aspirações progressistas. Mas, no fundo trata-se de aspirações conservadoras, onde a "legitimidade" do poder dos chefes locais não deve ser questionada. De qualquer forma, a adminstração municipal por parte de outros seguida por outros representantes políticos, por exemplo, a adminstração de Antônio Rodrigues de Carvalho, não comprometeu o sistema dominante dos rosados em Mossoró.

A oligarquia rosado tem se constituído numa das principais forças políticas do estado. Ela tem se mostrado como condutora do movimento político conservador. Jamais, os rosados têm manifestado o desejo de mudar o sistema vigente. Pelo contrário, a oligarquia rosado sempre reforçou tal ordem. A barganha e a política de conveniência tem sido marcas registradas destre grupo político, que buscou nesses mecanismos o atrofiamento dos indesejáveis, enquanto oposição política.

A oligarquia rosado é formada por uma elite culta e intelectualmente cosmopolita, que não permitindo a destruição dos ranços políticos vigentes, assegura sua hegemonia política. Essa elite tem procurado adaptar as práticas políticas conservadoras com a renovação de práticas modernizantes a um conteúdo propriamente provinciano. Sob o signo do poder político, a intenção da oligaquia foi preservar e manter uma proposta conservadora, enfatizando a necessidade de afastar dos segmentos oposicionistas o acesso ao poder, isto é, ao Palácio da Resistência, sede do executivo municipal. Em todo caso, a oposição não tem medido esforços para legitimar o anacronismo da política mossoroense.

Na medida em que o oligarquismo dos rosados tem se caracterizado como fenômeno político (que sobrevive a mais de meio século), que se processou a nível da elite política local, ainda não viveu tempos difíceis, mesmo desafiado pela oposição, não teve o sistema de poder abalado.

Apesar das cisões existentes no seio da oligarquia, que culminou na divisão em dois agrupamento políticos distintos: de um lado, o Rosalbismo (encabeçado pela ex-prefeita e senadora, Rosalba Ciarlini, porém, liderado politicamente pelo seu esposo, o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado); do outro lado, o Lairismo (tendo a frente o ex-deputado federal Laire Rosado). Tais cisões não ficaram marcadas como "racha político". O que se viu foi uma disputa pela liderança do poder local, o que não chegou a ameaçar a continuidade da dominação político-conservadora da Família Rosado. As divergências políticas entre os grupos politicos ocorrida no correr dos anos, desde 1985, não minou a estabilidade política da oligarquia rosado.

A familia rosado é considerada como uma das mais antigas oligarquias do país, politicamente, em atividade. Na história política do Brasil, as oligarquias estavam fundamentadas no poder "emanado do campo", da força política dos "coronéis". Ao contrário, a família rosado constituiu-se numa oligarquia eminentemente urbana, com bases nas atividades comerciais, tornou-se numa "oligarquia do asfalto", onde o "coronel" não mais era um rico proprietário de terras, mas, sim um comerciante,bem sucedido ou um empresário.

A oposição política em Mossoró está resumida, exclusivamente, aos partidos de esquerdas, uma vez que as demais tendências políticas oposicionistas compactuam com as mesmas ideias do rosadismo. Ao que me parece, a esquerda, diferentemente da direita conservadora, estimula a massa ter uma consciência política, orientando como reagir. A direita oposicionista encontra-se encontra-se como componente dissidente do mesmo sistema de poder, articulando-se com os grupos situacionistas em troca de favores e vantagens.

Tradicionalmente, o discurso oligarquico local tem revelado, nitidamente, uma combinação de um sentimento de onipotência e onisciência em função de seus próprios objetivos políticos. A sobrevivência da Família Rosado como grupo oligarquico se deve a luta política para impedir que seu sistema de dominação seja ameaçado.

Uma outra característica peculiar da oligarquia é a capacidade de renovação de seus quadros. Hoje, passado mais de 50 anos da participação da família rosado na vida política da cidade e do estado, vemos uma atividade política a serviço da renovação das viciadas estruturas políticas nacionais, contrária a mobilidade da sociedade e infensa aos grupos de oposição. Na verdade, o Clã Rosado luta em função das aspirações políticas do grupo enquanto sistema oligarquico conservador.

As elites dirigentes locais têm se postada como "porta-voz" dos anseios políticos da sociedade e contrária a qualquer atitude conservadora e antioligarquica, o que não condiz com a realidade. A verdade é que os representantes do rosadismo sempre mantiveram uma posição política comprometida com o sistema dominante vigente.

Do ponto de vista político, ainda hoje, a sociedade mossoroense encontra-se amorfa, sem forma definida. Uma vez que, dependente da oligarquia rosado, viu-se representada por um segmento político conservador que a reduziu, politicamente, a um mero apêndice de seus interesses e não na concretização das aspirações sociais da coletividade.

Não existe nenhum sentimento de mudança por parte deste grupo político, que permita a aspiração coletiva dos diversos segmentos da população local na participação do poder. O pensamento político dos rosados é desmobilizar qualquer ameaça de força (política) destinada a modificar as estruturas de poder.

Em sua obra, Micro física do poder, Michel Foucault observa que, "(...) o poder em suas formas e instituições(...), (...) dirigem os gestos, regem os comportamentos, etc". Assim sendo, podemos concluir, que o poder controla os fatos e manipula o destino das pessoas.

Um comentário:

  1. Olá td bom estou divulgando este Doc.
    Se puder assitir, vale a pena.Obrigado.

    http://nosolhosdaesperanca.blogspot.com/

    Resenha


    Jânio é um rapaz de vinte anos que foi preso na orla da praia da Cidade de Praia Grande confundido de fazer parte de um grupo de jovens que promoveram um arrastão. Mesmo sem provas ficou preso durante 11 meses. Leide e Francisco a mãe e o pai de Jânio precisaram lutar para provar a inocência do filho, enfrentando a principal dificuldade que esbarra num problema social ainda não resolvido no Brasil.

    "Ser pobre é ser culpado até que se prove ao contrário?"

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