História do Cangaço
O Cangaço foi uma forma de banditismo social, típica do “sertão nordestino”. Esse fenômeno se estendeu de meados do século XIX até 1940, mas atingiu seu auge apenas durante a República, quando surgiram os bandos mais conhecidos de Antônio Silvino, Lampião e Corisco.
Esses bandoleiros viviam em grupos numerosos, formados na maior parte por homens (mulheres foram admitidas a partir dos anos 30), que, bem armados (pelos coronéis e pelo Estado), praticavam crimes como saques de cidades e vilas, seqüestros, homicídios etc. Os cangaceiros não tinham moradia fixa, abrigavam-se com ajuda dos coiteiros, nome pelo qual eram chamados os que simpatizavam com esses grupos. Adaptados à hostilidade da caatinga, sabiam quais eram animais e plantas perigosos, bem como os que poderiam servir de remédio, alimento e fonte de água. Conheciam as veredas e as melhores rotas, por onde perambulavam, fugindo das volantes, embrenhando-se nas matas e se protegendo dos espinhos com vestimentas de couro.

Apesar de sua forma de ação truculenta, a população, sob a dominação também cruel dos coronéis, nutria uma visão ambígua em relação aos cangaceiros, que ora repudiavam com medo ora idolatravam como heróis e justiceiros. Esse imaginário popular é facilmente percebido na literatura de cordel e nas canções populares.
A elite proprietária também mantinha relações contraditórias com o cangaço: os cangaceiros ou eram instrumento de intimidação e combate de adversários políticos ou eram criminosos. Prova disso é que Lampião chega a receber a patente de capitão.


O cangaço se desenvolveu num contexto de miséria aguda, imposta pelo rígido controle por poucos indivíduos de grandes propriedades fundiárias, em uma região que sofre com secas duradouras, responsáveis por desarticular a economia local e agravar ainda mais a miséria. As poucas famílias proprietárias mantinham, em sua localidade, a dominação política e econômica, garantida por força das armas e dos meios legais.
Essa situação social, política e econômica é concretizada durante a regência, nos anos 30 do século XIX. A descentralização política e administrativa, promovida pelo Código de Processo Criminal e pela criação da Guarda Nacional, favoreceu as elites regionais, que contavam com verdadeira polícia particular. Pelo novo exercício de comando esses indivíduos receberam a alcunha de “coronéis”. A violência no semi-árido é fruto da disputa por riquezas e poder político entre esses chefes locais, no âmbito regional e estadual. A partir da lei de terras em 1850 intensificam-se as disputas fundiárias e os proprietários envolvem cada vez mais seus trabalhadores e outros dependentes diretos. Esses empregados armados ficaram conhecidos como jagunços.
Os cangaceiros surgiram dessa conjuntura social inflexível. Esses indivíduos embarcavam na arriscada vida das armas, primeiro porque era a alternativa à vida de pobreza e exploração à qual estavam submetidos os trabalhadores sertanejos. O outro motivo bastante comum entre cangaceiros era a vingança (contra funcionários do governo e coronéis), o acerto de contas e a restauração da honra pessoal e familiar. Inicialmente esses bandoleiros serviram como jagunços aos coronéis (e recebiam proteção destes), cobrando dívidas ou em suas belicosas disputas políticas. Todavia, durante o auge do Cangaço, percebemos uma maior autonomia desses grupos, que passam a estabelecer relações de poder à margem da estrutura social vigente.

O fim do Cangaço está ligado por um lado a política de combate mais dura do Estado Novo, que criou órgãos repressores mais atuantes. Em 1938, a volante de João Bezerra conseguiu matar Lampião, após a emboscada em angicos, sucedeu-se uma série de fugas e deposição de armas. Em 1940 o golpe fatal foi a morte de Corisco. O assassinato dos principais líderes desarticulou o principal bando, no entanto, devemos entender a superação do Cangaço não apenas pela repressão, mas pela mudança das estruturas econômicas, políticas e sociais.
No âmbito político a influência da oligarquia era menor, o Estado Novo era um governo autoritário, forte e centralizado, em que a autonomia dos estados diminui e os interesses federais se sobrepõem ao das unidades federativas. Assim, desarticulado o jogo político local, acaba o interesse dos coronéis em apoiar os bandoleiros.
Durante a República o país se moderniza, especialmente os meios de transporte e comunicação, o que contribuem para integrar a economia nordestina com o sudeste. Além disso, a urbanização e o surgimento de fábricas aumentam o fluxo migratório para as cidades especialmente para São Paulo e Rio de Janeiro. Assim, esses fatores destroem as bases de origem e sobre as quais o Cangaço se sustentava, desestimulando as pessoas a ingressarem nos bandos.
Poucas pessoas sabem, mas, recentemente, faleceu aqui em Belo Horizonte José Antônio Souto, mais conhecido como Moreno, um dos últimos cangaceiros do bando de Lampião. Ele e Durvinha fugiram do sertão pra cá, e mantiveram o segredo sobre o tempo de cangaço, revelando o passado para os filhos apenas em 2005. Essas e outras curiosidades sobre o Cangaço podem ser encontradas no completíssimo blog: http://lampiaoaceso.blogspot.com/ . Nesta página é possível conseguir todas as informações e lançamentos sobre os cangaceiros.
Fonte: https://historiativanet.wordpress.com/