Na cidade de Venha-Ver, no extremo oeste do Rio Grande do Norte, vive uma população, preponderantemente católica que pratica hábitos judaicos, isto é, dos antigos marranos, descendentes dos chamados cristãos-novos (judeus que foram forçados a se converter ao cristianismo a fim de não serem queimados nas fogueira da Santa Inquisicão). Para escapar da perseguição, muitos fugiram da Península Ibérica (Espanha/Portugal) para o Brasil, que durante séculos precisaram guardar os costumes judaíco secretamente.
O documentário A Estrela oculta do sertão desvenda os rituais ocultos dos cristão-novos, ou seja, revela traços surpreendentes da formação da identidade brasileira.
É comum encontrar no sertão nordestino, principalmente no estado da Paraíba e no Rio Grande do Norte, pessoas que pertencem a famílias católicas mas, que, sem saber praticaram rituais do judaísmo, e que até hoje,não têm consciência da sua identidade judaíca. Desde pequeno ouvi falar em sepultar os mortos com mortalha e sem caixão, mas, sempre, achei que esses costumes e rituais pertenciam, somente, ao cristianismo.
A origem do povo brasileiro, constituída pela mistura de índios, negros e portugueses deve ser revista a luz da História e de outras ciências, já que os cristão-novos revelam uma face menos conhecida da História do Brasil-Colonial.
Fugindo da Inquisição, que durou mais de 300 anos, os judeus seguiram o curso dos rios e adentraram os sertões, preservando, assim, os rituias religiosos.
A Estrela oculta do sertão exibe casos de marranos (anusim ou forçados) como o do poeta negro pernambucano Odmar Braga, do família Medeiros, de Natal, de dona Cabloca, de Venha-Ver e do médico Luciano, de Campina Grande-PB. "O documentário esbarra em questões de fé, tolerância e pertencimeanto".
É necessário fazermos um questionamento acerca do conflito presente nas histórias contadas no documentário. Veja que, no Nordeste os descendentes de judeus não aceita a conversão, devido a forte influência do cristianismo, é o caso de dona Cabloca da comunidade de Venha Ver, beata, devota de 26 santos, e com hábitos nada cristãos. Porém, alguns querem ser considerados como judeus mas não querem ser convertidos.
Como bem observou a historiadora Anita Novinsky (USP), "o marrano é um homem dividido, porque é cristão-novo e católico, com práticas judaicas dentro de casa, mas considerado cristão fora dela. Para a historiadora, "o que acontece no Brasil é um caso único na história universal". Ainda, ressalta, "que 30% da população brasileira, branca, de classe média é de origem judaíca".
Assim, os marranos "podem ser considerados os precursores da modernidade por não aceitarem o jugo implacável das leis inquisitoriais", afirma Anita.
O silêncio dos nossos antepassados (lima, sousa, dias, araújo, lopes, oliveira, sá, roldão, cardoso, etc) nos mostra que a herança judaica permaneceu durante séculos apenas pela fé, sem contato com outros judeus.
No processo que culminou como o "descobrimento" do Brasil é visível a presença de alguns judeus dentre eles, Gaspar de Lemos e Fernando de Noronha, que vinheram para o Brasil para auxiliar na colonização. Porém, aqueles que se diziam aparentemente cristãos-novos, mas, continuavam em secreto a professar a fé judaíca, foram expulsos do Reino Português. Com isso, o Brasil passou a ser terra de exílio, para onde era enviados os judaizantes. Afinal, a influência judaíca foi importantíssima na formação da orgiem do povo brasileiro. Os traços físicos de nossa gente, os costumes, hábitos e algunas tradições são marcas incontestáveis desta herança.
Em 1492, época do descobrimento da América é assinado o Decreto de Expulsão dos judeus de Castela, Aragão, em 31 de março.
Diante de tudo isso, aqui, cabe uma pergunta: A viagem d e Colombo teria sido uma espécie de "fuga"uma maneira de salvar vidas judaicas, ou uma aventura consciente visando o descobrimento de novas terras e riquezas?
Os judeus chegaram a Península Ibérica entre os anos de 900 e 1200 d.C. Em 1492, os judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos Fernando e Isabel.
É fato, e isso não podemos negar, que portugueses e espanhóis que chegaram ao Brasil logo depois da descoberta, já vieram convertidos, mas, judaizantes (praticantes do judaísmo). Portanto, a genealogia do brasileiro de modo geral descende de judeus, cristãos-novos e marranos.
Os judeus ibéricos, afinal, foram duramente perseguidos e discriminados, por ocuparem cargos elevados, e isso aborrecia os cristãos locais. Os judeus se destacaram na medicina, economia, finanças, literatura, astronomia, cartografia e outras ciências.
Após o descobrimento do Brasil, os judeus já chegaram com nomes portugueses. Embora não haja uma estatística exata, os historiadores afirmam que de cada três portugueses que chegaram ao Brasil após 1500 um era judeu. Com isso, desembarcaram, ainda, nos primeiros anos os Rodrigues, Álvares, Mendes, Dias, Pereira, Nunes, Oliveira, Pinto, Coelho e tantos outros de ascendência judaíca, dando início à população nordestina do Brasil e que se assimilaram unindo-se aos cristão-velhos (os que não tinham raízes judaícas).
Nos documentos da inquisição portuguesa encontramos entre os condenados mais frequentes os Lopes (282 pessoas) e os Dias (124 pessoas).
Durante o período do domínio dos holandeses em terras brasileiras, os cristãos-novos puderam praticar sua fé livremente. A primeira sinagoga da América do Sul, localizava-se na cidade do Recife, tendo como primeiro rabino no Brasil, Isaac Aboab da Fonseca.
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